Lucas Silverio de Lima

Bacharel em Relações Internacionais (UNESA/RJ).

Graduando em Ciências Econômicas da UFF.

Rua Prefeito Ullmann, 269 Centro – Magé/RJ CEP 25900-000

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Resumo

 Este estudo tem por objetivo fazer uma breve reflexão sobre o processo de industrialização das Regiões onde hoje se encontra a Alemanha. Da forma como o Estado Prussiano em poucos anos transformou-se de uma estrutura industrialmente atrasada em uma das principais potências industriais da Europa. Analisando a Alemanha Pré-Industrial e os elementos que propiciaram a avanço desta mesma indústria.

 

INTRODUÇÃO

O processo de industrialização alemão apresenta uma grande via de peculiaridades que foram fundamentais para a estrutura apresentada nos dias atuais da indústria alemã. Tais peculiaridades só foram possíveis, e foram também consequências, devido à estrutura política que o que hoje conhecemos como o Estado Alemão apresentava no início do século XIX.

Esta estrutura política e econômica que é caracterizada pelo Estado Prussiano a partir do século XVIII até a unificação em 1871 sob a tutela de Otto Von Bismack, é o que analisaremos no primeiro capítulo deste texto. A partir da unificação e da aceleração do processo industrial alemão, é que a Alemanha surge como grande potência industrial e a sua inserção no comércio internacional com maior intensidade trás a tona diversas consequências políticas que seriam verificadas no início do século XX.

Não entraremos no mérito das consequências deste processo de industrialização, nosso texto ficará restrito à aspectos gerais da industrialização, tendo em vista, principalmente, a participação do Estado e as características bases da indústria nascente. Este será o objeto do nosso segundo capítulo.

Por fim, buscaremos analisar um pouco do legado deixado por este processo para a Alemanha, e de como a indústria alemã desenhada naquele período permanece até os dias atuais.

A ALEMANHA PRÉ-INDUSTRIAL

É importante salientar que embora o processo industrial alemão tenha sido tardio, a Alemanha pré-industrial não se caracterizava pelo sub-desenvolvimento. Portos, cidades comerciais e bancos alemães eram fortes atores na economia européia. A contribuição alemã para as ciências, para a literatura e para a música eram de grande magnitute. Também os alemães foram os que formularam as exigências da Reforma Protestante, que ajudara na autonomia dos Estados frente à Igreja Católica[1]. Tal industrialização tardia pode ser considerada por seu sistema político descentralizado e sobretudo à existência (e persistência) de relações de caráter feudal e semifeudal (servidão) em suas regiões de maiores riquezas potenciais[2].

Com a Paz de Westfália[3], a Alemanhadividida politicamente fora um grande entrave ao processo de industrialização. A classe dominante, dos senhores de terra, tinham seus interesses principalmente voltados para a manutenção das relações vigentes de trabalho e excedente, o que impossibilitava maiores avanços industriais. Coube ao Estado Prussiano o papel impulsionador da industria para que pudesse suprir interesses do mesmo como suprir necessidadesdo exército, diminuir a dependência de produtos estrangeiros, sobretudo dos ingleses e franceses. Tais açoes eram burocraticamente controladas e dependiam em larga escala da eficiência administrativa dos oficiais do Estado[4] Tal centralização é fundamental para entendermos as razões pelo qual o desenvolvimento industrial alemão se deu basicamente através de grandes conglomerados, monopólios ou oligopólios.

Vale ressaltar que, embora a Prússia fosse o maior dos Estados alemães, este não representava necessariamente os interesses de todos. Tanto que mesmo a União Alfandegária (Zollverein) em 1834, representava 18 dos 39 Estados da Confederação Alemã. Somente a partir de 1866 quando a Prússia derrota a Aústria e sobretudoa partir de 1871, com a total adesão dos Estados do Sul, é que tais políticas econômicas ganham o impulso necessário para o boom industrial[5].

A partir da Zollverien é que as bases para a desenvolvimento industrial são lançados. Com tarifas unificadas. O objetivo de impulsionar o comércio e indústria nacional, aos poucos vai se concretizando. A criação do Banco da Prússia em 1846, a expansão ferroviária vertiginosa, transformações na política como a Confederação da Germânia do Norte, o processo susbtitutivo de importações e altas taxas protecionistas, foram os elementos responsáveis para a revolução industrial que se sucedeu à unificação alemã em 1871[6].

A partir deste momento, a Alemanha experimenta o seu período de revolução industrial, que se estende até 1914 onde tal poderio é parte fundamental das razões que levaram à Primeira Grande Guerra.

A INDÚSTRIA ALEMÃ

Como já antecipamos, a indústria alemã é fortemente caracterizada por conglomerados, monopólios e oligopólios que são facilmente explicados pela política realizada pela Prússia Cameralista e também pelo I Reich (Império), de intervenção em prol de cartéis e de altas barreiras protecionistas.

Uma das principais razões para o rápido avanço da indústria alemã foram fatores que a diferenciavam das demais industrias européias entre eles o alto grau de instrução da classe trabalhadora. Tal nível de educação foram fundamentais para o desenvolvimento de tecnologias eficientes e o alto nível de inovação apresentado por todos os setores. Outra grande razão para o sucesso alemão foi a articulação financeira entre os seus bancose indústrias, tanto privados quanto bancos de fomento públicos. Os cartéis permitiam que bancos e indústrias tivessem sempre o retorno desejado com os investimentos, o que incentivava cada vez mais a expansão industrial e tecnológica. Por fim, a política de "potência de bem-estar" realizada pelo Estado, aperfeiçoada por Bismarck. Tal política era responsável pela forte presença do Estado na Economia, permitindo o crescimento qualitativo e quantitativo das ferrovias, serviços postais e telegráficos, e também propiciando bases para o alto nível de instrução da title="" href="http://www.webartigosos.com/admin/de/editor.php?name=wysiwyg&refresh=1069086278#_ftn7" name="_ftnref7">[7].

