A INDISCIPLINA ESCOLAR  E OS CONFLITOS  NAS SÉRIES INICIAIS

CIONI,CRISTIANE APARECIDA

GAMA, ANGELA RIBEIRO

SILVA,HERMINIA FRANCISCA DE DEUS

DAMACENA, WALDIMARIA FRANCISCA CUNHA                                                                                     

RESUMO

No presente estudo, fazemos uma reflexão teórica a respeito da indisciplina dos alunos na escola. Delimitamos a problemática para a educação das séries iniciais, por ser atualmente nosso campo de atuação e dos demais educadores do nosso circulo socioeducativo. O foco central seria mostrar como os professores lidam com a indisciplina em sala de aula. Nesse sentido, buscamos levantar  um diagnostico mais evidenciado em nosso cotidiano ,também trazer como ponto reflexivo e contextualizado as ideias dos diferentes sentidos que a indisciplina poderia ter, que dependeriam de cada sujeito e do contexto social, bem como a função social da escola  em que estaria inserido. Sob a luz do referencial teórico apresentamos que a indisciplina seria vista como uma atitude de desrespeito, de intolerância e do não cumprimento de regras capazes de delinear o caminho da convivência de um grupo. Regras que seriam elaboradas em conjunto com os alunos e obedecidas no cotidiano buscando uma produção escolar de melhor qualidade. Por fim, fundamentam-se algumas propostas pedagógicas para uma compreensão mais autônoma da especificidade do trabalho escolar, bem como algumas regras éticas de convivência em sala de aula, de tal sorte que se possa lançar um novo olhar sobre o ato indisciplinado, cujas interpretações mostram-se, na maioria das vezes, de maneira estereotipada. Refletir sobre a liberdade, o livre arbítrio, a solidariedade  e partilha de saberes como o protagonista do conhecimento e das relações sociais.

Palavras-Chaves: Séries Iniciais, Indisciplina, Escola , Família.

INTRODUÇÃO

A pretensão com o tema: Indisciplina nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental se deu diante da necessidade e complexidade que o próprio tema se impõe no contexto escolar atual. Teve-se por objetivo refletir a questão da indisciplina do ponto de vista educacional, tendo como base de reflexão a concepção dos professores quanto a sua vivência em sala de aula.

É na relação amistosa entre professor e aluno que se inicia o clima de liberdade, pois o professor pode discordar do aluno, e vice-versa, mas cada um defende o direito de outro expor seu ponto de vista. Quando há liberdade, desenvolve-se um clima de respeito mútuo de valorização da pessoa do outro. Compreende-se que respeitando em seu direito de divergir, o indivíduo também considere necessário respeitar os demais e sua liberdade.

É nessa linha de raciocínio que se procurou desenvolver o trabalho, levando em conta aspectos significativos, na busca da superação da indisciplina em sala de aula.

A problemática norteadora desta pesquisa parte da necessidade de buscar respostas à questão: “O que leva os alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental a terem comportamentos de indisciplina no decorrer das aulas?”.

Os objetivos específicos deram conta de:

Conhecer a questão da indisciplina do ponto de vista prático;

Saber a concepção dos professores quanto à indisciplina na sala de aula;

Construir um conceito mais aprofundado quanto à indisciplina, para melhorar a prática em sala de aula;

A pesquisa foi realizada com professores do Ensino Fundamental nas escolas urbanas do município de Sorriso – MT. Todos os profissionais são graduados em pedagogia, sendo que a maioria deles pós-graduados em áreas afins.

 O trabalho está dividido em três partes: Desenvolvimento, Análise de dados e Considerações Finais.

No primeiro momento da fundamentação se faz uma abordagem sobre a questão da indisciplina: uma abordagem geral, abordando questionamentos do ponto de vista educacional. Parte do princípio de que a escola tem por função repassar conhecimentos, enquanto que a tarefa de educar é de responsabilidade da família. Porém, a escola precisa estar preparada para enfrentar a realidade vivida em seu contexto, tendo em vista a formação moral de seus alunos.

Envolveu-se no segundo momento a reflexão quanto a indisciplina: questão social e familiar. Faz uma reflexão acerca da importância do papel da família no processo de construção da personalidade dos seus filhos, tendo a escola como complemento moral do que é vivido no meio familiar.

No terceiro momento se faz uma discussão acerca da indisciplina no contexto escolar, trazendo reflexões sobre a escola e suas formas de lidar com a complexidade que se apresenta a indisciplina escolar, em um contexto social marcado por diversas visões, por parte dos pais, de como educar seus filhos para a vida.

No quarto momento traz uma discussão sobre a sala de aula e as relações nela existente. Pois, acredita-se que a relação amistosa entre professor-aluno no meio escolar é fundamental para o processo disciplinar e, sobretudo, o respeito, a trajetória de vida de cada aluno: com seus hábitos e diferenças são sempre valorizados.

Na segunda parte, desenvolve-se a análise de dados no qual se faz a análise dos dados observando que os professores entrevistados mostram-se preocupados quanto à indisciplina em sala de aula, sendo segundo eles, um problema que precisa ser mais bem discutido no âmbito escolar e familiar.

Na terceira parte apresentam-se as considerações finais, onde se conclui que os professores veem a indisciplina como falta de limites por parte dos pais, de concentração, de saber regras de convivência. Ao mesmo tempo, acreditam que através do diálogo, da participação ativa dos pais e comunidade é possível a superação de muitos problemas de ordem disciplinar em sala de aula.

