A LEITURA E A ESCRITA NA ESCOLA DE ANOS INICIAIS

Durante vários anos, o ensino da linguagem preocupou-se com os aspectos formais da língua e muito pouco com a sua funcionalidade e utilidade como sendo um instrumento de comunicação, informação e aprendizagem.
Partindo desse pressuposto, a preocupação com a aprendizagem das letras e sílabas nas séries iniciais era muito grande, pois pensava-se que saber as letras soltas, ou se basear em sons, permite ao indivíduo, formar palavras, frases e textos,para posteriormente interpretá-los. Assim sendo, tratava-se da aprendizagem do alfabeto e por isso até hoje utilizamos o termo alfabetização para as séries iniciais.
Nesse sentido, aprendíamos a língua de uma forma estranha, a partir de regras e não de sua vivacidade, isto é esquecia-se que a língua era viva, que possuía uma função social de informar, comunicar, expressar intenções, ações, idéias sentimentos.
Atualmente o ensino da linguagem vem passando por modificações na tentativa de respeitar a funcionalidade da linguagem num primeiro momento, para em seguida poder se preocupar com a correção da forma, tanto gramatical quanto ortográfica e caligráfica.
Partindo dessa premissa, ensinar as crianças a ler, a escrever e a se expressar de forma competente na língua portuguesa é o grande desafio dos professores das series iniciais do Ensino Fundamental.
É sabido que de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, os alunos devem terminar a 4ª série do Ensino Fundamental dominando a linguagem de maneira eficaz, isto é,devem ser capazes de produzir e interpretar textos, tanto para as necessidades do dia-a-dia por exemplo, escrever um recado, ler as instruções de uso de um brinquedo que ganhou ? como para ter acesso aos bens culturais e à participação plena no mundo letrado, entender o que é dito num telejornal e ler um livro de poesias, entre outros.
Com isso, estamos acostumados a ouvir que alfabetizar é tratar da linguagem escrita, porém, sabe-se que é muito mais que isso. Falar e escutar, além de ler e escrever, são ações que permitem produzir e compreender textos. Obviamente, cabe a escola desenvolver também a linguagem oral dos seus alunos, porem, aprende-se a falar fora da escola, mas é na sala de aula que é possível mostrar as falas mais adequadas e eficientes nas diferentes situações cotidianas.
Somos sabedores de que ler e escrever são atividades que se completam, pois, quem lê bastante, possivelmente, tenha maior facilidade para desenvolver a sua escrita. E é por esse motivo que quanto mais variados, interessantes e divertidos forem os textos trazidos pelos professores das séries iniciais para os seus alunos, maior será a chance de eles se tornarem leitores hábeis.
De acordo com os PCNs, o que se espera dos alunos das series iniciais (nos primeiros ciclos) é que no inicio eles escrevam um texto separando as palavras e, no final do primeiro ciclo, eles já saibam dividir o texto escrito em frases.
Não somente isso, os alunos já devem conhecer algumas regras ortográficas, usar dicionários, variar o uso de conectivos, separar o discurso direto do indireto, acentuar, explorar diferentes modalidades de leitura, desenvolver estratégias de escritas, compor textos coerentes, utilizar recursos coesivos e fazer resumos.
Todas essas habilidades deverão ser visíveis pelo aluno das séries iniciais ao final do primeiro e segundo ciclo na linguagem escrita.
Já na linguagem oral, à medida que a criança avança na escolarização, as exposições orais, tornam-se mais comuns. Um exemplo, é a apresentação de trabalhos. Mas o que se sabe é que são poucas as escolas que costumam ensinar como falar com fluência em situações públicas, o que não deveria acontecer, pois as escolas deveriam tratar da expressão oral desde as séries iniciais.
Assim, o que se espera em relação a linguagem oral, é que no primeiro e segundo ciclo os alunos sejam capazes de ouvir com atenção os professores e colegas em sala de aula, fazer uma exposição oral com a ajuda de um texto escrito, narrar fatos, contar historias, descrever cenários e personagens, relatar experiências, de forma clara e seqüencial, produzir diferentes textos, identificar elementos não verbais, empregar a linguagem com maior nível de formalidade e manter um ponto de vista coerente.
Porem, dito tudo isso, é fundamental atentar a um questionamento: o que nós professores deveríamos fazer, para desenvolver o habito da leitura entre os nossos alunos das series iniciais?
Acredito que o primeiro passo seria o incentivo s leitura diária. De que forma? Na própria sala de aula o professor poderá ler um bom texto, uma poesia, uma musica, ou escolher um bom livro que seja relevante e interessante. Nesse caso, os alunos podem ler individual, ou em grupo, ou vários grupos poderão ser formados para que cada um leia um capitulo e cada grupo, apresente o capitulo lido de forma seqüencial, para poderem entender o conteúdo abordado no livro.
Uma outra alternativa para desenvolver o habito de leitura seria a utilização por parte do professor de textos diversificados, isto é, textos interessantes, que despertem a curiosidade dos alunos, textos que falem de uma realidade conhecida deles, ou até mesmo, pequenas manchetes de jornais, folhetos de propaganda, revistas, gibis, etc.. O importante é que o material escrito apresentado aos alunos seja criativo que desperte o interesse das crianças, e que eles possam ler com prazer.
O mais importante é que, "o educador que quer obter êxito no processo educativo precisa perceber que não estamos sós no mundo" (MATTOS, Paulo Henrique, p. 19), ou seja, que os textos que sejam selecionados para trabalhar com os alunos das séries iniciais, precisam ser criativos, precisam ter uma linguagem viva e que seja possível contextualizar o texto com os conhecimentos prévios os alunos e, com o contexto mundial que estamos inseridos na atualidade.
Atualmente vivenciamos a era da comunicação, onde a linguagem escrita assume uma importância crucial, pois apesar de perder para a linguagem falada e visual no que se refere à rapidez e diminuição de reforço para transmitir a informação, ainda continua sendo a única forma que possibilita um maior nível de reflexão e um grande exercício das funções cognitivas humanas, além de estar presente em vários instrumentos de comunicação, que vai desde os livros até os sites, etc..
Entretanto, a importância de aprender a ler é algo inquestionável na atualidade.
"Aprender a ler é antes de mais nada aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade. Ademais, a aprendizagem da leitura é um ato profundamente político." (SEVERINO, 2004, P. 19).
Daí, a importância da força das palavras e a comprovação da importância do habito da leitura e da escrita, desde as séries iniciais até as últimas séries das nossas vidas.
Já dizia o apostolo Paulo em Efésios (4:29): "não digam palavras que façam mal aos outros, mas usem apenas as palavras boas, que ajudem aos outros crescer (...)."
Portanto, nós como educadores temos a obrigação de instigarmos nossos alunos ao habito e à pratica de leitura, porém, para isso, precisamos ser bons leitores para podermos saber fazer as grandes escolhas, para não utilizarmos "palavras" desnecessárias, infrutíferas, pois palavras são "palavras", elas marcam e não possam, não perdem o seu valor...

Referencias Bibliográficas
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Língua Portuguesa. V. 2. Brasília: MEC/SEF, 1997.
REVISTA MUNDO JOVEM. Rio Grande do Sul: p. 19, maio/2004.
REVISTA VEJA. São Paulo: 14 de julho de 2004.
REVISTA MUNDO JOVEM. Rio Grande do Sul: p. 20, 4 de fevereiro de 2004.
REVISTA NOVA ESCOLA. São Paulo: p. 16, outubro de 2003.