A INTERDISCIPLINARIDADE NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: O audiovisual como Ferramenta de ensino e aprendizagem no 6º ano do Ensino Fundamental II, na Escola Estadual Barão do Rio Branco na cidade de Macapá/AP.

 

 

Cristiane Raniere Trindade de Souza [1]

Rono Marques Bruno ¹

Jany Maria Barbosa Pantoja [2]

 

 

RESUMO

 

 

Este artigo tem como objetivo trazer reflexões sobre a interdisciplinaridade utilizando o audiovisual como ferramenta de ensino e aprendizagem nas aulas de Educação Física, verificando os conceitos norteadores deste tema, e principalmente traçando paralelos permitindo novos olhares a prática interdisciplinar em conjunto com o seguimento audiovisual, para isso, utilizou-se questionários semi estruturados e entrevistas abertas, para saber como os professores utilizavam esse recurso e se conheciam suas diversas utilidades como ferramenta educacional. Observou-se ainda, as inovações tecnológicas e sua importância despertando, assim, o interesse entre os discentes, fundamentado em especificidades da arte e cultura do estado do Amapá, traçando uma perspectiva diferenciada aos Profissionais de Educação Física, através da integração entre docentes, alunos e artistas locais.

 

 

Palavras chaves: Educação Física. Interdisciplinaridade. Audiovisual.

 

 

INTERDISCIPLINARITY PHYSICAL EDUCATION IN SCHOOLS: The audiovisual as a tool for teaching and learning in the 6th year of elementary school, Public School Rio Branco in the city of Macapa / AP.

 

 

 

 

ABSTRACT

 

 

This article aims to bring reflections on interdisciplinarity using the Audiovisual as a tool for teaching and learning in Physical Education classes, checking the guiding concepts of this subject, and especially drawing parallels allowing new approaches to interdisciplinary practice in conjunction with the following Audiovisual for this, we used–semi-structured questionnaires and open interviews for how teachers used this feature and knew their many uses as an educational tool. Observed-even if, technological innovation and its importance arose, so the interest among students, based on specifics of art and culture of the state of Amapá, tracing a different perspective to the Professional Physical Education, through the integration of faculty, students and local artists.

 

 

Keywords: Physical Education.  Interdisciplinarity.  Audiovisual.

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

Através de vivências e conversas com educadores e artistas do seguimento cultural audiovisual do Estado do Amapá, observou-se a necessidade de abordar novas metodologias, por meio de projetos que envolvam a interdisciplinaridade utilizando os aparatos tecnológicos; Pretende-se iniciar um debate e instigar professores de Educação Física, e demais disciplinas, a possuírem novos olhares do fazer pedagógico, ofertando uma articulação entre a escola (alunos, professores, corpo técnico) e artistas do seguimento Audiovisual do Amapá.

Notou-se as dificuldades enfrentadas por professores de Educação Física em realizar aulas atraentes para os discentes, onde, de acordo com relatos de um dos professores de Educação Física “[...] existe um alto índice de repetência, e um numero elevado de crianças acima da faixa etária correspondente a essa série, decorrente da falta de interesse pelas aulas”. Daí a necessidade de inovar aplicando aulas de forma atraente e criativa.

Observou-se a possibilidade da utilização do audiovisual enquanto ferramenta de ensino e aprendizagem no projeto interdisciplinar e o potencial de contribuição para o processo didático/pedagógico que oferta aos educadores condições ilimitada de ensino, dessa forma, contribuindo para a formação dos educandos e a excelência escolar. A partir dessas afirmações surgiram os seguintes questionamentos: Existe esse experimento nas aulas? Que benefícios a prática interdisciplinar juntamente com o Audiovisual pode proporcionar para o desenvolvimento da aula? Que perspectiva e qual o olhar para as aulas de Educação Física através desse experimento de ensinar e aprender?

Considerando que o professor de Educação Física não dispõe somente da quadra poliesportiva como local de ensino, como muitos acreditam sua tarefa também inclui ministrar atividades na sala de aula. Neste estudo, parte-se do pressuposto de que nesta instituição de ensino adota-se um projeto interdisciplinar utilizando o audiovisual enquanto recurso de ensino e aprendizagem, e que contribui como ferramenta para a construção de novos olhares pedagógicos, metodológicos e saberes. Observa-se essa ponte entre a Educação Física, o audiovisual e demais disciplinas para a formação de educandos conscientes, críticos e criativos.

Deste modo objetiva-se investigar a articulação entre os docentes em um projeto Interdisciplinar e o auxilio do audiovisual como recuso, mediando o ensino e a aprendizagem, de alunos do ensino fundamental, e especificamente, conhecer algumas fundamentações que norteiam as aulas de Educação Física, contextualizando aspectos teóricos que orientam tais metodologias e sua aplicabilidade, incentivando educadores de ambas às áreas.

Por tratar-se, sem dúvida, de um tema de evidente relevância social, técnica, científica, cultural e educacional, espera-se, portanto, contribuir com acadêmicos e profissionais da Educação, instigando a reflexão sobre o reconhecimento da aplicabilidade da interdisciplinaridade, aderindo novas tecnologias para práxis nas instituições de ensino fundamental da cidade de Macapá.

Este estudo fundamentou-se em pesquisa bibliográfica e de campo, onde foi verificada a prática interdisciplinar nessas aulas, apropriando o audiovisual como meio educacional. Primeiramente se fez uma revisão bibliográfica visualizando os aspectos teóricos que norteiam as Aulas de Educação Física, a Interdisciplinaridade e o Audiovisual (recursos tecnológicos). Esta revisão foi feita mediante uma leitura sistemática, acompanhada da elaboração de fichamentos das obras, procurando ressaltar as idéias centrais defendidas por cada autor que fundamentam as vertentes das aulas de Educação Física, como os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s (2001/2002); Currículo do Ensino Básico do Estado do Amapá (2000); Suraya Darido (2008), etc.; a interdisciplinaridade (Hilton Ferreira Japiassú (1976); Ivani Fazenda (1994); Suraya Darido (2008), entre outros; e o Audiovisual (Coleção Observatório Itaú Cultural, (2010); Suraya Darido (2008); Instituto Paulo Freire, (2010) e diversos artigos. Esta pesquisa bibliográfica foi realizada na biblioteca da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA Amapá, em várias publicações de periódicos e artigos da internet.

