A Filosofia, portanto, implica numa questão amplamente discutida, tornando-se objeto de considerações dos mais diversos pontos de vista teóricos para uma ação educativa de forma a preparar os indivíduos para a vida social. Desse modo cabe à educação filosófica construir na criança a consciência do que é estar e viver no mundo, possibilitando a aquisição de uma percepção ética e de valores que promova maior autonomia do pensar e do agir.

A educação cumpre seu papel na medida em que oferece aos educandos instrumentos necessários e pertinentes para o exercício do pensar reflexivo como o acesso ao desenvolvimento científico e tecnológico, além da participação crítica na vida política, postos em evidencia ao serem descritos os meios educacionais que possibilitarão que todos os cidadãos deles se apossem.

A ética deve permear toda ação docente, sendo este um dos "papéis mais importantes no ambiente escolar", tendo em vista a constante exigência educacional atual de formar a autonomia e, sobretudo, a responsabilidade em praticar a ética nos diferentes contextos, inclusive no seu cotidiano através de um processo de participação, cooperação e respeito mútuo. (PAIVA, 2005, p. 54)

A ética na Idade Média baseava-se em uma fala e um saber, hoje, porém, ela toma lugar do respeito à opinião do outro e a diferenças culturais. Assim "uma ética que coloca o professor não como aquele que reproduz saberes já escritos, mas capaz de ouvir os saberes de seus alunos, dialogando com eles e avançando com eles na busca de novos saberes" (CASTILHO, 2006, 34).

Conforme Paiva (2005. p. 56 ) "vivemos uma ética capitalista nas quais os valores éticos, estéticos e morais são guiados pela ganância do lucro e da massificação da cultura de mídia e do consumo". Nesse sentido, vê-se de forma clara e precisa a intenção pedagógica da Filosofia para a aceitação de diferentes posicionamentos entre o professor na escolha dos conteúdos programáticos centrados na formação da cidadania e temáticas que variam de acordo com a realidade cultural de cada um. Além disso, a filosofia abre espaço para tematizar e explicitar os conceitos que permeiam todas as outras disciplinas e o faz de forma radical, buscando suas raízes e pressupostos.

Por ser um tema que traduz as principais preocupações da sociedade brasileira presentes sob várias formas, a ética é apresentada à escola em sua globalidade, inserida no currículo escolar articulado a outros temas, buscando um "tratamento didático" que contemple sua complexidade e sua dinâmica, podendo ser priorizado e contextualizado com as diferentes realidades locais e regionais.

Nesse sentido, a proposta de transversalidade partiu da necessidade de a escola refletir e atuar conscientemente na educação de valores e princípios morais que favoreçam o desenvolvimento de atitudes e comportamentos éticos fundamentais para a existência humana.

A ética apresenta-se no currículo, segundo os PCN'S, sob diversos aspectos que pode ser chamado de tendências de formação moral tentadas pelo Brasil e outros países ao longo dos tempos, tais como as tendências: filosófica, cognitivista, afetivista, moralista e a democrática.

- A Tendência Filosófica tem por finalidade envolver os vários sistemas éticos propagados pela Filosofia perante as idéias de antigos filósofos;

- A Cognitivista refere-se à consciência moral e reflexiva de suas próprias ações conforme certos valores sancionados pela sociedade;

- A terceira tendência é a Afetivista que visa fazer com que os alunos centrem-se nas relações afetivas de cada um para que possam conviver de forma harmoniosa com seus semelhantes;

- A quarta é a tendência Moralista que procura evidenciar valores e os impor aos alunos para que possam assumir atitudes e posturas adequadas num método bem autoritário, doutrinário, tal como representou com as disciplinas de Educação Moral e Cívica e a Organização Social e Política Brasileira (OSPB) presentes na época da Ditadura Militar.

- Por fim, destaca-se a Tendência que pressupõe uma democratização das relações entre os membros da escola, tornando-os capazes de participar de decisões e da elaboração de normas que amenizem os problemas ocorridos na própria escola e no mundo em vivem.

A família (pilar primordial da educação) deve assumir, juntamente com a escola, o papel de vivenciar valores e posturas éticas, veiculadas pelos meios de comunicação diversos a que todos têm acesso, lembrando ainda os valores implícitos na educação formal através do currículo escolar.

