Matéria da Folha de São Paulo (28/05/2008) relata o lançamento, nos EUA, do livro "The Dumbest Generation" (A geração mais estúpida), em que o autor Mark Bauerlein afirma que a era digital embasbaca os jovens americanos e põe em risco o futuro. Para Bauerlein, a internet é responsável por jovens superficiais, incapazes de dar importância a fatos históricos e que, apesar de toda informação disponível na rede, preferem vasculhar vidas alheias e expor as suas próprias em redes de relacionamento. Ele também diz que a linguagem simples normalmente adotada pela internet faz com que a leitura na rede não aperfeiçoe a gramática dos jovens, nem lhes aumente a capacidade de elaborar textos.

Bauerlein parece ter razão em alguns pontos, embora tenha exagerado ao generalizar. É verdade, por exemplo, que boa parte dos internautas ignora a monumental quantidade de informação disponível on-line, para se ocupar apenas com futilidades. Também é verdadeiro que muito do que os jovens lêem na rede não lhes acrescenta nada em termos gramaticais nem em capacidade de redação de textos.

Mas penso que Bauerlein está equivocado ao atribuir à internet a capacidade de emburrecer as pessoas. Imaginemos que, num passe de mágica, acabasse amanhã a internet, com todos os seus links e redes de relacionamento. O que fariam os que se ocupavam com frivolidades na internet? Irão estudar os filósofos gregos? Ler Shakespeare? Se debruçar sobre livros de história? Claro que não. Eles apenas voltarão para a frente da TV e do vídeogame, que era onde estavam antes da internet.

Então a tecnologia não pode ser culpada pela suposta indigência cultural dos que a utilizam. Essa é uma escolha das próprias pessoas. Não acredito que a internet tenha a capacidade de emburrecer alguém que já não esteja predisposto a isso.

Infelizmente, o mesmo raciocínio parece valer no sentido contrário: a simples presença da tecnologia da informação não é suficiente para gerar conhecimento.

Estudos sobre a influência do uso de computador na escola sobre o desempenho dos alunos parecem confirmar essa hipótese. Em matéria publicada na Folha de São Paulo (23/04/2007), o jornalista Antônio Góis relata as conclusões de dois estudos, realizados a partir dos dados do MEC/Saeb,  que constaram que o uso de computadores nas escolas não melhorou o desempenho dos alunos em português e matemática.
Um dos estudos, realizado pelo economista Naercio Menezes Filho, comparou alunos de mesmo perfil socioeconômico e no mesmo ambiente, concluindo que a média em matemática em escolas públicas ou privadas onde estudantes têm acesso a computadores não difere de forma significativa da de crianças em escolas sem computador ou internet.

O outro estudo citado por Góis foi realizado pela pesquisadora Maresa Sprietsma e chegou à conclusão de que a presença de computadores em escolas brasileiras afeta negativamente o desempenho dos alunos em português e, principalmente, em matemática.

Ambos os estudos salientam que, pelos dados disponíveis, não é possível saber que tipo de uso está sendo feito do computador, o que limita o alcance das conclusões. No entanto, fica evidente que a simples presença de computadores para acesso dos alunos não melhora o desempenho em geral. É claro que a culpa não é dos computadores, mas sim da forma como são utilizados.

As escolas que investiram em computadores, mas não tiveram resultados melhores, provavelmente não integraram o uso da informática aos objetivos pedagógicos. Com isso, pode ser que os alunos estejam gastando seu tempo em atividades improdutivas no computador, em vez de estudar.

É preciso ter clareza que a internet, como qualquer outra tecnologia, é apenas um meio. Por si só, ela não gera conhecimento, não cria sabedoria. É uma ferramenta poderosa, com certeza, que oferece acesso a uma quantidade incalculável de informação, mas, ainda assim, é apenas uma ferramenta. Ela tanto pode ser um meio eficaz de aumentar o conhecimento e de tornar as pessoas mais sábias, como pode ser um instrumento de empobrecimento cultural. Depende da vontade de quem a utiliza.