Na pesquisa de campo se utilizou questionários semi-estruturados e entrevistas informais e formais abertas, para saber como os professores e artistas audiovisuais usam esse recurso, e se conhecem suas diversas utilidades, observando as inovações tecnológicas e sua importância. Esta pesquisa foi realizada no município de Macapá na Escola Estadual Barão do Rio Branco com docentes do 6º ano fundamental I e artistas do seguimento cultural audiovisual atuante no estado do Amapá, representado por 02 (dois) artistas; 1º Alexandre Brito Pereira (Professor universitário) gerente do Museu da Imagem e do Som do Amapá e o 2º Otoniel Ramos Cruz (Músico/Produtor Cultural) membro do Coletivo Palafita e do sistema nacional Fora do Eixo. Optou-se pela referida escola por seu valor histórico, artístico e cultural, sendo a instituição de ensino pioneira do Estado do Amapá.

A coleta de dados foi feita mediante a uma pesquisa de campo qualitativa. Foram entrevistados 05 (cinco) professores: 01 (um) de Educação Física, 01 (um) de Matemática, 01 (um) de Ciências, 01 (um) de Artes e 01 (um) de Geografia; onde os referidos responderam os seguintes questionamentos: Na escola onde você leciona existe algum projeto interdisciplinar? Sua escola possui equipamentos audiovisuais? Você e seus colegas de trabalho já utilizaram como ferramenta de ensino e aprendizagem o audiovisual? Qual o motivo que leva você a trabalhar com a interdisciplinaridade utilizando o audiovisual como recuso em suas aulas? Por quais motivos que você não utiliza a interdisciplinaridade utilizando o audiovisual como recuso em suas aulas? Com qual freqüência você usa a interdisciplinaridade utilizando o audiovisual como recuso? O que você acha que falta na sua prática, para que utilize mais esse recurso tecnológico com olhar interdisciplinar? E entrevistas abertas para artistas audiovisuais, com os seguintes questionamentos: Você utiliza o audiovisual no processo de ensino-aprendizagem? Quais benefícios a prática interdisciplinar juntamente com o audiovisual pode proporcionar para o desenvolvimento da aula? Você já fez algum trabalho na Educação Física? Qual o olhar para as aulas de Educação Física com esse experimento? Há diferenças nessas aulas das tradicionais? Essa prática pode contar com o corpo técnico e educadores de ambas as disciplinas? Por quê?

 

 

AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

 

 

No decorrer da história se observou que essa área do conhecimento foi subtraída e condicionada à reprodução de movimentos pré-estabelecidos e por vários momentos desde o Brasil Império serviu como instrumento de manobra militar, política e social para atender os anseios nem sempre nobres das classes dominantes (BRASIL, 2001, p. 19-21). As aulas de hoje sofreram profundas transformações e ao ler sobre as aulas de Educação Física, vê-se várias opiniões sobre o seu papel. Carol Kolyniak Filho (BUORO, 2000, p. 59-60) comenta que:

 

 

A prática pedagógica em Educação Física, no ensino Fundamental e Médio, caracteriza-se por uma articulação entre a realização de uma grande diversidade de movimentos e uma reflexão sobre os mesmos. Tal reflexão implica na progressiva apropriação, por parte do aluno, de um conjunto de conceitos que possibilitem compreender a motricidade humana de forma cientifica – ou seja, de forma sistemática.

 

 

O profissional desta área deve preparar o aluno para conhecer de forma mais abrangente e profunda, movimentos e ações, naturais do cotidiano ou não, promovendo sistematização e reflexão sobre os mesmos. Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (BRASIL, 2001, p.25) falam que:

 

 

Atualmente, a análise crítica e a busca de superação dessa concepção apontam a necessidade de que, além daqueles, se considere também as dimensões cultural, social, política e afetiva, presentes no corpo vivo, isto é, no corpo das pessoas, que interagem e se movimentam como sujeitos sociais e como cidadãos. [...] aborda os conteúdos da Educação Física como uma cultura corporal.

 

 

Pensadores sobre a educação física no Brasil têm colocado em discussão uma tendência mundial, a necessidade de centrar o ensino e aprendizagem no desenvolvimento de competências e habilidades dos alunos ao invés de soterrá-los de conteúdos e técnicas. Ainda nos PCN’s do Ensino Fundamental (BRASIL, 2001, p.27) diz que:

 

 

A área de Educação Física hoje contempla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento com finalidades de lazer, expressão de sentimento, afetos e emoções, [...] Trata-se, então, de considerar cada uma dessas manifestações [...] e formular a partir daí as propostas para a Educação Física escolar.  

 

 

Existem fortes paradoxos no cotidiano escolar, vê-se, por exemplo, que nas aulas de Educação Física, o esporte não está sendo utilizado como ferramenta de ensino e aprendizagem, mas sim, como forma de treinamento. Essa problemática esta presente no trabalho do Professor de Educação Física, segundo o qual os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (2001, p.27) verificam que:

 

 

É necessário mudar a ênfase na aptidão física e no rendimento padronizado [...] para uma concepção mais abrangente que contemple todas as dimensões envolvidas em cada pratica corporal. É fundamental também que se faça uma clara distinção entre os objetivos da Educação Física escolar e os objetivos do esporte, da dança, da ginástica, e da luta profissionais. 

