I. Apresentação

Entendemos que quando falamos em aprender e para que este aprendizado aconteça de maneira produtiva e eficaz, é necessária a relação entre pessoas: quem ensina e quem aprende, a interação entre as mesmas, criando vínculo de afetividade e um método utilizado que possa gerar de fato este acontecimento, de preferência criativo.

As experiências vividas em sala de aula ocorrem, inicialmente, entre os indivíduos envolvidos, no plano externo (interpessoal). Através da mediação, elas vão se internalizando (intrapessoal), ganham autonomia e passam a fazer parte da história individual. Essas experiências também são afetivas.

A criatividade é uma potencialidade humana que será desenvolvida de acordo com o meio em que o sujeito vive, favorecendo ou inibindo este potencial.

É nesta perspectiva, que esta revisão bibliográfica está calcada, dinamizando a importância do ensino criativo no processo de aprendizagem do sujeito, bem como os entrelaçamentos afetivos que acontecem entre professor e aluno.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

II. Revisão Bibliográfica

Nesta revisão bibliográfica, trataremos de alguns conceitos relacionados com o vínculo afetivo entre professor-aluno, bem como a influência do ensino criativo no processo de aprendizagem. Para tanto, foram utilizadas as obras de Martínez (2004), Neves-Pereira (1996), Oliveira e Wechsler (2002), Tassoni, (2000), Pino (1997) e Guzzo (1987) para construção do marco teórico.

Através da interação, segundo Tassoni (2000), o sujeito incorpora os instrumentos culturais, e assim observa-se a importância do outro não só no processo de constituição do conhecimento, mas também de constituição do próprio sujeito e de suas formas de agir. As experiências vivenciadas com outras pessoas é que irão marcar e conferir ao objeto de aprendizagem um sentido afetivo, determinando, dessa forma, a qualidade do objeto internalizado.

Entende-se por objeto internalizado, quando o sujeito apropria-se do mesmo e dá sentido ou significação própria, através do processo de mediação feito pelo outro. O processo de aprendizagem, assim, conforme Vygotsky, citado por TASSONI (2000), ocorre do social para o individual.

Nesta perspectiva de acordo com a autora,

“As experiências vividas em sala de aula ocorrem, inicialmente, entre os indivíduos envolvidos, no plano externo (interpessoal). Através da mediação, elas vão se internalizando (intrapessoal), ganham autonomia e passam a fazer parte da história individual. Essas experiências também são afetivas. Os indivíduos internalizam as experiências afetivas com relação a um objeto específico.” (TASSONI, 2000).

Neste sentido, o processo de aprendizagem demanda vínculo afetivo, ora, a relação de ensinar e aprender entre as pessoas não acontecem sem a subjetividade e comunicação dos mesmos, e não obstante, sem a interferência de seu contexto histórico. A afetividade assim seria a forma como cada sujeito é afetado pelos acontecimentos da vida e pelo sentido que são atribuídos aos mesmos.

 Destaca-se, desta maneira, o que Pino[1] (mimeo), (citado por TASSONI 2000), considera por afetividade,

“Os fenômenos afetivos representam a maneira como os acontecimentos repercutem na natureza sensível do ser humano, produzindo nele um elenco de reações matizadas que definem seu modo de ser-no-mundo. Dentre esses acontecimentos, as atitudes e reações dos seus semelhantes a seu respeito são, sem sombra de dúvida, os mais importantes, imprimindo às relações humanas um tom de dramaticidade. Assim sendo, parece mais adequado entender o afetivo como uma qualidade das relações humanas e das experiências que elas evocam (...). São as relações sociais, com efeito, as que marcam a vida humana, conferindo ao conjunto da realidade que forma seu contexto (coisas, lugares, situações, etc.) um sentido afetivo.” (idem, p.130-131)

 

Neste sentido, na relação professor-aluno no processo de aprendizagem, a afetividade está ligada a tudo que diz respeito ao desempenho de ambos, como o ensino é executado e como é aprender dentro deste contexto. É de suma importância, saber o que o outro dentro das relações sociais pensa. E isso influenciará sobre as posições frente às situações de vida do indivíduo.