 

 

1.1 - INDISCIPLINA: UMA ABORDAGEM GERAL

 

Com a forma moderna de viver em sociedade, os pais estão cada vez mais distantes de seus filhos, pois o trabalho diário ocupa-lhes uma grande parte de seu tempo. Através desse distanciamento acabam deixando para a escola atribuições que seria unicamente de obrigações deles como educarem seus próprios filhos. Posturas como essas fogem dos principais objetivos da escola que são de cunho educacional, isto e, de aquisição de conhecimento. Segundo Aquino (1996, p. 98) “... A tarefa de educar, não é de responsabilidade da escola, é tarefa da família, que ao docente cabe repassar seus conhecimentos acumulados.” A escola, em sua totalidade, fica sem um direcionamento claro sobre o comportamento dos alunos, ou seja, limitada a determinar normas e regras que, na maioria das vezes, não são acatadas pelos alunos, gerando, no entanto a indisciplina.

Analisado diversos olhares, para Rocha (1996, p. 338), "Indisciplina é a falta de disciplina, que significa regime de ordem, imposta ou livremente consentida, a ordem que convém ao funcionamento regular de uma organização". Enquanto o dicionário Aurélio aborda o termo como indisciplina é sinônimo de desobediência, desordem, rebelião.

Baseada num contexto social real, a escola assim como o professor precisam repensar e valorizar o meio que o aluno está inserido, porque é nele que ele vive sua realidade cotidiana e desenvolve suas reações e é a partir dele que a indisciplina pode se revelar. De acordo com Freire (1996, p.46) a prática educativa deve desenvolver:

 

Um caráter formador, propiciar relações, treinar a experiência do ser social que pensa se comunica que tem sonhos que tem raiva e que ama. Portanto, o professor que parte de uma concepção de ensino democrático, deve ter claro que o ato de ensinar não é transferir conhecimento, mas sim, oportunizar possibilidades de construção, pois o aluno é ser humano inacabado, ele nunca deve transformar a autoridade em autoritarismo. Portanto, o aluno precisa de estímulo para desenvolver sua transformação num ambiente de liberdade.

 

De modo geral, a indisciplina se apresenta no contexto escolar como uma questão muito complexa, tendo em vista que grande número de variáveis sociais, psicológicas, econômicas, estrutural familiar, entre outras, exercem influência significativa no processo de ensino e aprendizagem e, sobretudo, nos comportamentos dos sujeitos envolvidos. De acordo com Estrela (1992 p.45):

 

As influências da indisciplina no processo pedagógico começam a serem sentidos nos seus efeitos sobre o professor. Ao interferir no seu trabalho, a indisciplina causa-lhe mal-estar físico e psicológico, podendo provocar desgaste, irritação e limitação, não só do trabalho pedagógico, como também da interação entre professor e aluno.

 

O professor gasta uma boa parte do tempo em sala de aula para manter a disciplina, que nem sempre consegue. Este fator turbulento advindo de um ambiente de desorganização, do sentimento de perda de qualidade da aula e a diminuição da autoestima pessoal, contribui para que o professor perca o ânimo e a disposição em relação a sua profissão. Portanto, a indisciplina compromete consequentemente no processo pedagógico, atingindo diretamente a aprendizagem do aluno e compromete o desempenho do professor. Continuando, segundo a autora acima citada:

A dificuldade de se entender as questões que envolvem a disciplina provém do fato de ser um termo com vários significados: matéria de estudo, punição, regra e obediência para reinar a ordem numa coletividade. Não se pode, no entanto, falar em indisciplinas em ligá-la ao contexto sócio histórico em que ocorre, pois a indisciplina na escola vem sendo tratada conforme os paradigmas vigentes a respeito da função da escola na sociedade.

 

Vale ressaltar que, embora tenham ocorrido muitas modificações dentro do contexto escolar até os dias de hoje, ainda se observa características muito arraigadas da escola tradicional, que resiste às mudanças e que concede ao professor o título de único detentor do saber, que tem a condição social de permear o conhecimento, fundamentando com isso sua autoridade. Vasconcelos (1995, p. 26) reforça essa ideia ao dizer que:

 

O conceito de disciplina associado à obediência é muito presente no cotidiano da escola, a qual é entendida como a adequação do comportamento do aluno àquilo que o professor deseja, apesar de o advento da Escola Nova ter feito emergir o entendimento de que disciplina se constrói pela interação do sujeito com outros e com a realidade, até chegar ao autodomínio.

 

A escola como uma das principais mediadora do processo de formação do sujeito, precisa estar preparada para lidar com a realidade vivida em seu contexto, pois cabe a ela conhecer sua clientela para, a partir daí, trabalhar numa proposta de ensino que leve seus alunos a formação moral. É preciso apontar para a possibilidade da escola como elemento de mudança das relações sociais, de tal forma que se possa voltar a ter esperança de um futuro melhor. De acordo com Estrela (1992, p. 50):

 

Os princípios democráticos da Escola Nova, as considerações sobre disciplina pressupõem que a formação do cidadão livre, responsável e participante da sociedade permite o exercício da liberdade e da responsabilidade, em que a disciplina se transforma em autocontrole e autogoverno, os alunos contribuem para a elaboração das regras e sentem-se responsáveis pela sua preservação.

 

Muitos professores atribuem à indisciplina aqueles tipos de comportamento que, na sua forma de pensar, atrapalha o desenvolvimento das aulas, isto é, a pouca dedicação do aluno de forma desejável aos estudos. A partir desta visão, passam a queixar-se dos alunos por serem desmotivados. O que se pode pensar é sobre a relação entre indisciplina e desmotivação. Acerca disso Boruchovitch (2001, p. 64) procura desvincular os referidos conceitos sendo para ele:

                                                                                                                       

Um mau comportamento em classe ou um desempenho insuficiente pode não ter a ver com problemas de motivação, assim como comportamentos ‘desejáveis’ e até mesmo um desempenho satisfatório não são sinônimos de motivação. Os efeitos da motivação sobre o aluno consistiriam em ele envolver-se ativamente nas tarefas pertinentes ao processo de aprendizagem, escolhendo este curso de ação entre outros possíveis ao seu alcance, independente do comportamento que adote para isso. Consequentemente, a desmotivação seria causada por não se investir nos recursos pessoais durante a aprendizagem, fazendo apenas o mínimo, ou desistindo facilmente das tarefas, o que nem sempre se manifestaria sob um comportamento ‘indesejável’ pelo professor.

