1 INTRODUÇÃO           

A inflação é entendida por muitas pessoas como um aumento geral de preços. A economia de muitos países, de todas as partes do mundo, convive ou já conviveu com períodos de inflação acima do desejado. Em períodos de inflação acima do nível projetado para um período, ela pode gerar efeitos colaterais economicamente negativos para os países que enfrentam essa situação.

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Em economia, entende-se por inflação a expansão monetária da economia de um país, ou seja, o aumento da quantidade de dinheiro em circulação no sistema financeiro, e que, consequentemente, ocasiona um aumento generalizado de preços. As decisões das autoridades monetárias dos países influenciam as taxas de inflação; todavia, não é só isso que a modifica, pois há diversos outros fatores que transformam o comportamento da inflação dos países.

Serão analisados nesse artigo os principais motivos de aumentos inesperados de inflação, bem como o funcionamento do sistema financeiro, para que se entenda como a economia de um país enfrenta as consequências de taxas indesejadas de inflação e o que as ocasiona.

Há diversas abordagens e teorias econômicas sobre inflação, e nesse artigo procurar-se-á compreender a inflação, bem como suas causas e seus efeitos, além da sua relação com desemprego e crescimento ou desaceleração da economia. A principal consequência a ser analisada é em relação à renda da população, e será dado um maior enfoque neste aspecto: os efeitos da inflação na renda da população.

Além disso, será demonstrado um exemplo de um período de crise inflacionária em um país que já passou por um período de hiperinflação: o Brasil.

2 CONCEITOS DE INFLAÇÃO E TAXA DE INFLAÇÃO 

Dornbusch e Fischer (2006) resumem que a taxa de inflação é a taxa percentual do aumento de preços durante um dado período. Segundo Blanchard (2009), a inflação é uma elevação sustentada do nível geral de preços da economia – conhecido como nível de preços. A taxa de inflação é a taxa à qual o nível de preços aumenta. (De forma simétrica, deflação é uma queda sustentada do nível de preços, que corresponde a uma taxa de inflação negativa.) 

A preocupação dos economistas com a inflação acontece porque a inflação pura (quando os preços médios e os salários aumentam em igual proporção) dificilmente acontece. Em períodos de inflação, nem todos os preços e salários sobem proporcionalmente. Geralmente grupos com menos poder aquisitivo, como aposentados e trabalhadores com baixos salários, perdem o poder de compra com o seu dinheiro que não acompanha a taxa de inflação. Além disso, a inflação gera incerteza, dificultando a tomada de decisões de diversas firmas.

Shostak (2011) explica que inflação, como esse termo sempre foi utilizado em praticamente todos os lugares do mundo, significa aumentar a quantidade de dinheiro (cédulas e moedas metálicas) em circulação, bem como a quantidade de depósitos bancários que podem ser utilizados por meio de cheques. Porém, o termo inflação é muito utilizado pelas pessoas para se referirem ao fenômeno que na verdade é uma consequência inevitável da inflação, ou seja, a elevação dos preços e salários.  A taxa de inflação é entendida como a representação percentual do aumento de preços. 

3 CAUSAS DA INFLAÇÃO 

A inflação é muito ruim para a economia de um país. Quem geralmente perde mais são os trabalhadores mais pobres que não conseguem investir o dinheiro em aplicações que lhe garantam a correção inflacionária e minimizariam os efeitos sobre a sua renda. Dentre as causas da inflação, podem-se citar: a emissão exagerada e descontrolada de dinheiro por parte do governo; demanda por produtos (aumento no consumo) maior do que a capacidade de produção do país; aumento nos custos de produção (máquinas, matéria-prima, mão-de-obra) dos produtos.

Dentre as causas macroeconômicas da inflação, Mattos (2011) aponta:  

  • excesso de emissão de moeda;
  • escassez de capital;
  • déficit governamental;
  • expectativa inflacionária;
  • aumentos salariais;
  • sistema capitalista;
  • estatização;
  • falta de produtos básicos;
  • especulação dos atacadistas;
  • comércio exterior;
  • poder dos monopólios e oligopólios;
  • taxas de juros;
  • correção monetária;
  • e muitas outras.

A dificuldade de se identificar uma única causa é que a economia se comporta como um organismo vivo, onde tudo se inter-relaciona. Muitos, no entanto, atribuem ao déficit público uma das principais causas da inflação. Para compensar esse déficit, o governo alimenta a inflação através de:

  • aumento dos impostos;
  • aumento dos preços dos produtos das estatais;
  • rolagem da dívida interna, o que aumenta os juros;
  • atraso nos pagamentos aos fornecedores;
  • emissão primária de moeda;
  • levantamento de empréstimos junto à rede bancária.