 

 

Os conteúdos devem ser vistos como meios para constituição de competências e não como fins em si mesmos, o conhecimento deve ser experimentado pelo aluno e não apenas transmitido a ele. Quanto à práxis na Educação Física escolar e as abordagens pedagógicas que a permeiam, devido às diversas discussões que se dão em torno dos órgãos educacionais que apresentam propostas que visam nortear possibilidades de trabalho na educação brasileira, no decorrer das décadas surgiram diversas vertentes pedagógicas nas aulas de Educação Física segundo Darido (2008, p.9-15); a desenvolvimentista que foca o acompanhamento das características do desenvolvimento humano; a construtivista-interacionista que considera a construção do conhecimento e resolução de problemas através da interação com o meio que vive, a crítico-superadora enfatiza que qualquer consideração sobre pedagogia deve versar sobre elaboração de conhecimento valorizando e contextualizando fatos  e a crítico-emancipatória que consiste em valorizar a compreensão crítica do mundo e sociedade sem se pretender mudar através da educação. Nesse sentido, Freire (2001, p.183) menciona que:

 

 

A importância de demonstrar as relações entre os conteúdos da disciplina Educação Física e os das demais disciplinas reside, não na sua importância como meio auxiliar daquelas, mas na identificação de pontos comuns do conhecimento e na dependência que corpo e mente ação e compreensão, possuem entre si.

 

 

Observa-se que o autor enfatiza as mudanças na práxis, e que dentro de todas as abordagens existe algo positivo a ser considerado, pois, são como uma comida com temperos diferentes na dosagem certa.  A Educação Física deixa de ser coadjuvante para assumir um lugar de destaque e uma postura global olhando o aluno como ser humano e não como uma máquina de reprodução perfeita gabaritado para perceber o aluno em sua totalidade pessoal, família, escola, comunidade e sociedade. Conforme Verderi (2009, p. 46):

 

 

Quando pensamos no aluno-corpo, pensamos em seres que brincam, correm, saltam, dançam, escrevem, choram, riem, e tantas outras formas de manifestação que um corpo pode ter. Esse aluno-corpo é movimento em tudo o que faz, é um significante expressando sentimento. Seu corpo é ativo no espaço que ocupa, comunica-se com os corpos ao seu redor e interage com eles. É um corpo em busca de novas possibilidades, novos caminhos que necessita estar, ser, sentir e ser sentido.

 

 

Seria um equívoco falar sobre as aulas, com alunos do 6º ano fundamental I, sem falar de algumas peculiaridades inerentes a estas crianças que se insere nesta série, pois, “[...] os atos motores são indispensáveis, não só da relação com o mundo [...] mais também na compreensão dessas relações” (FREIRE, 2010, p.75), é necessário enfatizar que normalmente, a maturação motora, física, perceptiva, cognitiva, e psicossocial dos indivíduos são estudadas por pesquisadores de acordo com as faixas etárias e períodos aos quais pertencem, o Manual de Educação Física (MELLO, 2008, p.15 - 17) Descrevem crianças de 11 a 13 anos que:

 

 

Maturação Física; crescimento da velocidade, desenvolvimento muscular, aumento da força, no entanto as meninas são mais elásticas ou extensíveis que os meninos [...] Na perceptiva; a habilidade para perceber um objeto que se movimenta e de mover- se junto com ele [...] O cérebro é capaz de processar informações com precisão e rapidez. [...] Na cognitiva; aumento da atenção e de deduções complexas. [...] Já na psicossocial; os adolescentes estabelecem sua identidade pessoal, fortes laços em suas relações interpessoais, são mais maduros fisicamente que emocionalmente. [...] Apresentam uma forma de egocentrismo derivada da atitude de isolamento. (Grifo do autor)

 

 

Durante esta fase ocorrem profundas transformações nos aspectos destacados e conceituados da maturação da criança, e essas mudanças devem se considerar pelo profissional de Educação Física e demais disciplinas, pois, nessa idade já se detecta traços de personalidade que acompanharam este aluno por toda a vida, e o professor deve ser capaz de interceder melhorar e direcionar tais aspectos. Quanto o processo ensino e aprendizagem, Altman e Peres (2001, p. 89-102, apud ARAUJO; FILHO, 2008) colocam que:

 

 

O processo ensino-aprendizagem deve ser desenvolvido através da relação aluno-professor, permitindo o diálogo sobre os conteúdos a serem desenvolvidos durante as aulas. Sua forma de aplicação deve estar fundamentada numa ação comunicativa problematizadora, visando à interação responsável produtiva e, respeitando os caminhos a serem seguidos como: arranjo de material, transcendência de limites pela experimentação, pela aprendizagem e transcendência de limite criando as decisões didáticas que serão mediadoras na formação de critérios avaliativos que fornecerão meios para um acompanhamento do processo ensino-aprendizagem, bem como, poderão diagnosticar as necessidades de uma nova proposta de ação.

 

 

Estes critérios avaliativos são de suma importância para o acompanhamento, aplicação e evolução do processo ensino/aprendizagem dos conteúdos de Educação Física e demais disciplinas na escola, e devem ser vistos muito além do saber os conteúdos devem proporcionar aos alunos análises e abordagens críticas da realidade de modo a ser construída uma rede de significados entre o que é aprendido na escola e o que se vive e, portanto, no processo ensino-aprendizagem os conteúdos escolares devem ser trabalhados nas três dimensões: conceitual (conhecer), procedimental (vivenciar) e atitudinal (valorizar) o docente deverá estar atento às fases de desenvolvimento físico/biológico, sua correlação ou não com o desenvolvimento cognitivo e principalmente a interação entre estes “pilares” na formação do ser humano, o que sem dúvida, exigirá além de atenção especial, uma formação diferenciada do profissional de Educação Física ou de qualquer outra área da educação. (DARIDO, 2008, p.64 - 68).

Diante destas afirmações percebe-se que a o aluno deve ser analisado com amplitude e essa amplitude ultrapassa o âmbito escolar. Reflexões sobre o processo ensino e aprendizagem, sobre o que tem sido feito nas escolas durante as aulas de Educação Física no ensino fundamental I atualmente, e o que pode ser feito para o futuro, segundo aponta Carol Kolyniak Filho (BUORO, 2000, p.57):

 

 

Questões vêm sido discutidas, e diferentes respostas foram propostas. Alguns dizem que a Educação Física estuda o esporte, outros dizem que é a atividade física, há os que afirmam tratar do movimento humano, ou do homem em movimento. Há outra formulação abrangente, que parece adequada para definir o objeto da Educação Física: motricidade humana, estendida como a totalidade das possibilidades de movimento do ser humano, resultante de seu desenvolvimento biológico, histórico e sócio-cultural.

