A INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E A QUESTÃO DA FORMAÇÃO DOCENTE DIANTE AS NOVAS TECNOLOGIAS.

A História da Informática na Educação no Brasil data de mais de 20 anos. Nasceu no início dos anos 70 a partir de algumas experiências na UFRJ, UFRGS e UNICAMP. Nos anos 80 se estabeleceu através de diversas atividades que permitiram que essa área hoje tenha uma identidade própria, raízes sólidas e relativa maturidade. Apesar dos fortes apelos da mídia e das qualidades inerentes ao computador a sua disseminação nas escolas está hoje muito aquém do que se anunciava e se desejava. A Informática na Educação ainda não adequou as idéias dos educadores e, por estas (e outras) razões, não está consolidada no nosso sistema educacional. Ainda não se faz presente como uma prática pedagógica, onde professor e aluno possam implantar novas técnicas de ensino-aprendizagem.

O professor se torna um elo de conhecimento dessas tecnologias inovadoras, transformando o processo de aprendizagem. Os recursos tecnológicos usados na educação devem caminhar buscando um objetivo único: a otimização do processo de ensino e aprendizagem. (FIGUEREDO, 2003, P.38-40).

Portanto, a Informática na Educação no Brasil nasce a partir do interesse de educadores de algumas universidades brasileiras motivados pelo que já vinha acontecendo em outros países como nos Estados Unidos da América e na França. Embora o contexto mundial de uso do computador na educação sempre foi uma referência para as decisões que foram tomadas aqui no Brasil, a nossa caminhada é muito particular e difere daquilo que se faz em outros países.

Mesmo nos países como Estados Unidos e França, locais onde houve uma grande proliferação de computadores nas escolas e um grande avanço tecnológico, as mudanças são quase inexistentes do ponto de vista pedagógico. As mudanças pedagógicas são sempre apresentadas ao nível do desejo, daquilo que se espera como fruto da informática na educação. Não se encontram práticas realmente transformadoras e suficientemente enraizadas para que se possa dizer que houve transformação efetiva do processo educacional como, por exemplo, uma transformação que enfatiza a criação de ambientes de aprendizagem, nos quais o aluno constrói o seu conhecimento, ao invés de o professor transmitir informação ao aluno. [...] Segundo Castells (2000:40), com a emergência das tecnologias da comunicação e informação, passamos a vivenciar uma revolução tecnológica, caracterizada basicamente pela velocidade de propagação de novos elementos tecnológicos que constituem [...] o conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, computação (software e hardware), telecomunicações/rádio fusão e eletrônica. No entanto, o autor afirma que existem muitas áreas do mundo desconectadas do novo sistema tecnológico e o fato de países e regiões apresentarem diferenças quanto ao momento oportuno de dotarem seu povo do acesso ao poder da tecnologia representa fonte crucial de desigualdade em nossa sociedade. (Castells 2000, p.52).

As discussões em torno da revolução das tecnologias da comunicação e informação remete-nos à questão da exclusão digital que segundo ainda Castells (2005) não está caracterizada apenas pela falta de acesso à informática ou à Internet, pois existem três formas de ser um excluído digital: primeiro, não tem acesso à rede de computadores, segundo: tem acesso ao sistema de comunicação, mas com uma capacidade técnica muito baixa, terceira: é estar conectado à rede e não saber qual o acesso usar, qual a informação buscar, como combinar uma informação com outra e como a utilizar para a vida. Quando se trata da utilização desses recursos para a educação, gera-se o que se chama de exclusão digital, em conseqüência disso a exclusão social, pois a educação ainda não está preparada para associar as novas tecnologias no seu cotidiano de forma que englobe sua utilização pelos professores associando-os com sua disciplina incorporando o aluno no acesso digital de maneira igualitária e instantânea.

Portanto, o professor se torna o elo de conhecimento dessas tecnologias, transformando o processo de aprendizagem, construindo juntamente com os alunos uma educação menos exclusiva tanto no seu âmbito digital como social.

