RESUMO

O presente artigo reflete o papel do orientador educacional frente a um dos maiores desafios encontrados dentro das salas de aula brasileiras, a indisciplina. Dentro de um contexto de democratização educacional, onde os educandos partem de todos os grupos sociais; de avanço tecnológico, permitindo à todos acesso a informações e reforma da estrutura familiar, criando novas formas de vida em família; faz-se necessário o entendimento do conceito, indisciplina, dentro da atual sociedade; de seus agentes e de suas causas. E a partir daí, criar planejamentos para a minização do problema.

INTRODUÇÃO 

  A autora da presente pesquisa bibliográfica é docente de história da rede estadual de ensino no 2º ciclo do ensino fundamental no distrito de Austin, Nova Iguaçu, onde presencia a violência dos alunos através de atos agressivos entre os próprios e na relação interpessoal e pedagógica com os professores, esses possuem dificuldades para lidarem de forma consciente e objetivando dar limites. E, movida por essa realidade, ela enfatiza a relevância do papel do orientador educacional junto aos diferentes segmentos para refletir sobre a questão da indisciplina no espaço educativo.

Ao responder esse dilema, pode-se criar caminhos eficazes para se buscar soluções para a falta de disciplina dentro da sala de aula, e reduzindo esse problema, talvez reduza também a indisciplina social, pois pode-se confundir com má educação nas relações humanas. O conceito de indisciplina é susceptível de múltiplas interpretações. Um aluno ou professor  indisciplinado é em princípio alguém que possui um comportamento desviante em relação a uma norma explicita ou implícita sancionada em termos escolares e sociais. Esses desvios são questionados diferentemente: os estudantes são indisciplinados por natureza ou porque as circunstâncias os estimulam a assumiram comportamentos desviantes; os docentes são responsáveis por estimular ou favorecer tais atos; como minimizar ou evitar a violência no cotidiano da escola. Portanto, traz à tona a discussão do papel do orientador educacional e suas estratégias para mediar e trabalhar as regras sociais, a comunicação, a cooperação, e a parceria com as famílias e a comunidade. 

     A QUESTÃO DA INDISCIPLINA

            Para Rebelo (2007) quando se pergunta a qualquer professor da educação básica no Brasil qual é seu maior desafio com o comportamento dos alunos em sala de aula, a maioria responde que é lidar com a indisciplina do alunado. Alguns a culpam de ser o problema para o desenvolvimento da aprendizagem, afirmando que não conseguem cumprir currículo devido à perda de tempo na tentativa de disciplinar suas classes. 

             Conforme a autora mencionada, disciplina seria “O controle do indivíduo no tempo, a qual tem como objetivo atingir com rapidez e eficiência o máximo da produção.” (REBELO 2007, p. 43). Por associar disciplina à controle, ressalta-se a educação bancária de Paulo Freire, pois “Essa concepção de educação tem a função de transmitir ao aluno, de forma mecânica, conhecimentos historicamente construídos por meio de seu principal agente: o professor.” (REBELO, 2007, p. 47). Ou seja, o conhecimento seria passado, depositado no aprendiz pelo mestre, numa relação em que o segundo tem o poder, e o primeiro necessita ser controlado, para melhor absorver o que lhe é ensinado, “[...] nela, a obediência e o silencio dos alunos são aspectos importantes para garantir que os conteúdos determinados pela cultura dominante sejam transmitidos pelo professor sem interferências externas.” (REBELO, 2007, p. 48).

Assim, na primeira concepção, por meio da relação vertical do professor com o aluno, da organização espacial das salas de aula e da prática docente de transmissão de conteúdos e dos exercícios de fixação, são favorecidos o controle e a formação de ‘corpos dóceis’ e vazios, para que possam ser enchidos de valores e conhecimentos para a conservação da ideologia da classe hegemônica. Como reação a esse tipo de ensino, as manifestações dos alunos são entendidas e tratadas isoladamente como indisciplina. (REBELO, 2007, 52). 

