A Inexistência de uma Pedra.

Desculpe senhor poeta.

Nunca existiu uma pedra.

No meio do caminho.

Na verdade nem mesmo caminho.

Existe.

Apenas.

É uma existência prodigalizada.

Para poucos.

O que sempre existiu na prática.

Um amontoado de trilhos.

Não perlíferos.

Perdidos em meio aos campos.

Na solidão desértica do mundo pobre.

Os quais em seus inícios.

Existem complexidades de montanhas.

Não laudáveis.

Indeléveis a caminhada.

Uma pedra ao meio do caminho.

Significa apenas uma mitigada ideologia.

Na vossa perspectiva.  

Como se não fosse difícil modificar.

As dificuldades da vida.

A vida se efetiva.

Senhor Carlos.

Com grandes dificuldades.

Algumas latíbulas.  

O mundo é um conjunto.

 De  montanhas.

 Intransponíveis.

Sobretudo, para o proletariado.

Para a burguesia senhor Carlos.

O que existe é uma bela estrada.

Reta, sem curvas e retornos.

Que leva ao topo de uma montanha.

Onde ficam os belos palácios.

Inefáveis.

O que é uma pedra?

Pergunto ao poeta.

O que significa o caminho?

O porquê exatamente no seu meio.

Tanta distância para o princípio.

Uma pedra é como a inexistência.

De outras pedras diacrônicas.

Senhor Carlos.

A construção de uma ideologia de classe.

Subjacente a vossa consciência.

 Levando ao povo entender.

Que vencer dependeria.

 Apenas do esforço.

Metafísico.

E as dificuldades não são tantas.

Ao  vosso mundo de metáfora.

Tendo como referências ilusões.

Das estruturas sociais.

opíparo.

 Do desenvolvimento econômico.

De uma concepção neoliberal.

Como se o empenho pessoal.

 Fosse tudo.

Dando ao pobre o liame da esperança.

Para caminhar uma estrada.

Cujas dificuldades seriam mínimas.

Senhor Carlos.

Seu poema.

Vende ilusões.

Fantasias fantasmagóricas.

Os trilhos são diversos.

Cheio de pedregulhos.

Que ferem os pés incomplexos.

Mancham a trajetória.

 Mas ao superar as montanhas.

Logo em seguida surgem outras.

Dessa forma consecutivamente.

Até levar a caminhada a exaustão.

Senhor Carlos.

A única pedra que existe.

 Ao meio do caminho.

É a ideologia da vossa imaginação.

Edjar Dias de Vasconcelos.