 

 

1.2 - INDISCIPLINA: QUESTÂO FAMILIAR E SOCIAL

Sabe-se que o homem é um ser extremamente social que constrói seus conhecimentos e relações a partir de sua interação com o meio em que está inserido. A partir dai, entende-se que o meio social nos primeiros anos de vida influenciará profundamente na formação de seu caráter e na construção de seu futuro. Se neste contexto forem trabalhadas as noções de regras, limites e respeito certamente serão desenvolvidos a disciplina e será formado em si o conceito da reciprocidade: ter respeito para ser respeitado.

É de extrema importância que haja uma relação estreita entre escola-família, pois, ao participarem de forma ativa da vida escolar de seus filhos, promove uma maior integração dos alunos e, consequentemente, na melhoria da qualidade do processo de ensino aprendizagem. Conforme Aquino (1996, p. 47):

 

A escola e a família são as duas instituições responsáveis pela a educação num sentido amplo. O processo educacional depende da articulação desses dois âmbitos institucionais. Um não substitui o outro deve, sim, complementar-se. Se tanto a família como a escola são as principais responsáveis pela a formação da criança ou adolescente, é preciso que haja coerência entre princípios e valores de uma e outra, evitando confrontos entre professores e alunos e família e escola, o que favorecia a rebeldia e a indisciplina dos alunos.

 

Estudos comprovam, e que é de conhecimento de muitos, que o envolvimento familiar colabora para melhorar a imagem da escola e o seu vínculo com a comunidade. Este envolvimento se traduz numa melhoria na educação assegurada na relação amistosa entre escola-família, uma vez que não se aprende somente na escola, mas sim por um meio ambiente favorável, tendo em vista que é no seio familiar que as crianças constroem os modelos de comportamentos que se manifestam na sala de aula.

Um aspecto de grande relevância é a família, problemas de diversas ordens podem motivar a indisciplina escolar. Assim o que se pode perceber que um lar desestruturado em que os pais não se respeitam pode fazer com que os alunos reproduzam essa falta de respeito na escola, através de sua conduta.

As causas da indisciplina escolar podem ser divididas em três, a saber: a desestruturação familiar; falta de imposição de limites; influências negativas da mídia e da sociedade. A desestruturação familiar deriva muito mais da falta de atenção, diálogo e afeto, do que da estruturação familiar considerada padrão: pai, mãe e filho. Na maioria das famílias muitas pessoas moram na mesma casa e sequer formam uma família, pois não tem diálogo, nem afeto entre elas.

O excesso de liberdade que os pais dão aos filhos gera sérios problemas de ordem disciplinar levando-os a indisciplina tanto fora como dentro da escola. Zagury (1996, p. 31) afirma que “Algumas pessoas acham que dar limite aos filhos é uma questão de opção, mas essas pessoas não sabem que há uma progressão de problemas que podem derivar a falta de limites”.

Os adolescentes acabam por sofrer várias consequências em função dessa educação permissiva dos pais e, consequentemente a sociedade é afetada com atitudes de intolerância e agressão. Tiba (1996, p. 22) nos dá a ideia de que “É importante estabelecer limites bem cedo e de maneira bastante clara, pois, mais tarde, será preciso dizer ao adolescente de quinze anos ao sair para dar uma volta com o carro do pai, não é permitido, e ponto final.”.

A falta de limites é gritante em nossa sociedade. As famílias estão deixando de proporcionar às crianças e aos adolescentes o desenvolvimento da cordialidade e boa convivência entre as pessoas. A família na maioria das vezes não consegue dar atenção, ser firme e ao mesmo tempo tolerante com os filhos, estabelecendo uma relação de respeito mútuo e cooperativo. E acaba por jogar a responsabilidade toda para a escola.

Constata-se que nem a família, nem a escola sabem o que é estabelecer limites. De acordo com Pereira (2002, p. 106), "... Os limites são o respeito ao ser humano, o respeito a si mesmo e ao outro, traduzido como respeito mútuo, enquanto disciplina seria um conjunto de regras a serem obedecidas por todos.”.

No que se refere à mídia observa-se uma influência negativa, principalmente entre os adolescentes no que referir a modismo, comportamentos inalteráveis e valores. A mídia acaba gerando graves conflitos sociais, através do individualismo e do consumismo que ela gera entre os adolescentes desencadeando comparação, descontentamento e revolta.

Além disso, problemas psicológicos e sociais atingem diretamente o rendimento escolar, mais precisamente no fenômeno da indisciplina que cresce constantemente, produto de uma sociedade na qual os valores humanos tais como o respeito, o amor à compreensão, a fraternidade, a valorização da família e diversos outros foram ignorados.

É com base nesses fatores que a família e a escola precisam traçar objetivos comuns e integrados capazes de dar suporte para a formação dos alunos.  Oportunizar uma formação pautada nos princípios básicos da sociedade, tendo em vista a incumbência principal da escola que e desenvolver as habilidades e potencialidades intelectuais, no sentido de formar os alunos para a profissionalização e ao exercício da cidadania; enquanto que a família teria por responsabilidade de assegurar o desenvolvimento das diversas habilidades humanas.

