A Europa passa por um momento interessante e talvez histórico, onde fica claro o desejo de se atingir uma integração das bases que regem o ensino superior, tendo como base de um lado, a motivação da paz e solidariedade, e do outro,  razões mercadológicas, ambos tendo em comum a padronização dos parâmetros básicos regentes, como a relação de créditos x tempo, ou o tempo de duração nos níveis acadêmicos - três anos de graduação, dois de mestrado e três de doutorado (3+2+3). O trecho a seguir resume bem os objetivos:

A grande meta desses países é promover, até 2010, uma transformação conjunta das estruturas da educação superior européia, a partir de um marco de referência comum em termos de titulação níveis de ensino, currículos, sistema de convalidação de créditos, mecanismos de garantia de qualidade e fé pública, facilitação da mobilidade internacional, enfim, uma reforma que seja capaz de superar barreiras culturais, de idiomas e modelos educativos desse nível e torná-lo mais eficiente e competitivo. Em resumo, trata-se de eliminar as barreiras que impedem a livre circulação de capitais, mercadorias, conhecimentos e pessoas, mais propriamente, dos profissionais.

Apesar de esses ideais serem, num primeiro momento, muito atraentes, existem efeitos colaterais. Infelizmente, a humanidade ainda tem como base os interesses que colocam as necessidades materiais acima dos valores humanos. O sonho de Domenico de Mazzi, onde a mudança do paradigma do culto ao trabalho para o culto à pessoa e ao conhecimento, com conseqüente valorização do humanismo, ainda é ameaçado por anseios apegados ao capital, que ainda justificam os desajustes, a fome de boa parte da população mundial e as guerras,  quero chamar a atenção para o trecho a seguir:

O rumo foi colocado na direção certa, dentro dos objetivos apropriados.

A obtenção de maior compatibilidade e de maior  comparabilidade dos sistemas do ensino requer, no entanto, uma contínua energia para se cumprir plenamente. Deve-se ter em conta o objetivo de elevar a competividade internacional do sistema europeu do ensino superior. A vitalidade e a eficiência de qualquer civilização pode medir-se pela atração que a sua cultura exerce sobre os outros países. Precisamos assegurar que o sistema europeu de ensino superior consiga adquirir um grau de atração mundial semelhante ao das nossas extraordinárias
tradições cultural e científica...

Podemos fazer duas leituras do trecho mencionado acima.

Uma, a que pode ter valor, é a preocupação dessa iniciativa integralista em manter a Europa como um centro de referência mundial em pesquisa e desenvolvimento do conhecimento, mantendo sua posição e garantindo a empregabilidade e a retenção de talentos.

Uma outra leitura, seria a de revitalizar uma corrida tecnologica e de conhecimento, com finalidades exclusivamente consumistas e de capitais, essa segunda possibilidade deve ser vista e prevista para que se possa ter o devido controle, afinal, estamos numa época onde não podemos mais nos dar ao luxo de simplesmente consumir, consumir, consumir, sem a devida racionalização, já que colocamos nosso planeta em risco real no tocante à ameaça degradativa do meio ambiente.

Que essa integração seja então em nome do desenvolvimento, mas que  o desenvolvimento tenha como parâmetro o respeito à própria vida em todas as instâncias, ecológicas, humanitária e social...

Tendo feito essa análise da experiência em curso na Europa, fico imaginando como seria integrar e normatizar a educação superior no Brasil ou até mesmo nos países componenentes do Mercosul.

Para começar um dado interessante, encomendado pela CBA (Comp. Brasileira de Alumínio) do grupo Votorantim, revela que enquanto o tempo médio de permanência do indivíduo de um país considerado desenvolvido é de em média 10 anos, no Brasil temos uma permanência média de 3 anos. Ora,  como desejamos ter uma atividade de nível superior representativa da sociedade,  se não temos ao menos uma representatividade escolar mínima? Podemos até definir padrões de integração, com objetivos semelhantes aos desejados pela proposta Européia, mas não podemos ignorar essa realidade que vem do ensino básico. Seria como comprar uma BMW sem ter uma casa para morar. Você não acha?

Uma outra leitura interessante das informações que nos são bombardeadas diariamente, vêm do Ibope. Dos programas de TV tidos como minimamente educativos, culturais ou reflexivos, há uma audiência, tomando como base o público da grande São Paulo (incluindo Guarulhos e Osasco), de aproximadamente  1.000.000 (um milhão de pessoas), isso significa que aproximadamente 19.000.000 (dezenove milhões de pessoas) são influenciadas por uma programação que não trás as mínimas referências para contribuir em uma formação de pessoas mais críticas e com alguma capacidade de discernimento. Esse último dado dá noção do padrão de pessoas que em maioria nos cercam, mas ao invés de me deixar abalar por essa realidade, enxergo isso como um desafio, tornar esse um milhão, em dois, em três, ou seja, numa proporção que ajude a tornar nossa sociedade mais adiantada em todos os sentidos.

Concluindo, a iniciativa integradora do nível superior, trás ao meu ver,  um saldo bom, apenas devemos ter a devida atenção para efeitos colaterais como o seu mau uso como criar uma sociedade dividida com uma parte da população global beneficiada e outra esquecida, outro cuidado é o mau uso no tocante ao desenvolvimento tecnicista que não leva em consideração a questão humanitária, e no caso do Brasil, que não criemos uma elite de poucos esquecendo da grande massa que tem uma escolaridade ínfima.