     No Brasil, há os seguidores de Papert (1981, 1985 e 1994), que enfatizam os ganhos com a utilização da informática no processo de ensino aprendizagem, possibilitando ao aluno o desenvolvimento de conceitos e a utilização de tecnologia para a descoberta de novos conhecimentos por ele mesmo desenvolvidos. A base psicológica dos estudos de Papert - apoiados em Piaget - foi concretizada na linguagem LOGO, já bastante difundida aqui no Brasil, objetivando oferecer aos alunos um instrumental onde, por si só, o aluno avançaria no processo do conhecimento.

     Uma das críticas feitas às proposições de PAPERT (1981), através da linguagem LOGO, é que não são considerados os fatores sociais e a produção social do conhecimento (MORAES: 1995), restringindo o individualismo do aluno em suas descobertas. Entretanto, o conhecimento é uma produção social e não pode ser visto separadamente, a informática é fruto dos avanços da sociedade.

     Assim, o uso da informática na educação é visto com bastante restrição e, para estes estudiosos, só os níveis mais avançados do ensino deveriam ter a informática aplicada na educação.

A multimídia e outras formas de ensino computadorizado estimulam a curiosidade dos estudantes. O processo ensino-aprendizagem é enriquecido quando for permitido ao estudante, a partir da motivação e iniciativa própria, pesquisar as informações que lhes interessam. Portanto deve-se estimular a curiosidade e criar recursos para buscar ou criar fontes que satisfaçam as necessidades dos alunos. Nesse contexto, o professor deverá ser o mediador entre a orientação e o aprendizado do aluno, estimulado a buscar informações necessárias para o seu desenvolvimento educacional de maneira eficaz.

De acordo com o Seed/MEC a Internet está se tornando uma das principais matérias na formação de professores. As reformas curriculares incluem sugestões freqüentes para que os professores incluam recursos da Internet em seus planos de ensino. De certa forma, a Internet na sala de aula é um passo para a remoção de algumas barreiras entre o sistema de educação formal e o ambiente educacional externo.

As escolas estão atrasadas nessa tarefa. As novas tecnologias de comunicação poderiam ser o ponto de partida para as mudanças educacionais, superando a atual escassez de recursos humanos e tecnológicos. Entretanto, novos esforços deverão ser empreendidos, a fim de que a Internet seja validada como uma ferramenta de comunicação que vá além da pesquisa "enciclopédica" que se faz da Rede. Um dos principais problemas é como aproveitar a independência e a liberdade promovidas pela Internet.

Existem dois aspectos que devem ser observados na implantação das tecnologias como a Internet na educação. Primeiro, o domínio do técnico e do pedagógico não devem acontecer de modo separado um do outro. É irrealista pensar em primeiro ser um especialista em informática para depois tirar proveito desse conhecimento nas atividades pedagógicas. O melhor é quando os conhecimentos técnicos e pedagógicos crescem juntos, simultaneamente, um demandando novas idéias do outro. O domínio acontece por necessidades e exigências do pedagógico e as novas possibilidades técnicas criam novas aberturas para o pedagógico, constituindo uma verdadeira espiral de aprendizagem ascendente na sua complexidade técnica e pedagógica. (VALENTE, 2002a, p.15-37).

No aspecto que diz respeito às Novas Tecnologias na Educação como o uso do computador, a experiência pedagógica juntamente com o conhecimento das técnicas de informática do professor é de fundamental importância. Pois é ele o professor que deverá questionar se o uso do computador está ou não contribuindo para a construção de novos conhecimentos.

GEOGRAFIA, PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E AS NOVAS TECNOLOGIAS.