 

 

Os relatos acima confirmam que não se deve ater-se a uma só proposta e sim a várias, e da ênfase de uma visão global da educação física dando maior qualidade a educação, devendo-se ser trabalhada em conjunto para o desenvolvimento da totalidade do aluno tornando-o apto para o convívio no meio que o cerca, e ampliando suas possibilidades e criatividade. No prefácio dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física (BRASIL, 2001), o Ministro da Educação da época, Paulo Renato Souza, ao referi-se quanto o auxílio deste documento para o professor com alunos das séries iniciais diz que:

 

 

Nosso objetivo é auxiliá-lo na execução de seu trabalho, compartilhando seu esforço diário de fazer com que as crianças dominem os conhecimentos de que necessitam para crescerem como cidadãos plenamente reconhecidos e conscientes de seu papel na sociedade [...] Nesse sentido o propósito [...] ao consolidar os Parâmetros, é apontar metas de qualidade que ajudem o aluno a enfrentar o mundo atual como cidadão participativo, reflexivo e autônomo, conhecedor de seus direitos e deveres.   

 

 

Tem-se em vista nesse documento a clara necessidade de profundas mudanças e renovação do trabalho da Educação Física escolar, desde o planejamento, seu modo de intervenção e pós-aula que o leva a considerar além dos muros da instituição escolar, ofertando uma atenção especial antes durante e depois. Gadotti (2010, p.07) ao referir-se sobre a qualidade na educação enfatiza que:

 

 

Qualidade é a categoria central deste novo paradigma de educação sustentável [...] Mas ela não está separada da quantidade. Até agora, entre nós, só tivemos, de fato, uma educação de qualidade para poucos. Precisamos construir uma nova “qualidade”. (grifo do autor)

 

 

 Portanto o perfil do professor contemporâneo é ser um visionário do saber, que quebra tabu e consegue selecionar seus conteúdos possuindo atitude autônoma sem deixar de socializar e interagir, detém desprendimento proporcionando, contribuindo e auxiliando para a popularização da qualidade da educação.

 

 

A INTERDISCIPLINARIDADE

 

 

Na atualidade o mundo transformou-se profundamente em todas as esferas sociais são observáveis tais mudanças, solicitando competências e habilidades que vão além do simples operar de máquinas, requerendo um aprendizado continuo e abrangente que consiga acompanhar a velocidade das inovações e renovação de saberes, e esta postura, é tão importante quanto à formação de cada profissional. Gadotti (2010, p.27) enfatiza que:

 

 

O acesso livre e gratuito ao conhecimento e à cultura, que as novas tecnologias permitem principalmente as redes sociais, são uma benção e se constituem num vetor importante de redução das desigualdades sociais. Por isso devemos construir, cada vez mais, formas coletivas (não mercantis) do conhecimento. 

 

 

Na década de 60, a interdisciplinaridade chegou ao Brasil exercendo influência na elaboração da Lei de Diretrizes e Bases Nº 5.692/71 e com o decorrer dos anos sua presença no cenário educacional brasileiro tem se intensificado com a nova LDB Nº 9.394/96 “[...] que apropriou uma nova estrutura didática, deu autonomia aos sistemas de ensino nas quatro esferas e veio com um olhar diferenciado a formação do cidadão” (DARIDO, 2008, p. 52).

E com os Parâmetros Curriculares Nacionais, artigo 26º “[...] que dá um direcionamento a Educação Física escolar” (DARIDO, 2008, p. 17). Esse desenvolvimento incessante da tecnologia faz surgir inúmeras especialidades científicas, embora tenha uma variedade dos níveis de interação entre as disciplinas, dentre os quais se destaca a interdisciplinaridade. A história da interdisciplinaridade segundo Fazenda, (1994, p. 82, apud CARLOS, 2007):

 

 

Surgiu na Itália e na França durante a década de 60, em um período assinalado por movimentos estudantis que, além de outras coisas, reivindicavam um ensino mais sintonizado com as grandes questões da época; de ordem social, política e econômica. A resposta teria sido a interdisciplinaridade, a tal reivindicação. Na medida em que os grandes problemas da época não poderiam ser resolvidos por uma única disciplina ou área do saber.   

 

 

Vale à pena ressaltar que, numa observação mais especifica, o próprio conceito de interdisciplinaridade apresenta os seus variantes, vejamos algumas concepções sobre os conceitos que a cercam. Conforme Japiassú (1976, p. 43 apud MACHADO, 2009):

 

A interdisciplinaridade se apresenta sob a forma de tríplice protesto: contra um saber fragmentado, contra o distanciamento entre a universidade compartimentada e a sociedade percebida como um todo e contra o conformismo das situações adquiridas.

 

 

Para ele a interdisciplinaridade é uma reação contra o saber fragmentado e individualista, contra a própria postura da universidade que não compartilha seus conhecimentos com a sociedade que é o seu principal objeto de estudo, e contra o profissional que prefere ficar na zona de conforto e não busca qualificação. Para aprofundar as conclusões iniciais de interdisciplinaridade e tentando estabelecer o seu papel Jantsch (1995, apud FAZENDA, 1996, p. 27, apud MACHADO, 2009) exemplifica os seguintes significados:

 

 

Disciplina: conjunto específico de conhecimentos com suas próprias características sobre o plano do ensino, da formação dos mecanismos, dos métodos, das matérias [...] Multidisciplina: Justaposição de disciplinas diversas, desprovidas de relação aparente entre elas [...] Pluridisciplina: Justaposição de disciplinas mais ou menos vizinhas nos domínios do conhecimento. Interdisciplina: Interação existente entre duas ou mais disciplinas. Essa interação pode ir da simples comunicação de idéias à integração mútua dos conceitos diretores da epistemologia, da terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da organização referentes ao ensino e à pesquisa [...] Transdisciplina: Resultado de uma axiomática comum a um conjunto de disciplinas.