Shostak (2011) aponta que os culpados preferidos dos surtos inflacionários são sempre a alta do petróleo causada por tensões no Oriente Médio, eventos climáticos como escassez ou excesso de chuvas, as pressões sindicais por maiores salários ou até mesmo a subida das tarifas aéreas, da energia elétrica e dos fretes.

Shostak (2011) argumenta também que um mau entendimento em relação a inflação pode causar distorções na hora de definir suas causas. Quando a inflação passa a ser vista como um aumento generalizado nos preços, então qualquer coisa que contribua para um aumento nos preços é chamada de inflacionária.  As fontes da inflação deixam de ser o banco central e o sistema bancário de reservas fracionárias; as fontes da inflação passam a ser qualquer outro fenômeno não relacionado a essas instituições.  O autor defende que, o banco central não pode ser visto como uma instituição que nada tem a ver com a inflação, mas sim, ao contrário, o banco central passa a ser visto como um guerreiro contra a inflação.

Assim, complementa Shostak (2011), uma queda no desemprego ou um aumento na atividade econômica passam a ser vistos como um potencial detonador inflacionário, devendo ser restringidos pelas políticas do banco central.  Alguns outros detonadores, como aumentos nos preços das commodities ou nos salários dos trabalhadores (que nem sempre refletem em um aumento real de sua renda), também passam a ser considerados como ameaças em potencial, devendo portando estar sempre sob o zeloso e atento escrutínio do banco central.

O efeito do aumento de dinheiro em circulação na economia, para Shostak (2011), é o seguinte: aumentos na quantidade de dinheiro na economia possibilitam que as primeiras pessoas que recebem esse dinheiro recém-criado tenham seu poder de compra elevado.  Sem que tenham produzido absolutamente nada, elas agora podem adquirir mais bens, gerando uma concorrência desleal com os reais produtores de riqueza da economia, aquelas pessoas que realmente precisam produzir algo para poderem adquirir outro bem em troca.  Essa distorção altera a alocação de recursos na economia, privilegiando os reais beneficiários da inflação da oferta monetária (os primeiros a receberem o dinheiro recém-criado) em detrimento dos reais geradores de riqueza.  É isso, e não o aumento dos preços, que gera a má alocação de recursos na economia.

Muitas podem ser as causas de inflação. Cabe ao país que enfrenta uma inflação descontrolada conseguir detectar quais são as principais, e agir preventiva e proativamente contra um aumento não desejado, pois as consequências podem afetar negativamente a economia de um país, como será tratado no próximo capítulo. 

4 CONSEQUÊNCIAS DA INFLAÇÃO 

Uma inflação descontrolada pode ocasionar diversos distúrbios na economia de um determinado país. Pode-se citar: perda do poder de compra do dinheiro; aumento do desemprego; instabilidade da moeda; preços de produtos em colapso; entre diversas outras disfunções.

De acordo com Dornbusch e Fischer (2006), a inflação é impopular, visto que os produtos que as pessoas estão comprando estão aumentando. A impopularidade da inflação se mantém mesmo se as rendas das pessoas aumentarem proporcionalmente aos preços. Ela está relacionada a diferentes distúrbios econômicos, como o choque dos preços de petróleo da década de 60.

A inflação é responsável por diversas distorções na economia. As principais distorções acontecem:

  • na distribuição de renda: os assalariados não têm a mesma capacidade de repassar os aumentos de seus custos, como fazem empresários e governos, ficando seus orçamentos cada vez mais reduzidos até a chegada do reajuste (quando o salário se reajusta, os trabalhadores muitas vezes não ganham aumento real, pois como os preços sobem de uma maneira geral, a nova remuneração não representa mais poder de compra para os trabalhadores);
  • na balança de pagamentos: inflação interna maior que a externa causa encarecimento do produto nacional com relação ao importado o que provoca aumento nas importações e redução nas exportações;
  • na formação de expectativas: diante da imprevisibilidade da economia, o empresariado tende a reduzir seus investimentos;  
  • no mercado de capitais: causa descontrole na compra e venda de ações, e causa migração de aplicações monetárias para aplicações em bens de raiz (terra, imóveis);
  • e na ilusão monetária: interpretação errada da relação de ajuste do salário nominal com o salário real, que gera percepção de maior renda e consequentemente decisões equivocadas; as pessoas, julgando-se mais ricas, demandam mais bens e serviços e, com oferta a pleno emprego, ocasiona inflação.

Outros efeitos na economia se dão em relação à política econômica e monetária, com um papel muito importante do governo no controle através da determinação da taxa de juros básica da inflação, como será mais bem estudado no capítulo 5.

