A LINGUAGEM DO CONTO “BURRINHO PEDRÊS”

 

Autora: SOUSA, Maria Luzirene Morais De*

Orientadora: NOBRE, Cristiane Melo**

 

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo discorrer sobre o conto “Burrinho Pedrês”, focando a linguagem presente no mesmo, conto este que faz parte do livro Sagarana de João Guimarães Rosa.Para tanto, realizamos uma pesquisa bibliográfica. Para fundamentar teoricamente o estudo, destacamos os seguintes autores: Borba (1946), Guimarães Rosa (2001). A partir do estudo realizado percebemos que a linguagem encontrada no conto “Burrinho Pedrês” apresenta um verdadeiro desafio ao leitor por recriar a língua portuguesa através de neologismos, empregando palavras tomadas de outras línguas.

PALAVRAS-CHAVE: Burrinho Pedrês. Conto. Linguagem.

1 INTRODUÇÃO: O presente artigo tem como objetivo discorrer sobre o conto “Burrinho Pedrês”, focando a linguagem presente no mesmo, conto este que faz parte do livro Sagarana de João Guimarães Rosa.

Para tanto, realizamos uma pesquisa bibliográfica. Para fundamentar teoricamente o estudo, destacamos os seguintes autores: Borba (1946), Guimarães Rosa (2001).

A partir do estudo realizado percebemos que a linguagem encontrada no conto “Burrinho Pedrês” apresenta um verdadeiro desafio ao leitor por recriar a língua portuguesa através de neologismos, empregando palavras tomadas de outras línguas.

2 METODOLOGIA

Este trabalho constitui-se de um estudo sobre a linguagem referente ao conto “Burrinho Pedrês” de Guimarães Rosa. Para fazer este estudo realizamos uma pesquisa bibliográfica consultamos livros relativos ao assunto em estudo, artigos publicados na internet e que possibilitaram que este trabalho tomasse forma para ser fundamentado.

 

3 UM POUCO SOBRE O CONTO “BURRINHO PEDRÊS”

             Em O burrinho pedrês, primeiro dos nove contos, Guimarães procura mostrar, tendo como pano de fundo o mundo dos vaqueiros, que todos têm a sua hora e sua vez de ser útil. É o caso do burrinho Sete-de-Ouros: a gente segue a esperteza mansa do bicho, a sua finura de instinto e inteligência que o faz poupar-se, furtar-se a choques e maus pisos e, por fim, orientar-se e salvar-se numa cheia onde os cavalos afogam, carregando um bêbado às costas e ainda outro náufrago enclavinhado no rabo - ressalta Oscar Lopes.

             O burrinho pedrês é uma estória que metaforiza a experiência da velhice, um burrinho experiente sabe se orientar onde cavalos de boa montaria sucumbem. Neste conto, assim como em Conversa de bois e em A volta do marido pródigo, os animais se transformam em heróis, questionando o saber dos homens com o seu suposto não saber. A ironia do escritor vale-se do decadente burrinho para pôr a nu a onipotência presunçosa do homem, que julga controlar o próprio destino, ignorando as inesperadas surpresas que este lhe reserva. A perspectiva místico-religiosa, a luta entre o bem e o mal, os riscos morais que acompanham o homem no perigoso ofício de viver, são os temas preponderantes que alimentam a ficção.

             Em Sagarana renasce o anônimo “contador de estórias”, o homem-coletivo que se enraíza nos rapsódias gregas e nas canções de gesta medievais. Desde o início do conto "Era um burrinho pedrês..." esboça-se claramente a atitude ingênua e espontânea da “palavra lúdica”, que não aprisiona o falar nos limites rígidos do individualismo, mas se identifica com a palavra anônima e coletiva. Seja pela fórmula linguística caracterizadora da narrativa elementar, da fábula, da lenda "Era um burrinho...", tempo e modo verbais que, de imediato, tiram à narrativa o caráter de coisa datada, para projetarem na esfera intemporal do universo de ficção; seja pela mescla de precisão e imprecisão documental no registro do espaço vindo de Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não sei onde no sertão; seja pela dimensão antropomórfica forma humana que é dada à personagem central, o “burrinho-gente”, e que situa a narrativa na fronteira entre o real e o mágico; seja pela funcionalidade das cantigas inseridas no fluxo narrativo, tudo isso e muito mais nos revela, no universo da palavra rosiana, a presença do “homo ludens” (homem lúdico), descompromissado com as estruturas convencionais do pensamento lógico.

             A trama desse conto, como nas demais narrativas de Guimarães Rosa, é relativamente simples. Publicado pela primeira vez em 1946, O burrinho pedrês é uma história sugerida por um acontecimento real, passado no interior de Minas Gerais, envolvendo um grupo de vaqueiros. É a história da condução de uma boiada em dia de fortes chuvas, em algum ponto indefinido do sertão, sob a tensão de uma maquinação ameaçadora de ciúme e crime. O seu desfecho, de todo surpreendente, só poderia ser ideado por um mestre da palavra e da criação literária. O foco da narrativa está centrado em um burrinho pedrês, que é testemunha de um trágico acidente. Em contraponto com a intriga que se desenvolve entre os boiadeiros, há episódios relacionados com o ciclo mítico do boi, onipresente na vida sertaneja. Pairando sobre tudo e todos, destaca-se a figura sábia e intensamente "humana" do burrinho pedrês, que aparece pouco na ação mas, como citado, domina o universo da narrativa, o cenário é a Fazenda da Tampa, do Major Saulo, no interior de Minas Gerais.