 

1.3 - A INDISCIPLINA NO CONTEXTO ESCOLAR

È muito comum no dia-a-dia escolar, professores manifestarem algum tipo de reclamação acerca da conduta de alguns alunos no ambiente escolar. Procurando manter a ordem e controle das atividades propostas, nem sempre com êxito, os professores formulam conjuntos de regras cujo objetivo é de restringir atitude não aceitas em sala e, ao mesmo tempo, proporcionar um ambiente onde a convivência torna-se agradável e estimulante para o aprendizado. Porém, estas regras, nem sempre são construídas com a participação dos alunos num processo aberto e coletivo, sendo assim, os alunos transgridam através de seus comportamentos as atitudes consideradas inaceitáveis pelos professores. Siqueira (2000, p. 238) ressalta que:

 

Tradicionalmente na escola, quando uma regra é transgredida, pode aparecer como fonte de condenação o castigo. O castigo, de maneira genérica, significa a aplicação de um corretivo que pressupõem a transgressão de regras estabelecidas.

 

Ao longo da história da educação pode-se perceber que houve várias formas de coibir atitudes consideradas indisciplinares e, que tinha como punições até um tanto quanto autoritárias. Conforme Siqueira (2000, p. 240):

 

Por volta do século XIX havia alguns mecanismos para coibir e punir condutas consideradas indesejáveis e estas punições se efetivava por meio da palmatória, utilizada pelos professores que batiam nas mãos dos estudantes considerados infratores. O artefato ─ palmatória ─ inicialmente era: [...] feita de couro cru, engrossada em uma das extremidades, constituindo esta o cabo onde se pegava; era achatada e arredondada na outra extremidade, com extensão suficiente para cobrir a palma da mão. Depois passou a ser feita de madeira, quase no mesmo formato, tendo na parte redonda, destinada a cobrir a palma da mão, cinco buracos, os quais, sem ultrapassar toda madeira, serviam de sanguessugas [...]. No Brasil, além dos alunos faltosos, servia também para castigar escravos.

 

Através das novas reflexões que fundamentaram as bases do desenvolvimento educacional e também o fortalecimento da modernidade, os castigos físicos deixaram de fazer parte dos métodos legais de coerção das escolas. Porém, ainda nos dias de hoje, parece haver inserido na prática de alguns docentes, ações violentas de natureza física e verbal, que acabam deixando ou não marcas visíveis e muitas vezes irreversíveis no aluno por estar muito arraigado no processo pedagógico do professor. Teixeira & Porto (2004, p. 108) confirmam as ocultações presentes nas ações de controle disciplinar no ambiente escolar. Ressaltam que:

 

A violência aparece inserida na dinâmica das próprias práticas pedagógicas e quando os mecanismos disciplinares são impostos pela direção e por seus professores, a fim de preservar a unificação e obediência às ordens estabelecidas sem questionamentos por parte dos alunos, a resposta tende a aparecer sob a forma de atitudes consideradas pela própria instituição como indisciplinadas / violenta.

 

Embora haja uma grande discussão em várias áreas do saber (dentre elas a psicologia) acerca da forma de ver o comportamento dos alunos em seu processo escolar, ainda surge por parte dos professores agressões que se não física, mas sim de uma agressão psicológica, autoritária e exclusiva. Para Lukesi (1999, p. 48):

 

Tanto no passado como nos dia de hoje, as condutas consideradas inviáveis por parte dos professores, motivos para castigos, fazem parte da prática cotidiana da sala de aula de alguns profissionais da educação. A conduta dos alunos considerada como erros tem dado margem, na prática escolar, tanto no passado como no presente, às mais variadas formas de castigo por parte do professor, indo desde as mais visíveis até as mais sutis. À medida que se avançou no tempo, os castigos escolares foram perdendo o seu caráter de agressão física, tornando-se mais tênues, mas não desprovidos de violência.

 

 

A prática do castigo dá poder a quem aplica ter em mãos a capacidade de decidir o que a criança ou o jovem pode ou não fazer. Isto é, o poder de decisão de escolha sobre o tipo de punição que deve ser aplicada. Desta forma, muitas vezes, quando o professor sente que seu poder não dá conta de imobilizar através do diálogo, acaba, por vezes, partindo para métodos de castigos, cujas ações são em sua maioria acompanhadas de violência.  Para Endo (2005, p. 89) A violência emudece, esteriliza e cala”. Refletindo esta frase do ponto de vista escolar, nota-se algo que acontece em muitas instituições que não proporcionam um espaço para que os alunos possam expressar suas opiniões e participar também das soluções dos problemas. Eles muitas vezes se calam frente às agressões que lhes são impostas.

No processo de ensino-aprendizagem, a indisciplina pode surgir de diversas variações e proporções. Pode ser também vista e entendida como pertinente a própria natureza humana, como uma maneira de resistência à dominação e a submissão proferida por algumas instituições que usam o autoritarismo para se garantir como organização. No entanto, é certo que a indisciplina em sala de aula é fonte de reclamações de professores, comprometendo a qualidade do ensino, interferindo nas relações professor-aluno, aluno-escola, escola-família e também escola- comunidade, enfim, fatores estes que acabam consequentemente interferindo e comprometendo a qualidade da prática pedagógica.

A indisciplina é uma temática que há muito tempo faz parte do cotidiano dos professores. Por isso, faz-se necessária sempre nova reflexão que buscam compreender o contexto e, fazer dele instrumentos para buscar melhorar a prática pedagógica e, sobretudo, a indisciplina em sala de aula.

 O conceito de indisciplina está sempre associado ao conceito de disciplina. Para Parrat-Dayan, (2008, p. 8) esta “Consiste num dispositivo e num conjunto de regras de conduta destinada a garantir diferentes atividades num lugar de ensino... A disciplina permite entrar na cultura da responsabilidade e compreender que nossas ações têm consequências”. Por isso, entende-se que a falta da disciplina é que gera ações indisciplinadas.