Muitas vezes a inflação é uma decisão política, e altas taxas podem contribuir para que ocorram trocas de governantes, principalmente em decorrência da retração econômica e do desemprego. No tópico 4.1 será realizada uma análise da relação da inflação com salários e com o desemprego. 

4.1 INFLAÇÃO, SALÁRIOS E DESEMPREGO 

Em macroeconomia, há diversas equações que relacionam a inflação, o desemprego, o nível de preços, a inflação esperada, os salários (ou renda), entre outras variáveis. Não cabe aqui apresentar essas equações, mas sim as consequências das relações entre os elementos citados.

Relacionando desemprego e salários, obtêm-se a relação de que quanto maior a taxa de desemprego, menor é o salário. Em relação à taxa de inflação e à taxa de inflação esperada, obtêm-se a relação de que um aumento da inflação esperada leva a um aumento da inflação efetiva.

De acordo com Blanchard (2009), um aumento no nível esperado de preços leva a um aumento de igual magnitude do nível de preços efetivo. Se os fixadores de salários esperam um nível de preço mais alto, fixam um salário nominal mais alto, o que leva a um aumento no nível de preços. Uma maior taxa de aumento de nível de preços em um determinado período implica uma inflação mais alta. Um aumento no nível de preços esperado gera uma inflação esperada mais alta. Então um aumento da inflação esperada leva a um aumento da inflação.

Dornbusch e Fischer (2006) explicam que as pressões de mercado sobre os salários se relacionam em diferentes contextos. Quando a taxa de desemprego é baixa, as firmas têm dificuldade de obter o trabalho que demandam, e o desemprego é baixo. Quando a taxa de desemprego é alta, os empregos tornam-se difíceis de serem encontrados e as firmas podem preencher suas vagas sem que seja necessário aumentar os salários. Pode até acontecer de os salários caírem, uma vez que os trabalhadores estejam em competição pelos empregos escassos.

Blanchard (2009) ainda cita o espiral de preços e salários, uma expressão que representa bem o mecanismo básico em ação:

  • o desemprego baixo leva a um salário nominal mais alto;
  • em resposta ao nível de preços mais alto, os trabalhadores pedem um salário nominal mais alto na próxima vez em que os salários são fixados;
  • o salário nominal mais alto leva as empresas a um aumento adicional de seus preços que, consequentemente, faz com que o nível de preços suba ainda mais;
  • em resposta a este aumento adicional do nível de preços, os trabalhadores pedem um aumento adicional do salário nominal quando fixam o salário novamente;
  • e assim a corrida entre preços e salários resulta em uma inflação contínua de salários e preços.

Segundo Dornbusch e Fischer (2006), os trabalhadores estão interessados nos salários reais (o volume de bens que eles podem comprar com os seus salários), ou sua renda real, e não com os salários nominais (valor monetário dos salários). Os trabalhadores vão querer que o salário nominal reflita totalmente a inflação que eles esperam durante o período entre a época em que o salário é fixado e a época em que realmente ele é pago. Ou seja, os trabalhadores vão querer a compensação pela inflação esperada.

Como exemplo, Blanchard (2009) cita a política macroeconômica dos Estados Unidos na década de 1960, a qual objetivava manter o desemprego em um intervalo aparentemente consistente com uma inflação moderada. E ao longo dessa década, a relação negativa entre desemprego e inflação proporcionou um guia confiável para os movimentos conjuntos do desemprego e da inflação. Porém, quando houve persistência de inflação, os trabalhadores e as empresas começaram a rever o modo como formam suas expectativas.

Quando a inflação é consistentemente positiva ano após ano, cria-se uma expectativa de que o nível de preços do ano em vigor seja igual ao do ano anterior, o que é sistematicamente incorreto. As pessoas não gostam de repetir erros, então complementa Blanchard (2009), as pessoas, ao formarem suas expectativas, começaram a levar em conta a presença e a persistência da inflação. Essa mudança na formação de expectativas modificou a natureza da relação entre desemprego e inflação: a taxa de desemprego afeta não a taxa de inflação, mas sim a variação da taxa de inflação. O desemprego elevado leva a uma inflação decrescente; o desemprego baixo leva a uma inflação crescente.

A Figura 1 demonstra a variação da inflação versus desemprego nos Estados Unidos desde 1970, quando há uma relação negativa entre a taxa de desemprego e a variação da taxa de inflação. 

Figura 1: Inflação versus desemprego nos EUA na década de 1970.

Fonte: Blanchard (2009), pág 155.

