A aparência não revela a verdade interior do ser humano, não é sua linda veste adereços ou o mais simples par de chinelas que vai dizer quem realmente é aquela determinada pessoa. Não é a aparência que vai nos revelar uma vida feliz ou infeliz, pois para isso é preciso ir além do que se apresenta aos olhos, do que se apresenta e parece ser.

Faz-se necessário tornar claro a devida distinção e classificação do verdadeiro fim do ser humano e da verdadeira felicidade, compreender o porquê da infelicidade no ser humano; e a partir daí investigar a forma de ser, fazer, construir e buscar a felicidade

A vida que passou foi o tempo que tivemos para poder realizar e fazer a descoberta da própria vida que se esgota. O tempo passou e quase não se realizou coisa alguma. Não se imagina satisfação neste estado de vida, se não há satisfação, não é possível ser feliz. A insatisfação do homem pode ser a própria infelicidade

Mas o estado de idade avançada não é o fim, podemos ver como recompensa de muitas realizações. Talvez as rugas sejam sinais que tivemos muitos amanheceres, nestes amanheceres o sol nos tocou ao longo dos dias passados. Se tivermos cansaço talvez seja porque se correu muito para alcançar o que sonhamos conquistar

Períodos da vida do ser humano, ele se perde na procura de ideologias que possam sanar suas frustrações, vícios e paixões. Por conta disto também, acaba se desviando do caminho das virtudes e caindo no caminho do erro.

Posso ter algo que faço uso para sobreviver e manter meu status como pessoa que para outrem não serviria para coisa alguma. Possivelmente um estilo de vida pode ser algo a diferenciar e proporcionar uma vida feliz para mim e não para outrem.

Todas as coisas que se tornam nossa propriedade como objetos, são para nos servir e facilitar a nossa vida, não para nos fazer escravos e dependentes delas. Podemos ter uma vida feliz independente do que possuímos, tanto para mais ou para menos. Pois, a vida feliz pode simplesmente está na forma como utilizamos o que temos e o que somos.

A razão nos torna conscientes de nossos atos, atentos aos nossos atos involuntários como o ladrão. Atentos aos atos, podemos ser capazes de sermos livres, pois controlamos as vontades e já não somos mais capazes de se deixar vencer e escravizar, mas sim dominar as próprias vontades. Quando o ser humano não é mais dominado pelos vícios e paixões desordenadas, isto quer dizer que se é livre.

O desapego aos bens materiais faz o ser humano livre e despojado, aponto de qualquer objeto de valor não mais é o importante ou causa de avareza e inveja. Não que possuir objetos valiosos seja ruim, tê-los ou não tê-los não é importante. Pois não são os objetos que o homem possui que o torna feliz, mas é como o possui. Não é importante o que temos ou deixamos de ter, mas o que somos e o que nos tornamos mediante o que possuímos ou não possuímos.

O desapego aos objetos, pompas é importante e necessário. É como ter e não ter ao mesmo tempo, não se deixar dominar pelo que se possui, mas saber usar o que possui. O homem virtuoso é livre, desapegado de seus bens que possui. É prudente com que possui, tem racionalidade ao usar seus bens

Podemos tratar aqui a liberdade como um estado de vida, pois, mesmo alguém que esteja preso a correntes, em uma prisão de muros autos e salas pequenas, mesmo assim pode ser livre no espírito. Há possibilidade que se sinta livre para simplesmente ser o que quiser ser em sua imaginação, tem liberdade para pensar e sonhar com que quiser sonhar.

O ser humano pode ter a possibilidade e capacidade de se libertar por maio de seu espírito.Mesmo com o corpo no cárcere seu espírito o torna livre. Neste estado de vida, o prisioneiro pode até se contentar com a vida que tem, procura viver bem a vida que possui

A necessidade pode ser tendência da condição humana, mas isso não pode ser o mesmo que alimentar as necessidades. A tendência pode esta ligada ao natural do ser humano, quanto que a vontade é algo a ser controlado, mesmo sendo parte também da natureza humana. Na vontade estão ligadas as necessidades básicas do ser humano como o comer, beber, pensar, ser feliz e outras mais.

