Sumário


Apresentação

II - Observação sobre a formulação da estrutura
política brasileira

II - A estruturação do café em território nacional, sua
importância

III - O café ? necessidades biológicas da planta e
suas particularidades

IV - O escravo negro na formação brasileira e a politicagem do
Brasil Imperial

V - A maçonaria política ? influência direta e ideologias

VI - A maçonaria na libertação escrava e a "Questão Religiosa"


Conclusão


Bibliografia







Apresentação

Criticados e por muitas vezes ridicularizados, os políticos brasileiros do Século XIX foram bravos em defender nosso território e os interesses nacionais. A maçonaria teve papel fundamental nesse processo. Tanto na América do Norte quanto na América do Sul a influência maçônica foi fundamentalmente importante para a formação dos Estados nacionais, mas no Brasil encarou uma perspectiva particular.
Para uma análise, mesmo que superficial, do Primeiro Reinado; Período Regencial; Segundo Reinado e até mesmo a República, tendo a maçonaria como principal atuante político, é necessário mostrar a maneira como o Brasil era encarado por Portugal; o cientificismo positivista, partindo posteriormente para uma análise mais particular no que diz respeito à política nacional como estruturação da Família Real portuguesa; a relação de dependência brasileira de constantes relações com a Inglaterra tal como a própria situação econômica brasileira sustentada pelo café; o escravismo como fator determinante da economia nacional; a participação dos "partidos políticos maçons", as constantes lutas contra a "dominação inglesa" , as repressões e investidas contra a maçonaria lideradas pela Igreja e a manutenção da Ordem em busca do Progresso.
Para compreender o momento político é preciso entender o momento econômico e o momento ideológico. É necessário investigar os processos econômicos ao longo do século XIX para depois analisar a questão política, para que então, assim possamos compreender os fatos investigados.
O Brasil que em grande parte do século XIX teve como cultura de base a economia cafeeira, que sustentou as Elites e o próprio Império, a escravidão negra que foi o mal necessário, como mostra José Murilo de Carvalho : "Pode-se dizer que José Bonifácio, um conhecido inimigo da escravidão (...) não buscou preservar a unidade do país para manter a escravidão. Ao contrario, recusou medidas abolicionistas mais radicais pedidas pelos ingleses para manter a unidade. Para ele, a manutenção da escravidão era o preço a pagar pela unidade e não vice-versa.". As constantes investidas maçônicas em prol do crescimento e liberdade econômica de nosso país encontraram barreiras que iam de encontros divergentes às suas ideologias.
Com linguagem simples, porém científico, este trabalho tenta analisar e desmistificar alguns "dogmas sociais" concretizados ao longo dos anos. Transportando-nos ao mais próximo do que se acredita ter sido a "verdade" por trás dos fatos tão obscuros de gestos aparentemente tão simples e já compreendidos que permeiam o passado da política nacional, além trazer novas possibilidades de trabalhos com o "não dito " do tema, tendo em vista sua amplitude e complexidade, principalmente no que diz respeito à maçonaria.



I
Observação
da estrutura política brasileira


Portugal realmente se encontrava em uma situação delicada e que lhe desfavorecia. Em um momento em que a Inglaterra era digna representante do mercantilismo ou pré-capitalismo , enquanto a França era o centro intelectual da Europa , enquanto a Alemanha via-se em crescimento constante nas ciências sociais tais como a filosofia e a sociologia, Portugal ainda possuía o mesmo antiquado modelo feudalista, estando preso ao seu pacto-Colonial e a sua aliança com a Inglaterra .
Porém com a ascensão Napoleônica os portugueses viam-se em momentos de decisões extremas. Com a expansão de Napoleão Bonaparte a Corte Portuguesa já analisava uma possível retirada de seu território, visto sua fragilidade tanto bélica quanto econômica, sendo impossível custear uma guerra contra o exercito francês.
A alternativa de fuga para o Brasil fica clara levando em consideração de que, além de ser sua colônia mais rica o Brasil possuía uma distância marítima considerável da Europa, vasto território e uma estrutura urbana capaz de acomodar a Corte.
Havia então duas medidas a serem tomadas diante do perigo oferecido à Portugal pelos franceses: organizar a Sociedade de Corte (Duques, Barões, Condes, Viscondes, etc.); e assinar um acordo de escolta com a Marinha Britânica.
A Marinha Britânica possuía um grande poderio bélico, que intimidava o próprio Napoleão Bonaparte. Perante o pedido de Escolta Real, a Inglaterra viu então a possibilidade de se "associar" aos negócios do Brasil, pois desde o Século XVII os ingleses buscavam a supremacia econômica.
Diante dos fatos, tendo Portugal sido invadido por tropas francesas, a Família Real se vê obrigada a assinar contratos desfavoráveis (para si mesma) tais como a entrega da Esquadra Portuguesa à Inglaterra; transferência da administração da Ilha da Madeira que ficaria sob custodia dos ingleses além do que a Inglaterra poderia comercializar livremente com o Brasil pela menor taxa de impostos do mercado. Portanto em 1810, os ingleses exigiram que D. João VI assinasse o Tratado de Comércio e Navegação. Este tratado estabeleceu novas regras alfandegárias. A nova taxação sobre mercadorias estrangeiras definia a tentativa inglesa de obter monopólio comercial. Ficando, portanto assim divididas as tarifas alfandegárias de modo que fora cobrado 15% sobre o valor do produto inglês; 16% sobre produtos de origem portuguesa; e outros países pagariam 24% de taxas alfandegárias.
Historiadores acreditam que a abertura dos portos brasileiros significou o fim do Pacto-Colonial. Portugal já não possuía mais o monopólio comercial dos produtos da colônia brasileira. Com o livre comércio, o Brasil encontrava-se a um passo da Independência. Mas caso a Coroa Portuguesa não tivesse cedido aos ingleses, fatidicamente teria resultado na perda do território nacional devido aos altos custos resultantes da natural dependência e necessidades que possuía a Sociedade de Corte .
Um fator que inflçuenciou os rumos políticos e econômicos no Brasil a partir do inicio do século XIX foi a estruturarão da Família Real Portuguesa em território nacional. Para que este estabelecimento fosse possível, D. João VI criou repartições públicas e ministérios. Além disso, desapropriou vários imóveis para acomodar cerca de 15 mil pessoas vindas de Portugal, que fugiram buscando manter as possibilidades de preservar a Corte, mantendo-a "intacta". Não somente isto. Houve todo um investimento no comércio brasileiro, incentivo às artes e à cultura portuguesa. Agora novas estruturas haviam se formado para atender a Sociedade de Corte. O Brasil passara de colônia para país . Não no papel, mas em composição social, isso ao menos no Rio de Janeiro. Analisaremos este assunto mais adiante.
Diante da acomodação da Corte, a estruturação econômica, e a legitimidade do Príncipe Regente Dom João VI, que mesmo estando no Brasil ainda era o detentor do Trono Português, surgia então uma nova dinâmica no cenário elitista brasileiro. É importante lembrar que essa elite era formada por proprietários de terra, nobres, grandes empresários importadores, militares e letrados, tendo em sua grande maioria maçons.
Porém, em 1815, Napoleão Bonaparte foi vencido em Waterloo, acabando assim com a ameaça para Portugal e com o empecilho dos ingleses em alcançar o monopólio comercial. Devido aos incentivos e investimentos voltados somente para o Brasil, em 1820 Portugal entra em uma crise econômica. Nesse mesmo período a América Espanhola inicia seu processo de independência, o que cria um sentimento semelhante em boa parte dos brasileiros devido ao desenvolvimento instantâneo que favorecia a nação.
Mas, os remanescentes da burguesia em Portugal, em 1820, lideraram a "Revolução Liberal do Porto" com o intuito de retomar as atividades econômicas portuguesas. A burguesia portuguesa temia que, caso o Brasil se libertasse de Portugal, seria o caos para a metrópole; ela assim passou a forçar o retorno de D. João VI ao solo português sob o argumento de que tomariam Portugal caso ele não regressasse.
Diante desta ameaça, D. João VI resolve retornar á Portugal, mas encontra resistência no Brasil. É necessário lembrar dos vários investimentos econômicos feitos na colônia. A burguesia viu ameaçados seus investimentos, caso o Brasil voltasse a ser uma colônia de exploração.
No âmbito das lojas maçônicas a preocupação dos maçons corria pelo risco de que o sentimento de nacionalidade que ainda caminhava se perdesse, tendo sido seus esforços e seus trabalhos em vão.
A burguesia e a Elite brasileira passaram então a pressionar D. João VI sob o argumento de que caso ele retornasse a Portugal, perderia o domínio sobre o Brasil. Não devemos esquecer também o apoio inglês a estas idéias tendo em vista que se fixavam cada vez mais em nosso território.
Porém, nossa política tomou novos rumos devido a dois fatores: a economia cafeeira e a intervenção maçônica nos assuntos nacionais. Sobre esta última, abordaremos mais adiante, nos retendo no momento tão somente à questão econômica.





II
A estruturação do café em território nacional, e sua importância.