             O burrinho Sete-de-Ouros, protagonista da história, simboliza o peso da vida quando “Carregado de algodão”, o trabalho do burrinho, e metaforiza a carga dos homens, o peso do mundo, como fardos de algodão. “Preguntei: p’ra donde ia?” – a forma arcaica do verbo perguntar sugere a indagação permanente dos homens, sábios e filósofos: para quê?, por quê?, de onde?, para onde?. “P’ra rodar o mutirão” alude ao esforço coletivo, ao dever de solidariedade que o burrinho cumprirá na sua hora e na sua vez.

             Desde esse primeiro conto, estão presentes os elementos fundamentais para compreendermos os contos de Sagarana. O nome do burrinho, Sete-de-Ouros, é recoberto pela magia de um número místico (sete) e pela força simbólica do ouro, indicador de superação e de transcendência paralquimistas. A travessia, a superação de obstáculos por ocultos caminhos é uma imagem frequente em Guimarães Rosa, como também a presença de forças mágicas, da natureza, atuando sobre o mundo e mostrando as possibilidades de os fracos se tornarem fortes, de se saber uma vida no resumo exemplar de apenas um dia.

 

4 A LINGUAGEM DO CONTO

            Guimarães Rosa trabalha com jogo de palavras, trocadilhos e associações inesperadas de imagens, trabalha os aspectos sonoros e dá um caráter nitidamente poético à sua prosa utiliza também em sua obra vários processos estilísticos, que dão singularidade aos seus textos, ele explora o linguajar regionalista e com o ritmo, apela para os aspectos auditivos.

            O autor faz uso de ortografia própria, divergente em muitos pontos da ortografia oficial.

“          Josias foi o mais desfeliz, porque foi jogado para tudo quanto era lado...” (p.3)

“o tremendo assobio dos vórtices de caldeirões, circulares, e o choro apressado dos rabos.

            Sua invenção linguística abrange o nível semântico, o sintático e o fonológico. Ele cria palavras, descobre associações imprevistas entre elas e reproduz ruídos. No conto encontram-se alguns exemplos de neologismo, tais como:

“de-corredeira borborinhantes”. (p.78)

“Desinvoca, Leofredo, fasta o seu macho para lá!” (p.25).

“e o poldro – hop plá! – esconde o rabo e funga e desanda...” (p.28).

Como exemplos de sons e ruídos, têm-se:

“          mesmo prestes assim para surpresas más. – Tchou!... Tchou!... Eh, booôi!...” (p.38)

“Tremendo, este córrego da Fome! Em tempo de paz, não passa de um chuí chocho – um fio.” (p.4)

“- Foi p’r’os infernos!  Foi p’r’os infernos!... (p.57)

             O autor utiliza ainda supressões, tais como:

 “Há-há Grudou as pernas no santantônio, firme!” (p.29)

“Me deixa eu ir-s’embora para trás!” (p.67).

A respeito de sua linguagem literária, o próprio autor assim comenta:

“Escrevo e creio que este é meu aparelho de controle: o idioma português, tal como usamos no Brasil, entretanto, no fundo, enquanto vou escrevendo, extraio de muitos outros idiomas. Disso resultam meus livros escritos em um idioma próprio, meu, e pode-se deduzir daí que não me submeto à tirania da gramática e dos dicionários dos outros. A gramática e a chamada filologia, ciência linguística foram inventadas pelos inimigos da poesia”.

             Como disse Guimarães Rosa, “as palavras têm canto e plumagem” (Borba, 1946), e, por isso mesmo, cada uma delas leva a significados diversos, ainda que essa diversidade possa ser muito sutil e só apreendida em um exercício de interpretação. Com efeito, Guimarães apela para os aspectos auditivos “canto” e visuais “plumagens”, fazendo um verdadeiro arranjo sonoro com as palavras sobressaindo principalmente em “O Burrinho Pedrês”.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A trama do conto, como nas demais narrativas de Guimarães Rosa, é relativamente simples. Publicado pela primeira vez em 1946, O burrinho pedrês é uma história sugerida por um acontecimento real, passado no interior de Minas Gerais, envolvendo um grupo de vaqueiros. É a história da condução de uma boiada em dia de fortes chuvas, em algum ponto indefinido do sertão, sob a tensão de uma maquinação ameaçadora de ciúme e crime. O seu desfecho, de todo surpreendente, só poderia ser ideado por um mestre da palavra e da criação literária. O foco da narrativa está centrado em um burrinho pedrês, que é testemunha de um trágico acidente. Em contraponto com a intriga que se desenvolve entre os boiadeiros, há episódios relacionados com o ciclo mítico do boi, onipresente na vida sertaneja. Pairando sobre tudo e todos, destaca-se a figura sábia e intensamente "humana" do burrinho pedrês, que aparece pouco na ação mas, como citado, domina o universo da narrativa, o cenário é a Fazenda da Tampa, do Major Saulo, no interior de Minas Gerais.

           Com relação a linguagem o autor trabalha com jogo de palavras, trocadilhos e associações inesperadas de imagens, trabalha os aspectos sonoros e dá um caráter nitidamente poético à sua prosa utiliza também em sua obra vários processos estilísticos, que dão singularidade aos seus textos, ele explora o linguajar regionalista e com o ritmo, apela para os aspectos auditivos.

 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORBA, José César. Histórias de Itaguara e Cordisburgo. Correio da Manhã [Rio de Janeiro], 19 maio 1946. R2.

GUIMARÃES ROSA, João (2001), Sagarana. São Paulo: Nova Fronteira.