A língua portuguesa tem proporcionado alguns desafios tanto para o falante informal, como para o universo escolar, mais formal. Se os estudantes sentem dificuldade para compreensão da nossa ortografia, imagine o falante comum no seu dia-a-dia, fora da escola! A despeito dessas dificuldades, é na fala que encontramos as razões para as mudanças linguísticas ocorrerem, como as que deveríamos encontrar, de fato, no Novo Acordo Ortográfico, a partir de 2009.

Num primeiro momento, observamos que a língua muda com o tempo. Antes, falava-se "Vossamecê vai ao teatro?" Décadas passaram e a língua mudou, tornando o homem mais econômico na sua forma de falar. Nas novelas ou filmes quem Já não ouviu a expressão "Vosmicê"? Depois disso não foi preciso muito tempo para presenciarmos mais outra mudança: "você". Contudo, perceba que na fala essa palavra já não mais corresponde a sua forma escrita. Fonologicamente, entendemos as variações de sons dado a um contexto temporal. E, da mesma forma, voltando à mudança sofrida pela palavra "vossamecê", nós, atualmente, já nem falamos "você", mas sim, "cê". Hoje, dizemos informalmente: "Cê vai ao cinema?" O que antes demorava meses para um(a) jovem conseguir um namoro, hoje, só basta alguns minutos de bate-papo, impulsionado com uma simples e rápida pergunta "cê qué ficá comigo?" O MSN (programa de conversação) que o diga!

É errado, então, expressarmo-nos de maneira livre e econômica? Linguisticamente, isso não corresponderia um "erro", até porque o ato espontâneo da fala condiciona fatores reais de mudanças.
Já no estudo formal da ortografia, é comum observarmos métodos prontos voltados para decorar as regras. Contudo, o problema do "S" e do "Z", por exemplo, ainda continua, PRINCIPALMENTE nas provas de concursos públicos, sendo um sério desafio para nós; e o Novo Acordo nem sequer aborda mudanças referentes a essas letras. Para alguns, todo som de "z" nem precisaria ser escrito mais com "s", pois a letra "z" já seria suficiente. Vi, inclusive, pizzarias escreverem "calabreza", "milaneza"... Podemos explicar isso com princípios. Por exemplo, que tal entendermos os conceitos de "Concreto" e "Abstrato" para resolvermos problemas envolvendo "s" e "z"? Observe: "Concreto" é um ser autônomo, como: "anjo", "Deus", "vento", "Chapeuzinho Vermelho" etc. Já o abstrato é aquilo que precisa de um ser concreto para existir, como: "dor", "tristeza", "depressão" etc. Apliquemos: se as palavras vierem de seres CONCRETOS, usamos "s", na terminação em "...ESA", como: "calabresa", "milanesa"; já nos seres ABSTRATOS, usamos "z", na terminação em "...EZA", como: "delicadeza" e "frieza". Parabéns, nem foi preciso ficar noites decorando, só com os conceitos de "concreto" e "abstrato" já conseguimos destruir mais de cinco mil palavras. Seguem-se princípios, destroem-se dificuldades, mas há muitas outras regras, e o nosso desafio por uma estratégia didática continua, portanto.

Mais do que alterar a ortografia, precisamos expor a Língua portuguesa articulando-a de forma didático-metodológica com parâmetros linguísticos. TUDO TEM UM SENTIDO e buscar isso é sair de contextos que nos trazem informações cheias de "decorebas". O significado e a relação lógica, que trazem o sentido dos conceitos, fazem toda a diferença. Caso contrário, é possível que essas novas mudanças, como apontei na revista Época recentemente, possam, no máximo, denunciar a idade: daqui a algum tempo, quando você escrever um e-mail convidando o sobrinho adolescente a assistir à "estréia" de um filme ou a saltar de "pára-quedas", com certeza vai passar a maior impressão de "tiozão".

Ainda daremos muitas dicas! Aqui tentamos despertar reflexões; juntos, abrir novos e construtivos caminhos.