Para vermos e entendermos melhor a estrutura da economia cafeeira que foi "o pilar de sustentação do Brasil no Séc. XIX". Vamos analisar os períodos das culturas agrícolas, mesmo que muito superficialmente, ao longo dos séculos até chegarmos ao momento em que o café se solidificou como principal cultura agrícola no cenário econômico brasileiro.
No século XVI, restrita à costa, a ocupação do território fluminense tem caráter de defesa, para cujo sustento desenvolve-se a pecuária e exporta-se farinha de mandioca. A terra é adquirida por concessão de Sesmarias, e o direito à "guerra justa" fornece mão-de-obra. Não existe incentivo para a exploração de território. Os lucros são substanciais e inexpressivos.
A partir do século XVII presença holandesa no nordeste e a crise geral na Europa favoreceram a produção açucareira e de gêneros de abastecimento no nordeste, que apresentou maior necessidade de mão-de-obra, adquirida por troca de farinha (RJ), cachaça e fumo (BA). O Rio de Janeiro é capaz de custear a retomada de Angola. Caracteriza-se o período da acumulação primitiva da economia de Plantation. Socialmente a Elite é constituída por proprietários rurais que ocupam os cargos políticos e administrativos. A formação da Elite fluminense permitiu a apropriação de terras (considerando-se as alianças familiares e recursos governamentais). Nesse momento Portugal volta seus olhos para o Brasil tendo-o como principal fonte de bens, e como extensão de território português aumentando incentivo aos que desejassem se estabelecer no país. Surgem as primeiras organizações políticas*** e a preocupação em resolver os problemas internos para manter a ordem. Nesse momento Portugal tem a preocupação de organizar expedições de reconhecimento para o sertão brasileiro, e para noroeste com a intenção de demarcar seu território (criação do estado do Maranhão e do Grão Pará ).
No século XVIII houve a queda na produção açucareira fluminense devido a atividade mineradora no início dos setecentos . É possível que a partir de 1750 o "açúcar" fluminense seja o responsável pela maior integração ao mercado Atlântico. O desempenho do comércio, considerando a arrecadação da alfândega, pode ser avaliado pelo fato de que a partir de 1729, o Rio de Janeiro arrecadou mais da metade do valor dos três principais portos do Brasil. O comércio tende a superar a Plantation em conseqüência do aumento do tráfico negreiro, importações e exportações.
Quanto ao século XIX, é um recorte temporal que merece mais atenção devido ao assunto de que estamos tratando. Foi no Séc. XIX que a cultura do café se solidificou ajudando a formar uma "verdadeira" Elite Brasileira. Além do mais é um momento onde os interesses agrários crescentes se colocavam ao lado da "civilização", criando uma dicotomia entre o litoral e a barbárie do interior (sertão), Surge a partir daí uma necessidade em definir a "civilização" e a "selvageria", desenvolvendo a cidade do Rio de Janeiro para suportar a visita de europeus. As classes ligadas à agricultura de exportação estabelecidas em torno do Rio de Janeiro, constituem-se como modelo, enquanto dá forma ao Estado. O café vai permitir a manutenção das hierarquias coloniais, unindo o "novo colonizador " e os colonos transformados em cidadãos. A organização da unidade produtora agrícola dá forma à estrutura social.

A ocupação cafeeira no médio Vale do Paraíba vai marcar a diferenciação interna entre o Rio de Janeiro e as demais províncias, garantindo sua proeminência política na formação do Império. Os interesses agrícolas reunidos em torno da Corte foram fundamentais no discurso de defesa da "civilização", sustentada com a defesa da "nossa agricultura", contra a "infração da propriedade de nossos lavradores". Estas formulações estabeleceram o processo de defesa da Ordem Social do Brasil Imperial, que se equilibra entre o "despotismo" que o altera quanto à anarquia que o dissolve.

As atividades cafeeiras ampliaram as fronteiras agrícolas, "costuraram" a integração das vias de comunicação (caminhos de muares, estradas de rodagem, ferrovias e hidrovias), e direta ou indiretamente promoviam possibilidades de mobilidade social, além de acentuar a confusão entre os espaços público e privado, característica da proximidade de interesses e ligações entre a burocracia e a atividade cafeeira.

A atividade cafeeira em São Paulo, a princípio, centra-se no Vale do Paraíba, posição que vai migrando paulatinamente para o Oeste paulista. Também o encarecimento da mão-de-obra vai transformando a atividade cafeeira, em uma atividade mais lucrativa.

Em Minas Gerais algo em torno de 5% de sua superfície é ocupada pela produção cafeeira, embora a província tenda a contar com o grosso da população escrava no país. Como reflexo do mercado foi preciso realizar o aumento da agra-exportação da rubiácea (café) com o aumento da demanda.

Esse aumento pode ser analisado pelo gráfico a seguir mostrando o aumento na produção ao longo das décadas.

Produção do Café
(década) Quantidade
(sacas de 60 k)
1821-1830 3 178
1831-1840 10 430
1841-1850 18 367
1851-1860 27 339
1861-1870 29 103
1871-1880 32 509
1881-1890 51 631

Política e socialmente os interesses em torno do café estavam congregados nas lojas maçônicas, sociedades políticas como a dos defensores, Guarda Nacional, e pelo menos desde 1838 ligavam seus destinos ao Partido Conservador (que era formado também por maçons, como veremos mais adiante). É o momento em que a classe senhorial forjava a si própria pelos nexos que tecia como Estado, espelhando-se na Europa capitalista.

A economia cafeeira incentivou o escravismo e o prolongou no tempo, criando discursos de legitimação por parte da Elite Cafeeira. Além disso, determinou as características da ocupação demográfica. Áreas não aproveitadas pelo café tendem a serem menos densamente ocupadas embora com maior quantidade de libertos.

A estrutura social do universo cafeeiro reproduz o oposto da sociedade açucareira. Na agricultura cafeeira a diferença entre os Barões do café e dos lavradores, contudo estaria situada mais na diferença do número de escravos que na extensão de terras. Esse cenário propiciava o surgimento de um enorme contingente de agregados, além de sitiantes, cultivadores não-escravistas independentes, que alimentavam os vínculos de natureza política. O poderio político do café se deu devido ao número de agregados dependentes dele (café) fazendo então com que o produto se fortalecesse.

Originário da Abissínia é uma planta nativa de sub-bosque. O ocidente conheceu-o no comércio com o Leste Mediterrâneo formando beberagem das gentes ricas e altos intelectuais (séc. XVII e XVIII).

Os primeiros europeus a cultivá-lo foram os holandeses em suas colônias em Java. Os franceses introduziram o café no Novo Mundo no início do séc. XVIII, primeiro na Martinica, e depois na década de 1720 em sua Guiana. Em 1727, o Governador Geral do estado do Maranhão, João da Maia Gama enviou uma missão comandada pelo Sgt. Mor, Francisco de Mello Palheta com intuito de contrabandear sementes do café, se as encontrasse.

De volta a Belém, a carga contrabandeada multiplicou o cultivo da planta em suas vizinhanças. Em 1732 o Pará exportou sete arrobas (equivalente a 15 quilos) de café para Lisboa. No fim de 1750, essa exportação já crescera a 4.800 arrobas. Tendo alcançado o Amazonas e o Maranhão, a cultura foi economicamente inexpressiva.

No final de 1760, partiram as primeiras mudas ou sementes para o Rio de Janeiro. Nesta cidade, até a década da independência, em cinqüenta anos mais ou menos, o café foi cultura de chácaras e quintais. No Mendanha localizava-se a principal propriedade cafeeira, o sitio do Padre Antonio Couto da Fonseca, e dali saem as matrizes para os cafezais fluminenses. As tropas de muares (mulas, asnos, e semelhantes) que abasteciam a capital retornavam carregadas de mudas e sementes para a Serra.

Economicamente, a produção cafeeira na Guanabara e na Baixada Fluminense foi modesta, mas dela gerou-se a expansão para o Vale do Paraíba. Após 1840 avançou para Nova Friburgo e Cantagalo, São João Marcos, Piraí, e Resende precederam as primeiras na expansão cafeeira. Segundo José Cláudio Souza Alves "A entrada do café na economia local deu-se muito mais em função da localização geográfica da baixada, (...) como zona intermediaria, do que como zona de plantio. Apenas as encostas da Serra do Mar foram utilizadas para o seu cultivo, principalmente Tinguá e Estrada.".

A Revolução Industrial na Europa e a substituição do chá inglês nos Estados Unidos estimulam o consumo do café. Já no final da década de 1830 o Império era o principal produtor mundial de café; em 1832 ocupavam o primeiro lugar na pauta de exportações. Em 1837/38 o café rendia mais que todos os outros produtos exportados. Devido à falta de concorrência internacional, o Brasil desfruta de um virtual regime de monopólio; a tendência será de expansão constante. Entre 1822 e 1889, a produção crescera 30 vezes em volume, e quase 45 vezes em valor.

A atração populacional da cultura cafeeira é expressa em 38% da população em 1822, e 44% em 1889 tendo o negro escravo como peça fundamental dessa engrenagem.

As fazendas de café no Vale do Paraíba foram formadas por empresários decadentes da mineração que desbastaram as matas das Sesmarias, usando trabalhadores livres que executavam as "picarias" (os cafezais irão crescer em linhas paralelas seguindo a linha de maior declive). A produção cafeeira esteve desde sempre sujeita pelas exigências ecológicas da planta, e estas determinavam os limites das plantações e da própria estabilidade do Império.

Por ser uma árvore de sub-bosque não possui mecanismo de controle da transpiração, precisando de precipitação constante; durante secas sua raiz pode descer a mais de três metros. Adaptou-se bem as temperaturas do planalto, além do que a época das chuvas induz á florescência e amadurecimento simultâneo do fruto. Na estação seca que vai de maio a agosto (época também de derrubada das florestas), favorece a colheita e secagem dos grãos.

Por ser uma planta mesial (não admite nem muita e nem pouca água) o solo das encostas serviram melhor que os fundos dos vales. A planta adaptou-se bem, portanto, aos "mares de morros" ou "meias laranjas". Os solos eram rasos, mas fertilizados pelos milhares de anos de estabilidade da Mata Atlântica que forneceram os nutrientes essenciais.

O café é uma planta perene, levando quatro anos para produzir, e pode fazê-lo por 30 anos. Acreditava-se que o café deveria se plantado em terreno de mata virgem, sendo que os cafezais antigos não eram replantados, procedendo á mais derrubadas. Não se prezava a qualidade e a produtividade, investindo-se na extensão.

Após a queimada, os pés de café eram plantados de baixo para cima de maneira que as chuvas erodiam o solo entre as fileiras carregando o húmus e a camada superficial. As sementes não eram selecionadas e não se plantavam em blocos, pois estas sementes ou mudas provinham de compra ou presentes casuais. Eram plantadas em sementeiras á sombra de florestas. Plantavam de 800 a 900 plantas por hectare.