Atualmente as diversas modalidades de violência engendradas na sociedade, atingem, além dos espaços privados, àqueles de domínio público. Os efeitos acarretados pelas ações violentas acabam por atingir todos os contextos institucionais entre eles, as escolas, tidas como um espaço de socialização e de inscrição de sujeitos na cultura, porém, na maioria das vezes estas se encontra despreparada para lidar com a violência na escola. Como diz Martins (2000, p. 132):

 

O fenômeno da violência fragiliza especialmente as instituições que têm a função de construir o convívio democrático. E ele ameaça, em particular, a escola pública, não só por impedir seu funcionamento em condições de normalidade, mas [...] por interferir diretamente, em muitos casos em sua prática socializadora, desviando-a dos princípios democráticos e da perspectiva de emancipação que deve ser a sua.

 

O fenômeno da violência nas escolas é um tema que vem sendo discutido com muita intensidade em várias esferas educacionais no qual visa mobilizar todos os segmentos que fazem parte da escola com vistas de que juntos possam promover ações direcionadas a redução dos casos de violência e ao mesmo tempo buscar propostas pedagógicas que venham criar uma cultura de paz no espaço escolar. Todo ato de violência que ocorre numa sala de aula aparece ligada a indisciplina. Mas, segundo Parrat-Dayan (2008, p. 24) a indisciplina e a violência não são sinônimas.

 

Se a violência pode ser causa de indisciplina, não é capaz de explicá-la totalmente. Se é possível que a partir da indisciplina se chegue à violência, as causas de uma e outra conduta são diferentes e, consequentemente, devem ser tratadas de diferentes maneiras.

 

Partindo deste princípio, a função da escola deveria ser preparar o aluno para encarar os problemas do cotidiano, porém ao invés disso, as suas ações acabam moldando os alunos para acatar as exigências do mercado e de uma classe que se encontra no controle.

 

1.4 - SALA DE AULA E AS RELAÇÕES NELA EXISTENTE

Um fator muito importante no meio escolar é a qualidade da relação entre professor-aluno. Não e de negar que o aluno ao ingressar na vida escolar, trás consigo uma bagagem de informações adquiridas dentro de sua trajetória de vida pautadas nos hábitos e costumes vivenciados do meio familiar e que não devem de ser descartados.

O bom relacionamento em sala de aula é muito mais relevante do que as variedades de métodos e recursos instrucionais utilizados. Pode-se sentir que o relacionamento entre elementos de uma classe é bom quando se vê alunos felizes, bem-humorados, sua influência na sala de aula é muito grande, e seguro enquanto desenvolvem as atividades de aprendizagem baseado em suas experiências de vida.

O responsável pelo bom relacionamento que norteia todas as atividades deve ser o professor, pois é ele que está à frente da liderança. Sua sala de aula é muito grande, e a criação de um clima psicológico que favoreça ou desfavoreça a aprendizagem depende principalmente dele.

Uma das ferramentas que o professor dispõe para colaboração do bom relacionamento com os alunos, é a própria prática que consiste a motivação, pois os estímulos e os incentivos apropriados tornam-se a aprendizagem mais atraente e significativa. Segundo Piletti (1990: p. 233):

A motivação consiste em apresentar a alguém estímulos e incentivos que lhe favoreçam determinado tipo de conduta. Em sentido didático, consiste em oferecer ao aluno os estímulos e incentivos apropriados para tornar a aprendizagem mais eficaz.

 

Assim, os recursos didáticos, os procedimentos de ensino, o conteúdo, as atividades práticas e exercícios de incentivo são fontes importantes. No entanto, a maior fonte ainda é a personalidade do professor.

A partir desta visão, se faz necessário que o professor exerça uma maior autonomia para lidar com a indisciplina na sala de aula. Esta autonomia não significa jogar a responsabilidade única e exclusivamente nas mãos do professor, pelo contrário, é construir um trabalho em parceria, com responsabilidades claramente definidas e na colaboração estratégica de apoio pedagógico em situações em que se faz preciso a intervenção. De acordo com Gómez (2000, p. 81):

 

O ensino é uma atividade prática que se propõe dirigir as trocas educativas para orientar num sentido determinado as influências que se exercem sobre as novas gerações. Compreender a vida da sala de aula é um requisito necessário para evitar a arbitrariedade na intervenção. Mas nesta atividade, como noutras práticas sociais, como a medicina, a justiça, a política, a economia, etc., não se pode evitar o compromisso com a ação, a dimensão projetiva e normativa deste âmbito do conhecimento e atuação.

 

Com relação ao professor, convém lembrar que ele atua não só pelo que diz e faz, mas pelo que ele é como um todo. Conforme Snyders (1978, p. 228):

 

O ato pedagógico não pode ser simplesmente o ato de uma incitação “intelectual ao conhecimento; é também uma forte relação afetiva entre o professor e os alunos, relação afetiva que deve ser vivida com todas as dificuldades que pressupõe”. A criança vive uma ansiedade, uma angustia muito profunda, na busca de seu desenvolvimento, do seu desabrochamento e, se a classe não lhe proporciona uma segurança, um encorajamento, uma confiança, se torna para ela o lugar de projeção das dificuldades familiares, em vez de ser o lugar de elucidação pelo menos parcial ou de compensação, a comunicação não se estabelece, o que O traduzirá um malogro para a cultura.

                                           

 

O professor, como líder, é responsável pelo bom relacionamento e atividades estimativas que proporcione uma aprendizagem mais concreta dos alunos.

É notório que a construção do conhecimento pautada numa concepção de liderança democrática, onde alunos e professores são partes de um mesmo processo contribui para um ensino de melhor qualidade. Para isso, o professor deve adotar algumas atitudes e alguns comportamentos que são imprescindíveis de um líder democrático, como frisa Piletti (1990; p. 252):

 

Ter claro o objetivo a atingir. Se o professor não sabe bem o que quer dos alunos, não sabe também aonde chegar e como poderá orientar as atividades do grupo;

  • Ouvir as sugestões dos alunos e colocá-las ao grupo para a discussão;
  • Fazer os alunos trabalharem com ele e não para ele;
  • Em vez de destacar erros, destacar acertos;
  • Não falar muito, mas ouvir muito. Enquanto o professor fala, não está havendo aprendizagem, mas apenas informação. Por isso ele deve falar apenas para orientar a atividade do aluno;
  • Encerrar todo trabalho com uma avaliação feita pelos próprios alunos.