 

 

Definindo por nomenclaturas uma classificação da relação disciplinar por multi, pluri, inter e trans. Tais classificações também são contempladas por Darido (2008, p.81), onde a autora diz que as organizações multidisciplinares como somáticas dos conteúdos escolares, que são apresentados por matérias independentes umas das outras; e que a Interdisciplinaridade é a interação entre duas ou mais disciplinas que podem ir desde a simples comunicação de idéias até a integração recíproca dos conceitos fundamentais da teoria do conhecimento, da metodologia e dos dados da pesquisa e menciona também que a transdisciplinar é o grau máximo de relações entre as disciplinas. Na interdisciplinaridade há cooperação e diálogo entre as disciplinas, trata-se de uma ação coordenada podendo assumir as mais variadas formas em seu eixo de integração, onde norteia e orienta as ações dos projetos interdisciplinares. Os PCN’s (2002, p. 88-89) confirmam tais afirmações ao citar que:

A interdisciplinaridade supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Nesse sentido, ela deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, talvez vários.

 

 

Além de sua forte influência na legislação e nas Propostas Curriculares, a Interdisciplinaridade ganhou força nas escolas, principalmente no discurso e na prática de professores dos diversos níveis de ensino. Apesar disso, estudos têm revelado que a Interdisciplinaridade ainda é pouco conhecida, e em se tratando da Educação Física, é notória a pouca importância dada a uma possível relação entre as atividades da disciplina Educação Física e as outras disciplinas; Freire, (2010, p.162) comenta que:

 

 

A visão que a escola tem de mente e corpo [...] Dá pra imaginar a escola como um ser de cabeça imensa e corpo diminuído, um ser, por isso, deformado [...] Uma certa desproporção entre mente e corpo na universidade ainda seria admissível, embora não compreensível [...] Mas quanto a criança é incompreensível [...] Dificilmente um professor de matemática deixaria de ressaltar o valor das atividades físicas para o aprendizado de sua matéria.    

 

 

Este autor critica a função utilitária dada a Educação Física, e que apesar de reconhecer a importância da interdisciplinaridade enfatiza o fácil manuseio para a forma auxiliar, pondo em cheque a autonomia dessas aulas. Todavia, a interação pode acontecer em níveis de complexidade diferentes. A conceituação de interdisciplinaridade dar-se segundo Fazenda, (2003, p.12, apud SILVA, 2009):

 

 

Uma nova atitude diante da questão do conhecimento, de abertura a compreensão de aspectos ocultos do ato de aprender e dos aparentemente expressos, colocando-os em questão [...] Cinco princípios subsidiam uma prática docente interdisciplinar: humildade, coerência, espera, respeito e desapego.

 

 

Fazenda (2003) trabalha a mais de 30 anos em torno da interdisciplinaridade e é um dos ícones de referencial sobre esse tema no Brasil, enfatiza que a atitude interdisciplinar implica-se em diversas características subjetivas que correspondem em quebrar barreiras, ultrapassar os limites e se despir de protecionismo “[...] interdisciplinaridade não é uma categoria de conhecimento, mas de ação” (2003, p.12, apud SILVA, 2009). Ao falar de Interdisciplinaridade no ensino, não se pode deixar de considerar a contribuição dos PCN’s. Uma análise mais profunda desses documentos revela a opção por uma concepção instrumental de Interdisciplinaridade, pois de acordo com diversas linhas de estudo sobre interdisciplinaridade:

 

 

[...] na perspectiva escolar, a interdisciplinaridade não tem a pretensão de criar novas disciplinas ou saberes, mas de utilizar os conhecimentos de várias disciplinas para resolver um problema concreto ou compreender um fenômeno sob diferentes pontos de vista. Em suma, a interdisciplinaridade tem uma função instrumental. (BRASIL, 2002, p. 34-36)

 

 

Nesse contexto reafirma que o principal propósito do trabalho interdisciplinar consiste em uma proposta que promova a mobilização da comunidade escolar em torno de objetivos educacionais mais amplos, que estão acima de estrelismo e quaisquer conteúdos disciplinares, em se tratando da prática docente, onde:

 

 

A prática docente comum está centrada no trabalho permanentemente voltado para o desenvolvimento de competências e habilidades, apoiado na associação ensino e pesquisa e no trabalho com diferentes fontes expressas em diferentes linguagens, que comportem diferentes interpretações sobre os temas ou assuntos trabalhados em sala de aula, na quadra ou qualquer outro lugar proposto. Portanto, esses são os fatores que dão unidade ao trabalho das diferentes disciplinas, e não a associação das mesmas em torno de temas supostamente comuns a todas elas. (BRASIL, 2002, p. 21-22)

 

 

Com essa afirmação, fica clara a intenção da interdisciplinaridade nos PCN’s, que se assume como eixo de integração a prática docente comum, voltada para o desenvolvimento de competências e habilidades dos discentes; dessa forma, essa proposta não gera a descaracterização das disciplinas, nem a perda da autonomia por parte dos professores e, com isso, não rompe com a disciplinaridade nas escolas, o que geraria uma verdadeira confusão na organização escolar. Maciel (2010, p. 42-43) dá ênfase ao enfoque audiovisual da interdisciplinaridade, pois:

 

 

[...] O grande interesse despertado pelo cinema e o audiovisual em diversos campos. [...] sugerem ainda uma renovação em andamento dos estudos do cinema e audiovisual no Brasil [...] que demonstra a atenção dos pesquisadores e ás mudanças estéticas e tecnológicas [...] refletem a pluralidade do debate [...] costumam reunir grupos de trabalho e promover seminários e publicações de temáticas interdisciplinares.    