A Indústria Alemã foi caracterizada principalmente pela indústria química e elétrica. A indústria química favorecida pelo forte investimento em pesquisa e desenvolvimento e pela disponibilidade de matérias-primas. Já a indústria elétrica, responsável pela invenção do dínami e a lâmpada elétrica de filamento branco, foi de vital importância para o êxito alemão. Com destaque também temos a indústria naval e também as indústrias de base que foram fomentadas anteriormente pelo governo prussiano[8].

Porém, é importante notar que, embora a industrialização alemã seja considerada de grande êxito, ainda uma grande parte da Alemanha ainda apresentava características pré-industriais. Tal fato pode ser visto através da grande atividade agrícola e da sobrevivência de artesões que perduram até os dias atuais. A Alemanha fora também pioneira nos direitos sociais dos trabalhadores e tais políticas se sustentavam primeiro pelo fato da indústria ser financiada e protegida pelo Estado, o que faz com que os industriais fossem induzidos a aceitar tais políticas e também pelos interesses nacionais militaristas que se desenvolvia no processo industrial alemão. Tais interesses incluiam a segurança bélica do Estado Alemão e a expansão do mercado para as indústrias alemães. Estes fatores são fundamentais no entendimento das crises políticas e das guerras que se seguiram[9].

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de industrialização alemão foi um processo rápido e que foi impulsionado por objetivos específicos do Estado Alemão. Não sendo caracterizada pelo liberalismo econômico e sim pelo protecionismo estatal, permitiu a condução do processo no sentido de suprir interesses da nação alemã (representada no Reich). Somada a isso, ao entrar direto da chamada "segunda revolução industrial", permite competir em condições iguais com seus principais concorrentes que também só estavam chegando naquele momento à indústria dp aço, da eletricidade e da química.

A política interna, com a existência de social-democratas, socialistas e comunistas, obrigavam a Alemanha é dar passos importantes na condição de igualdades sociais e o papel centralizador do Estado na condução da política econômica nos aproximam de que a Alemanha fora o embrião do Welfare State (Estado de bem estar social) e do estado intervencionista teorizado posteriormente por Keynes em seu livro "Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro."

Com as derrotas nas duas Grandes Guerras, o Estado Alemão e sua indústria ficou bastante enfraquecido, no entanto a êxito da política industrial foi tamanho que permitiu o reerguimento da potência posteriormente. Hoje a Alemanha é a grande potência industrial da Europa, com vantagem sobre Ingleses, Franceses e Italianos, sendo o Vale do Ruhr[10] o principal pólo industrial Europeu até os dias atuais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRAGA, José Carlos de Souza. Alemanha: império, barbárie e capitalismo avançado. In: FIORI, José Luís (org). Estados e moedas no desenvolvimento das nações. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 1999

JASMIN, Maria Lucia de Castro. A formação do mundo contemporâneo.

KEMP, Tom. A revolução industrial na europa do século XIX. Lisboa: Edições 70, 1985

MORAES, Marcos Ribeiro de Moraes. As relações intergovernamentais na república federal da alemanha: uma análise econômico-institucional. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2001

SOLSTES, Eric (org). Germany: A Country Study. Washington: GPO for the Library of Congress, 1995. Disponível em http://countrystudies.us/germany/ . Acesso em 09 de julho de 2007.

[WIKIPEDIA]. Disponível em http://pt.wikipedia.org . Acesso em 09 de julho de 2007.



[1] KEMP, Tom. A revolução industrial na europa do século XIX. Lisboa: Edições 70, 1985. p. 102.

[2] JASMIN, Maria Lucia de Castro. A formação do mundo contemporâneo. p. 34.

[3] Série de tratados assinados em 1648 que pôs fim à guerra dos trintas anos e é considerado um marco para a diplomacia internacional.

[4] KEMP, Tom. A revolução... Op. Cit. p. 103.

[5] MORAES, Marcos Ribeiro de Moraes. As relações intergovernamentais na república federal da alemanha: uma análise econômico-institucional. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2001. p. 143-148.

[6] BRAGA, José Carlos de Souza. Alemanha: império, barbárie e capitalismo avançado. In: FIORI, José Luís (org). Estados e moedas no desenvolvimento das nações. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 1999. p. 197-198.

KEMP, Tom. A revolução... Op. Cit. p. 114-124.

[7] BRAGA, José Carlos de Souza. Alemanha: império... Op. Cit. P. 199-202.

[8] BRAGA, José Carlos de Souza. Id. Ibid.

[9] KEMP, Tom. A revolução... Op. Cit. p. 132-138.

BRAGA, José Carlos de Souza. Alemanha: império... Op. Cit. P. 202-203.

[10]das Ruhrgebiet é uma região industrial e aglomeração urbana, no estado alemão da Renânia do Norte-Vestfália, abrangendo as cidades de Colónia, Essen, Dortmund, Dusseldórfia e Duisburgo. É a principal região hulhífera da Alemanha. Tornou-se desde a Unificação Alemã até hoje, o maior complexo industrial da Europa, sendo banhada pelo rio Ruhr. (Fonte: Wikipedia)