 

 

Entretanto, é preciso que fique claro que além da preocupação de um bom relacionamento em sala de aula o professor deve estar atento com o que ensinar. No ensino não é apenas o relacionamento entre os grupos e entre os indivíduos que tem importância. A busca da verdade é primordial. Sem a pesquisa da verdade como frisa Snyders (1978: p. 44-5): “... A democracia reduz-se a um jogo de relações num clima de amabilidade e indulgência, a uma forma habilidosa de conduzir as relações humanas”.

Embora a indisciplina seja uma problemática complexa de se lidar num ambiente escolar, o professor jamais deverá se acomodar. Pois, desistir de tal contexto vivido no que diz respeito à indisciplina é limitar e impedir que os alunos possam se desenvolver de forma criativa e participativa em sala de aula. Faz-se necessário. De acordo com Freire (1981, p. 11):

A educação sem esperança não é educação. Enquanto necessidade ontológica a esperança precisa da prática para se tornar concretude histórica. É por isso que não há esperança na pura esperança, nem tampouco se alcança o que se espera na esperança, pura, que vira, assim, esperança vã.

 

Portanto, o desejo de uma forma de educação que valorize e oportunize todos coletivamente, contribuindo para a construção da autonomia e desenvolvimento intelectual do aluno.

 

  1.  

A realização do trabalho transcorreu com base na metodologia da pesquisa-ação para a transformação da prática, em dois aspectos, sendo: de forma previamente planejada, ou seja, estratégica, e de forma colaborativa, buscando-se a interação dos sujeitos no processo de mudança. De acordo com Franco (2005, p. 485-486):

 

A pesquisa-ação tem sido utilizada, nas últimas décadas, de diferentes maneiras, a partir de diversas intencionalidades, passando a compor um vasto mosaico de abordagens teórico-metodológicas, o que nos instiga a refletir sobre sua essencialidade epistemológica, bem como sobre suas possibilidades como práxis investigativa.

 

Este estudo teve como embasamento, uma pesquisa teórica bibliográfica e de campo. Assim, a pesquisa visa como resultado uma análise reflexiva através de vários autores, com a concepção da prática cotidiana dos professores envolvidos. Buscou por meio da reflexão uma discussão que envolve aspectos de como se relacionar no âmbito escolar com os alunos para obter bons resultados de aprendizagem, dando-lhes autonomia, segurança, sem perder de vista a autoridade que o professor deve ter em sala de aula.

Após, os dados obtidos, passou para uma etapa de análise quanto à concepção dos profissionais pesquisados acerca da sua concepção quanto à questão da indisciplina do ponto de vista educacional, considerando a sua vivência em sala de aula.

De posse das informações obtidas no decorrer da pesquisa: sejam elas do ponto de vista teórico como também prático, foi feita as considerações finais, buscando responder os objetivos definidos e, a partir daí, construir uma nova concepção quanto à problemática indisciplina em sala de aula.

 

2.0 - ANÁLISE DOS DADOS

 

A análise dos dados foi realizada após a leitura de todos os questionários respondidos por um grupo de dez professores que dão aula nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Desse grupo de professores foram assim caracterizados: com relação à idade: 58% têm entre 35 a 45 anos; 30% têm entre 25 a 35 anos, 10% têm acima 45 anos e 2 % têm idade entre 20 a 25 anos- quanto ao tempo na profissão verificou que 40% têm acima de 17 anos no exercício do magistério; 35% têm entorno seis a dez anos; 12% têm entre onze a quinze anos; 7% têm entre dois a cinco anos e 6% têm um ano de experiência. Os dados foram separados em unidades de significados em função da convergência das opiniões dos participantes do estudo. Para dar uma melhor compreensão da análise dos dados foi utilizado o primeiro nome do entrevistado.

Quando perguntado sobre o que os professores e entendiam por indisciplina, as respostas que mais se destacaram foram: Ver Tabela.

 

PORCENTAGEM

 

RESPOSTAS OBTIDAS

38%

Ofensa entre colegas

30%

Desrespeito com o professor

20%

Conversas paralelas

12%

Falta de limites

 

 

 Sobre a concepção de indisciplina algum professor como Anestor coloca que “Pra mim, a indisciplina são atitudes que vão além das normas básicas que garante a convivência no meio”. Para a professora Maristela classifica a indisciplina como Um aluno sem limite, que não tem noção entre o que pode e o que não pode quando está num grupo. Com isso perde a concentração e acaba por atrapalhar todo o andamento das aulas” Dentro desta mesma linha de raciocínio, a professora Júlia coloca indisciplina como: “O aluno atrapalhando a atividade de outro colega, ofensa moral aos colegas e professores.”.

O que chama atenção é o que ficou explícito na falado professor entrevistado Pedro onde para ele um fator relevante para o domínio da disciplina na sala de aula é o professor planejar e gostar da disciplina, pois se ele não se identificar com a mesma consequentemente os alunos percebem e aí começa o desinteresse. Segundo o entrevistado:

O gostar e o prazer em ministrar uma aula são condição fundamental para conseguir dos alunos a disciplina e o estímulo ao aprendizado. Fico pensando um professor quatro horas dentro uma sala de aula sem nenhuma vocação por estar fazendo. Com certeza os alunos vão se rebelar!

