Com o crescimento da vulnerabilidade e o distanciamento de bases sociais, torna-se necessário o aprofundamento diante as famílias submetidas à situação de risco. Trata-se de uma pesquisa descritiva retrospectiva do tipo bibliográfica, tendo como objetivos identificar as publicações que correlacionam família, risco social e desenvolvimento emocional da criança e apontar as principais reflexões e contribuições do Terapeuta Ocupacional nesta temática. Sendo assim, foi possível analisar que a família sob situação de risco social contribui para alteração no desenvolvimento emocional da criança.

INTRODUÇÃO

Crianças em abandono social, vivendo em situação de risco fazem parte da realidade de nossa sociedade, que deve ser analisada sob os olhos de nossa conjuntura social, levando em consideração a historicidade desta questão, movida por acontecimentos sociais, interesses políticos e econômicos. Representam a concretização e legitimação do abandono social da infância, poderíamos dizer do descompromisso do estado para com a família e para o papel social que esta possui (CAMARA et. al. 2000).

Fatores de risco como a situação de desfiliação, criminalidade, abuso de substâncias psicoativas, fator econômico e violência são elementos que podem promover alteração no desenvolvimento da criança.

As pesquisas na área social auxiliam detectar os fatores de risco destinados às crianças sob situação de risco, além de promover a estruturação desta perante a família e sociedade. Neste sentido, os profissionais sociais e de saúde, aqui se destacando o Terapeuta Ocupacional, podem auxiliar na modificação desta realidade.

Sendo assim, a Terapia Ocupacional, a partir desta visão, amplia o seu campo de ação, já que atua diretamente no cotidiano dos indivíduos e populações, procurando compreender e transformar as ações humanas próprias de determinados contextos, para que essas pessoas adquiram maior autonomia e participação na melhora de sua qualidade de vida, ampliem suas vivências e relações e compreendam o significado de seu papel social e comunitário (CASTRO, 2000 apud ROSA, 2006).

A situação de desigualdade social, política e econômica encontrada no Brasil tem influência direta na dinâmica familiar e no aumento do número de crianças e adolescentes em situação de risco social e pessoal (GONTIJO & MEDEIROS, 2004).

De acordo com Bandeira et al. (1996) apud Hutz e Koller (1997):

[...] Uma criança é considerada em situação de risco quando seu desenvolvimento não ocorre de acordo com o esperado para sua faixa etária de acordo com os parâmetros de sua cultura. Podendo este ser de aspecto físico (doenças genéticas ou adquiridas, prematuridade, problemas de nutrição, entre outros), social (exposição à ambiente violento, drogas) ou psicológico (efeitos de abuso, negligência ou exploração).

Desta forma, os objetivos propostos foram identificar as publicações que correlacionam família, risco social e desenvolvimento emocional da criança e apontar as principais reflexões e contribuições do Terapeuta Ocupacional nesta temática.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa descritiva retrospectiva do tipo bibliográfica. O estudo foi realizado no período entre Agosto e Novembro de 2008. O instrumento para coleta de dados foi por meio de artigos periódicos e revistas indexadas, sendo que a publicação variável era entre o período do ano 1996 a 2008.

A FAMÍLIA E O DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL DA CRIANÇA

A família corresponde a uma instituição que exerce uma influência significativa durante todo o processo de desenvolvimento do indivíduo, sendo encarada, geralmente, como um grupo que apresenta uma organização complexa e que está inserido em um contexto social mais amplo, mantendo com este constante interação (BIASOLI-ALVES, 2004 apud PRATTA & SANTOS, 2007). Não importa a configuração que a família assuma, continuará a existir, pois é o que pode assegurar à criança, aos novos sujeitos que se apresentam ao mundo, o direito ao amor, ao acolhimento no mundo humano e à palavra. (AMAZONAS & BRAGA, 2006).

Recentemente, passou a ser considerada como o ambiente da efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à educação, ficando atribuída aos adultos a tarefa de zelar pelo seu cumprimento (DELFINO et al., 2005).

Assim, o primeiro ambiente socializador de todo indivíduo é o âmbito familiar, em que este passa a exercer papel fundamental no decorrer de sua trajetória, no amadurecimento e desenvolvimento biopsicossocial, refletindo nos aspectos biológicos, psicológicos e sociais, auxiliando ou retardando o desenvolvimento da criança.

