O QUE É A INDISCIPLINA ESCOLAR?

A indisciplina escolar, na visão de Vasconcelos (1997), apresenta-se como o descumprimento das normas fixadas pela escola e demais legislações aplicadas. O processo de aprendizagem necessita da disciplina para que ocorra de forma tranqüila e eficaz. As diversas manifestações da indisciplina são o desafio para os educadores em sala de aula e na escola, tanto na pública como na particular.

Ainda, segundo Vasconcelos

Sem autoridade não se faz educação; o aluno precisa dela, seja para se orientar, seja para poder opor-se (o conflito com a autoridade é normal, especialmente no adolescente), no processo de constituição de sua personalidade. O que se critica é o autoritarismo, que é a negação da verdadeira autoridade, pois se baseia na coisificação, na domesticação do outro (p. 248).

    Para Antunes (2002) a indisciplina na escola pode ser comparada a um incêndio numa mata. Raramente o foco é único e na oportunidade em que queima de um ponto alcança a outro, tornando muito difícil a tarefa dos bombeiros.

Contudo devemos ter claro que não são apenas professores os bombeiros responsáveis por apagar esse incêndio. Devem estar unidos nessa tarefa família, escola e sociedade em geral.

A seguir discutiremos alguns possíveis fatores que possibilitam o desencadear da indisciplina que reflete de forma acentuada na sala de aula. 

 A indisciplina escolar como reflexo da vida em sociedade 

A sociedade atual tem convivido com as sérias conseqüências da violência que se espalha por todas as classes sociais. As pessoas em sua grande maioria são condicionadas a conviver com falta de respeito e limites, pois parece estar escassa a educação voltada para os valores de boa convivência.

Ao focar a violência como geradora da indisciplina devem-se levar em conta as causas e conseqüências da mesma. Ela pode ser ocasionada por diversos fatores, no entanto o mais forte é a desigualdade social.

Desigualdade que gera desemprego, fome, falta de assistência médica, falta de moradia, miséria e etc.

Com todos os problemas advindos da desigualdade social, o mais comum é o aumento da violência não só moral, mas também física. As crianças têm o cenário de um mundo desmoronando a sua volta, e tudo o que é presenciado por elas acaba refletindo em seu comportamento não só na escola, mas também em todos os locais de seu convívio diário, inclusive no seio da família.

É urgente que a concepção de educação seja trabalhada como responsabilidade e prioridade de todos. A sociedade tem que se esforçar para trazer de volta a questão da importância de se respeitar os limites. Sobre o mencionado assim, Serrão comenta: 

O jovem que se desenvolve continua a precisar de limites estabelecidos de forma clara, firme e objetiva. Limites não são apenas proibições e impedimentos, mas contornos necessários à convivência humana. Devem ser de preferência, fruto de diálogo, estabelecidos em conjunto. (2005, p. 39).

É importante enfatizar que são poucos referenciais para as crianças, faltam modelos, pois as crianças encontram-se sem exemplos de retidão a seguir. E de acordo com Mesquita em seu livro Valores Humanos na Educação:

A retidão é a manifestação humana por meio do corpo físico, pois é através dela que desenvolvemos a lei da ação e reação. É nesse valor que percebemos nossa seqüência de erros durante a vida e temos a oportunidade de mudá-los e por conseqüência mudar nossa vida. (2003, p. 53).

 

Se os modelos que os nossos jovens e crianças tem acesso se referem à violência, individualismo e falta ou inversão de valores, e para a maioria das pessoas mais vale é ter e não ser, as crianças e jovens crescerão dentro destes pensamentos acreditando que isto é correto e não terão  a menor consciência de culpa ou de erro cometido, quando agirem dentro destes parâmetros.

As possibilidades do combate a indisciplina na escola

Os docentes relataram que os casos mais graves de indisciplina são dos alunos que os pais não comparecem as reuniões, não tomam conhecimento do rendimento escolar dos seus filhos. Nesse caso cabe a escola trazer essa comunidade para dentro do sistema educacional, é uma forma de unir forças e assim mostrar à família a importância do seu papel para o crescimento do aluno.

     Celso Vasconcelos Pondera: 

Antes de mais nada, é preciso compreender que houve profundas mudanças na escola, na sociedade e nas suas relações. Parece difícil aos educadores darem se conta disto. O saudosismo ou o espírito de acusação estão muito fortes no cotidiano da escola. Agredidos, procuram inconscientemente algum alvo onde possam descarregar suas mágoas, suas incompreensões...

 (Celso dos S. Vasconcellos, Os Desafios da Indisciplina em Sala de Aula e na Escola.2008  .p.231)                                                                                   

Nesse caso cabe a nós docentes o trabalho de alertar os discentes para a importância da sua participação ativa na sociedade, conscientizá-los quanto aos seus deveres de cidadãos. Assim, a educação também tem o objetivo de desenvolver no indivíduo o interesse na vida coletiva para assumir o compromisso de buscar ações que favoreçam o desenvolvimento da capacidade crítica de julgamento.

O Estatuto da Criança e do Adolescente tratou, em capítulo específico, do direito à educação estabelecendo seus objetivos, os direitos dos educandos, as obrigações do Estado, dos pais e dos dirigentes dos estabelecimentos de ensino (ECA, Capítulo IV - artigos. 53/ 59). No artigo 2° da Lei 9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação estabeleceu que a educação visa o preparo para o exercício da cidadania.

Segundo Vasconcellos:

 Sem autoridade não se faz educação; o aluno precisa dela, seja para se orientar, seja para poder opor-se (o conflito com a autoridade é normal, especialmente no adolescente), no processo de constituição de sua personalidade. O que se critica é o autoritarismo, que é a negação da verdadeira autoridade, pois se baseia na coisificação, na domesticação do outro (p. 248).