 

 

Outro posicionamento que alerta para os motivos da indisciplina pôde ser verificado na fala da professora Marta: “Alguns alunos são indisciplinados ou porque aprendem logo, são ágeis e terminam as atividades antes e aí fazem bagunça, ou porque poucos prestam atenção"

Vários são os fatores indisciplinares na escola. Não tem como refletir a questão indisciplina sem relacionar a disciplina escolar, que deve ser um conjunto de regras orquestradas para que possa acontecer a aprendizagem com êxito. Portanto, é preciso que se Leve em conta prioritariamente o relacionamento humano do ponto de vista da personalidade, as características de cada envolvido: professor, aluno e ambiente.

Ainda como causa da indisciplina na escola, Tiba (1996, p. 117) cita outros fatores como:

 

Distúrbios neurológicos, distúrbios psiquiátricos, deficiência mental, distúrbios de personalidade, distúrbios neuróticos, etapas do desenvolvimento: confusão pubertária, onipotência pubertária, menarca/mutação, síndrome da quinta série, distúrbios de comportamento que incomodam pouco, distúrbios entre os próprios colegas, distorção de autoestima.

 

Outro aspecto determinante como fator de interferência no comportamento indisciplinado é o ambiente escolar, no qual o aluno passa a conviver todos os dias um período de quatro horas. Salas de aulas pequenas e apertadas, pouca iluminação e ventilação, desorganização com os objetos (papéis, livros, carteiras, etc.) comprometendo o trabalho do professor e a concentração e a aprendizagem dos alunos. Para Tiba (1996, p. 101) “O fator ambiental que mais prejudica é o estado psicológico do indivíduo, ou seja, escolas em crise, greve, briga entre professores, alunos e professores, são aspectos que dificultam a aprendizagem.”

Não se pode pensar que a construção do conhecimento é entendida como individual. O conhecimento é produto da atividade e do conhecimento humano marcado social e culturalmente. O papel do professor consiste em agir com intermédio entre os conteúdos da aprendizagem e a atividade construtiva para assimilação.

Ao ser perguntado se a indisciplina em sala de aula interfere na aprendizagem da sala como um todo, se percebeu aí certa tristeza nas respostas dadas pelos professores como relata a professora Patrícia:

 

Aproveito todo meu tempo para planejar minhas aulas; até mesmo o de fora da escola. Quando termino meu planejamento aí eu digo: agora vou desenvolver uma boa aula! Quando chego à sala encontro alunos que não querem estudar, pois preferem ficar conversando, brigando, se ofendendo e quando falo alguma coisa, acabam até me desrespeitando. Desta forma fico muito triste porque aquilo que pensei não aconteceu. Sinto que a aprendizagem na sua totalidade não acontece.

 

Sabe-se que o processo de aprendizagem não se dá de forma igual a todos, ou seja, cada aluno absorve, processa e retém as informações, de acordo com suas características e seu estilo de aprendizagem. É claro que não se pode limitar a explicar as diferenças entre alunos somente pelos seus diferentes estilos, pois cada um possui uma história de vida, uma influência social e familiar, etc., que interferem em seu processo. Porém, a Identificação desses estilos contribui para o processo de ensino-aprendizagem mais efetivo e propicia uma forma de trabalhar a indisciplina de forma preventiva. Tal argumento fica bem representado na fala da professora Marli:

 

No meu modo de ver a indisciplina em sala de aula compromete significativamente a aprendizagem de toda uma turma. Mas acho também que o professor tem uma soma responsabilidade quanto à indisciplina em sala de aula. Pois sendo ele o mediador, é preciso conhecer um pouco mais as características individuais de seus alunos, seu estilo de vida, o que gosta e o que não gosta, os seus sonhos, etc. Isto é, abrir espaço (sem liberalismo) para que o aluno sinta-se ouvido, para acontecer a aprendizagem.

 

 

A falta de motivação e desinteresse dos alunos em sala de aula, bem como a forma como a comunicação estabelecida dentro da mesma podem ocasionar o descontentamento e a indisciplina. Podemos relacionar esses dados com os estilos de aprendizagem dos alunos, pois uma das maneiras de o professor motivar a aprendizagem do aluno é propiciando métodos de ensino eficazes para o processo, oportunizando os diferentes estilos. Os métodos de avaliação do processo também não devem ser esquecidos, pois muitos privilegiam principalmente o aluno com função pensamento principal, por exemplo, uma prova escrita.  Quanto à comunicação, os diferentes estilos também apresentam suas características na forma de falar, se relacionar, e se o professor não ficar atento às diferenças podem, por exemplo, sem perceber deixar que determinados alunos monopolizem muitas das aulas, deixando outros alunos cada vez mais retraídos.

 Quando questionado sobre a relação professor-aluno para o bom desenvolvimento dos trabalhos escolares, todos os professores foram unânimes em responder que é a base fundamental para o trabalho pedagógico, pois por se tratar de crianças o bom relacionamento, a afetividade é o principal instrumento de conquista para a disciplina, como relata a professora Maria:

 

Eu acredito que a relação professor-aluno é o primeiro estágio que deve acontecer no rumo de uma disciplina em sala de aula, porque é no respeito mútuo, onde o professor deve ser respeitado como alguém que já aprendeu e aprende. E o aluno como aprendente dos conhecimentos científicos, considerando-se um ser em construção contínua.

 

O desenvolvimento do trabalho do professor em sala de aula, seu relacionamento diário com os alunos é expresso pela relação que ele tem com a sociedade e com a cultura. Abreu & Massetto (1990; p. 115), afirma que:

 

E o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que suas características de personalidade que colabora para uma adequada aprendizagem dos alunos, fundamenta-se numa determinada concepção do papel do professor, que por sua vez reflete valores e padrões da sociedade.

 

 

As palavras de Paulo Freire (1996: p. 96) vem reforçar ainda mais o que pretendemos demonstrar:

O bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a Intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas do seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas.

