A literatura em perigo, de Todorov, apresenta-se em 8 capítulos, sendo um primeiro um pequeno prólogo sobre as origens do autor, o porquê dos estudos literários e toda sua trajetória como crítico desde sua cidade natal até chegar à França. O autor ainda no prólogo se pergunta por que ama a literatura e segundo ele, a resposta é que a literatura o ajuda a viver, a literatura abre o infinito, amplia o universo, proporciona sensações infinitas e insubstituíveis que faz o mundo real se tornar mais pleno de sentido.

Assim, passa-se ao capítulo “A literatura reduzida ao absurdo”, o autor relata que a literatura está perdendo espaço, na sociedade atual, fala ainda que, há uma dificuldade entre os professores de Letras de escolher o melhor objeto de estudo para a literatura.  Temos com isso, que o caminho tomado para o ensino de literatura, atualmente, dá as costas para o ensino de literatura enquanto um “conhecimento que não é o fim em si, mas uma das vias régias que conduzem à realização pessoal de cada um” (p. 33).

Para o autor, o que se ensino nas escolas de Educação Básica, é um misto de historiografia, e teorias literárias, o que torna o contato com as obras distante da realidade do aluno e o deixa sem o contato direto com o sentido do texto, seu conteúdo semântico, comprometendo a formação de leitores.

Todorov apresenta no terceiro capítulo que, numerosas obras contemporâneas ilustram uma concepção formalista da literatura, onde as obras “cultivam a construção engenhosa, os processos mecânicos e engendramento do texto, as simetrias, os ecos e os pequenos sinais cúmplices” (p.42). Temos ainda uma outra tendência, o niilismo, visão de mundo segundo a qual “os homens são tolos e perversos, as destruições e as formas de violência dizem a verdade da condição humana, e a vida é o advento de um desastre” (p.42). Por fim, temos o solipsismo, em que o autor descreve “detalhadamente suas menores emoções, suas mais insignificantes experiências sexuais, suas reminiscências mais fúteis” (p. 43).  O que se encontra na conclusão do capítulo, é um autor que reflete sobre o afastamento dos leitores atuais da literatura quando relata que “a cada vez, mas a partir de modalidades diferentes, é o mundo exterior, o mundo comum a mim e a aos outros, que é depreciado”. É de se concordar que a literatura é um instrumento cada vez mais difícil para um leitor comum, mas o autor também aproveita para dizer os motivos que afastam ou afastaram o leitor da literatura.

No quarto capítulo, o autor inicia com a ideia da tese de que a literatura não mantém ligação significativa com o mundo, e que sua apreciação não deve levar em conta o que ela nos diz do mundo, não é invenção nem dos professores de Letras e nem dos estruturalistas. A partir de um panorama histórico que vai do clássico ao contemporâneo, o autor realiza reflexões sobre as diversas concepções de arte.

No quinto capítulo, Todorov constata que houve uma evolução profunda na sociedade da época, onde o “ autor deixa progressivamente de produzir suas obras mediante a encomenda de um mecenas, destinando-se então ao público que as adquire: é o público quem passa a ter as chaves de seu sucesso”. [...] O espírito da Luzes é o da autonomia do indivíduo; a arte que conquista sua autonomia participa do mesmo movimento”. (p.53).

Assim, a estética iluminista, diferente das teorias clássicas, desloca o centro da gravidade da imitação à beleza, demonstrando a autonomia da obra de arte.

No sexto capítulo, ocorre o surgimento da estética romântica, em que não temos uma ruptura considerável em termos do trabalho com a obra literária. A novidade seria, o juízo de valor que se atribui aos diferentes modos de conhecimento. Dialogando com diversos autores e criticando certas visões de “arte pela arte”, o que se percebe até aqui é que a literatura não é reconhecida e que seu ensino produz uma imagem singularmente empobrecida da arte e da própria a literatura.

Ao falar de ruptura, Todorov diz que isso acontece apenas no começo do século XX e que são influenciadas pelas teorias de Nietzsche, que questionam a própria existência dos fatos independentes de suas interpretações quanto a da verdade, seja qual for ela.

Nos dois últimos capítulos que se seguem, Todorov considera que a literatura tem um papel essencial em nossas vidas, uma vez que nos torna mais próximos dos outros seres humanos que nos cercam, nos faz compreender melhor o mundo e nos ajuda a viver.

As obras literárias produzem sentido, e o escritor pensa; e o papel do crítico é o de “converter esse sentido e esse pensamento na linguagem comum de seu tempo – e pouco nos importa saber quais os meios utilizados para atingir seu objetivo”.

O autor conclui seu último capítulo considerando que o ensino literário deve incluir o diálogo entre os homens e que, a obra literária é uma comunicação inesgotável entre os homens, uma vez que ultrapassa todos os tempos e espaços, em seu caráter universal.

A literatura em perigo é um livro que interessa ao público acadêmico de Letras em geral, e que ao falar da crise da literatura, o autor faz um percurso histórico e reitera suas convicções que o texto literário contribui para o aprimoramento do pensamento e para reflexões importantes que tornam a vida melhor.

TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. TRADUAÇÃO DE Caio Meira. – 5ª ed. – Rio de Janeiro: DIFEL, 2014.