No ambiente familiar, a criança aprende a administrar e resolver os conflitos, a controlar as emoções, a expressar os diferentes sentimentos que constituem as relações, interpessoais, a lidar com as diversidades e adversidades da vida (WAGNER et al., 1999). Essas habilidades sociais e sua forma de expressão têm repercussões em outros ambientes com os quais a criança, o adolescente ou mesmo o adulto interagem, acionando aspectos salutares ou provocando problemas e alterando a saúde mental e física dos indivíduos (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2001 apud DESSEN & POLONIA, 2007).

A estruturação da família está intimamente vinculada ao momento histórico que atravessa a sociedade da qual ela faz parte, uma vez que os diferentes tipos de composições familiares são determinados por um conjunto significativo de variáveis ambientais, sociais, econômicas, culturais, políticas, religiosas e históricas. Nesse sentido, para se abordar a família hoje é preciso considerar que a estrutura familiar, bem como o desempenho dos papéis parentais, modificou-se consideravelmente nas últimas décadas (SINGLY, 2000 apud PRATTA & SANTOS, 2007). De acordo com Sarti (1995) apud Amazonas et.al. (2003) "começa-se observar uma flutuação na ocupação dos lugares e papéis desempenhados".

Isto devido às transformações ocorridas, como o processo de urbanização e industrialização, o avanço tecnológico, as mudanças demográficas, em especial a maior longevidade humana, maior participação da mulher no mercado de trabalho, o aumento de divórcios, o empobrecimento acelerado e o controle sobre a procriação por meio dos métodos contraceptivos contribuíram para o impacto direto no âmbito familiar.

Pode-se asseverar que as experiências vivenciadas pela criança, tanto no contexto familiar quanto nos outros ambientes nos quais ele está inserido, contribuem diretamente para a sua formação enquanto adulto, sendo que, no âmbito familiar, o indivíduo vai passar por uma série de experiências genuínas em termos de afeto, dor, medo, raiva e inúmeras outras emoções, que possibilitarão um aprendizado essencial para a sua atuação futura (PRATTA & SANTOS, 2007). Assim, a família é considerada um ciclo vital, do qual, trará algumas conseqüências e interferências no aspecto emocional, assim como na construção de sua identidade, que será vista como um espelho para as gerações futuras, capaz de construir o alicerce no decorrer da vida.

Apesar das transformações já citadas na família, pode-se dizer que esta ainda é idealizada, na tentativa de obter superação de crises e melhor qualidade nos relacionamentos intrafamiliares.

Scabini (1992) apud Pratta e Santos (2007) destaca que:

[...] A manutenção da saúde familiar não depende apenas da capacidade de superação das crises, mas também da boa qualidade das relações entre os membros da família e da boa qualidade das trocas familiares com o meio social no qual está inserida.

O ente humano necessita, durante sua infância, de quem o crie e eduque, ampare e defenda, guarde e cuide dos seus interesses, em suma, tenha a regência de sua pessoa e seus bens. As pessoas naturalmente indicadas para o exercício dessa missão são os pais. A eles confere a lei, em princípio, esse ministério, organizando-o no instituto do poder familiar (GONÇALVES, 2008).

O Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) afirma que toda criança tem direito à vida familiar e define a família de um modo bastante amplo. A família, mais do que uma instituição legal e jurídica, é um direito subjetivo de encontrar acolhimento para as dificuldades, as dúvidas, as inseguranças que a vida vai fazendo aparecer aos que crescem. (MELLO, 1999).

SITUAÇÃO DE RISCO

A palavra "risco" deriva-se do latim resecare "cortar". Pode-se, então, dizer que essas situações de risco cortam as crianças, ou seja, cortam seus direitos e suas potencialidades. Mantêm, no entanto, intacto o círculo vicioso da miséria crianças que vivem na pobreza e têm seus direitos fundamentais negados. Tendem a tornar-se adultos que pouco poderão passar a seus filhos, além da herança da miséria e da marginalização (ABREU, 2002).

No contexto brasileiro, marcado pela extrema desigualdade social, as famílias têm encontrado dificuldades para cumprir estas tarefas básicas aos seus membros, em decorrência das situações de vulnerabilidade nas quais se encontram (GOMES & PEREIRA, 2006 apud GONTIJO & MEDEIROS, 2006).

Para Barros et al. (2007), "o estado de vulnerabilidade social é produzido na conjunção da precariedade do trabalho com a fragilidade do vínculo social". Diversos fatores contribuem para a dissociação social como: extrema desigualdade, a migração para os grandes centros urbanos, precariedade de moradia, características históricas da formação da família nuclear brasileira apoiada numa precarização do trabalho, que levam, muitas vezes, a uma situação de rupturas de participação e da coesão social, da pauperização da sociabilidade sócio-familiar e dos vínculos que se tornam fugidios (BARROS et al., 2007).

