A influência da ética como disciplina na formação profissional dos enfermeiros

Ana Paula Brasileiro de Souza¹, Érica Silva dos Santos1, Jailma Vanderley de Sousa1, Rosiléia Oliveira de Souza1, Rosimária Oliveira de Souza1, Rodrigo2

           

 

RESUMO: Estudos mostram a necessidade de se repensar o modelo atual em que é ministrada a disciplina de Ética, que na maioria das vezes limita-se a somente a apreciação do Código de Ética de sua profissão. Em especial, para o acadêmico de enfermagem, que tem necessidade de um aprofundamento maior nesta área teórica.  Sabe-se que a melhor forma de se abordar a ética em sua totalidade nos cursos acadêmicos, é trabalhar com a transversalidade da grade curricular, em que todas as disciplinas enfoquem em seus estudos atividades de cunho moral. Desta forma, pode-se garantir a formação de profissionais que tenha capacidade de dialogar, buscar a justiça, a solidariedade, a igualdade e a coerência entre os meios e os fins.  Trata-se de um estudo exploratório, realizado por meio de uma pesquisa em bases de dados eletrônicas nacionais, que tem como objetivo estudar sobre a influência da ética formação profissional dos enfermeiros.        

Palavras-chave: Ética. Educação. Enfermagem. Estudantes de enfermagem. Profissionais da saúde.

 

ABSTRACT:

Key-words: Bioethics. Education. Nursing. Students nursing. Education nursing diploma programs.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

A área da enfermagem é composta basicamente por quatro categorias de profissionais: o enfermeiro, o técnico de enfermagem, o auxiliar de enfermagem e as parteiras. Apesar deste grupo ser formado por pessoas com graus heterogêneos de formação,  todos têm suas atividades orientadas por princípios e normas contidos no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem(1).

A ética faz parte do currículo como disciplina, para todo e qualquer profissional da área de enfermagem, e tem o intuito de permitir a criação de espaços para a reflexão, objetivando fazer raciocinar adequadamente para conduzir com competência, comprometimento e responsabilidade a profissão(2). Porém, estudos mostram a necessidade de se repensar o modelo atual em que é ministrada a disciplina de Ética, que na maioria das vezes limita-se a somente a apreciação do Código de Ética de sua profissão. Em especial, para o acadêmico de enfermagem, que tem necessidade de um aprofundamento maior nesta área teórica, pois, ela deve ir além, e explorar um pouco mais da sua distinta aplicabilidade nos diversos ramos de atividades humanas, principalmente, questionar mais sobre a ética na saúde, nas pesquisas e nas publicações científicas, permitindo assim uma discussão mais profunda com um caráter crítico-reflexivo(3-5).

Embora haja algumas deficiências, a enfermagem tem se desenvolvido e se destacado na área da saúde, pois, consegue, sustentar os dois pilares que distinguem a profissão, que são: o cuidado e a ética(4). O primeiro valor descrito significa a busca pela qualidade do serviço e pelo respeito ao cliente que, pautados em na construção do conhecimento e na assistência prestada com qualidade, busca edificar relações interpessoais imprescindíveis ao desenvolvimento individual, profissional e social. Já o segundo termo, constitui a sua valorização, onde estão impressos o respeito, o orgulho e a dignidade daqueles que o praticam(2).

Cientes da necessidade de maior reflexão e considerando o significado da ética para a formação profissional do acadêmico de enfermagem, é que se justifica a realização desta pesquisa, que tem como objetivo falar sobre “A influência da ética como disciplina na formação profissional dos enfermeiros”, através de uma revisão de literatura com base de dados nacionais.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo exploratório e retrospectivo, realizado por meio de uma pesquisa em bases de dados eletrônicas nacionais como: Scielo, Bireme e Ministério da Saúde, no período de 2002 a 2010. Foram selecionados os estudos conforme os seguintes critérios: incluídas teses e dissertações que traziam a ética como tema de pesquisa, e que tratavam da ética em pesquisa na área da saúde.

