Definir cultura não é a tarefa mais simples. Sua diversidade de conceitos evoca diversos interesses. Ela pode ser estudada pela antropologia, sociologia, história, e até pelas ciências da saúde. Cada área estuda sua cultura de acordo com seu enfoque. (CANEDO, 2009).

 Quando se estuda a semântica da palavra vê-se que sua raiz vem do latim colore, que tem como significados habitar, cultivar, proteger. Os estudos de Langdon e Wilk (2010) definem cultura como um conjunto de elementos que mediam e qualificam qualquer atividade física ou mental, que não seja determinada pela biologia, e que seja compartilhada pelos diferentes membros de um grupo social. Ela inclui valores, símbolos, normas e práticas.

 Chauí (1995) chama a atenção para a necessidade de se alargar o conceito de cultura. A autora afirma que todos os indivíduos e grupos são sujeitos culturais. O patrimônio cultural imaterial passa a ser valorizado. A tradição oral, os modos de fazer, os costumes, as crenças e manifestações populares assumem lugar de destaque.

 Nesse ínterim, torna-se necessário a diferenciação entre o saber científico e o saber popular. A necessidade de conhecer é inerente ao homem desde quando ele passou a dar importância à compreensão do mundo para melhorar a sua relação com o mundo à sua volta. A ciência surgiu como solucionadora de problemas, como prática viva, dinâmica, inovadora, sistemática, racional e objetiva para manifestar a evidência dos fatos. (VASCONCELLOS; CORRÊA, 2010)

Os mesmos autores consideram que para que um conhecimento seja considerado científico deve repousar em bases sólidas e seguras, sendo capaz de garantir certezas absolutas e verdades indubitáveis. Para Comte (1989) apud Vasconcellos e Corrêa (2010) só é considerado científico o fenômeno que pode ser observado, mensurado e quantificado.

 Alexandre (2000) afirma em seus estudos que o conhecimento gerado pelo senso comum, apesar de orientar práticas sociais, não tem status de ciência por não produzir verdade científica. Para o autor, o senso comum é uma forma de conhecimento prático, elaborado a partir de ações do cotidiano. Ele se ergue sobre uma estrutura informal e flexível, determinada pelo caráter espontâneo e prático por parte dos indivíduos.

 Baseado nessas afirmações acredita-se que o saber popular é um saber empírico, adquirido com as experiências do cotidiano. Isso o torna, na maioria das vezes, limitado. O saber popular não sana as dúvidas e curiosidades inerentes do ser humano. São dadas respostas como ‘’porque sim’’, ‘’porque sempre se fez assim’’ ou ‘’os antepassados assim faziam’’. Respostas essas que tem um padrão pré-determinado e que põe em questão a necessidade ou não de desvalorizar esse conhecimento e pô-lo de lado. (MIGUEL, 2008).

 A característica mais marcante do saber popular talvez resida na transmissão informal do conhecimento. As manifestações possuem seu próprio ritmo de transmissão e funcionalidade, não dependendo de métodos e teorias tradicionalistas. O saber popular é adquirido e repassado com o tempo. Ele está presente no cotidiano do individuo desde a infância, permitindo ser transmitida para gerações posteriores. (LIMA, 2008).

 O movimento de valorização da cultura faz com que a Enfermagem busque teorias para consolidar seu trabalho com base na inserção do saber popular. Uma das teorias que busca explicar o tema é a Teoria Transcultural proposta por Leininger em 1988. Segundo a mesma, o cuidado define-se por um “(...)conjunto interrelacionado de conceitos e hipóteses de enfermagem, fundamentados nas necessidades culturais de indivíduos e grupos, incluindo manifestações de comportamentos relativos ao cuidado, às crenças e aos valores, com a finalidade de realizar cuidado de enfermagem efetivo e satisfatório. Nessa perspectiva, se a prática da enfermagem não considerar os aspectos culturais da necessidade humana, exibirá sinais de ineficiência com conseqüências desfavoráveis para aqueles que assiste.” (CHAMILCO, 2004).