 

 

Este autor enfatiza que aos poucos a interdisciplinaridade deixa de ser utópica e se transforma em realidade, e no contexto escolar amplia o trabalho disciplinar na medida em que promove a aproximação e a articulação das atividades docentes numa ação coordenada e orientada para objetivos comuns possibilitando a oxigenação da educação. Fazenda (1994, p. 82, apud CARLOS, 2007) fortalece essa idéia ao falar das atitudes de um professor interdisciplinar:

 

 

Atitude interdisciplinar, [...] alternativas para conhecer mais e melhor; [...] espera ante os atos consumados, [...] reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo com pares idênticos, com pares antônimos ou consigo mesmo [...] humildade diante da limitação do próprio saber, [...] perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes [...] desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho [...] de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as pessoas neles envolvidas [...] compromisso em construir sempre da melhor forma possível [...] responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro, de vida.

 

 

Na atitude interdisciplinar ha necessidade de relação, de interação, de cooperação, e principalmente do diálogo (aberto, franco, sincero) que explicite o comprometimento e importância de cada um na execução do projeto. Diante do olhar apaixonado, emocionante e motivador de Ivani Fazenda, materializa-se a noção da sua importância interdisciplinar, Fazenda, (1994, p. 86-87, apud SILVA, 2009) estabelece como que seria esta aula:

 

 

Numa sala de aula interdisciplinar, a autoridade é conquistada, enquanto na outra é simplesmente outorgada [...] a obrigação é alternada pela satisfação; a arrogância pela humildade; a solidão pela cooperação; a especialização pela generalidade; o grupo homogêneo pelo heterogêneo; a reprodução pela produção do conhecimento [...] a interdisciplinaridade pode ser aprendida e pode ser ensinada, o que pressupõe um ato de perceber-se interdisciplinar.

 

 

A aula que contemple o olhar diferenciado da interdisciplinaridade impele o domínio comportamental nas ações e projetos pedagógicos. Ou seja, a interdisciplinaridade é incorporada aos valores e atitudes humanos que compõem o perfil profissional e pessoal do professor interdisciplinar. Portanto aquela historia de que faço parte deste projeto mais não participo, não opino e muito menos planejo em conjunto; não cabe dentro da interdisciplinaridade.

 

 

O AUDIOVISUAL COMO FERRAMENTA DE ENSINO E APRENDIZAGEM NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

 

 

Hoje uma nova concepção das aulas de Educação Física vem sendo preiteada, veio então à necessidade de espaços e ferramentas alternativas, o audiovisual vem se destacando na contribuição do ensino e aprendizagem, pois, as novas tecnologias surgiram para dar qualidade à educação na sociedade da informação, de acordo com Gadotti (2010 p. 14):

 

 

Vivemos hoje numa sociedade de redes e movimento; uma sociedade de múltiplas oportunidades de aprendizagens, chamada de sociedade aprendente; uma sociedade de aprendizagem global, na qual as conseqüências para a escola, para o professor e para a educação em geral, são enormes.

 

 

Evidencia-se que a instituição escolar, o professor e a educação em geral devem estar conectados com as evoluções tecnológicas que dão acessibilidade ao aprendizado e em contra partida exige muito mais do sistema educacional. Darido (2008, p.110 - 167) enfatiza que:

Nesta nova concepção de Educação Física, as atividades e os procedimentos didáticos exigem uma variação muito maior. [...] consiste em uma diversidade de elementos [...] Esses elementos incidem na maneira como entendemos e recebemos mensagens [...] As diferentes mídias, em especial a TV, têm uma influencia bastante grande na construção do imaginário infantil.

 

 

A autora aponta possibilidades na pratica docente e utilizando o vídeo como exemplo sugere o seguinte processo: Choque Emocional; que verifica as impressões e emoções iniciais das imagens através do debate, O Conflito dos Sentidos; que confronta os entendimentos diversos gerados pela exposição dos recursos audiovisuais, A Formação de Opiniões; Ensina o discente a observar melhor as informações veiculadas na TV para diferenciar fatos de opiniões e o Distanciamento Crítico; que consiste na percepção da influencia que a opinião pessoal sofreu, observando se são tendenciosas ou não. Nesse contexto pode-se dizer que o papel da escola é formar cidadãos críticos e que atualmente a tendência é eliminar o sistema conteúdista e assumir seu papel social, onde implica em observar os avanços tecnológicos, sem desprezar os conhecimentos produzidos no decorrer da historia pela sociedade, capacitando o aluno para ser um agente de observação e transformação. Para isso Gadotti (2010, p. 15) completa:      

 

 

Na sociedade da informação, o papel social da escola foi consideravelmente ampliado. É uma escola presente na cidade [...] criando novos conhecimentos, relações sociais e humanas, sem abrir mão do conhecimento historicamente produzido pela sociedade, uma escola cientifica e transformadora.  Um bom professor deve ser um profissional do sentido [...] Muitas de nossas crianças e jovens chegam hoje à escola e à universidade sem saber por que estão aí. Não vêem sentido no que estão aprendendo. Querem saber, mas não aprender o que lhes é ensinado. É ai que entra o papel do professor que constrói sentido, transforma o obrigatório em prazeroso, seleciona criticamente o que devemos aprender. Esse profissional transforma informação em conhecimento, porque o conhecimento é a informação que faz sentido para quem aprende.

 

 

O discente ao deparar-se com os conteúdos das disciplinas na escola questiona-se para que esse assunto, ou de que me servira isto para o futuro? Vem então à necessidade do professor mediar, direcionar e fazer sentido do que esta ministrando, a cultura audiovisual vem como um recurso eficaz facilitador para as respostas dessas duvidas. Segundo Vicario e Díaz (2010, p. 11):

A cultura em sua dupla vertente ajuda a preservar a tradição ao mesmo tempo em que nos impele a despedaçá-la [...] A continuidade e a ruptura das tradições são espaços de sentido cultural [...] Nossa contemporaneidade se estrutura com o nosso presente, porém se cimenta em passados imaginados [...] Isso institui uma mestiçagem espaço - temporal que gera as contradições que consolidam nossa forma de entrar na contemporaneidade e por meio das quais crescemos para o mundo do que foi e do que será.