A altura e a largura da planta prejudicavam a colheita além do espaçamento facilitar o desenvolvimento de ervas daninhas. A capina desenvolvia-se com o emprego de enxadas pesadas, o que agredia as raízes superficiais da planta, responsável por considerável parcela de absorção de nutrientes (os nutrientes do solo quase nunca se reciclavam e jamais eram substituídos). As necessidades químicas da planta foram levantadas apenas em 1870 e somente muito mais tarde postas em prática. A média de vida dos cafezais fluminenses rondavam os 20 anos, porque as plantas que não resistiam não eram substituídas.

A colheita e o beneficiamento foram desenvolvidos empiricamente de acordo com a experiência acumulada de outras culturas. A secagem era feita ao sol e os terreiros de secagem só foram pavimentados a partir da década de 1860. Progressivamente aplicaram-se máquinas no processo, liberando mão-de-obra para a derriça, que reunia indiscriminadamente todos os tipos de grãos.

Hoje é sabido que consumiu-se 18% da superfície fluminense com a cultura do café, e que sem a mão-de-obra escrava negra este desenvolvimento e os altos lucros obtidos seriam impossíveis. Devido a estas informações analisaremos a importância do negro para o desenvolvimento econômico, e as investidas inglesas em busca da libertação.




IV
O escravo negro na formação brasileira e a politicagem do Brasil Imperial

Como já foi dito anteriormente veremos agora a extrema importância do uso da mão-de-obra escrava para a fortificação e sustentação do Brasil Império. Mas como pode fazer uso da escravidão tanto tempo? Como pode permitir a Igreja e os homens de bem que fosse usado de crueldade do homem sobre o homem?

Quando falamos escravidão, a primeira coisa que remete às nossas mentes, acredito, é o uso da força contra seres humanos negros, acuando-os e violentando-os com trabalhos forçados, tendo o homem branco como "demônio civilizador". Porém ao retrocedermos algumas centenas de anos, podemos ver que também havia escravidão no mundo antigo. No berço das civilizações, os Sumérios, Acádios, Babilônicos já faziam uso de escravos. A própria Grécia e Roma possuíam seu regime de escravidão; pois quem eram os gladiadores romanos senão escravos? A mais mística civilização da antiguidade, o Egito, também fazia uso de escravos. Como poderemos esquecer o famoso passo bíblico conhecido como o Êxodo dos hebreus? A relação de servidão da Idade Média também pode ser definida como um tipo de escravidão tendo em vista as condições a que os servos eram submetidos no feudo. Portanto a escravidão branca na antiguidade foi com certeza tão brutal quanto à escravidão negra na América.

Ao longo dos séculos a exploração do homem pelo homem foi constante, latente e marcante na história. Na Idade Moderna também não foi diferente. O uso da escravidão foi característica da colonização das Américas. Não somente a escravidão negra, mas também a escravidão indígena.

Porém fazer uso da escravidão não foi um ato de crueldade extrema dos portugueses, espanhóis e ingleses contra civilizações. Para nós homens livres, vivendo em um regime democrático em pleno século XXI, sob conhecimento dos Direitos Humanos, o escravismo surte como ação anticristã, impraticável, que fere aos direitos do homem em ser livre, mas no período entre os Séculos XVII e XIX essa visão era inexistente na sociedade. A maior barreira para a aceitação desse ato em nossa atual sociedade é a não convivência com a ação. Pois a banalização das condições nos faz aceitar algo como correto, irrevogável, imutável ou absolutamente normal. Exemplo disso é a aceitação da idéia de que todos os políticos são corruptos por natureza (apesar de não ser totalmente verdade). Sem a ação presente no cotidiano o primeiro gesto de corrupção seria combatido e repudiado. Ou seja, a escravidão (ou pelo menos a exploração do homem) era o cotidiano de todas as sociedades antecessoras a nós, sendo assim possuía caráter de normalidade sem afetar a consciência das sociedades (que possuíam caráter e consciência muitíssimo diferentes do que conhecemos hoje).

Para entendermos melhor vamos analisar o processo das escravidões nas Américas, vendo desde sua origem com base científicas e religiosas, e principalmente com base na questão econômica.

Após a instalação portuguesa no Brasil foi necessária uma investida imediata de força com o intuito de garantir território. Como Portugal não demonstrara interesse imediato, pois sua principal atividade no momento era a obtenção de produtos raros oriundos da Índia e de todo o Oriente, o contato com os indígenas se tornou um contato turbulento somente por volta de 1550 com o aumento da exploração da madeira nobre conhecida como Pau-Brasil. Defendidos pela igreja católica, os portugueses iniciaram a exploração de seus domínios e consequentemente surgindo à necessidade de mão-de-obra barata e eficiente. Como patrocinar a vinda imediata de europeus para o Brasil seria economicamente inviável, aliado, portanto ao aval da igreja em defesa de que o nativo indígena era senão um ser desprovido de alma e humanidade, iniciando-se então os maus tratos com os índios brasileiros.

A "mercadoria" era adquirida pelos exploradores desbravadores das matas, ou mesmo outras tribos de índios rivais. Este processo alongou-se de 1650 até 1690, quando os primeiros incentivos à prática do tráfico negreiro surgiam. Nesse momento a igreja assumiu papel de desumanizar o negro. Ao contrário do que lemos nos livros didáticos, o índio não era preguiçoso ou desprovido de capacidade racional, portanto não foram estes os motivos para o incentivo à escravidão do negro africano.

Com um olhar mais amplo podemos ver que na Europa surgiam novas ciências por volta do Século XVIII, tais como a Antropologia, e havia também o desenvolvimento das ciências biológicas. Atrelado a isso estavam interesses econômicos de grande lucro como o tráfico. Os índios eram encontrados no Brasil, não havendo escassez de mercadoria, podendo qualquer um ter lucro com essa escravidão e captura de nativos. Diante disso Portugal "compra" um parecer religioso que define o indígena como um ser de alma pura, sem maldade; bem diferente das definições anteriores.

Para que a máquina de exploração não pare no inicio do período minerador, Portugal iniciou a compra e venda de escravos negros. É importante destacar também que ao contrario do que consta nos livros didáticos, os portugueses não invadiram a África em busca de negros. A África já havia tido contato com os europeus anteriormente, e mesmo antes do contato já conheciam a escravidão. A presença dos europeus com finalidade de compra de mão-de-obra desencadeou um comércio movido não por brigas entre tribos, mas pela gana de mercenários caçadores que não distinguiam tribo, sexo ou idade. Daí a multiplicidade de raças e línguas africanas em território brasileiro por volta dos Séculos XVII ? XIX, e fazendo com que hoje sejamos o segundo país com maior população negra, perdendo apenas para Nigéria.

Este domínio consistia em proibir o uso de mão-de-obra indígena (apesar de não ser respeitada integralmente) com o intuito de acabar com o tráfico interno tendo como único "traficante", Portugal, ou melhor dizendo, aqueles que Portugal permitiam traficar. Diante da necessidade de grande quantidade de escravos, os traficantes aumentaram o preço do escravo para obterem altos lucros, imediatos, e restringir a obtenção de "peças" aos que possuíssem grandes lotes de terra além de representar um adiantamento à metrópole de boa parte da renda a ser gerada pela Colônia.

O negro teve papel fundamental na economia brasileira desde o período minerador, passando pelo açucareiro, mas foi no período cafeeiro que seu uso se tornou indispensável. Não somente por ser de certa forma uma mão-de-obra "barata", mas porque as fusões da escravidão e dos altos lucros do café que sustentaram o Império foram combinações fulminantes. Quanto à afirmação de que o escravo era "barato", é uma inverdade, pois esta análise é muito relativa, devido ao preço de uma "peça" (1 adulto = 1 peça; 2 crianças grandes = 1 peça; 3 crianças pequenas = 1 peça) custava caríssimo, tendo uma aproximação em valores atuais algo em torno de R$50.000.00 (cinqüenta mil reais). Mas o fato do escravo negro não representar gastos futuros consideráveis, sendo altamente lucrativo tornava-o de favorável aquisição. O escravo negro em plenas atividades forçadas vivia em média 7 anos, e os negros da Casa Grande que desempenhavam serviços domésticos chegavam a viver algo em torno de 15 anos.

O escravo era um luxo caro e que instigava o desejo de todos na sociedade independente de seu posto ou função. Faremos agora uma análise mais particular sobre a questão da escravidão no período correspondente aos anos de 1820 até 1888 quando foram os escravos libertos. Sua necessidade, atuação e a constante investida inglesa em sua "libertação", que só fora feita realmente pela maçonaria.

Tendo a escravidão como principal fonte de renda juntamente com o café, o governo brasileiro esboçou preocupação constante com a manutenção do processo escravista. Prova disso é de que na Constituição de 1824 que foi bem dizer "copiada" da Constituição Americana (por conter grande teor maçônico em seu conteúdo) defendia o direito dos donos de escravos. Porém não podemos esquecer que o Brasil era solo onde os ingleses tinham participação direta e crescente. Sendo assim, e tendo em vista que ainda vivíamos presos aos tratados assinados com os ingleses em função da Escolta Real. Durante anos a Inglaterra impôs regras ao Brasil em função do comprometimento por parte do uso da Escolta e diante da fragilidade do governo brasileiro tendo sua principal cidade, o Rio de Janeiro, às margens do Oceano Atlântico, cercada pela Marinha Britânica.