Com a afirmação do Mundo Contemporâneo e o despertar por coisas novas a Geografia, deveria ser entendida como uma das disciplinas mais disputadas pelos docentes, pois ela leva os alunos a conhecer e entender o mundo ao qual está inserido e a que sociedade pertence, através de lógicas, racionalidades e teorias concretas. "A geografia é antes de tudo a disciplina que permite, pela descrição, conhecer os lugares onde os acontecimentos se passam" (BARBANT, 1990, p. 17).

Mas na realidade o ensino de Geografia se perdeu em persistir em fatos ultrapassados que não despertam o interesse real dos alunos. Na realidade há uma prática marcada pela reprodução de conteúdos, o formalismo, o verbalismo, a memorização. A geografia escolar, apesar de uma predisposição aparente a tratar do mundo que nos rodeia, acabou se desenvolvendo no mesmo plano das outras disciplinas, um plano antes de tudo marcado pela abstração (BRABANT, 1990, p. 15).

Essa crítica torna-se necessária à medida que se entende hoje, que o aluno é o sujeito ativo de seu processo de formação e de desenvolvimento intelectual, afetivo e social; o professor tem o papel de mediador do processo de formação do aluno. O professor tem em sua função favorecer a interação do aluno com o mundo. Esta é uma das maneiras de se vivenciar outras diferenças, todas elas marcadas pelo quadro da desigualdade social, quanto a diversos aspectos, destacando-se classe social, gênero, raça, etnia, sexualidade, religião, idade, linguagem, origem geográfica. Nesse contexto, destacam-se a globalização da sociedade e a globalização da informação propiciada pela revolução tecnológica, que tem disseminado um padrão cultural global.

A Geografia como área do conhecimento sempre questionou sua preocupação com a busca da compreensão da relação do homem com o meio, a depender da corrente de pensamento que se desenvolvia no momento, determinista ou possibilista. Os sistematizadores da Geografia, a exemplo de Ritter, Ratzel e La Blache, entre outros, propõem ainda que sob formas diferentes, um objeto para a Geografia centrada na relação homem-meio,

Com o desenvolvimento das cidades e do comércio. A geografia ganha critérios científicos e passa a ser discutida entre as escolas alemãs, tendo como seus defensores Kant, Humboldt, Ritter e Ratzel que passam a divulgar suas correntes de pensamento para o mundo, servindo muitas vezes ao governo na organização administrativa de cada país.

O mundo mudou, a fragmentação da sociedade aumenta com o crescimento do poderio econômico, os jornais noticiam guerras, violências, mortes. O povo oprimido e explorado luta por terras, moradias, não param de produzir e nunca tem direito a ela. A má distribuição de renda está cada vez maior, a escola – o caminho principal do conhecimento, não podem ficar alheia aos crescentes movimentos sociais, econômicos e políticos vigentes no país.

A Geografia tem por privilégio ser uma disciplina que está sempre acompanhando as mudanças constantes que vêem acontecendo no mundo. Desde a formação do universo, os planetas, as conquistas de novos territórios, domínio espacial e tecnológico, as guerras, tudo está contido no mundo geográfico. Diante dessas constantes mudanças o professor de geografia terá que diversificar seus caminhos na busca da tecnologia para garantir seu espaço no campo profissional e nele avançar. Como diz Kaercher: [...] Muitas vezes só estão trocando os rótulos. Mas continuando a produzir verdades cristalizadas e, o que é pior, mantendo a Geografia como algo chato e distante do cotidiano dos alunos. (KAERCHER 2002, p. 221).

A Ciência Geográfica como as demais ciências humanas, tem passado por um processo de transformação, até mesmo de superação em relação aos seus métodos e técnicas. Há um processo de reflexão crítica, onde o professor como construtor do saber estabelece mudanças, face às novas exigências da ciência e da sociedade.

A prática pedagógica através do estudo das relações entre a tecnologia, geografia e desenvolvimento conceitual, no processo ensino aprendizagem, passa desta forma a influenciar na formação de professores de Geografia que diversificam os caminhos na busca da eficiência para garantir seu espaço no campo profissional de atuação e nele avançar.