 

 

  Portanto a cultura audiovisual assim como as demais, sofre dualidade de vertente, e que cabe ao educador apresentar a porta do futuro sem desprezar o passado, ou seja, olhar valoroso do passado, reconhecendo o presente, de olho no futuro Vicario e Díaz (2010, p. 12 e 13) salientam que:

 

 

A educação deve e precisa desempenhar um papel decisivo para ajudar a entrar nesses novos parâmetros [...] As novas tecnologias da informação nos obrigam a sair do passado rapidamente, condenando-o a ser um obstáculo ao crescimento? Ou seu uso, que não nasce onde deveria (ou seja, na escola e com parâmetros de inclusão na cotidianidade) [...] Realmente falta uma ancoragem para a cultura e suas modificações nos processos educativos. Não basta ensinar a apertar botões [...] para dizer que estamos incluindo as NTIC na educação, muito menos que estamos educando para as novas tecnologias.

 

 

Percebe-se a necessidade da mediação dos conhecimentos instituídos, das novas tecnologias e a associação ao cotidiano do aluno, pois, não se podem cobrar novas atitudes da sociedade se não iniciar essa inclusão pela escola. Vicario e Díaz (2010, p. 14-18-19) mencionam que:

 

 

A construção de uma “cidadania digital” é um longo e tortuoso caminho com muitos inimigos [...] aquele processo de intersecção no qual aparecia o conhecimento como a mistura de verdades e crenças é claramente revirada pela introdução de novos parâmetros, já que a tecnologia constitui um salto qualitativo e quantitativo nas técnicas do saber. [...] somos vitimas de uma estrutura que devemos ir modificando com maior celeridade possível [...] a única maneira de fazê-lo de forma sustentável é por meio da educação.

 

 

Aqui se destaca as dificuldades encontradas pelos educadores e discentes, no entanto, assinala-se a urgência de uma cidadania digital para usufruir das novas tecnologias com qualidade e quantidade e que o alicerce está na educação. Ainda Vicario e Díaz (2010, p.19) afirmam que:

 

 

É a educação que assegura as capacidades de estruturar as novas tecnologias como fatores de crescimento, e não como instrumentos de dominação e separação. A falta de uma alfabetização tecnológica coerente e pensada em função do ser humano pode se tornar, com o passar do tempo, o mesmo fator de marginalidade, em seu momento, foi à falta de alfabetização tradicional

 

 

Entendo que a educação é o fator essencial a cidadania digital , se evitará uma espécie de analfabetismo tão grave quanto o fato de não saber ler e escrever, tomando como partida a aproximação das disciplinas e dos aparatos tecnológicos. Vicario e Díaz (2010, p.19) finalizam dizendo que:

 

 

[...] O papel do educador do gestor adquire uma dimensão que o leva a espaços com os quais já não cabe continuar simplesmente “flertando” É necessário estar neles, ajudá-los a ser cada vez mais sólidos [...] devemos ser conscientes de que não podemos continuar trabalhando sem conciliar e aproximar posturas com outras disciplinas, principalmente às educativas.

 

 

Dessa forma os autores concluem que as novas tecnologias, só serão instrumento de inclusão, se os educadores e gestores tomarem consciência de que devem deixar de se abster e adotar novas posturas em seu trabalho docente, observando todos os contextos que circundam esse processo, dessa forma, assumindo o papel real de interventor, conduzindo o ensino a acessibilidade e a consistência ampla e segura.

 

 

 

 

 

 

 

 

DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

 

 

Tabela 01. Questionário aplicado aos professores da Escola Estadual Barão do Rio Branco, Macapá, Amapá. 2011.

1.

Na escola onde você leciona existe algum projeto interdisciplinar?

2.

Sua escola possui equipamentos Audiovisuais?

3.

Você já utilizou como ferramenta de ensino e aprendizagem o Audiovisual?

4.

Qual o motivo que leva você a trabalhar com a interdisciplinaridade utilizando o Audiovisual como recurso em suas aulas?

5.

Por quais motivos você não utiliza a interdisciplinaridade utilizando o Audiovisual como recurso em suas aulas?

6.

Com qual freqüência você usa a interdisciplinaridade utilizando o Audiovisual como recurso?

7.

Professor, o que você acha que falta na sua prática, para que utilize mais esse recurso tecnológico com olhar interdisciplinar?

 

As perguntas levantadas no questionário aplicado aos docentes (Tabela 01) abordaram questões relativas à utilização dos recursos interdisciplinares audiovisuais, se esses recursos existem e como são utilizados pelos mesmos.

Nas questões 1., 2., e 3., obteve-se 100% de respostas afirmativas, suscitando que existe um projeto interdisciplinar e os recursos audiovisuais já foram utilizados pelo menos uma vez em suas práticas de ensino durante o ano.

Através das questões 4., 5., 6., e 7., constatou-se que a interdisciplinaridade e os recursos audiovisuais existem na instituição, mas, não são utilizados de forma apropriada e que a disciplina Educação Física está fora desse processo, o que é preocupante, pois, as ferramentas audiovisuais estão presentes no cotidiano do aluno e a escola não pode ignorar tal realidade. O motivo alegado por um dos profissionais foi à dificuldade de se planejar aulas com o olhar interdisciplinar e o recurso audiovisual. Verificou-se que a escola considera apenas a quadra e a área lateral da mesma, em detrimento da disciplina Educação Física, confirmando a ausência de novos olhares.  

 

Tabela 02. Perguntas aplicadas aos artistas do seguimento audiovisual, Macapá, Amapá. 2011.

1.

Você utiliza o audiovisual no processo de ensino-aprendizagem?

2.

Quais benefícios a prática interdisciplinar juntamente com o audiovisual pode proporcionar para o desenvolvimento da aula?

3.

Você utiliza ou já utilizou o audiovisual na Educação Física?

4.

Se sua resposta for positiva que perspectiva e qual o olhar para as aulas de Educação Física através desse experimento?

5.