Para o desenvolvimento da pesquisa foram percorridas as seguintes etapas: estabelecimento do objetivo; definição de critérios de inclusão das teses e dissertações; apresen­tação e discussão dos resultados. Os descritores utilizados foram: ética, bioética, ética em enfermagem, enfermagem.

 

 

resultados

As diversas profissões da área da saúde lidam cotidianamente com questões éticas relevantes que ultrapassam o campo profissional em si como: o aborto, eutanásia, abuso sexual e AIDS, que são questões morais que se apresentam como problemas éticos. Um profissional de saúde, em especial o enfermeiro, ao se deparar com este tipo de situação deve agir como um pensador, ou seja, como um filósofo da profissão que exerce(6).

As ações dos enfermeiros nos acontecimentos éticos orientam-se pelos valores profissionais e mostram a preocupação com a prevenção de riscos na assis­tência de enfermagem, reservando ao paciente o direito de ter uma assistência com qualidade e se­gurança(7). Para se posicionar adequadamente diante de tais situações, é necessário um aprimoramento do comportamento ético do profissional, através da construção de uma consciência individual e coletiva, pelo compromisso social e profissional. Porém, o ensino da ética nas escolas de enfermagem em nosso país tem se caracterizado por uma visão deon­tológica, determinado por uma orientação prescritiva e normativa, restrita a um conjunto de normas e códigos trabalhados teórica e abstratamente(7).

Quem quer que tenha passado por dilema ético sabe o quanto é difícil tomar uma decisão, pois, as crenças e os costumes no seio dos quais foram criados exercem grande influência. Para os profissionais de enfermagem, não é menos complicado, mesmo que estes atenham a Ética como parte da grade curricular, muitas vezes o “ser” pessoal se sobressai ao “ser” profissional(6). Para alguns profissionais torna-se ainda mais complicado decidir-se em favor da ética, pois na maioria dos cursos de graduação este ensinamento limita seu processo de ensino-aprendizado a apresentar ao educando o conteúdo do Código de Ética Profissional, o qual para muito educadores ainda representa uma espécie de “livro sagrado” em que seus fundamentos devem ser seguidos de forma não reflexiva e acrítica(8).

Nos dias atuais é cada vez mais comum os profissionais da área da saúde se depararem com dilemas éticos, isto se deve às políticas públicas de distribuição de recursos em saúde, com as restrições de acesso a determinadas tecnologias, que ferem os princípios de beneficência, não maleficência, autonomia, justiça e dignidade da natureza humana(9-10). Do ponto de vista ético, espera-se que o enfermeiro utilize sua criatividade ao tomar decisões, ao gerenciar as ações assistenciais, e ao adequar os recursos humanos e materiais de que dispõe, assegurando um atendimento das necessidades dos pacientes com isenção de riscos quando estes forem passíveis de prevenção(2,11,13).

Mesmo sendo assumida a significância desta temática nos cursos de enfermagem, ainda há uma ênfase nas questões técnicas em detrimento das discussões éticas que permeiam a vida do profissional. Quando as discussões são mobilizadas ainda centralizam-se apenas no código de ética, caracterizando um ensino de cunho deontológico, restrito a um conjunto de normas e códigos trabalhados teórica e abstratamente(2,7-8).

A melhor forma de se abordar a ética em sua totalidade nos cursos acadêmicos, é trabalhar com a transversalidade da grade curricular, em que todas as disciplinas enfoquem em seus estudos atividades de cunho moral. Os conteúdos devem ser articulados dialeticamente com o cotidiano, e assim provocar conflitos epistemológicos com a práxis, estimulando então a reflexão crítica. Desta forma, pode-se garantir a formação de profissionais com espírito crítico e a capacidade de dialogar, de buscar a justiça, a solidariedade, a igualdade e a coerência entre os meios e os fins(7).