Temos ainda Antunes (2005) que fala sobre o assunto “indisciplina” lembrando que obedecer às regras não significa submissão ou servilismo. O Que o verdadeiro sentido da obediência para a criança ou adolescente acontece quando aprendem que viver em sociedade significa construir regras e que disciplina é sinônimo de autocontrole. 

Interação professor-aluno facilitando a disciplina 

A responsabilidade do professor é grande, pois ele é um dos principais modelos dos alunos e sua postura influência na conduta, no comportamento e na disciplina dos mesmos.

Os professores devem promover o bem estar na sala de aula, mantendo um clima de interesse, atenção e respeito, pois a partir do instante que ele atua como mediador entre o aluno e o conhecimento dentro de um ambiente harmônico, estará incentivando os alunos a interagirem neste mesmo clima. Ele atuará como ponto de equilíbrio na obtenção da organização e disciplina durante o processo ensino-aprendizagem.

Segundo Franco em seu livro, “Problemas de Educação Escolar”,

A interação professor-aluno não pode ser pensada abstratamente, como se existisse autonomamente, ou seja, à revelia do conjunto dos fatores externos à escola. Ao contrário, deve se entendida, de um lado, como parte do planejamento curricular da escola, isto é, da maneira como a escola organiza e desenvolve o seu trabalho pedagógico. (1986, p. 69). 

O professor deve estar aberto ao dinamismo, ao diálogo e às intervenções dos alunos sem perder, no entanto sua autoridade, preparados não só profissionalmente, mas emocionalmente para lidar com os mais variados tipos de alunos, com diferenças relacionadas à cultura, ao ambiente em que vivem e a família. Pois é um grande equívoco o  professor querer que os alunos tenham comportamentos padronizados, já que são diferentes em sua formação, ele deve ser o primeiro a respeitar a diversidade que o rodeia.

Franco alerta: ”Professores, além da precariedade de sua formação e do pouco conhecimento que têm da realidade histórico-social, não têm levado em conta o aluno concreto com o qual lida diariamente. O professor de fato está trabalhando de costas para os alunos” (1986, p. 116).

O professor tem que repensar seu papel, recontextualizando sua identidade, mantendo constante o processo de auto formação e identificação profissional, tornando-se capacitado e atualizado dentro das novas propostas de educação e do contexto global.                                                         

CONSIDEÇÕES FINAIS 

Enfim, consideramos que a questão da indisciplina e falta de limites, deve ser analisada de uma forma global e encarada como problemas de todos.  Cabe trabalhar esse assunto coletivamente todos os setores da sociedade.

Observamos que a ação indisciplinar não é um fator restrito somente a escola, abrange todas as camadas da sociedade, e suas causas na maioria das vezes são trazidas de fora para dentro da escola, quase sempre por problemas sociais

É possível perceber, a partir destes resultados preliminares, que os professores acreditam que a indisciplina é ocasionada por problemas alheios à escola, no entanto não se  isentam das conseqüências que elas trazem para a educação. Apontar causas para a indisciplina necessita de estudos profundos e contínuos para que mais respostas surjam.

De qualquer forma, o que se faz necessário e possível neste momento é fazer com que professores revejam a sua prática e perceba o quanto ela pode interferir de modo positivo nestas situações disciplinares. Cabe ao professor, como mediador do conhecimento, utilizar o espaço privilegiado da escola para a construção da cidadania, baseada em princípios de igualdade, tolerância e convivência.

A escola apresenta-se como o caminho para a introdução das novas gerações no mundo do conhecimento e tradições deixado pelas antigas gerações (Aquino, 1998).

É possível perceber alguns caminhos que devem ser seguidos para, senão a solução, a diminuição de situações de indisciplina.

Acreditamos que esse desafio só será vencido através de um trabalho contínuo, coletivo, desenvolvido não só na escola como na família e sociedade como um todo.Assim poderemos presenciar num futuro não tão distante, uma escola onde o respeito mútuo, a responsabilidade, a consciência dos direitos e deveres e os verdadeiros ideais da educação, sejam contemplados de forma integral, para que assim o ser humano possa desenvolver-se em sua plenitude. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, Celso. Professor bonzinho = aluno difícil. Disciplina e indisciplina em sala de aula. Fascículo 10; Na Sala de Aula. Vozes: 2002.

AQUINO, Júlio Groppa. A violência escolar e a crise da autoridade docente. Cadernos
Cedes, v. 19, nº 47. Campinas, dezembro/1998.

BRASIL, ECA – Estatuto do adolescente e da criança. Lei nº 8069, de 13de julho de 1990.

BRASIL, LDB – Lei das diretrizes e bases da educação nacional. Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996.
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FRANCO, Luiz Antônio Carvalho. Problemas de educação escolar. São Paulo, Mec. 1998.

MESQUITA, Maria Fernanda Nogueira. Valores humanos na educação: uma nova prática na sala de aula. São Paulo. Editora Gentil. 2003.

RATTO, Ana Lúcia Silva. Livros de Ocorrência. (In) disciplina, Normalização e Subjetivação. São Paulo: Cortez, 2007.

SERRÃO, Margarida – Apostila Concurso público – Professor PEB I. São Paulo. 2005.

TIBA, Içami. Disciplina “O limite na medida certa”. São Paulo. Editora Gente. 1996.

VASCONCELLOS, Celso dos S. Os desafios da indisciplina em sala de aula e na escola. Disponível em: http://www..crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_28- p.227- 252.