Por meio da expressão "risco pessoal e social", é possível constatar que as crianças em situação de risco envolvem uma diversidade de situações em que podem abranger a exploração do trabalho infantil, prostituição infantil, uso de drogas, violência e infrações (KHATIB, 1998).

De acordo com Hutz e Koller (1997):

[...] Comportamento de risco referem-se a ações ou atividades adversas para seu desenvolvimento ou funcionamento psicológico ou social, ou ainda que favorecem o desencadeamento ou agravamento de doenças. Porém, para identificar um aumento na probabilidade é necessário conhecer a probabilidade das mencionadas conseqüências adversas na população geral.

O crescimento de crianças em situação de pobreza é ressaltado por diversos pesquisadores como uma ameaça ao bem-estar e uma limitação às oportunidades de desenvolvimento (HUTZ et al., 1996).

O risco social é caracterizado como um condicionamento de ordem psicossocial e não como um fator pessoal. Sendo assim, é considerado como uma situação de desvantagem social, que condiciona as diversas situações de ordem interna e externa nas quais a criança está envolvida na rotina de sua vida diária: situações de ordem interna provocadas por dificuldades psíquicas, físicas, relacionais; de ordem externa pela falta de recursos familiares, comunitários e pela própria escola na qual coexistem situações específicas ligadas à pobreza, ao abuso de drogas, à discriminação racial e étnica, etc. (WAXMAN, 1992 apud CALIMAN, 2006).

De acordo com Lynch e Tiedje (1991) apud Martin e Angelo (1999):

[...] Famílias pobres possuem características relativas à estrutura e papéis, processos de comunicação familiar e socialização dos filhos, que são peculiares de sua classe. A divisão dos papéis entre os pais é bem definida, cabendo à mulher a responsabilidade de educar, socializar e cuidar dos filhos e ao homem, o sustento da família.

No entanto, esta divisão pode ser contraditória, uma vez que os tipos de arranjos familiares estão cada vez mais distintos. Isto, em decorrência deste cenário de transformações, hoje é possível observar na realidade brasileira o aumento do número de uniões consensuais, de famílias chefiadas por mulheres (ou monoparentais) e de famílias reconstituídas, ou seja, originadas a partir de novas uniões de um ou dos cônjuges que se separam (TORRES, 2000 apud PRATTA & SANTOS, 2007). Essas inovações e reformulações do modelo anterior demonstram que a família passou, e continua passando, por vigorosas mudanças em sua organização, seja em termos de composição ou em relação às formas de sociabilidade que vigoram em seu interior (ROMANELLI, 2002 apud PRATTA & SANTOS, 2007).

A organização das relações estruturais é variável em famílias de diferentes segmentos sociais (ROMMANELLI, 1997). Para Wagner et al. (1999) "os aspectos relacionados ao bem-estar psicológico da criança sofrem invariavelmente, e de forma preponderante, influências das diversas situações que o indivíduo vivencia em sua família."

Considerando a sua heterogeneidade característica, no Brasil, a exclusão social manifesta-se de duas formas: a velha e a nova exclusão social. Em regiões geograficamente menos desenvolvidas, observam-se a permanência da pobreza absoluta, a baixa escolaridade e a desigualdade de rendimentos, inseridas em grupos familiares numerosos, correspondendo à forma de exclusão social mais antiga. Nos grandes centros, o desemprego generalizado e de longa duração, a ausência de perspectiva para uma parcela da população com maior escolaridade, o isolamento juvenil e a explosão da violência marcam o cotidiano de famílias pobres e monoparentais, vítimas das novas manifestações da exclusão (BURSZTYN, 2000; CAMPOS et al., 2004 apud GONTIJO & MEDEIROS, 2007).

TERAPIA OCUPACIONAL NO CAMPO SOCIAL

A Terapia Ocupacional é um campo de conhecimento e de intervenção em saúde, educação e na esfera social, reunindo tecnologias orientadas para a emancipação e autonomia de pessoas que, por razões ligadas à problemática específica, físicas, sensoriais, mentais, psicológicas e/ou sociais apresentam temporariamente ou definitivamente dificuldade na inserção e participação na vida social (FMUSP, 1997).

A partir dos anos 70, a Terapia Ocupacional entra em uma nova dimensão, deixando de considerar o ser humano em partes, tornando-o um ser biopsicossocial, ou seja, mesclando os aspectos físicos, mentais, psicológicos e sociais, e não considerando esses aspectos separadamente.