Os enfermeiros devem conciliar no seu exercício profissional ciência, tecnologia e um adequado fundamento ético-moral, além disso, deve estar ciente de que frente a um dilema difícil, deve solicitar auxílio ao Comitê de Ética (10-11). Para que isso ocorra, com mais freqüência é necessário que as instituições acadêmicas adotem um modelo educacional que não esteja restrito apenas a um processo institucional e instrucional, mas que essencialmente invista na formação do ser humano, seja na particularidade da relação pedagógica pessoal, seja no âmbito da relação social coletiva(12).  

Os acadêmicos e os enfermeiros que tem pensamentos críticos sabem avaliar e orientar melhor os pacientes sobre os riscos aos quais estão expostos, respeitando seus princípios sócio, econômico e cultural, mediante ações educativas que envolvam o interesse de todos e que previnam ocorrências que lhes possam prejudicar, que estejam relacionadas à assistência de enfermagem(13).

Sendo assim, conclui-se que é de fundamental importância a Ética na formação profissional dos enfermeiros, visto que, a verdadeira ética profissional deve substituir a competição, o egoísmo e o individualis­mo pela solidariedade, que por sua vez não deve ser in­terpretada como conivência e corporativismo(9). Para a enfermagem, a ética tem contribuído para o aparecimento de reflexões por parte dos profissionais sobre as condutas a serem tomadas em certas situações, sendo que tais reflexões contribuem para o aperfeiçoamento profissional e pessoal, através do aprimoramento do pensamento crítico(10,11).

 

 

DISCUSSÕES

            As principais pesquisas utilizadas enfatizam a importância da Ética como disciplina para a formação do profissional da área da saúde, em especial o Enfermeiro. Para os autores esta disciplina permite a criação de espaços para a reflexão, objetivando fazer raciocinar adequadamente para conduzir com competência, comprometimento e responsabilidade a profissão(1- 2). Ao discutir os dilemas dentro da sala de aula, os acadêmicos melhorariam seus pensamentos críticos e assim, seriam capazes de conduzir situações difíceis com soberania.

            Porém, muitos cursos de enfermagem enfrentam graves problemas relacionados à disciplina, pois, há uma grande dificuldade em mudar o foco de alguns professores que enfatizam o código de ética da profissão, apenas na visão deontológica. Esta visão limitada imposta à disciplina dificultam o posicionamento do acadêmico e também do profissional de enfermagem, diante de questões co mo: aborto, eutanásia, abuso sexual e AIDS, sendo assim, sugere-se que as disciplinas trabalhem em conjunto, trazendo para a sala de aula estudos com atividades de cunho moral(6-7)

            Os autores ressaltam que os enfermeiros que tem pensamento crítico avaliam melhor, como também, orientam melhor seus pacientes, desta forma, são mais eficazes na prevenção de danos à saúde destes. Tendem a tomar decisões de cunho ético em equipe, portanto, são menos passíveis a cometer erros grosseiros(10,11,13).

            O profissional que traz a ética como um dos pilares da sua profissão, não pactua com o erro, não é individualista, nem egoísta(9). Age com solidariedade, respeito e amor ao próximo, o que evidencia ainda mais a necessidade de se ter a Ética como disciplina na formação profissional dos enfermeiros.

           

 


CONCLUSÃO

O estudo permitiu conhecer a importância da Ética como disciplina, para a formação profissional do enfermeiro. Frente aos resultados obtidos, evidenciou-se que a ética quando é introduzida com sua dialética voltada para a práxis, estimula então a reflexão crítica, característica principal do profissional que se destaca por sua capacidade de resolução e de posicionamento coerente diante de dilemas éticos.

A pesquisa atingiu seu objetivo, pois, além de caracterizar a importância da ética como disciplina, apontou os principais erros cometidos pelos cursos ao ministrar a disciplina e, principalmente, trouxe soluções para a problemática através do estudo transversal entre as disciplinas que devem aliar teoria e prática, enfocando sempre o cunho moral.