Há diferenças nas aulas ministradas com a utilização da interdisciplinaridade associada ao Áudio Visual e os métodos tradicionais?

6.

Essa prática pode contar com o corpo técnico e os educadores de ambas as disciplinas.

7.

Por que essa prática pode contar com o corpo técnico e os educadores de ambas as disciplinas.

 

As perguntas levantadas no questionário aplicado aos artistas do seguimento audiovisual (Tabela 02) abordaram questões relativas à intervenção dentro da escola através do projeto interdisciplinar e ferramentas audiovisuais, e se têm apóio dos técnicos e professores da instituição.

Na questão 1., obteve-se 100% de respostas afirmativas, enfatizando que as ferramentas audiovisuais são utilizadas no processo ensino-aprendizagem.

Nas questões 2., 3., 4., 5., 6., e 7., Contatou-se que os integrantes do Museu da Imagem e do Som (MIS) participam de um trabalho dentro da escola e em outras intuições de ensino da capital e interior do Estado, no entanto o outro entrevistado Coletivo Palafita, manifesta o desejo de participar de projetos como este. O motivo da tímida participação dentro das escolas seria à dificuldade firmar parcerias no contexto escolar, com o olhar interdisciplinar e o recurso audiovisual. Verificou-se que dentro da Educação Física a práxis desta ponte em geral, ainda é uma utopia.

 

 

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

 

 

O desafio da Educação Física na escola nos remete a análise do cenário histórico dessa disciplina, e a contemplar um olhar diferenciado, possível e necessário, onde abrange possibilidades como os projetos interdisciplinares e recursos Audiovisuais.

O professor de Educação Física assim como os das demais disciplinas tem um papel decisivo no direcionamento das competências, habilidades e a formação da cidadania do aluno. Esse atendimento perpassa pelo ensino infantil, fundamental médio e universitário, nessa nova sociedade da tecnologia e da informação a qualidade caminha em conjunto com quantidade.

Uma perspectiva interdisciplinar dispõe uma riqueza de possibilidades para o magistério, que vai muito além do plano teórico, metodológico e didático; sua práxis escolar cria uma nova postura de atitude. Proporcionado oportunidades do encontro, da partilha, da cooperação e do diálogo, está postura por tantas vezes cobrada dos alunos durante as aulas, deve-se partir do profissional para dar o exemplo exigido. A interdisciplinaridade oportuniza uma ação conjunta e articulada do corpo técnico pedagógico e professores e aponta para se observar além dos muros da instituição.

A interdisciplinaridade na escola dispondo do recurso audiovisual ilustra a complexidade e a riqueza conceitual que cercam essas vertentes, podendo ampliar a qualidade da educação, alcançando as diferentes esferas sociais. Não há metodologias prontas a se seguir, os caminhos na busca de um projeto interdisciplinar utilizando novas tecnologias (audiovisual) devem ser alcançados pelo trabalho em equipe tomando como ponto de partida os problemas escolares e da sociedade, compartilhados pelos professores por meio de sua experiência pedagógica, o destino é determinado pelos objetivos educacionais, ou melhor, pelo Projeto Político Pedagógico.

. Espera-se contribuir no sentido de oferecer orientação para os caminhos da interdisciplinaridade e do audiovisual na escola, para que seja adotado um olhar comprometido com o interdisciplinar e as novas tendências tecnológicas. Estabelecendo uma série de relações sócio-culturais e humanas, entre a atividade docente e a formação pedagógica do professor de Macapá, na observância do que está ocorrendo com o ensino no Brasil e no mundo.

A necessidade de se inovar a práxis docente com o objetivo de orientar os acadêmicos numa empreitada mais acertada para a Licenciatura em Educação Física e outras áreas, pois a qualidade está no que se faz, e não apenas no que se tem como conseqüência disso, contudo, esta valorização deste processo é um desafio comum à implantação da qualidade em qualquer setor principalmente o educacional por se tratar do alicerce para as outras profissões.

A formação do profissional e a preocupação com a qualidade do trabalho que irá desenvolver terão influências diretas no conteúdo que selecionar para ensinar com o trato científico e metodológico, analisando critérios de seleção, transmissão e avaliação, de forma a respeitar os interesses individuais e coletivos, dando significado ao que se ensina para quem aprende. Facilitando as descobertas e motivando a criatividade como fator de inteligência. A tecnologia mostra-se como uma ferramenta importante, eficaz e facilitadora. Hoje, existe a urgência e a necessidade, quem não há utiliza, não tem acessibilidade, ela em conjunto com a interdisciplinaridade tem por finalidade construir pontes derrubando muros.

Portanto nessa pesquisa de campo constatou-se que a maioria dos professores da Escola Estadual Barão do Rio Branco, alega sentir dificuldades em planejar aulas com o olhar interdisciplinar, no entanto, sabem da importância que tem um projeto interdisciplinar, e observa-se que é pouco utilizado o audiovisual, e desconhecem o valor histórico cultural da Instituição de ensino, e o trabalho dos artistas do seguimento audiovisual ocorre de forma tímida, aleatória e isolada.

Recomenda-se que se faça uma aproximação do cotidiano discente com atitudes simples como, por exemplo, a utilização do celular tão difuso atualmente entre os jovens o docente (qualificado e assessorado pelos artistas audiovisuais), pode contribuir para a quebra de antigos paradigmas e a construção de novas concepções, pois ao instigar os alunos a registrar as aulas de Educação Física (filmando, fotografando...), analisando movimentos (do vôlei, da dança do marabaixo...) desenvolve potencialidades, com criatividade e acessibilidade conhecendo, vivenciando e valorizando a Cultura Corporal do Movimento, dessa forma, o professor constrói sentido no que ensina criando novas formas de ensinar e aprender.

 

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[1] Graduandos em Licenciatura em Educação Física da Universidade Vale do Acaraú (UVA) Macapá, Amapá.

[2] Orientadora, Professora do Colegiado de Educação Física da Universidade Vale do Acaraú e Mestranda em Ciências da Educação pela Universidade D’el Salvador/Buenos Aires (Argentina).