A vida ilibada e acética pode ajudar nos seus "problemas" de necessidade e vontade. Podemos considerar as necessidades e vontades como espaços a serem preenchidos e trabalhados por virtudes como a própria liberdade. Podemos escolher a reflexão como meio de chegar a um pensamento livre e ético, capaz de fazer escolhas com racionalidade.

Podemos considerar aqui a reflexão como um ato expressivo concreto da racionalidade do ser humano. A reflexão para ser assim chamada, pensamos que pode partir da raiz da coisa, do mais profundo. Para partir da raiz e do profundo do ser, pode ser que seja necessário para o ser humano ter sensibilidade. Desta forma seja necessário partir da inteligência, inteligência que utiliza o conhecimento, podemos dizer que seja sabedoria.

Possivelmente seja do conhecimento que brota a sensibilidade no ser humano, uma capacidade de sentir: medo, dor, alegria e outros mais. Talvez a reflexão possa agir de forma rigorosa e abrangente; com visão crítica e coerente dos fatos; trazendo-nos a luz da ética indagadora, que de maneira flexível e conscientizadora, sendo possível tornar o ser humano mais livre. Sendo uma ação refletida e racional do humano, pode ser este o melhor caminho para uma escolha acertada.

A liberdade de escolha pode possibilitar a escolha de obedecer à necessidade e a vontade. Sendo a liberdade capaz de conduzir o ser humano a uma vida acética, uma vida baseada na reflexão dos seus atos e modo de viver. Livre das vontades desordenadas que podem fazer mal não só ao corpo como também a própria alma

Sendo a tendência coisa natural do ser humano, ela pode ser inclinada tanto para as virtudes, quanto inclinada para os vícios. Na liberdade racional pode ser que o ser humano seja capaz de se inclinar para as virtudes. Isso ocorre mesmo se o corpo sente necessidade de pender para os vícios. Por mais que seja uma pequena imperfeição, não devemos nos deter nas minúcias.

Com efeito, podemos observar que a bondade existe entre nós quando somos bons com os outros; o egoísmo existe quando somos egoístas com outrem; a malícia existe quando somos mal com outras pessoas. A partir das relações podemos escolher e decidir que relações que podemos ter perante a outra pessoa, as ações em nossas relações com os outros. O caminho do bem pode ser preparado a partir das nossas escolhas, como já foi tratado sobre essa perspectiva de escolhas acertadas no capitulo I.

Podem ser preciso boas relações com os outros e consigo mesmo, para se obter uma vida reta. Essas práticas são escolhas livres, consciente e ciente de uma vida reta. Uma liberdade racional que nos leva uma vida feliz. Se formos livres para ter uma vida assim, no caminho da retidão, então nossa alma também possa ser livre.

A alma para que seja totalmente contemplativa, seja necessária uma total liberdade. Liberdade tal que a deixe livre dela mesma, um total esvaziamento de sua condição ativa de agir. Talvez seja uma condição o recolhimento no mais profundo do Logos, uma quietude na qual só o Logos é que age. Neste agir faz da alma uma contemplativa do único atributo que lhe é concebido, à felicidade.

A alma na contemplação do seu bem supremo se preenche de toda harmonia de felicidade. Uma harmonia que não cabe mais sofrimento, perturbação, ou qualquer outro modo de impedimento.

No mundo não se pode deixar levar pelas coisas do mundo, é o se pode notar pelo pensamento de Sêneca. As influências das realidades do mundo, das quais levam o ser humano para uma vida sofrida, infeliz dos vícios e paixões desordenadas.

O caminho no qual a alma se inspira é o caminho da retidão, de uma vida voltada pra a reflexão e tomada de consciência com base na virtude. Pode ser considerado para o homem como um programa de vida consistente na retidão de consciência


DA SILVA, Gilvan lopes. Afelicidade em Sêneca como fim último do homem. Ed. www.clubedeleitores.com.br