  Foi bastante positiva a realização desta pesquisa, pois a mesma mostra a responsabilidade do profissional de enfermagem no enfrentamento dos dilemas éticos, bem como a importância da preparação deste profissional durante o período acadêmico. Chama a atenção, como a ética é estudada apenas no o sentido deontológico por muitas instituições, interferindo na formação de profissionais com pensamentos críticos e comprometidos com o bem estar do paciente.

Aos pesquisadores, este estudo contribuiu bastante, visto que, agora melhor do que antes, sabem que somente através da adoção de uma postura ética como acadêmicos, é que poderão alcançar as competências, habilidades e atitudes necessárias para se tornarem profissionais de enfermagem preparados para lidar com os dilemas éticos que surgirem durante o exercício da profissão.

Espera-se que este estudo possa servir como fonte literária para outras pesquisas da área e assim, ampliar discussões sobre a temática que influencia diretamente na formação de profissionais dotados de pensamento crítico e comprometidos com a ética. 

 

 

 

 

Referências

 

 

1.GRACIANO, Rodrigo Damião Maia; BADIM, Maria Paola Mattion. A influência

 da ética na enfermagem. Einstein: Educ Contin Saúde. 2009. v. 7, p. 37-38.

 

2. PASCHOAL, Amarílis Schiavon; MANTOVANI , Maria de Fátima; POLAK, Ymiracy N. S. A importância da ética no ensino da enfermagem. Disponível em: <http://ojs.c3sl.

ufpr.br/ojs2/index.php/cogitare/article/viewFile/1663/1389>. Acesso em: 17 de mar. 2011.

 

3. LISBOA, Marcia Tereza Luz. Ética na pesquisa de enfermagem.

Esc. Anna Nery [online]. 2006. vol.10, n.1, pp. 09-14.

 

4. MARQUES FILHO, José. Ética em pesquisa: dez anos da resolução CNS 196/96.

Rev. Bras. Reumatol. [online]. 2007, vol.47, n.1, p. 2-3.

 

5. ARAUJO, Fabio Fortes de; GONÇALVES, Fernanda Moraes; ALMEIDA, Ana

Clementina Vieira de. A bioética e a formação acadêmica do graduando de enfermagem.

Revista Rede de Cuidados em Saúde. Dispnível em:<http://publicacoes.unigranrio.

edu.br/index.php/rcs/article/viewFile/1051/647>. Acesso em: 17 de mai. 2011.

 

6. GLOCK, Rosana Soibelmann; GOLDIM, José Roberto. Ética profissional é

compromisso social. Mundo Jovem [online]. Porto Alegre, 2003.

 

7. FERREIRA, Heliane Moura; RAMOS, Lais Helena. Diretrizes curriculares para o

ensino da ética na graduação em enfermagem. Acta Paul Enferm [online]. 2006. v.19, p. 328-331

 

8. FREITAS, GF. Ocorrências éticas de enfermagem: uma abordagem compreensiva da ação social. Tese [online]. São Paulo: Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo; 2005.

 

9. ARAUJO, Fabio Forte de; ALMEIDA, Ana Clementina Vieira de; GONÇALVES, Fernanda Moraes. A graduação em enfermagem e a humanização: um encontro possível. Enfermagem Brasil. [online]. 2009. v.8, p.197-204.

 

10.  MASCARENHAS, N.B.; ROSA, D.O.S. Bioética e formação do enfermeiro: uma interface necessária. Texto contexto – enferm [online]. 2010. v. 19, n. 2.

 

11. FRANCISCONI, C. F.; GOLDIM, J. R.; LOPES, M. H. I. O papel dos Comitês de Bioética na humanização da assistência à saúde. Revista Bioética [online]. 2002. v. 10, n. 2, p. 147-157.

 

12. SEVERINO, A.J. A busca do sentido da formação humana: tarefa da filosofia da educação. Educ Pesqui [online]. 2006.v. 32, p. 619-34.

 

13. FREITAS, Genival Fernandes de; OGUISSO, Taka. Ocorrências éticas com profissionais de enfermagem: um estudo quantitativo. Rev. esc. enferm. USP [online]. 2008.  vol. 42, n.1, p. 34-40.