A Inserção da 3ª Idade em Edifícios Multifamiliares Através de uma Arquitetura Acessível 

Por: Ana Paula Alves Ferreira

(Estudante de Arquitetura e Urbanismo UVV/ES) 

O presente trabalho surgiu através das minhas observações quanto ao elevado número de idosos que a cidade e até mesmo o país tem apresentado com o passar dos anos, em decorrência da queda da taxa de fecundidade e a aumentada expectativa de vida, proporcionada pelos avanços da medicina, da ciência e das tecnologias. Teremos, daqui a vinte anos, uma população de idosos em torno de 30 milhões e isto causará um grande impacto na história, trazendo mudanças comportamentais a todos (CENSO, IBGE 2000).

Observa-se por toda parte uma infinidade de idosos nas praias, nas ruas, nos shoppings, nos supermercados, nas igrejas, enfim, em todos os lugares eles estão presentes, sendo uns bem ativos e outros nem tanto. Em virtude da sua idade avançada, os idosos apresentam um declínio físico natural, necessitando para se locomover, de determinados artifícios que facilitem esta ação; e para que isto aconteça os espaços devem ser repensados e adaptados de maneira que ofereça a todos o direito de liberdade, autonomia e segurança.

Constata-se que os espaços em sua maioria não são adaptados para as pessoas da terceira idade, isto ocorre tanto nos espaços externos, como vias, calçadas, nos acessos aos espaços públicos e privados, e acontece também nos espaços internos, ou seja, dentro da própria residência.

Sendo a função de a residência oferecer abrigo, proteção, segurança e principalmente conforto para quem ali reside, no caso dos idosos, faz-se necessário pensar numa evolução quanto à situação dessa residência, que deverá ser diferente, planejada e personalizada, devido às características peculiares dos indivíduos que se encontram na terceira idade. Porém a arquitetura atual das residências, não condiz com os indivíduos que se encontram na terceira idade, que possuem alguma limitação física, seja ela motora ou visual.

E o que seria uma edificação voltada para a terceira idade? Como dar condições de habitabilidade, garantia de liberdade de ação, de movimentos e de escolha a essa população, aliando as recomendações de acessibilidade, funcionalidade, conforto, bem-estar e convívio social entre os idosos?

Sabe-se que as pessoas da terceira idade possuem uma interação com o ambiente diferente das demais pessoas, em virtude dos declínios funcionais característicos dessa idade. Sendo assim, faz-se necessário um projeto com várias adaptações arquitetônicas no ambiente onde essas pessoas vivem e passam a maior parte do tempo. Tudo para que estas possam usufruir com segurança e conforto, tendo o direito de ir e vir e garantindo assim uma melhor qualidade de vida, ou melhor, adicionando-se “vida” aos anos.

Segundo pesquisas levantadas pelo Censo de 2000 (IBGE) a população de idosos no Brasil já chega aos 15 milhões, e nos próximos 20 anos a população de pessoas acima dos 60 anos poderá ultrapassar os 30 milhões, sendo que o Brasil deverá ser o sexto país com população mais envelhecida. 

Essa faixa etária, acima 60 anos, é o segmento que mais cresce em termos proporcionais no país, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).  Isso ocorre em virtude de uma maior longevidade, devido a vários fatores como melhores condições nutricionais, saneamento, avanços na medicina, vacinas, antibióticos entre outros.  Esses avanços modificaram o comportamento dos indivíduos.  Observa-se que o idoso, hoje, é mais ativo e de forma alguma pode ser comparado com os avós de muitos anos atrás.  São pessoas com dinheiro suficiente para consumir, com elevado grau de instrução e exigências.  Gostam de viajar, acompanham a moda e desejam lazer com qualidade, preferem viver na sua própria casa, tendo autonomia sobre sua vida, sendo assim mais independente e feliz.

Atualmente observa-se que o mercado imobiliário não prioriza, não produz uma obra para esse público alvo. Constroem-se condomínios residenciais seguindo sempre o mesmo padrão, estipulado por um código de obras, que nem sempre é o mais adequado. Na prática da especulação imobiliária, utilizam-se para a construção dos espaços, diretrizes projetuais voltado para o mínimo de área aceitável, ditado pelos códigos de obra das construções. Criam-se espaços mínimos utilizáveis para pessoas num todo em geral, sem levar em conta que existem indivíduos com características diferentes; e indivíduos diferentes necessitam de espaço que ofereça uma adequação a essas suas características.

O acelerado e significativo crescimento do número de idosos no Brasil vêm transformando o perfil dos clientes que adquirem um lançamento imobiliário. São pessoas exigentes quanto aos seus direitos, necessitam de espaços voltados para as suas necessidades como também uma demanda por serviços voltados para a terceira idade.