A realidade social do Século XIX em relação à escravidão mundial era clara: de todas as colônias nas Américas, grande maioria já liberta, somente o Brasil fazia uso do trabalho escravo. Com isso o Brasil obtinha altos lucros e dominavam o mercado mundial de café. Um de seus principais compradores eram os Estados Unidos que pararam de comprar chá inglês na segunda metade do século XVIII devido ao episódio da taxação do Chá, que resultou na Independência Americana. Vendia-se também para outros paises europeus, além de ainda sermos participativos no mercado açucareiro. Diante deste cenário econômico favorável para o Brasil, o incentivo ao tráfico de negros africanos cresceu.
O tráfico de negros pode ser mais satisfatoriamente compreendido pelo esquema abaixo:

Ano Nº. de escravos obtidos
1846 50 324
1847 56 172
1848 60 000
1849 54 000
1850 23 000
1851 3 287
1852 700
Fonte: GOULART, M.A. "Escravidão Africana no Brasil". São Paulo: Alfa e Ômega, 1975, p254.

Observemos que o incentivo e o aumento do contrabando negreiro foram intensos até o Bill Aberdeen.

Como é sabido, a Inglaterra além de ter intenções de dominar o cenário econômico, pretendia recolonizar as Américas, ou pelo menos criar um sistema de dependência direta que sufocasse as elites. Para que isso fosse possível, para que a dominação inglesa na América fosse semelhante à dominação asiática (a China enfrentou a Guerra do Ópio e um declínio econômico grave, e o Japão perdeu seu sistema político além de presenciar o fim dos Samurais), a Inglaterra buscou meios de extinguir o tráfico negreiro no Brasil assinando em 1827 um tratado onde dizia que o escravismo deveria expirar em 1831.

Nesse momento a condução do processo de emancipação dos escravos expõe as contradições entre os pólos burocráticos e político/econômico do poder Imperial. O Estado furta-se de dar cumprimento às leis anti-tráfico. As importações diminuem devido ao excesso de "peças" acumuladas nos anos precedentes. Em 1835 o Relatório do Ministro da Justiça denuncia que a lei é desprezada. Em 1838 a imprensa liberal expõe o "preconceito favorável" ao tráfico.

As pressões inglesas aumentaram no inicio da década de 1840 em virtude da proximidade da data de expiração do tratado de comércio.

A sociedade mobilizava-se contra os ingleses, em decorrência das violências praticadas contra navios e cidadãos brasileiros. Quando falamos "sociedade" falamos das Elites, pois o povo assistia aos fatos bestializados sem a menor compreensão do que ocorria. Outro fator de importante destaque era a maneira como os ingleses se portavam em território nacional. Caso algum inglês cometesse infrações era julgado por juiz inglês, e caso condenado (algo que raramente ocorria) era mandado de volta à Inglaterra sem maiores punições.

Os ataques a navios brasileiros em litoral brasileiro eram constantes. Com isso a defesa do tráfico (que nesse momento se tornou mais importante e fundamental que em todos os anos de escravidão) ganhou cores nacionalistas.

Para a defesa dos interesses nacionais o governo brasileiro adotou o que foi chamado Política Protelatória. A Política Protelatória compreendia em retardar o fim da escravatura, imposta pela Inglaterra. Esse adiamento buscava acumular maior quantidade de negros no Brasil para que o tráfico ganhasse dinâmica interna. Porém até mesmo o governo brasileiro aos poucos cedia a algumas exigências inglesas devido a sua fragilidade e dependência.

Mas em 1845, tendo em vista a continuidade do tráfico, os ingleses aprovaram e decretaram a lei Bill Aberdeen, que compreendia em afundar sem prévio aviso qualquer navio que se suspeitasse transportar escravos negros. Essa retaliação aos brasileiros fez com que até mesmo os liberais não cumprissem mais os acordos e obrigações com os ingleses.

Assim juntamente com as pressões dos escravistas e a oposição Conservadora, a escravidão continuou.

Seguindo com a Política Protelatória (apoiada pelos maçons que buscavam métodos para a manutenção da Ordem), a proposta de Lei do Ventre Livre definiu a luta da Coroa contra a sociedade (Elite), sendo retardada em 1866 a 1871 em função da Guerra do Paraguai. Houve resistência do Conselho, do Ministério Conservador, da Câmara (dissolvida em 1872), do Partido Conservador e Liberal. Até que em 1871 houve a vitória da Lei garantida pela representação do Norte de maioria funcionários públicos e magistrados. Porém a Lei do Ventre Livre não mudaria o cenário social, como os ingleses queriam, pois apesar de livre o negro devia favores ao Senhor até completar 21 anos de idade. Outro ponto é de que para os maçons a libertação deveria ser lenta e gradual (veremos este assunto nos próximos capítulos).

A partir daí em 1885 foi aprovado a lei dos sexagenários ( a lei é aprovada na terceira votação), que concedia a liberdade aos negros escravos acima de 60 anos de idade (caso houvesse, pois os trabalhos forçados não permitiam que o escravo alcançasse 50 anos de idade). Este último momento refere-se ás décadas de 1870/80, que foram um período em que o escravismo estava desgastado.

As pressões inglesas eram mais constantes e mais árduas. Em 1871 um projeto do Conselho de Estado (com incentivo maçônico) permitia ao escravo que possuísse dinheiro (herança, economias, presentes, etc.), havia um registro de escravos e a fiscalização de cinco anos efetuada pelo Estado do liberto, com o intuito de manter o escravo em atividade produtora. Havia a necessidade de vigilância sem coerção, para a incorporação dos valores éticos do trabalho, além de tempo para reorganizar as relações de trabalho (controle necessário à estabilidade da produção agrícola).

O Projeto de Emancipação, todo é derrogatório, tentando equilibrar a intervenção do Estado sobre a autoridade do Senhor de escravos sobre suas propriedades.

A escravidão só chegou ao fim (Lei Áurea em 1888) porque manter o sistema escravista se tornou mais prejudicial que lucrativo. Não houve um sentimento de humanização que defendesse o negro. A exposição do Brasil a gana inglesa, fazia com que o investimento para a escravidão resultasse em prejuízo. E além do mais a Elite não era mais a mesma elite proprietária de terras e patrocinadora do escravismo. Cedera lugar agora aos filhos destes mesmos proprietários de terras, que haviam estudado na Europa e possuíam outro olhar de sociedade.

O novo idealismo baseado no positivismo buscava a criação de universidades, bibliotecas e outros incentivos às artes e às ciências. Até mesmo a maçonaria perdera o sua principal área de atuação, a política se assim podemos dizer, dando lugar agora a preocupação com a filantropia (construção de creches, hospitais e colégios gratuitos).

Daí em diante houve o processo de incentivo à mão-de-obra assalariada estrangeira livre. Eram imigrantes italianos, alemães, e suíços que buscavam vida melhor. Aos negros libertos restou-lhes a marginalização, a exclusão social, o ingresso na Marinha Brasileira (vista como órgão reservado ao que havia de pior na sociedade), e ao refúgio nos cortiços dando inicio após o "Projeto de Emancipação e Higiene da Cidade do Rio de janeiro", as primeiras favelas cariocas.

Após termos analisado a cultura do café e a própria planta, além do escravo que movimentou a máquina financeira brasileira, que tanto incomodava aos ingleses, veremos agora mais detalhadamente a participação dos maçons e da maçonaria no quadro político brasileiro, juntamente com suas divergências com a Igreja e a luta pelo fim do escravismo.




V
A maçonaria política ? influência direta e ideologias


Neste capítulo podemos observar o ponto principal da obra, chegando ao ápice da discussão: A participação da maçonaria no cenário sóciopolítico brasileiro no Século XIX.

Não existe uma quantidade considerável ou pelo menos satisfatória de publicações disponíveis sobre a maçonaria, devido a certo "pudor" em lidar com o assunto, tanto por parte de profanos quanto por parte dos próprios maçons. Porém podemos analisar que em todo o momento que se fez atuante no mundo a maçonaria representou a passagem do Antigo para o Novo usando o positivismo (ciências empíricas) como "ferramenta de trabalho".

É importante destacar que não havia uma ideologia política maçônica universal pregada como uma linha retilínea de raciocínio a ser seguida. Havia um mesmo desejo e luta por liberdade, igualdade e fraternidade que não pode ser definido como ideologia política, e que não deve ser compreendida de uma maneira tão simples. A política era distinta e se adequava a cada realidade econômica e temporal de cada país, de uma maneira isolada e com certa particularidade no que diz respeito à intervenção no Estado.

"O ideário maçônico apresentava duas características centrais: a Razão e a Perfeição, como formadoras das luzes. Ou seja, a racionalidade envolvida com a busca do progresso humano" .

Portanto não podemos associar a maçonaria, ou melhor, os maçons a figuras anarquistas ou de natureza turbulenta. Na visão maçônica a revolução é a conseqüência da evolução gradual do homem. Da mesma maneira como só pode haver luzes mediante as trevas, só é possível haver a evolução intelectual do homem através da revolução (lutando contra algo que impede o progresso). A revolução que é referida não é a guerra em si. Entende-se como revolução um movimento onde o povo armado consciente enfrenta o Estado. O Estado que por sua vez é uma abstração, e está sujeito a mudanças. Portanto ao alcançarmos o "máximo evolutivo" torna-se desnecessário a revolução.

Oficialmente instalada em território nacional desde 1801, a maçonaria representada pelo Grande Oriente do Brasil, contava no ano de 1822 com três lojas no Rio de Janeiro: Comércio e Artes, Esperança de Niterói e União e Tranqüilidade. A maçonaria foi com certeza principal atuante na sociedade brasileira, sendo responsável pelas principais mudanças no país.

Por volta de abril de 1821, houve uma divisão partidária na política brasileira, formando o Partido Brasileiro (liberais) que "lutava" pela independência brasileira, e o Partido Português (conservadores) que eram favoráveis à condição de colônia.

O Partido Brasileiro tinha como característica ser composto principalmente por pessoas que buscavam a liberdade econômica, se livrando assim dos elos e vínculos com outros países. Era um grupo formado por democratas e aristocratas, grandes proprietários de terras, comerciantes e homens ligados à burocracia de um modo geral que tinham como objeto instaurar a monarquia constitucional.