Blanchard (2009) ainda conclui que, a variação da taxa de inflação depende da diferença entre a taxa de desemprego efetiva e a taxa natural de desemprego. Se a taxa de desemprego efetiva for maior do que a taxa natural de desemprego, a taxa de inflação diminui; se a taxa de desemprego efetiva é menor do que a taxa natural de desemprego, a taxa de inflação aumenta. 

4.2 RENDA, CONSUMO E POUPANÇA 

De acordo com Dornbusch e Fischer (2006), a demanda por consumo aumenta com o nível de renda. O nível de consumo é proporcional à renda: para cada aumento de renda, o consumo aumenta em proporção menor.

A Figura 2 demonstra a relação consumo-renda nos Estados Unidos em 1982. 

Figura 2: A Relação Consumo-Renda.

Fonte: Dornbusch e Fischer (2006), p.85.

Dornbusch e Fischer (2006) complementam que existe uma estreita relação entre os gastos de consumo e a renda disponível. Os gastos com consumo aumentam em média 92 (noventa e dois) centavos para cada unidade monetária de renda disponível. A linha inclinada é a linha de regressão que resume a relação mostrada pelos pontos para anos individuais.

E em relação ao que não é gasto em consumo, Dornbusch e Fischer (2006) afirmam que se a renda não for gasta, deve ser poupada. A renda ou é gasta ou é poupada; não existem outros usos para os quais a renda pode ser utilizada. Como a renda que não é consumida é poupada, a função poupança pode ser derivada da função consumo.

Infere-se que com uma inflação alta e descontrolada, a renda da população em geral diminui, pois os salários podem demorar a sofrer reajustes. Dessa maneira, o consumo das pessoas também diminui. 

5 INFLAÇÃO E POLÍTICA ECONÔMICA E MONETÁRIA 

De acordo com Blanchard (2009), os efeitos das políticas macroeconômicas são sempre incertos. Essa incerteza deveria levar os formuladores de política econômica a serem mais cautelosos, a utilizarem políticas econômicas menos ativas.

As políticas econômicas devem ter como objetivo amplo evitar recessões prolongadas, desacelerar as explosões de crescimento e evitar a pressão inflacionária.

Quanto maior o nível de desemprego ou de inflação, mais ativas devem ser as políticas econômicas. Mas elas devem evitar chegar à sintonia fina e à tentativa de manter um desemprego constante ou um crescimento do produto constante. Um Banco Central pode aliviar os temores de que o crescimento da moeda será alto e, no processo, diminuir tanto a inflação esperada quanto a inflação atual (objetivando não diminuir o desemprego abaixo do nível de desemprego natural).

Para Dornbusch e Fischer (2006), há diversas combinações de taxas de juros e níveis de renda que permitem o equilíbrio do mercado de bens. Aumentos na taxa de juros reduzem a demanda agregada pela diminuição dos gastos com investimento. Portanto, com altas taxas de juros, o nível de renda no qual o mercado de bens está equilibrado é mais baixo. As políticas do governo devem procurar controlar a inflação, pois o efeito na renda e no consumo da população é evidente.

Em relação à política monetária, Blanchard (2009) afirma que os bancos centrais se concentram, atualmente, em uma meta de taxa de inflação ao invés de uma meta de taxa de crescimento da moeda nominal. E pensam sobre a política monetária em termos da determinação da taxa nominal de juros e não em termos da determinação da taxa de crescimento da moeda nominal.

Dornbusch e Fischer (2006) descrevem que, quando a política fiscal torna-se expansionista, o Bacen tem de decidir se monetiza o déficit, emitindo moeda com o objetivo de evitar um aumento nas taxas de juros e o efeito deslocamento; para manter a taxa de crescimento da moeda constante; ou até mesmo para tornar a política monetária restritiva. Se o governo monetiza o déficit, ele corre o risco de aumentar a taxa de inflação. 

As decisões de expansão ou retração monetária, com consequência no aumento ou na diminuição das taxas de juros, influenciam a inflação. Por exemplo, uma decisão do Fed (Banco Central norte-americano) de permitir um maior crescimento da moeda é um fator que influencia em uma queda de taxas de juros; todavia, esse mesmo crescimento monetário também pode ser um motivo de alta de inflação e elevação de taxas de juros. Um maior crescimento de moeda pode causar tanto um crescimento quanto um declínio das taxas de juros, que influenciam na inflação.

Demonstrar-se-á nos próximos tópicos um resumo da política monetária do Brasil, bem como a função do Copom e os principais índices de inflação utilizados no Brasil para verificar o comportamento da inflação na economia brasileira e como o governo pode influenciar na economia.

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