Diante de todas as preocupações em inserir a ética no contexto escolar é de suma importância que se atente ao fato de que não basta apenas pautar-se na abordagem de conceitos teóricos sobre a temática ética se a mesma não é vivenciada diariamente em cada contexto. Antes de falar da ética faz-se necessário adquirir uma postura propriamente ética.

Conforme os PCN'S (1998) dentre os objetivos de ética para o Ensino Fundamental, estão os que visam às capacidades de:

a)Reconhecer a presença dos princípios que fundamentam normas e leis no contexto social;

b)Refletir criticamente sobre as normas morais, buscando a legitimidade na realização do bem comum;

c)Valorizar e empregar o diálogo como forma de esclarecer conflitos e tomar decisões coletivas.

5.1 Conteúdos de ética para o ensino fundamental

Em termos gerais, a ética está envolta a preocupações de como agir em sociedade, nas próprias relações entre os agentes que constituem a instituição escolar, bem como alunos, professores, pais e demais componentes, realizando um trabalho que possibilite o desenvolvimento da autonomia moral, fortalecendo, assim, eixos eleitos como blocos de conteúdos intimamente relacionados entre si, tais como: o Respeito Mútuo, a Justiça, o Diálogo e a Solidariedade, que nada mais são do que os princípios da dignidade humana firmados pela Constituição Brasileira.

Com relação ao primeiro bloco (Respeito Mútuo) percebe-se que é uma das temáticas mais debatidas no Ensino Fundamental, uma vez que este corresponde a uma atitude que permite a todos conviverem harmonicamente em sociedade, valorizando e vivenciando os valores presentes na socialização de experiências que norteiam todas as condutas humanas até mesmo as que envolvem relações entre pessoas de diferentes grupos sociais ou religião, que possuam contato direto ou não.

Partindo do princípio de que todos merecem respeito, independentemente de classe social, raça ou religião, os PCN's definem a importância do bloco de conteúdos relacionado ao Respeito Mútuo como fundamental, principalmente, no que se refere ao ato de os alunos aprenderem a respeitar e serem respeitados. Dessa maneira, é extremamente importante que a escola crie, a partir desse bloco, oportunidades para se trabalhar e discutir sobre as diferenças culturais e as conseqüências de atitudes discriminatórias e segregacionistas na escola.

No segundo bloco referente o valor da Justiça discute-se sobre temas como moralidade, direitos, deveres, obediência às leis e como este é encarado pela sociedade. O tema Justiça aparece sempre ligado a princípios ético-morais que regem o próprio sentido do que é justo ou injusto e critério essencial para avaliar, de forma, crítica certas leis e ações que privilegiam uns em detrimento de outros.

Desde muito cedo, as crianças apresentam sensibilidade para questionar manifestações de justiça e injustiça, sendo por esse motivo, propostos blocos que evidenciem as diferentes posturas didáticas que visam à consideração de critérios de justiça para desenvolvimento da capacidade de elaborar e analisar normas e regras que atuam na sociedade.

A Solidariedade é o terceiro bloco que possui extrema relação com o Respeito Mútuo, sendo a mesma baseada nas relações sociais, que não se formam apenas no auxílio a um amigo doente, mas na luta de um ideal coletivo de cooperação por meio de ações comunitárias da sociedade em geral.

Conforme ressalta o PCN, a escola, bem como a família, tem o papel de construir no aluno repúdio a atitudes violentas quanto ao esclarecimento de diferentes tipos de violência (física, moral e simbólica) na tentativa de conscientizá-los na não utilização da mesma.

O quarto bloco é essencialmente a fundamental relação entre os seres humanos: o Diálogo. A sua presença no cotidiano escolar é encarada como uma estratégia de ensino que promove o debate de opiniões e a formulação de situações-problemas sobre vários assuntos abordados, nas quais prevalece a valorização das próprias idéias, disponibilidade para ouvir idéias e argumentos dos outros. Cabe ao professor fomentar no aluno a participação dialógica no fazer coletivo para que ele possa aprender a vivenciar os conceitos de cidadania, solidariedade, cooperação e dignidade.