O Partido Português temia a represália daqueles que se fixavam no Brasil. Temiam que com a separação de Portugal toda sua "estrutura" fosse perdida devido à "invasão desenfreada" e ao aumento da concorrência comercial que poria em risco os seus negócios. Seus lucros viam-se em torno do vinculo de Brasil com Portugal, pois o partido era formado principalmente por militares (pagos pela Coroa Portuguesa) e comerciantes (instalados desde o Século XVIII). Apesar dos nomes "Brasileiro" e "Português" ambos possuíam membros brasileiros e portugueses. Apesar dessa divisão bipartidária não havia divergências diretas ou brigas acirradas.

"Como o Brasil tornara-se membro do Reino de Algarves em 1815 por decisão de D. João VI, a Corte Portuguesa recebia deputados brasileiros representando as respectivas províncias. Em 1821, foram eleitos 70 deputados dos quais somente 49 foram para Lisboa, entre eles o Padre Diogo Feijó, Nicolau Campos Vergueiro, e Cipriano Barata" *Jesus Chediak, Projeto de Formação Política do Partido Social Cristão PSC*.

No Partido Brasileiro podemos observar que havia uma "briga" de ideais, pois havia os que queriam que o Poder Legislativo assumisse , propondo uma Assembléia Constituinte para defender os ideais da Elite; e aqueles que buscavam a predominância e "supremacia" do Poder Executivo.

Mas como já citado, os Partidos Português e Brasileiro não conflitavam diretamente. Sua principal diferença era a maneira de se vestir. Por isso após os decretos portugueses que diminuíam o poder do Príncipe Regente Pedro I, os partidos se "uniram". Ambos os partidos temiam a brusca separação entre Brasil e Portugal, que causaria assim um retrocesso no aspecto econômico e social. Caso isso ocorresse iria prejudicar os dois partidos, pois o Partido Brasileiro lutava pela estruturação de uma sociedade ainda não formada, além da não separação, mas transformando o Brasil no centro das decisões políticas; o Partido Português queria a união tendo o representante da Coroa no Brasil para legitimar e valorizar o território nacional. Com o retorno de Pedro I sem a estrutura adequada no Brasil, o país estagnaria. Mantendo um representante da Corte era a certeza de que os investimentos não cessariam e a segurança interna não seria desfeita. Além do mais a Inglaterra que se instalara em território nacional exploraria o comercio brasileiro sem qualquer reação ou fiscalização. É importante lembrar que tanto o Partido Brasileiro e o Partido Português eram formados por maioria maçons.

Os jornais de época foram grandes percussores das idéias maçônicas em potencial, pois havia representação dos democratas freqüentadores do Grande Oriente do Brasil através dos jornais: Correio do Rio de Janeiro, Reverbero Constitucional Fluminense e a Malagueta; e a representação dos aristocratas participantes do Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros da Santa Cruz, através dos jornais: O Despertador e O Espelho. É claro que estes eram somente os principais tendo em vista que os jornais de conteúdo maçônico foram muito difundidos no Século XIX, principalmente no nordeste e no Sul do país.

Porém diante dos movimentos dos Partidos e principalmente pela ação da maçonaria (que "dominava" a área intelectual), a Corte Portuguesa em Portugal ? não houve aqui uma redundância, pois havia ainda resquício da Corte Portuguesa no Brasil ? buscava cada vez mais diminuir os poder das Elites brasileiras e do próprio Príncipe, chegando em dezembro de 1821 ordens de regresso imediato à Portugal, buscando alcançar o objetivo de D. João VI, que desde que retornou a Portugal projetava seus esforços para retirar os representantes diretos da Coroa com o intuito de enfraquecer a política e retornar a exploração brasileira, tendo em vista o crescimento desenfreado da lucrativa cultura cafeeira.

Houve então a intervenção direta dos Partidos Políticos, e consequentemente da maçonaria, para que fosse descumprida a ordem vinda de Portugal, assegurando assim a integridade e a estruturação do Brasil. A principal preocupação acerca do assunto dar-se-á pelo fato de até então não ter havido análises ou estímulos visando melhorias para o Brasil. Com a presença inglesa existia também uma grande influência científica. Havia se formado, mesmo que superficialmente e limitado, um "processo evolutivo" racional dentro do Brasil. O fato do Príncipe Pedro I "abandonar" o Brasil acarretaria na perda dos investimentos sociais que caminhavam pondo em risco a integridade nacional, indo contra os ideais maçônicos. Este episódio desencadeou o que ficou conhecido como o Dia do Fico, (09/01/1822), que ao contrario do que é lecionado não foi participação dos brasileiros e uma demonstração de "afeto" do Príncipe para a população com a frase "Se for para o bem de todos e felicidade geral da nação diga ao POVO que fico". A visão de "povo" no respectivo momento era basicamente de mestiços, negros alforriados, brancos de baixíssima renda, militares de baixo escalão, mulheres e pequenos comerciantes. Este "povo" não possuía contato com a realidade política do país (daí a luta dos maçons para que passassem a ter) devido à complexidade política incompreendida por eles. Assistiam aos fatos bestializados, ou melhor, não assistiam a fato algum, limitando-se a aceitar como condição natural e imutável das coisas a realidade imposta.

Portanto o famoso "Dia do Fico" não passou de uma ilustração, uma criação teatral e travestida para que as gerações vindouras pudessem enxergar em Pedro I a figura de um homem português, mas brasileiro que possuía uma relação "íntima" com os brasileiros.

A partir daí, o Partido Brasileiro via-se mais próximo de seus ideais políticos e da maçonaria. A convocação de uma Assembléia Constituinte em junho de 1822 reforçava a importância de uma soberania do Poder Legislativo, unindo assim os democratas e aristocratas.

Com o manifesto de Gonçalves Ledo as tropas portuguesas que se encontrasse em território brasileiro sem autorização de Pedro I seriam consideradas inimigas e combatidas. Cada vez mais a maçonaria participava da política nacional, buscando dar novos rumos ao Brasil, redefinindo Tratados e Acordos Comerciais.

Finalmente em 7 de setembro deu-se a Independência do Brasil. Novamente erroneamente escrita e transmitida a Independência não ocorreu ás margens do famoso rio paulista. A carta de separação foi assinada em uma sala na residência oficial do Príncipe, futuro Imperador, em companhia de mais sete pessoas, entre elas Bonifácio.

Porém a partir daí surgiram empecilhos e adventos que prejudicaram o Partido Brasileiro. D. Pedro I possuía uma proximidade com o Partido Brasileiro, pois foi José Bonifácio que o apadrinhou na maçonaria pelo Grande Oriente do Brasil no dia 2 de agosto de 1822, sendo então Pedro I aclamado no dia 4 de outubro de 1822 (dois dias antes de ser Imperador) como Grão-Mestre, mas no dia 21 de outubro de 1822 mandou uma carta a Gonçalves Ledo, o qual se referia como "meu Ledo", exigindo o fim das atividades maçônicas no Brasil. Com isso o Partido Brasileiro que era formado em sua maioria por maçons enfraqueceu.

Quanto a esta atitude de D. Pedro I não existem muitos relatos estando encoberta por uma névoa de incertezas que a historiografia não explora ou não quer explorar. Na verdade é mais um fato obscuro sem a certeza do "porque". Sendo assim fica a lacuna a ser preenchida por pesquisas futuras, que possam vir a esclarecer com embasamento científico este episódio.

De qualquer forma a proibição dos trabalhos maçônicos limitava a atuação do Partido Brasileiro, e atingiu alguns membros do Partido Conservado Português. É importante frisar que os membros da maçonaria possuíam e possuem liberdade total para a escolha de seu partido político. Não havia uma ordem específica que formasse um "partido maçom", mas podemos definir que "os partidos eram maçons" devido à influência dos membros, que traziam as idéias discutidas nas Lojas para a política.

Com o fim da Assembléia Constituinte em 12 de novembro (a Assembléia foi formada em 3 de maio de 1823) o Partido Brasileiro foi quase dissolvido, tornando-se fraco e inexpressivo. As discussões políticas se limitavam às Lojas, que nesse momento atuavam na clandestinidade, onde o descontentamento aguardava o momento apropriado de agir em meio à arquitetura de uma reação.

Em 1824 foi assinada a Constituição Brasileira que defendia os direitos dos grandes donos de escravos e todos aqueles que eram de certa forma, direta ou indiretamente dependente do sistema escravista. Com isso Dom Pedro I estava aliado agora ao Partido Português e "preso" à Igreja, que foi grande empecilho para a maçonaria. Com a criação do Poder Moderador instalou-se uma política autoritária, desagradando a Elite intelectual e maçônica. O Poder Moderador enfraquecia o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, centralizando assim o poder nas mãos do Imperador e retornando à uma administração "medieval".

O Poder Moderador dava legitimidade para o Imperador fazendo com que a formação política fosse escolhida diretamente, dando-lhe controle absoluto sobre o país. Os cargos do Senado eram vitalícios, tendo o Senador que receber de renda anual 800$000 (oitocentos mil-réis) e ser maior de 40 aos de idade; os Deputados eleitos ficavam no poder por 4 anos sendo obrigatório receber anualmente o mínimo de 400$000 (quatrocentos mil-réis) e) maior de 21 anos de idade o voto era censitário podendo votar apenas homens brancos livres com renda anual de 100$000 (cem mil-réis), sendo assim, não havia ameaça de opositores políticos.

A visão brasileira neste período era a de um país dividido entre um "Imperador ditador" diante do crescimento constante da cultura cafeeira e a presença inglesa no Brasil; e entre a Elite positivista que nesse período já esboçava iniciativas de incentivo ás artes e cultura (mesmo que ainda européia). Este panorama desfavorável ao crescimento do Brasil e contrario aos interesses da maior parte dos membros da maçonaria brasileira. Porém em 1826 tem-se a noticia do óbito de D. João VI e a coroação de D. Miguel, surge novamente a problemática: Caso a realeza saia do Brasil para Portugal, o Brasil "cairia". Mas neste momento sob uma perspectiva diferente. D. Pedro I deveria retornar à Portugal para tomar o trono que era seu por direito, pois caso D.Miguel assumisse legitimamente o Trono Português, as relações entre Brasil e Portugal seriam conturbadas. Mas caso retornasse à Portugal os partidos políticos temiam novamente a possível fragmentação do território nacional, além do retrocesso social do país tendo em vista as idéias que permeavam o Brasil por seus visinhos territoriais e a presença de agentes externos, tão internos que necessitavam de controle constante e expressivo. Este período ficou marcado pelas intolerâncias e imposições do Imperador que se fazia através do Poder Moderador, grande influência dos conservadores e das imposições papais.