A pesquisa realizada por TASSONI (2000), demonstra algumas formas em que a afetividade se apresenta. Através do comportamento dos professores em relação aos seus alunos: os resultados se basearam na proximidade física entre eles e a forma como acolhiam seus aprendizandos – pesquisa realizada com alunos de seis anos em média – este tipo de relação propiciou inúmeras formas de interação e foi muito valorizada pelos alunos, nesta faixa etária. As professoras utilizaram a proximidade física e acolhedora para minimizar, desta forma, a ansiedade dos alunos em relação ao aprendizado, além da abordagem verbal (predominante), que encoraja também os alunos nas dificuldades em sala de aula.

Além deste vínculo afetivo que interfere no processo de aprendizagem do sujeito, a criatividade é outro fator que dinamiza este aprendizado, dependendo mais uma vez da interação entre as pessoas.

De acordo com MARTÍNEZ (2004),

“Tradicionalmente os outros têm sido concebidos em relação à criatividade de duas formas: como elementos favorecedores ou inibidores das potencialidades criativas dos indivíduos e como integrantes de instâncias sociais que conferem valor ao produzido e, consequentemente, determinam o que é criativo em um determinado contexto e momento histórico.” (MARTÍNEZ, 2004, p.84)

 

Desta maneira, a criatividade é uma potencialidade humana que será desenvolvida de acordo com o meio em que o sujeito vive, favorecendo ou inibindo este potencial.

Ainda segundo a autora, “a criatividade não é uma potencialidade com a qual se nasce, senão um processo complexo da subjetividade humana que se constitui a partir dos espaços sociais de vida do sujeito.” (MARTÍNEZ, 2004, p.85)

Não obstante, a autora menciona que a criatividade se dá em situações de forma altamente diferenciada. No sentido subjetivo da ação criativa participam elementos muito diversos que se organizam formando configurações subjetivas complexas. Desta forma, infere-se que a criatividade está calcada nas condições de vida histórica e social do indivíduo, influenciando a sua forma de vivenciar as situações de seu contexto e como lida com tais.

No processo de aprendizagem, a criatividade, neste momento, como representante de um marco histórico e social da vida do sujeito influenciará a forma do mesmo pensar e agir perante o contexto que está inserido trazendo implicações subjetivas.

Nesta perspectiva, segundo MARTÍNEZ (2004),

“A nosso modo de ver, duas são as implicações principais: por um lado, a necessidade de estratégias complexas que integrem o desenvolvimento das configurações criativas, da produção de sentidos subjetivos mobilizadores de criatividade e dos elementos da subjetividade social implicados na sua expressão. Por outro lado, o caráter diferenciado e singular das estratégias utilizadas, a partir da singularidade dos sujeitos e dos contextos em que a criatividade se expressa.” (MARTÍNEZ, 2004, p. 90)

 

Perante este contexto, a criatividade na relação professor-aluno no processo de aprendizagem, torna-se fundamental para que o mesmo seja de fato efetivo. O professor, pelo espaço intersubjetivo que compõe sua relação com o aluno, através da comunicação, torna-se um elemento fundamental neste processo. As atividades que propõe aos alunos vão adquirir sentido para o sujeito e para o seu desenvolvimento subjetivo.

Conforme MARTÍNEZ (2004), os processos emocionais em sala de aula devem ser objeto de atenção especial por parte do professor se pretende contribuir para desenvolver elementos da subjetividade importantes para a criatividade. Assim, o processo não se resume apenas em atividades interessantes propostas pelo professor, mas o desafio é trabalhar estas atividades em sistemas de comunicação que favoreçam a produção de vivências emocionais que, unidos a outros fatores, possam mobilizar o desenvolvimento dos recursos almejados.

Não obstante, as atividades criativas promovidas pelo professor devem levar em consideração a singularidade de cada sujeito, no sentido de que, para alguns alunos a tarefa pode ser estimulante e desafiadora enquanto para outros, inibitória no processo de aprendizagem.

