A insignificância do tempo.

Não sei o que sou.

Se  sou poeta.

Ou um fingidor de fazedor.

De poesia.  

Quando chega ao final.

De uma poesia escrita.

Penso em imaginar.

Que  não foi escrita.

Cada poesia torta.

 Como uma pita.

Sem linha.

Perdida ao infinito.

Chego a pensar.

A dor que o céu.

Sente.

Ao perceber.

A feiura do poema.

Escrito por mim.

Mas aqueles que leem.

Brilham os olhos.

Sem perceber a dor.

Escondida.

E sem entender

A ideologia escrita.

Sente-se bem.

Aquilo que ninguém percebe.

Que tenta enganar ao seu contrário.

Do percebido.

É maravilhosamente encantador.

Mas só aquele que não tem.

A percepção da imaginação.

O que escrevo.

É o que não escrevo.

Dessa forma.

O tempo roda.

Como os sinais.

Dos trilhos.

O início eterno.

Das mesmas coisas.

Suas repetições.

Intermináveis.

 O que falo.

Às vezes são apenas.

As suas negações.

O giratório das delas.

 É entretimento.

Das fábulas incandescentes.

Não sei se deveria dizer.

Que sou poeta.

Porque escrevo obviedades.

A consolidação complacente.

De tantas ideologias.

Espúrias.

Anacronismos permanentes.

Mas gosto de imaginar.

O impossível a ser imaginado

Entretanto lógico.

A descrição das impossibilidades.

Como poeta.

Não sou como nada.

 Apenas a imaginação.

De uma grande fantasia.

Cheia de complexidades.

 Imponderáveis.

O que deveria ser.

Além do desejo de escrever.

 Apenas um poema.

Que pudesse retratar a verdade.

Da não verdade.

O princípio da negação.

Da força gravitacional.

Da antienergia.

A constituição da formulação.

Da ausência de matéria.

Sabe o que é perceber.

Que tudo isso nada mais é.

Que a ficção de uma grande.

Indiscrição.

O eterno esgotamento dela mesma.

Na ausência de sua formulação.

E nas suas cinzas a repetição.

 Como se o mundo fosse.

Eternamente a mesma coisa.

A ausência de tudo.

De deus da alma.

Até mesmo dos grandes sonhos.

Tenho apenas que aceitar.

O que for da transitoriedade.

 Indescritível.

Aos fatos mais comuns.

De ideias temerárias.

Indeléveis.

Mais inúteis.

As perspectivas.

 Dos  entendimentos.

Nada mais além.

Da interminável repetição.

 Em algum momento dela.

Por um instante.

Serei o poeta que sou.

Sem  brilho.

Do encantamento das idealizações.  

A única coisa.

Que posso realizar.

 Nesse interminável véu.

Das repetições.

O quanto não significo.

 Sou  apenas potencialmente.

 Uma minúscula partícula.

Da integração do grande nada.

Eternamente misturado com outras.

Tão insignificantes.

Quanto a mim mesmo.

Para o resquício do tempo.

Que haverá de repetir.

Sem poder me explicar.

 Qual o motivo.

De  participar de tudo isso.

Sem a minha permissão.

Edjar Dias de Vasconcelos.