Diante da situação Pedro I foi obrigado a retornar para Portugal. Esta decisão causou descontentamento das Elites Econômicas e por Liberais extremistas desencadeando o episódio conhecido por "Noite das Garrafadas", o qual não me prenderei sendo de pouca importância para o desenvolvimento do tema.

Em 20 de março de 1831 Pedro I, nomeia um Ministério formado por brasileiros legítimos, dissolvendo-o e criando o Ministério dos Marqueses formado por políticos ligados diretamente a ele (liberais e conservadores de maioria maçons).

Portanto em 7 de abril de 1831, é oficialmente declarada a abdicação de Pedro I, sendo então permitido dizer que sua abdicação foi forçada, deixando o futuro Imperador Pedro II (com 5 anos de idade) aos cuidados de José Bonifácio de Andrada e Silva (liberal maçom e principal articulador da Independência). Era então chegado o momento que o Partido Brasileiro aguardava.

A maçonaria estava ligada diretamente aos setores formadores de opinião como jornais, revistas e panfletos. A Câmara dos Deputados possuia certa autonomia em relação ao Senado. A Câmara dos Deputados que por sua vez era o "reduto dos liberais" que não se prendia ás ordens do conservadorismo. A partir daí surgiu a melhor definição dos Partidos, dando início ao pluripartidarismo brasileiro.

De 1831 em diante podemos observar que se formaram três Partidos: Liberal, Caramuru e Conservador. O Partido Liberal era formado por membros do Partido Brasileiro constituído pela Classe Média urbana que queria a instauração imediata de uma República; o Partido Caramuru era um Partido formado por membros do Partido Português que buscavam o retorno de Pedro I, com o intuito de centralizar o poder; o Partido Conservador era formado por membros menos radicais do Partido Brasileiro, tendo como sua principal vertente a preservação de uma Monarquia centralizada, buscando manter a unidade territorial através do centralismo na cidade do Rio de Janeiro. Importante destacar é novamente a presença maçônica em ambos os Partidos políticos.

Neste momento a política tomava novos rumos influenciados pelos ideais maçônicos em busca da criação de mecanismos que favorecessem o progresso intelectual, a separação da antiga visão monárquica, mas principalmente pela nova denominação de Elite.

Até a primeira metade do Século XIX as Elites podiam ser divididas em Elites Econômicas e Elites Políticas. A Elite Econômica é definida pelos grandes proprietários de terras cafeicultores, traficantes contratantes e escravistas. A Elite Política era formada por nobres da Alta Corte e membros dos Partidos Brasileiro e Português, ligados diretamente ao Imperador.

No Período Regencial, as Elites apresentam uma nova concepção. As Elites Econômicas haviam sofrido um pequeno abalo devido às medidas inglesas contra o tráfico; a Elite Política se alternava devido à constante troca de poder das Regências Trinas. Mas uma nova Elite surgia: a Elite Intelectual, formada por jovens recém formados nas universidades européias (francesas, inglesas e portuguesas), filhos da Elite Econômica, que ao retornar ao Brasil vinham embebidos em literatura positivista direto para o seio das Lojas Maçônicas que eram o centro intelectual da época (e são ainda hoje). Lembremos que a concepção de intelectualidade no Brasil no período anterior era formada por pessoas que não possuíam nacionalidade brasileira, sendo assim não possuíam um sentimento de nacionalidade. Este sentimento, portanto vem ser construídos na segunda metade do Século XIX com os trabalhos desta nova Elite nas Lojas Maçônicas, fazendo uso dos meios circulares formadores de opinião, e através da construção das primeiras instituições ligadas diretamente ao desenvolvimento cientifico. Porém até que sejam completos estes incentivos (como a construção de bibliotecas e universidades), a formação da Elite Intelectual dar-se-ia nos centros cientificistas europeus (o que dificultava a formação de uma identidade nacional).

Período Regencial foi um momento onde a maçonaria e os liberais se reestruturaram remanejando e recompondo o seu alicerce, com intenção de combater o colonialismo, combate este que ocorria nos mesmos Centros Cientificistas já citados. A partir deste período, a maçonaria passou a ser principal atuante na libertação negra no país. Porém no período do Segundo Império a maçonaria e os liberais contaram com um grande empecilho para o liberalismo: a chamada "Questão Religiosa" que foi com certeza o período mais turbulento no Século XIX (para a maçonaria), e que discutiremos mais adiante juntamente com a emancipação escravista (e que é o "problema" acerca desta obra).






VI
A maçonaria na libertação escrava e a "Questão Religiosa"


Devido ao risco de fragmentação que se encontrava Brasil no Período Regencial, era necessário adotar uma medida que garantisse a centralização do poder e a unidade territorial. Tendo em vista a realidade política, contrária aos interesses maçons, os Partidos Políticos viam como única maneira possível de centralizar o poder alterar a Constituição para que Pedro II assumisse. Este ficou conhecido como o "Golpe da Maioridade". Conforme o Art. 121 da Constituição Brasileira de 1824 ?"O imperador é menor até a idade de 18 anos completos", mas neste momento o "Golpe" suspendia este Artigo, sendo então possível que Pedro II assumisse o Trono com 15 anos completos.

Na visão política do momento via-se novamente a "disputa" entre Conservadores e Liberais. Apesar dos Liberais terem comandado boa parte das rebeliões da segunda metade do Século XIX, o Partido Liberal e o Partido Conservador alternavam-se no poder de maneira "amistosa".

Na agricultura quase nada mudara desde as décadas anteriores. Mantinha as mesmas características como o latifúndio, monocultura, escravismo e produção cafeeira apesar da diminuição da entrada de escravos no Brasil ? o aumento da produção é devido ao conhecimento biológico da plante e ao uso de novas técnicas de plantio; a diminuição de escravos é decorrente das investidas inglesas e maçônicas de acabar com o tráfico -, e a industrialização desenvolvida por Irineu Evangelista de Souza ou simplesmente o Barão de Mauá. Este último foi de grande importância para o Brasil devido ao processo evolutivo econômico característico da industrialização em um país de farta matéria-prima. O incentivo a construção de ferrovias (que acabava com o uso de muares) permitia o escoamento do café, do interior para o litoral com maior facilidade. As fábricas e indústrias permitiam produzir no Brasil artigos comprados da Inglaterra, além da criação de Bancos e toda uma estrutura física capaz de suportar as necessidades de um país, livre de acordos desfavoráveis. A importância da figura de Barão de Mauá foi tamanha que até o Banco do Brasil e a Linha Férrea Pedro II (ambos em funcionamento) foram fundados com sua iniciativa. Porém, apesar de grande investidor positivista, encontrou adversários dentro e fora do Brasil indo à falência, posteriormente se recuperando, mas sem tanta expressividade.

Quanto à questão escravista, foi a partir de 1850 que este tema alcançou maior discussão no meio intelectual de época estando a maçonaria ligada diretamente ao processo de emancipação do escravo. Segundo Hegel a escravidão está vinculada à falta de consciência do homem de sua liberdade, e como deve haver um avanço progressivo da consciência da liberdade, a abolição deveria ser lenta e gradual. Essa conquista, conforme Hegel, não deve ser abrupta, mas sim, amadurecida e compreendida culturalmente. E para isso os maçons encontraram um árduo caminho.

Como pudemos compreender a maçonaria desde 1801 mostra-se interligada ás decisões políticas brasileiras. A cada período característico e particular da política nacional, fazia com que o teor das discussões maçônicas se flexionasse. Nas duas primeiras décadas as discussões corriam por conta da preocupação de manter a centralidade do poder no país, tendo na década de 1820 a proibição dos trabalhos nas Lojas, as discussões tendiam mais para a retomada da legalidade. Mas no Período Regencial as Lojas multiplicaram-se no nordeste, no sul do país e no Rio de Janeiro. Na segunda metade do Século XIX a maçonaria já alcançava seus objetivos passados, como retomar as atividades nas Lojas e a centralidade do Poder, possuindo agora novos ideais devido à nova realidade política e social.

Quanto ás provas documentais da parcela de participação da maçonaria no Estado nos primeiros cinqüenta anos do Século XIX, são muito escassos sendo-nos obrigados a especular sobre tal, porém nos últimos cinqüenta possuímos comprovação cientifica por meio de cartas, jornais, Atas maçônicas, e documentos cartoriais que comprovam que a maçonaria participou dentre outros eventos, da libertação dos escravos negros do Brasil, e da luta pela liberdade religiosa separando religião de Estado.

Prenderemos nossa atenção para a emancipação do escravo deixando a "Questão Religiosa" para mais adiante, onde no momento apropriado será devidamente desenvolvida.

A maçonaria brasileira foi desde sempre atuante no cenário social do país, afetando diretamente na economia como foi o caso da busca pelo fim do escravismo. Essa atuação foi com certeza sutil e buscava a "evolução" do Brasil. Devemos destacar que não havia uma evolução retilínea a ser seguida como uma condição natural, e que somente a libertação do negro poderia fazer com que o Brasil evoluísse. Pensar assim é reafirmar a teoria evolutiva de Charles Darwin. O que ocorre é que este conceito de "evolução" serviu erroneamente para definir os novos meios de ver a economia, sociedade e ciências sob novos e constantes acontecimentos históricos. Quando vemos o "Velho" cedendo ao "Novo", significa, portanto o rompimento da barreira crítica e não da intelectual. O que ocorre é uma libertação da condição bestializada e natural do homem (não confundamos com a "condição natural" de Rousseau). Portanto a Europa era assim o modelo de "evolução" por não conter escravidão.