Nas décadas de 80 e 90, ocorreram transformações no mundo do trabalho que levaram à degradação das relações de trabalho e dos sistemas de proteção associados. Esse processo de transformação das regras sociais levou ao aparecimento de novos sujeitos considerados "inválidos conjunturais" ou "sobrantes", que desenvolvem "déficits de integração" (no trabalho, moradia, educação, cultura) e sofrem desqualificação, invalidação social e dissolução de vínculos e até ameaças de exclusão com tratamentos discriminatórios explícitos (CASTEL, 1999 apud BARROS et al., 2007).

Diante desta realidade, a Terapia Ocupacional trabalha a fim de possibilitar a transformação, sendo uma rede social de suporte, definindo estratégias, junto com o indivíduo para lidar e superar os conflitos cotidianos. A atividade para a criança sob situação de risco é, neste caso, o brincar que a auxilia a entender suas necessidades, respeitando-se nos diferentes momentos, ressignificando seu fazer e pensar, de modo que possa também agir e se relacionar no mundo coletivo de maneira agradável para si e os demais (FREITAS et al., 2007).

O Terapeuta Ocupacional deverá se tornar um interlocutor da população atendida para identificar as necessidades, possibilitando o estabelecimento de um diálogo que se dá a partir das necessidades dos sujeitos e da busca da autonomia pessoal, tornando-se fundamental a compreensão das possibilidades culturais para tornar o indivíduo inserido no seu espaço e tempo (BARROS, 2002).

Trata-se, portanto de oferecer um conhecimento e uma experiência com recursos que auxiliam na transformação de rotinas, permitindo um crescimento pessoal, desenvolvimento da autonomia e visando uma melhora na qualidade de vida (CASTRO, 2000 apud ROSA, 2006).

Dessa forma, a população alvo da Terapia Ocupacional social é justamente aquela cujas maiores necessidades configuram-se com base em sua condição de excluída ao acesso aos bens sociais e cuja problemática se manifesta pelo agravamento das condições de vida a que está submetida, das quais, podem ser identificadas como uma noção de pobreza ou também entendida como uma situação de vulnerabilidade (ESCOREL, 1999 apud GALHEIGO, 2003).

O Terapeuta Ocupacional compreende a atividade humana como um processo criativo, criador, lúdico, expressivo, evolutivo, produtivo e de auto-manutenção; e o homem, como um ser práxico interferindo no cotidiano do usuário comprometido em suas funções práxicas objetivando alcançar uma melhor qualidade de vida (COFFITO, 2008). Deste modo, utiliza a atividade como recurso, com intuito de associar a vivência, as ocorrências, os sentimentos com elementos desencadeadores que interferem na vida cotidiana da criança sob situação de risco.

A atividade um instrumento de trabalho historicamente utilizado pela terapia ocupacional com diferentes grupos populacionais. No campo social, principalmente em trabalho direcionado para crianças, o recurso grupal, por meio de oficinas artísticas e/ou culturais, é utilizado enquanto elemento constante para efetivação do trabalho. A atividade enquanto meio de formação de vínculo e aproximação contribui para intermediação para que se possa iniciar a construção de novos projetos de vida (MALFITANO, 2005).

Auxilia a criança a resgatar seu papel ocupacional, caracterizado por Pedretti (2005) apud Freitas et al. (2007) "como sendo a capacidade de realizar tarefas que possibilitem o desempenho de papéis de maneira satisfatória e apropriada para o estágio de desenvolvimento, cultura e ambiente do indivíduo".

O brincar é um ato natural e saudável, essencial para o desenvolvimento infantil, pois integra a vida bio-psico-social da criança. Por meio da brincadeira a criança testa seus limites, dá espaço às fantasias, as compara com a realidade, experimenta trocas de papéis, explorando o mundo e a si mesmo, num processo de auto-conhecimento que desenvolve seu senso de cooperação, aprendizagem de regras e limites, traduz valores, costumes e formas de pensamento. A criança imita não só situações prazerosas como também elabora atos dolorosos e traumáticos, libertando-se de ansiedades e angústias, onde é possível diagnosticar e tratar problemas emocionais. No processo cognitivo, o brincar se dá pela aprendizagem de conceitos motores e fisiológicos (FERREIRA, 2001; TAKATORI et al., 2001 apud FREITAS et al., 2007).

Deste modo, o trabalho com crianças sob situação de risco busca oferecer oportunidade de estes, desenvolverem seus potenciais criativo, artístico e intelectual, ampliarem suas relações pessoais e suas vivências culturais, isto, por meio de atividades das quais facilitam o acompanhamento e desenvolvimento neuropsicomotor e afetivo das crianças, fortalecendo-as para suas situações da vida e ativando a resiliência (BALDANI & CASTRO, 2007).