A proposta aqui compreende um projeto residencial multifamiliar que promova a integração da 3ª idade nesta estrutura, onde os espaços são compartilhados por diferentes pessoas, porém esses espaços devem preencher todos os requisitos necessários para atender as pessoas da 3ª idade, conferindo-lhes para seu espaço habitado acessibilidade, segurança, conforto e integração. Para que isso aconteça esses espaços devem ser projetados não só nas unidades habitacionais como também nas áreas comuns do edifício.

Para se alcançar este objetivo à arquitetura deve promover uma reformulação dos espaços utilizando-se para isso alguns procedimentos simples, mas que garantam uma melhor qualidade de vida aos idosos,

Segundo o que estabelecem a NBR 9050 o Desenho Universal e o estudo da Casa Segura, devem ser elaborados projetos que abrangem a construção de rampas acessíveis, colocação de corrimãos, piso antiderrapante, iluminação adequada, portas largas no mínimo 80 cm para passagem, eliminação de quinas, espaços com barras de apoio em banheiros, áreas planas sem degraus entre os ambientes, fechaduras invertidas, acabamentos seguros e de fácil manutenção, cômodos ampliados entre outras características.

Todos esses procedimentos devem ser incorporados aos projetos de forma padrão e respeitando as normas estabelecidas, sem esquecer a estética e a beleza das soluções arquitetonicamente corretas. O escopo de todo trabalho está baseado em normas técnicas que devem ser aplicadas de forma responsável e correta pelos profissionais desta área conscientes da sua missão de melhorar a segurança e a vida de milhares de pessoas.

A passos lentos, isto já está acontecendo em algumas cidades brasileiras que já descobriram que a terceira idade representa uma fatia de até 20% dos compradores de imóveis. (SÁ, 2012)

Em São Paulo já existe um edifício totalmente adaptado para pessoas da terceira idade, além de construtoras que já incorporaram projetos com consciência gerontológica; outra que oferece um sistema de planta acessível com medidas especiais no imóvel, realizando assim construções personalizadas para cada cliente. Também no estado de São Paulo, o poder publico criou um programa de moradias acessíveis para idosos de baixa renda chamada Vila Dignidade, com todas as adaptações que se fazem necessárias aos idosos.

Em outros estados como Rio de Janeiro, Recife, Espírito Santo, as construtoras já iniciaram as adaptações em seus imóveis para atender os indivíduos da terceira idade, oferecendo um lar mais seguro, confortável e ideal para os idosos. (SÁ, 2012).

Segundo dados levantados pelas construtoras o preço desses apartamentos é o mesmo de uma unidade comum, a não ser que se façam adaptações específicas a pedido do usuário, além do mais este conceito de acessibilidade quando aplicado beneficia não só os idosos, mas abrange também todo tipo de usuário, como cadeirantes, obesos, gestantes pessoas com mobilidade reduzida, crianças entre outros. (YOSHIDA, 2012).

Observa-se então a importância que a Arquitetura exerce nos espaços e na vida dos indivíduos, através da criação de espaços que respeitem a diversidade humana, fazendo com que se aproximem cada vez mais dos indivíduos, não sendo uma arquitetura meramente contemplativa, mas sim de inclusão, interação entre o espaço e o homem resultando assim para os indivíduos uma melhor qualidade de vida, ou melhor, adicionando-se vida aos anos.

Referências:

  • BARROS, Cybele Ferreira Monteiro de. Casa segura: uma arquitetura para a maturidade. Rio de Janeiro: ed. Papel & Virtual, 2000. Disponível em: <http://www.casasegura.arq.br/casa_segura.html>. Acesso em: 03 mares 2012.
  • CAMBIAGHI, Silvana. Desenho Universal: métodos e técnicas para arquitetos e urbanistas. São Paulo. Editora SENAC São Paulo, 2007.
  • MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO. IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Perfil dos Idosos responsáveis pelos domicílios no Brasil. 2000. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/perfilidoso/perfidosos2000.pdf>Acesso em 10 de mar 2012.
  • NBR 9050.  Acessibilidade de Pessoas Portadoras de Deficiências a Edificações, Espaço, Mobiliário e Equipamentos Urbanos: Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro: ABNT, 1994.
  • SÁ, Carla. Lar mais seguro para idosos. Jornal a Gazeta, Folha Imóveis 08 de novembro de 2012. Vitória ES.  
  • YOSHIDA, Guilherme. Acessibilidade não encarece imóvel e beneficia todo tipo de condômino. Disponível em:< http://www.zap.com.br/revista/imoveis/servicos/acessibilidade-nao-encarece-imovel-e-beneficia-todo-tipo-de-condomino-20121015/

                                     Vila Velha, novembro de 2012.