A LANTERNA DE DIÓGENES EM BUSCA DE LEITORES

NAS REDES SOCIAIS

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Zilmar Wolney Aires Filho. É professor pós-graduado em Direito Processual Civil. Mestre em Direito. Integra o quadro docente da Faculdade FIBRA em Anápolis-GO.

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O que fazer com os bons textos, ricos de conteúdo, bem elaborados ou direcionados, quando não há público suficiente, ou interessado, para lê-los, criticá-los ou elogiá-los. Apesar de muitos autores buscarem o anonimato, sob o manto do pseudônimo, acredita-se que esses esperam, sim, alguma crítica, ou elogio, que os estimulem em novos escritos.

 

Torna-se pesaroso observar autores de artigos, crônicas, livros, deixarem de nutrir a esperança em alcançar críticas ou elogios aos seus trabalhos, como termômetro indispensável e abalizador da arte da escrita. Além disso, assimilar que esses se satisfazem com o parâmetro da autocrítica, ao sabor da própria imagem refletida no espelho. Não se ignora, pois, que escritores se ancoram na expectativa de que seus rabiscos poderão gerar reflexões, que contribuam em mudanças de pensamentos ou até posturas para melhor no convívio social.

 

Detecta-se, de forma desmotivadora, as exigências de que os textos contemporâneos tenham que ser ser enxutos de conteúdo, extremamente objetivos e direcionados. Acresça-se a isso, a obrigação de trazerem em seus bojos, o extraordinário, capaz de comover, pela tragédia, escândalo, sexo, ou riso fácil. Resigna-se, com a indesejável consciência de que o simples desposando o belo, já não produz o encantamento que se dava em anteriores gerações.

 

Prosseguir na marcha da escrita, apesar da ciência de poucos leitores, e que a maioria desses encontra-se em redes sociais, em leituras ultra-dinâmicas, só mesmo impulsionado pelo hábito feliz da escrita, que se revela como um direito natural. O gesto de escrever necessita acontecer, com registros de opiniões, críticas, sugestões, de tudo aquilo, que de bom, de proveitoso, a mente recebe, a título de inspiração, pesquisa e conhecimento, para repasse aos povos.

 

É necessário acreditar, que a humanidade não vive em fluxo, ou num amplexo. Que há ondas que vêm e que vão, fechando ciclos e articulando o molejo da existência. Elas evidenciam o compromisso de estar atento. Articular movimentos justos. Continuar criando, reinventando o que possível for. Fazer observações, análises. Por fim, emitir opiniões, a partir de um senso crítico, fruto da síntese de leituras, estudos, e boas experiências alcançadas no convívio humano.

 

Espera-se que a pressa em torno de tudo seja superada. Os anfitriões de festas e encontros conseguirão ocultar todos os celulares num balde ou gaveta, para retomar o diálogo, se possível for. Presume-se que as pessoas desejarão tomar fôlego novamente. Acompanhar o ritmo mais suave da natureza, já que esta continua ofertando lições gratuitas, como pai e mãe de todos. Ela jamais acelerou, atrasou, retardou em suas fases. Às vezes, emite registros de angústia, pelas agressões humanas que recebe. Outrossim, após, retoma o seu compasso invejável, de quem nunca se cansou, se atrasou, e continua fazendo a perfeita sincronia do tempo, entre as estações, alvoradas e por-de-sóis.

 

É melhor acreditar num propósito transcendental, antes que um simulacro político de inclusão social, para que a aceleração, em nível de informações, chegasse às pessoas na rede virtual de comunicação. Não obstante, exsurge preocupante a forma como estas chegam sem critérios, e meios pedagógicos ideais de assimilação. Mormente, quando, apesar de casos isolados de autodidatas, inúmeras pessoas demonstram imaturidade ou caráter insuficiente para lidar com essas. Talvez, o que muitos necessitavam, antes de toda essa gama de informações, sem acompanhamento para auxiliar na separação do joio e do trigo, e construção ideal do caráter, seria, no mínimo, um nivelamento cultural com aqueles, que já se encontram na estrada há muitos anos, até para não serem expostos ao ridículo, quando afrontados pelo vazio de conteúdo.

 

Observar casos de pessoas emergentes, com projeções meteóricas, que atingem o topo da pirâmide social, sem conhecimento e estrutura, não ratifica o sofisma de que não vale a pena estudar ou saber tanto, se as vantagens obtidas por aqueles que buscaram os caminhos mais fáceis, jamais serão superadas. É um contra-senso, em relação à própria lei evolutiva natural, que não dá saltos. Fazer algo ou chegar a algum lugar, sem causa ou conhecimento, é como construir um caminho torto, gerando tumultos e falsas expectativas, porque inexoravelmente terá que ser refeito, corrigindo, recuperando prejuízos, e superando traumas, é claro, naquilo que ainda for possível.

 

 

 

                                                ZILMAR WOLNEY AIRES FILHO

- Advogado e Professor Universitário, Especialista-em processo civil e Mestre em Direito.Titular da cadeira n. 16 da Academia de Letrasde Dianópolis-TO.