Para OLIVEIRA e WECHESLER (2002), a função do professor é ao mesmo tempo técnica e relacional, tendo em vista o cotidiano de seus alunos e o ajustamento às necessidades de cada um.

Segundo Guzzo[2], (citado por OLIVEIRA e WECHESLER 2002),

“A capacidade geral do aluno para aprender e a maneira como ele aprende são elementos básicos no processo ensino-aprendizagem, que busca a eficiência da programação a ser apresentada em sala de aula. É preciso que o professor saiba identificar as necessidades especiais de seus alunos, considerando o cotidiano do seu meio social. As estratégias de ensino, os recursos pedagógicos, são instrumentos fundamentais do professor junto à eficiência de sua atuação.” (GUZZO, 1987).

 

Podemos assim, entender que o processo de ensino criativo envolve não só uma performance de motivação, flexibilidade, capacidade para criar do professor e do próprio aluno, mas também, condições para tornar o plano de ensino efetivo, de acordo com o plano pedagógico. É criar dentro de uma perspectiva sólida com variáveis complexas.

Conforme NEVES-PEREIRA (1996), o professor pode ensinar criativamente incentivando o pensamento divergente, não formal, não lógico. Utilizando metáforas e analogias quando estiver trabalhando seus conteúdos curriculares, exercitando a imaginação e a fantasia dos alunos, e tornando a aula dinâmica e interessante.

Ainda, segundo a autora,

“Como educadores, é importante que exercitemos nossas habilidades de reflexão; que aprendamos a analisar tanto conteúdos teóricos como a prática educativa e seus respectivos resultados.” (NEVES-PEREIRA 1996).

Podemos concluir desta forma, que criar vínculo de afetividade aliado ao ensino criativo propicia uma relação professor-aluno muito mais dinâmica e proveitosa no que tange ao processo de aprendizagem. Este é o desafio nos nossos dias atuais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIA

 

GUZZO, R.S.L. (1987). Dificuldades de aprendizagem: Modalidades de atenção e análise de tarefas em materiais didáticos. Tese de Doutorado da Universidade de São Paulo. São Paulo.

 

MARTÍNEZ, Albertina Mitjáns. O outro e sua significação para a criatividade: implicações educacionais. In: SIMÃO, Lívia Mathias.; MARTÍNEZ, Albertina Mitjáns.; DURAN, Álvaro Pacheco.; et al. O outro no desenvolvimento humano. 1.ed. Thomson Pioneira, 2004. p. 75-98.

 

NEVES-PEREIRA, M.S. (1996). O ensino criativo: uma forma divertida de aprender. Integração, 17, 15-15. Disponível em: [http://www.fcee.sc.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=97]. Acesso em: 22 mar. 2012.

 

OLIVEIRA, Elzira Teixeira Azira.; WECHSLER, Solange Muglia. Variáveis que afetam a aprendizagem: percepção de alunos de licenciatura e professores. Psicologia Escolar e Educacional, Campinas, v. 6, n-2, 133-139, 2002 – Disponível em: [http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-85572002000200003&script=sci_abstract&tlng=PT]. Acesso em: 14 mar. 2012.

 

PINO, A. O biológico e o cultural nos processos cognitivos, em Linguagem, cultura e cognição: reflexão para o ensino de ciências. Campinas, 1997. P. 130–131.

 

TASSONI, Elvira Cristina Martins. Afetividade e aprendizagem: a relação professor-aluno. Campinas, n-17, 2000 – Disponível em: [http://www.puc-campinas.edu.br/cca/producao/arquivos/extensao/Afetividade_aprendizagem.PDF]. Acesso em: 8 mar. 2012.



[1] PINO, A. O biológico e o cultural nos processos cognitivos, em Linguagem, cultura e cognição: reflexão para o ensino de ciências. Campinas, 1997.

[2] GUZZO, R.S.L. (1987). Dificuldades de aprendizagem: Modalidades de atenção e análise de tarefas em materiais didáticos. Tese de Doutorado da Universidade de São Paulo. São Paulo.