Esta "evolução" deu-se de maneira sutil, paulatina por uma questão cientifica facilmente explicada por Hegel, em que a liberdade deveria ser gradual. Isso porque era necessário que o consciente coletivo se adequasse ás "Luzes" para que então se superasse as "Trevas". Para este processo podemos ver que foram necessários dois "ismos": humanismo e humanitarismo, característicos da maçonaria. Era necessário que estas tendências ganhassem o coletivo através dos meios de comunicação para que então, estivesse assim a sociedade "educada" ao ponto de enxergar os seus direitos e consequentemente os direitos do próximo. Os jornais de propriedade de maçons foram grandes veículos de propaganda antiescravista em todo o país.

Outro ponto importante na análise acerca da libertação é o fato de que a escravidão e seus dependentes formavam, ou melhor, impulsionavam o ritmo econômico brasileiro. Como fora visto, as crescentes lavouras cafeeiras desenvolviam-se ao ritmo da mão-de-obra escrava negra, e daí partia seus altíssimos lucros. Além do mais a grande população negra já existente no Brasil sem qualificação profissional, seria condicionada á marginalidade (marginal neste contexto não é sinônimo de bandoleiro, mas aquele que se encontra á margem da sociedade quase abaixo da linha da pobreza), tendo em vista o preconceito contra negros, muito mais latente no Século XIX. Sendo assim encontramos as problemáticas da condição do negro na sociedade e da própria questão econômica brasileira.

Na visão maçônica todo homem deve ser livre, com mesmos direitos. Mas esta é de certa forma uma utopia, uma meta a ser alcançada e foi por todo o Século XIX o ponto que permeou os trabalhos dos maçons.

As investidas maçônicas em prol da libertação podem ser comprovadas em Atas como mostra Frederico Guilherme Costa. As Atas que se seguem permitem, portanto que se veja com clareza e que se possa entender a luta da maçonaria, que se dava dentro da lei, respeitando a ordem e respeitando a propriedade.

Ocorrido na Loja "Lealdade e Brio" no ano de 1874:
"Dia 15 de outubro de 1874- Sessão de Finanças- foi pedido o Tronco requerido pelo Irm.´. Umbelindo para comprar a carta de alforria da escrava de nome Benedita, com 12 anos presumíveis, que viera à porta da Loja pedindo misericórdia por estarem a sua procura a fim de açoita-la e reconduzi-la ao tronco. Corrido o Tronco de Beneficência foi colhida a quantia de 200$000 (200 mil réis) e a escrava libertada."

"SESS.´. MAG.´. DE POSSE, AO 1º DIA DO MEZ DE MARÇO DE 1871, ERA PROF.´. DA M.´. AUG.´. E R.´. LOJ.´. CAP.´. FRATERNIDADE, AO OR.´. DE SANTOS"
Reunidos os Irmãos, em numero suficiente, ocupando a cadeira de Venerável, o Respeitável Irmão Joaquim de Jesus Pereira, as de 1º e 2º Vigilantes, os Irmãos Guilherme Tell e Pedro 5º, ao Oriente de santos (...) sendo introduzido o Irmão Antonio Maria Sampaio, e pedindo a palavra, diz que na qualidade de Presidente da Comissão encarregada de agenciar esmolas para liberdade de escravos menores, vinha apresentar a esta Augusta Loja, o crioulo Abel, de 5 anos de idade, que tinha libertado como prova a carta de liberdade que apresentou ao Irmão Venerável. O Irmão Orador propôs que a carta de libertação fosse transcrita na ata para servir de sinal de gratidão para com a Comissão encarregada de promover a subscrição para a liberdade, que veio com este ato de humanidade, festejar o dia de hoje. "Eu abaixo assino e declaro que sou senhora e possuidora de um escravo de nome Abel, de 5 anos de idade, crioulo, natural de Santos, do qual pela presente concedo pena liberdade visto ter recebido da Comissão da Loja Maçônica Fraternidade, a quantia de 300$000. E para clareza, firmo presente, que assino com testemunhas. Santos 1º de março de 1871 ? estava a estampilha de 200 réis ? Maria Eufrosina Martins, Henrique Porchat de Assis e João José Frederico Ludovice".

"SESS.´. DE INAUGURAÇAO DO NOVO TEMPLO DA MTº AUG.´. E R.´. LOJ.´. CAP.´. FRATERNIDADE, AO VAL.´. DE SANTOS, 29 DE NOVEMBRO DE 1873"
(...) Corre o Tronco de Beneficência que produziu 107$420 destinado para a libertação da pardinha Domingas, conforme já resolvido e como é de estilo nestes atos (...)

SESSAO ECONÔMICA DO DIA 3 DE DEZEMBRO DE 1873:
(...) Dada a palavra a bem da Maçonaria em geral e desta Augusta e Respeitável Loja em particular, o Respeitável Irmão Esmoler declarou que nas noites de 30 do mês passado, 1º e 2º do corrente, em que foi exposto nosso Templo, rendeu para a liberdade da menor Domingas que ali se achou, na primeira 49$260, na segunda, 107$420, perfaz 266$540, que ficarão a seu cargo até que a Augusta Loja lhe ordene a que deva entregar em conseqüência (...)

Sessão Magna de Posse e Instalação da Loja "Fidelidade Mineira", de Juiz de Fora (MG), datada de 1º de junho de 1873 temos:
(...) O Mestre de Cerimônias, por ordem do Venerável, introduz no tempo os visitantes (...) A Comissão Regularizadora, que se compõe do Grão-Mestre, Comendador Joaquim Saldanha Marinho, Padre José Luiz de Almeida Martins, Quintino Bocaiúva, Francisco Antunes da Silva Guimarães e Nuno Telmo da Silva e Mello (...) Seguiu-se uma brilhante locução do Grão-Mestre (...) O Grão-Mestre convida o Irmão Grande 1ºVigilante a dirigir os trabalhos enquanto ele cobria o Templo (...) Pouco depois faz a sua reentrada com as solenidades, trazendo pela mão a escrava Honorata, de 14 anos. Para sua liberdade tinha a quantia de 411$000 (400 mil réis), e retomando o malhete fez anunciar à Loja a liberdade de Honorata (...) A Oficina neste ato levantando-se aplaudiu este ato de cavalheirismo e filantropia, demonstrando todos os elevados sentimentos que cresciam em seus corações. Os Irmãos Venerável e Secretario cobrem o Templo e voltando, conduzem uma escrava de nome Thereza de 18 anos, para ser auxiliada pela Loja de ordem a ser considerada livre daquele momento em diante, e consultada a Loja foi com entusiasmo devidamente aplaudida e adotada a idéia.

Dessa maneira é, portanto inegável que a libertação negra não deu- se exclusivamente pelas investidas inglesas, mas principalmente peãs mãos dos maçons. Os processos elaborados pela maçonaria para acabar com o escravismo possuíam um caráter filosófico, tendo como preocupação mudar a mentalidade coletiva através não somente do empirismo, mas principalmente do humanismo e do humanitarismo. Essa mudança de pensamento deveria surgir do próprio individuo espontaneamente ao invés de ser uma imposição.

Caminhando lado a lado com o progresso intelectual, a no combate ao escravismo, ao analfabetismo, até a liberdade política e religiosa a maçonaria atuou diretamente na sociedade brasileira, com o objetivo de definir um conceito de "brasileiro" e poder assim progredir cientificamente se desvinculando das imposições européias. Mas para esta desvinculação a maçonaria "lutou" contra os ultramontanos, desencadeando assim a "Questão Religiosa".

A "Questão Religiosa", que cito em todo momento no texto é um dos pontos principais da obra, foi a denominação da briga entre a Igreja Católica e tudo e todos que oferecessem perigo a ela inclusive a maçonaria. Mas devemos observar que não foi uma briga, simplesmente, contra todos os órgãos e membros da Igreja, foi uma briga contra os ultramontanos.
Para compreendermos o fato será necessário analisarmos o ultramontanismo. O termo foi criado por volta do Século XI para definir os católicos que buscavam supremacia e levar legitimidade ao Papa. No Século XIX este, voltou como uma expressão dos conservadores extremistas que buscavam reaver o domínio do Papa, que havia sido abalado pela Reforma e pela Revolução Francesa. O ultramontanismo no Século XIX vinha então não somente garantir o poder nas mãos do Papa, mas também combater tudo que ameaçasse a Igreja conservadora.

No inicio do Século XIX os ultramontanos não encontraram território favorável para suas investidas, pois a Igreja se deparara com o artifício da presença da família Real no Brasil tendo forte presença inglesa influenciando na política e na economia. O seu crescimento dependeu da "importação" de clérigos, bispos e jesuítas conservadores e ultramontanos para o Brasil. Esses membros eclesiásticos eram influenciados e formados nas idéias de Roma, e viam como única maneira de manter o controle e a unificação da Igreja Católica era de impor regras que transformariam a Igreja, ou pelo menos haveria o controle, da Igreja Medieval.

A maçonaria foi principal alvo dos ultramontanos porque além de ter sido um dos grandes veículos de divulgação do liberalismo, apresentou uma tentativa de formar uma sociedade fechada e ecumênica. Porém o maior medo que possuía a Igreja Católica (entende-se como Igreja Católica os ultramontanos), era de que ao exemplo dos países protestantes, a maçonaria cooperasse com o Estado.

A grande questão em torno da "luta" entre Igreja e maçons foi esta tendência ecumênica da maçonaria e sua pesada oposição ao absolutismo. Porém,como já foi dito, os ultramontanos travaram com sua busca pela retomada da autoridade papal, uma luta não somente contra a maçonaria mas também com grupos como, nacionalistas,liberais, anarquistas,comunistas, socialistas, espíritas e protestantes (missionários americanos e ingleses).

