A literatura conta à história: Um caso de metaficção historiográfica espanhola contemporânea

O texto de Esteves: "A literatura conta à história: um caso de metaficção historiográfica espanhola contemporânea" fornece subsídios intrínsecos ao estudo e entendimento da obra historiográfica metaficcional de Carlos Rojas um exímio autor e crítico literário barcelonês que em contundente momento histórico e em plena agitação cultural publicou o romance: El ingenioso hidalgo y poeta Federico Garcia Lorca asciende a los infiernos.
Em seu romance, apresenta possibilidades diversas em um estilo que irrompe em um misto da história que marcou a Espanha no século XX com a Guerra Civil, como também ao forte apelo consumista, a partir de uma mensagem que expressava as possíveis reivindicações em prol de uma sociedade igualitária e justa. O livro, sendo dividido em quatro partes: "La espiral", "El prendimiento",
"El destino" e "El juicio" fomenta em sua estrutura vários tipos de discursos, desde a narrativa em primeira, segunda e terceira pessoas, onde vários palcos são representados, contando episódios da vida do protagonista, dos personagens que o cercam e da vida de seus duplos.
Os tempos e espaços diferentes se entrecruzam na obra de Rojas, constituindo um romance opulento, através da dialogicidade intertextual existente em praticamente toda a obra, que com Garcia Lorca, seu protagonista, nos palcos do inferno circular ou nos seus monólogos e de seus duplos, marcam presença boa parte da literatura espanhola, desde escritores contemporâneos e escritores consagrados de outros períodos da literatura, obras fragmentadas ou referências a escritores de diversas literaturas e épocas.
Além da presença marcante de diversos escritores nessa obra, podemos encontrar conexão com outras artes como a música e a pintura, seja na reconstrução das paisagens ou em episódios da vida do protagonista, instigadas pelas obras de importantes artistas espanhóis ou mesmo universais.
Inclusive procurou associar o romance a uma peça musical. Em seu texto Esteves apresenta uma questão em torno do personagem central da obra, sem que faça juízo de que se trate de uma biografia apócrifa do poeta Federico Garcia Lorca, transparecendo uma dúvida acerca de que esse personagem poderia ser o próprio Carlos Rojas.
Encontramos ainda um referencial acerca da metaficção historiográfica apresentada nesse romance, de forma que, o tema histórico ocupa o centro da narrativa, ajudando a mostrar e perceber que só existem verdades no plural ou mesmo várias versões, com variados pontos de vista. Diferente do que ocorria no romance tradicional que aponta para conceitos como a verdade e a falsidade. A preocupação do narrador contemporâneo aponta para os diferentes níveis de intertextualidade e auto-referencialidade, que fundamenta a escritura como capaz de captar a realidade ou reproduzir o fato histórico, buscando produzir uma releitura crítica da história oferecida como oficial, através da multiplicidade de pontos de vista. Um momento obscuro que foi significativamente silenciado forma o contexto dessa grande obra, que em sua teia dialógica reproduz os principais relatos que tratam da vida e morte do conhecido poeta Federico Garcia Lorca.
O texto de Esteves expõe de forma inicialmente complexa, a metaficção historiográfica espanhola contemporânea, contudo a leitura vai se desdobrando e sendo desmistificada a cada nova página e trechos incompreensíveis à priori, dão espaço a uma extasiante leitura. A sua linguagem apresenta apreensão do referido tema em questão, mostrando que compreende a abordagem apresentada no contexto da obra por ele comentada, especialmente ao aplicar sem a menor dúvida, o conceito de metaficção historiográfica, termo definido por Linda Hutcheon, citada por Esteves. A sua contribuição com essa obra atenta para o fato de que pode se tornar uma ferramenta profícua à compreensão do romance de Carlos Rojas, pela sua sistematização e criticidade, como também pela sua estrutura concisa e objetiva. Não obstante haja a inserção de uma linguagem depurada, a sua forma de conceber o texto atende a uma escrita que embora rebuscada é coerente ao tema tratado.
Esse é um texto pertinente ao estudo aprofundando ou da metaficção historiográfica, tanto para estudantes da área da educação, quanto qualquer outra pessoa que se interesse pela literatura, pois fornece um conciso, mas relevante entendimento, acerca do tema histórico a partir de uma visão que mantém a devida distância crítica para com a história que se apresenta, por meio de um amplo aparato de diálogos intertextuais.
O texto "A literatura conta à história: um caso de metaficção historiográfica espanhola contemporânea" é uma obra do pesquisador Antonio Roberto Esteves, atuante em grupos de pesquisa da UNESP.

Ana Paula de Andrade Oliveira estudante do curso de Pedagogia na Universidade Federal da Paraíba pelo sistema Universidade Aberta.