A resiliência pode ser entendida como a capacidade do sujeito de superar fatores de risco aos quais está exposto, levando ao desenvolvimento de comportamentos adaptativos, segurança, autonomia e criatividade por meio dos mecanismos de proteção e ativação de recursos dos quais a criança poderá dispor na sua rede afetiva e social (PINHEIRO, 2004 apud BALDANI & CASTRO, 2007).

A Terapia Ocupacional espelha o que seus profissionais pensam e produzem e a forma como se posicionam politicamente frente às questões sociais que a eles se colocam. Seus métodos estão condicionados a determinadas problemáticas que são percebidas e incorporadas como pertinentes e, para essas áreas de problemas, articulam-se possíveis soluções. A desigualdade e a pobreza são problemáticas relevantes no bojo da questão social brasileira, adquirindo configurações que requerem uma revisão imediata das profissões e das pertinências do papel profissional (BARROS et al., 2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ante a atual realidade do Brasil, mesmo sendo um país em desenvolvimento, apresenta ambientes adversos e inacreditáveis sob situação de risco, que são desprovidos de possibilidades, cultura e desenvolvimento apropriado, sendo palco de exclusão e discriminação da sociedade, apenas por não obterem certas oportunidades a outros destinados.

Com o crescimento da vulnerabilidade social, política e econômica associada ao distanciamento de classes sociais, crianças são submetidas a viver em situação de risco, dos quais estão relacionados criminalidade, violência, situação de desfiliação, uso de drogas, consumo de álcool, fator socioeconômico, família desestruturada, entre outros fatores, promovem alteração no desenvolvimento emocional da criança.

Considerando que a família é um sistema ativo que está em processo de transformação e de evolução e que se caracteriza por meio de suas interações e vínculos formados no âmbito familiar, obtém papel essencial na construção da afetividade da criança, que engloba as maneiras de pensar, sentir, reagir e de se expressar, além dos padrões de comportamentos, hábitos, costumes e atitudes. Sendo assim, é necessário que a família reconheça a importância da boa relação dos membros integrantes, em que estes, por sua vez, serão o alicerce de um desenvolvimento pessoal e social que possibilitará adiante repassar para seus sucessores esta incomensurável responsabilidade da influência familiar.

O conhecimento amplo do Terapeuta Ocupacional, profissional atuante na área da saúde e social associado à sua formação de áreas distintas; física, social e psicológica; auxiliam as crianças aqui mencionadas por meio de seus potenciais na tentativa de minimizar seus problemas, medos e anseios perante o mundo, desenvolvendo, assim, a capacidade de resolução e superação de crises, englobando a família no decorrer de sua trajetória, no sentido de ampará-la e auxiliá-la no seu desenvolvimento.

A família exerce grande influência no desenvolvimento emocional da criança, além de interferir na construção dos vínculos afetivos, auto-estima, auto-conceito, e interação social. Deste modo, as crianças sob situação de risco, as quais não tiveram oportunidade de receber da família alguns conceitos vitais de sobrevivência psicoafetiva podem minimizar e/ou superar algumas necessidades, suavizar ou excluir comportamentos de rotina como insegurança, ansiedade, medo, violência, entre outros diante a intervenção Terapêutica Ocupacional, por meio da atividade tem oportunidade de relacionar-se com o mundo, demonstrando suas necessidades, aflições, vontades, sentimentos e re-descobertas.

Assim, o papel deste profissional engloba a relação do vínculo terapêutico, para então auxiliá-los quanto aos problemas existentes na vida dessas crianças, diminuindo os sentimentos de exclusão social, prevenindo maus tratos, abusos, negligências e até mesmo, encaminhando estes para áreas afins, com intuito de minimizar as conseqüências das causas existenciais.

PASSERINI, J.; SOZO, M.H. The influence of the family in the emotional development of children under situation of risk: a view of the Occupational Therapy.Universidade Católica de Goiás, 2008.

ABSTRACT: With the increase of vulnerability and the distancing of the social basis, the deepening is necessary before families submitted to situations of risk. This is a descriptive, bibliographical and retrospective research, which intends to indentify publications about family, social risk and emotional development of the child and, also, to indicate the main reflections and contributions of the Occupational Therapist in this theme. Being so, it was possible to conclude that the family under situation of ris contributes to the alterations of emotional development of the child.

KEY WORDS: Family; Emotional development; Situation of risk and Occupational Therapy.

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