         No entanto, na educação problematizadora, termo freiriano, a relação professor-aluno não é vertical, mas horizontal. “Nesta concepção, educar é um ato de amor, respeito a todas as visões de mundo, esperança e troca de experiências entre os envolvidos; por isso o diálogo é fundamental neste processo educativo libertador.” (REBELO, 2007, p. 50). Por não ter o objetivo de controle social a participação do alunado é pré-requisito. 

Nessa perspectiva, a indisciplina escolar não é só representada pelas manifestações ativistas, mas também pelas atitudes passivas dos alunos, pois tanto uma quanto a outra são encaradas como denúncia da insatisfação social e do tipo de educação praticada na escola. (REBELO, 2007, p. 51). 

            No pensamento da autora citada, a educação problematizadora deve sempre ser buscada pela a escola, criando projetos que valorizem a participação, a criatividade, o respeito, a cooperação, a tolerância e a conscientização das possibilidades como seres participantes na construção do conhecimento do mundo, em busca de uma sociedade mais justa. 

         Oliveira (2005) argumenta que a escola reproduz a sociedade estratificada em classes. E como o grupo dominante necessita de pessoas controláveis e dóceis, é através do controle da disciplina que se mantém essa estrutura de dominação.

 Na nossa sociedade de classes, por exemplo, disciplina corresponde justamente a adequação dos indivíduos a essa sociedade estratificada, significando, então, inculcação, domesticação e submissão daqueles que não possuem poder. E, a escola, que é determinada por essa sociedade acaba por reproduzir esse mesmo entendimento e essa prática. Geralmente, na escola, a disciplina é entendida como a adequação do comportamento do aluno àquilo que o professor deseja. Ou seja, esse modo do professor entender a disciplina escolar é herdado do modo como a nossa sociedade de classes entende a disciplina no contexto social. (OLIVEIRA, 2005, p. 28). 

          Porém, na educação problematizadora, estima-se que o indivíduo seja capaz de se responsabilizar pelos seus atos, e seguir as regras é uma questão de respeito por si e por todos. “Na dimensão individual do comportamento, uma definição de disciplina calcada numa concepção de educação democrática é aquela em que a pessoa que se diz disciplinada é capaz de adequar o seu comportamento às regras que foram estabelecidas pelo grupo [...].” (OLIVEIRA, 2005, 31). 

            De acordo com Aquino (2003), um ato indisciplinado carrega uma conotação ambivalente, pois pode ter um caráter de luta contra algumas injustiças escolares, ou, pode representar desrespeito a pactos legitimamente firmados. Aí seria uma agressão social, uma ditadura de um.

O que importa é a motivação por que se desobedece, ou seja, a razão subjacente à conduta transgressiva. Se o ato indisciplinado aspirar outros horizontes (uma vida melhor, em termos éticos), ele terá sua legitimidade garantida; se ele nada aspirar ou tão-somente recusar princípios validados, perderá sua legitimidade. Em outras palavras: é na imbricação da conduta levada a cabo (a dimensão moral) com o tipo de vida que se almeja (a dimensão ética) que encontramos a linha divisória da indisciplina’. (AQUINO, 2003, p. 14). 

Contudo, o ato indisciplinado pode está associado à falta de conhecimento de algumas regras, do regimento escolar, por parte dos alunos, dos professores, ou dos pais, “[...] desconhecimento ou falta de clareza dos parâmetros de conduta em determinada escola: desrespeita-se porque não há explicação e discussão, entre todos os envolvidos, das atitudes esperadas.” (AQUINO, 2003, p. 15). 

E AS CAUSAS?

            Os agentes da indisciplina são humanos, são pequenos indivíduos que se tornarão futuros cidadãos. São nossas crianças, filhos e irmãos. E não podemos vê-los como agentes do mal. Seria muito fácil dizer que são indisciplinados porque são maus e não gostam de cumprir regras. O problema não é simples assim. Quais são as causas da indisciplina? O que faz com que nossas crianças cometam atos vistos como desviantes as regras?

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