A Igreja anunciou "guerra" à maçonaria porque os maçons eram ideologicamente contra tudo que o conservadorismo religioso buscava, tal como o ensino jesuítico e religioso obrigatório, vínculo direto da Igreja com o Estado, a proibição da divulgação de outras religiões que não fossem católicas. Não somente isso. Grande parte dos padres brasileiros eram membros efetivos da maçonaria. Apesar de parecer contraditório, é comum que a religião predominante no país possua maior quantidade de membros maçons, e além do mais os católicos não eram necessariamente ultramontanos.

Certamente que a Igreja e o Papa mostravam-se incomodados com estes acontecimentos, iniciando assim uma campanha anti-maçônica. Vários decretos e bulas papais foram emitidas condenando o vínculo de católicos com tais instituições secretas, denominadas pelo Papa como satânicas e conspiratórias. Como prova deste "conflito de palavras" segue trechos de publicações da Igreja Católica e da maçonaria, republicadas na revista "Nossa História" de junho de 2005.

Trecho da encíclica papal Humanum Genus, publicada em 20 de abril de 1884 pelo papa Leão XIII:
" O gênero humano, após sua miserável queda de Deus, o Criador e Doador dos dons celestes (...) separou-se em duas partes diferentes e opostas, das quais uma resolutamente luta pela verdade e virtude, e a outra por aquelas coisas que são contrárias à virtude e à verdade. (...) Em cada período de tempo uma tem estado em conflito com a outra (...). Nesta época, entretanto, os partisans (guerrilheiros) do mal parecem estar se reunindo (...), liderados ou auxiliados por aquela sociedade fortemente organizada e difundida chamada Maçons. Não mais fazendo qualquer segredo de seus propósitos, eles estão agora abruptamente levantando-se contra o próprio Deus. Eles estão planejando a destruição da santa igreja publicamente e abertamente, e isso com o propósito estabelecido de despojar completamente as nações da Cristandade (...) das bênçãos obtidas para nós através de Jesus Cristo nosso salvador. (...) Eles declaram que seu único desejo é a melhoria da condição das massas, e o compartilhamento com o maior número possível de pessoas de todos os benefícios da vida civil. Mesmo que estes propósitos fossem visados verdadeiramente,eles não são de modo algum o todo de seu objetivo. (...) Aquele que é o seu propósito último força-a a se tornar visível ? especificamente, a completa derrubada de toda a ordem religiosa e política do mundo que o ensinamento Cristão produziu."

Trecho de "Os bispos e a Maçonaria no Brasil", publicado no Boletim do Grande Oriente do Brasil, em janeiro de 1873:
"Está patente o empenho, com que os bispos do Brasil procuram conflitos com a maçonaria. O episcopado brasileiro nesses últimos tempos provoca-nos constantemente pondo a prova o critério e a prudência da associação maçônica. Se os bispos refletissem, conheceriam, que a luta que suscitam, só a eles pode prejudicar, com desvantagem da religião católica, a qual tão desastradamente desejam servir. Com efeito, desde o sul até o norte do Império, os nossos bispos não deixam passar pretexto, de que se não prevaleçam para obterem-se infensos a congregação maçônica, cujo intuito todo humanitário, consagra-se ao desenvolvimento das faculdades intelectuais e morais do homem (...). A maçonaria dedica-se à causa do bem e quer o progresso da humanidade, sob a liberdade política e religiosa. (...) A maçonaria pugna pela liberdade humana: a teocracia porém nutre intentos bem diversos. Ao lance dos olhos não se compreende qual o motivo, porque o episcopado entre nós apresenta-se acirradamente hostil à maçonaria, e sai das suas costumadas reserva para e agredi-la."

A Igreja buscou varias maneiras de diminuir o poder, e os direitos daqueles que eram contrários aos seus ideais. Um dos maiores embates neste período foi a briga pelo direito aos cemitérios municipais. Apesar de municipais os cemitérios eram supervisionados pela Igreja, o que os garantia em até certo ponto o controle pelo "solo sagrado", obrigando assim todos os não-católicos e maçons a serem sepultados em qualquer outro local. Mas com o apelo do diretor da estrada de ferro Dom Pedro II, Sr. Mariano Procópio Ferreira Lage, para o ministro da agricultura e obras publicas Joaquim Antão Fernandes Leão, que levou a petição para o Conselho de Estado, sendo submetida sob o argumento de que "em uma época de tolerância civil e religiosa" não se pudesse negar o direito de sepultamento, e além do mais a Constituição mostrava claramente a proibição do ato de perseguir, sob qualquer forma, o indivíduo por motivos religiosos.

Outro aspecto importante a ser ressaltado no estudo da "Questão Religiosa" sob o ângulo de visão do combate dos ultramontanos e a maçonaria, é a participação e o auxilio protestante às causas maçônicas. Segundo Alexander Lattmer Blackford, como mostra David Gueiros Vieira, definiu em carta ao The Christaian World que "a maçonaria no Brasil era (...) um dos mais importantes meios que Deus (tinha) usado e (estava) usando para quebrar o domínio do catolicismo no Brasil (...) e que qualquer brasileiro que desejasse ser considerado respeitável, pertencia à ordem". Era, portanto comum aos protestantes ver em maçons, judeus e até espíritas (kardecistas) aliados contra o catolicismo. É importante destacar que a concepção de Igreja era diferente para maçons e protestantes. Os protestantes combatiam a religião, e os maçons combatiam os ultramontanos.
O ponto onde o conflito tornou-se mais crítico entre Igreja e maçonaria, foi com certeza quando Dom Macedo Costa e Dom Vital enfrentaram o Estado e infligiram a Constituição Nacional em nome dos propósitos ultramontanos, pois até então os insultos e agressões contra a maçonaria não haviam sido levadas em consideração pelo Império. Mais especificamente Dom Vital que empenhou-se com grande fervor para desmoralizar e reprimir a maçonaria, alcançando o ápice do conflito chamado Questão Religiosa.

Com o interdito de 1873, Dom Vital proibiu o funcionamento de qualquer instituição que aceitasse maçons. Porém no Brasil qualquer ordem ligada à Igreja deveria passar pelas mãos e ter o beneplácito do Imperador - que também era maçom. Sendo assim, qualquer ataque contra os maçons era um ataque contra sua pessoa ? como constava na Constituição. Dessa forma, negando-se a retirar suas ordens, Dom Vital e Dom Macedo Costa são detidos sob a acusação de ferir a Constituição e ignorar o poder do Imperador.

Neste momento estava simbolicamente e de certa forma, concreta mas não oficialmente terminada a ligação da Igreja com o Estado. Ruptura esta que partiu dos dois lados (Estado e Igreja), mas isto não determinava também que o país adotaria uma nova religião, até mesmo porque o catolicismo continuou e continua sendo a religião oficial do Brasil. Isso ocorreu porque a luta contra a Igreja foi como fora citado, uma luta contra o ultramontanismo e a tentativa de desvincular a Igreja do Estado. Não havia então uma luta contra o catolicismo (pelo menos por parte dos maçons), o que permitia a convivência harmoniosa entre todos os outros segmentos religiosos e/ou sociedades fechadas. Importante destacar também é que apesar de se ajudarem mutuamente, maçonaria e protestantes não possuíam vínculo algum, sendo sua "parceria" uma ação em nome de seus ideais (singulares) e a própria existência.
A maçonaria retomava agora algumas "antigas" metas, tais como criar um ensino sem vínculo com religião alguma, ligada ao raciocínio científico, à modernidade e ao progresso. Devido a estes ideais, após a Proclamação da Republica (liderada por militares maçons) a maçonaria adotou uma postura menos política e mais filantrópica, construindo creches, colégios públicos (patrocinados pelos maçons), aulas noturnas para adultos, construção de bibliotecas, Centros de Ensino Superior. Certamente que a maçonaria foi o espaço onde as Elites Intelectuais desenvolveram-se para arquitetar o rompimento da opressão do Antigo para construir o progresso do Novo.




Conclusão


Ao longo da obra buscamos mostrar os trabalhos maçônicos no Brasil, levando em consideração todos os aspectos políticos e econômicos. Foi traçado uma linha de raciocínio que pretendeu levar ao leitor desconhecedor do assunto uma visão a fim de localizá-lo temporalmente de acordo com o decorrer dos fatos. Para chegar ao momento de análise do período em que a maçonaria mostrou-se atuante, e exposta, foi traçado o caminho percorrido pela Ordem desde sua instalação oficial no Brasil em 1801 até sua "ilegalidade" na década de 1820/30, havendo a retomada de seus trabalhos no período Regencial. A definição dos maçons como a Elite Intelectual, não confundindo com a Elite de Corte ou a Elite Política.

Foi traçado também o panorama econômico do Brasil, tendo o café como o alicerce econômico brasileiro, e o escravo como principal participante neste processo. Este mesmo escravo que a maçonaria se empenhou para libertar, mas de maneira lenta e gradual para que a população pudesse administrar a idéia e para que os negros não se tornassem vitimas da marginalização. Além da maçonaria os ingleses também buscavam o fim da escravidão, mas por motivos econômicos, obrigando assim o Governo a adotar as medidas protelatórias. Destacamos também as características do café, e porque foi a cultura mais lucrativa produzida no Brasil.

E principalmente descrevemos a Questão Religiosa que foi o conflito ideológico entre os maçons que defendiam a liberdade religiosa, política e intelectual, contrária aos ultramontanos que eram católicos conservadores que viam na centralização do poder nas mãos do Papa a reconquista da autoridade perdida com a Revolução Francesa.

Diante todos os fatos mencionados e explanados neste texto somos levados a crer que a maçonaria, ou melhor, os maçons (visto a existência do Grande Oriente e da Grande Loja) lutaram pela "dinamização" do país tendo como ferramenta o uso do positivismo. Portanto é certo que a maçonaria atuou no Brasil diretamente no processo de formação e estruturação da sociedade e da economia brasileira, assim como fazem até hoje.



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