 

O trabalho e o relacionamento do professor em sala de aula com os alunos é um reflexo das suas atitudes perante a sociedade e com a cultura. Assim sua atitude em sala de aula colabora para a construção da aprendizagem dos alunos, fundamentado na concepção do papel de mediador, que por sua vez reflete valores e padrões estabelecidos na sociedade.

A relação professor-aluno depende basicamente do clima estabelecido pelo professor, da sua capacidade de ouvir, de refletir e discutir o nível de compreensão dos alunos. Focado numa visão de conjunto do meio em que vivemos, levando em consideração uma educação voltada para as mudanças, para a autonomia, para a liberdade, para a formação de um cidadão consciente. Dessa forma o conhecimento construído pelo aluno passa a ser constantemente testemunhado e vivido no contexto do “pensar certo”. Reforça a ideia de Paulo Freire (1996: p. 51) ao afirmar que: O corpo humano vira corpo consciente, captador, apreendedor, transformador, criador de beleza e não de “espaço” vazio a ser enchido por conteúdos.”

A escola sofre reflexos do meio em que está inserida. O problema disciplinar é, frequentemente, repercussão dos conflitos da família e do meio social envolvente. Portanto a participação dos pais no processo de vida escolar de seus filhos é fundamental, porém, na prática, isto não acontece na maioria das vezes. Segundo a entrevistada a professora Ana Maria relata:

Não sei, mas parece que os pais não tem mais poder sobre os seus filhos, ou então talvez por sentimento de culpa por não estarem mais presentes da vida deles pelo fato do trabalho. Acabam aceitando tais comportamentos que para a formação dessas crianças perante a sociedade não é aceitável. Tais comportamentos acabam refletindo diretamente na escola e os pais, por sua vez, pouco interfere.

 

 A família tem um papel fundamental na construção do comportamento da criança, pois ela nasce no seio desta, sendo, portanto, os pais as primeiras pessoas a estar ensinando. Os ensinamentos da família começam muito antes do que o ensinamento da escola. Portanto, compreende-se aí a importância da ação familiar na tarefa educativa reconhecida pela escola, no que diz respeito à íntima colaboração, que significa a ajuda mútua na busca de um ideal educativo.

O professor deve ter em sua concepção que na busca de atingir seus objetivos deve nunca perder de foco a relação afetiva entre os envolvidos no processo educacional. Porém, isto não significa aceitar tudo o que os alunos fazem ou querem, se faz necessário estabelecer no grupo limites para o bom desenvolvimento das aulas. Caso esses limites não sejam respeitados, é importante que se cumpra o que foi estabelecido com a turma. O professor, não deve partir de um posicionamento baseado no prêmio-castigo, como afirma Vasconcellos (2004, p. 116):

 

Os alunos que apresentam problemas de disciplina precisam de uma ação educativa apropriada: aproximação, diálogo, investigação das causas, estabelecimento das causas, estabelecimento de contratos, abertura de possibilidades de integração no grupo, etc. e no limite, se for preciso, a sanção por reciprocidade, qual seja uma sanção que tenha a ver com o comportamento que está tendo.

 

 

Vale ressaltar, que a família também precisa estabelecer limites, acompanhar o trabalho do filho na escola e tomar atitudes quando esses limites construídos conjuntamente não são respeitados.

 

 

3.0 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

É visto que o problema da indisciplina na escola atualmente é um dos maiores desafios enfrentados por toda a comunidade escolar, envolvendo uma série de fatores que devem ser considerados quando se pretendem diminuir ou solucionar as situações de conflitos vivenciadas na escola. O importante é que se façam sempre reflexões sobre o que possa estar influenciando no comportamento dos alunos e ter consciência de que, a indisciplina na escola não nasce de fatores isolados, mas de várias influências que são recebidas pela criança e o adolescente ao longo de seu desenvolvimento. A educação oferecida pela a escola deve contribuir para a formação integral dos alunos, proporcionando a eles a capacidade de refletir sobre suas ações e de ter consciência do que estão fazendo, com regras claras e posturas firmes, com senso de justiça e igualdade.

Não temos aqui a pretensão de esgotar um tema tão complexo como esse. Para Parrat-Dayan (2008, p. 26), “Este tema é complexo porque ele tem múltiplas causas, uma vez que articula várias dimensões.  Além disso, assumem formas diferentes em nossa sociedade atual, formas que não existiam em outras sociedades e outros tempos.Portanto, a partir desta visão, não se tem condições de oferecer uma receita de passos para serem dados para acabarmos com o problema da indisciplina em nossas escolas.

Percebemos através do grupo de professores entrevistados que sua visão de indisciplina dos alunos se baseia na falta de limites, de concentração, de saber regras de convivência, ou seja, na ordem comportamental. Ao mesmo tempo, sabem da importância da relação amistosa entre professor-aluno para o processo de ensino aprendizagem. De outra forma, o ensino aprendizagem fica comprometido por se trabalhar num ambiente no qual as normas básicas não são levadas em conta, que os fatores cognitivos, afetivos e psicológicos são descartados no processo de aprendizagem dos alunos. Também se sentem certo distanciamento dos pais quando a questão é indisciplina de seus filhos na escola, pois muitos não aceitam tal atitude praticada, porém não conseguem resolver a situação, ficando para a escola a tomada de decisões que vise a resolução (que nem sempre acontece) do problema. 

 Sem perder a esperança, acreditamos que com vontade da comunidade escolar, com a participação ativa das famílias no processo educacional de seus filhos - uma vez que eles são os maiores interessados e consciência política, poderíamos solucionar alguns dos problemas que se colocam para a escola e para a sociedade em geral. Afinal a escola não é um espaço só de alguns, mas sim de todos; e todas as conquistas, assim como os problemas que nela existem é produto vivido pela sociedade construída por nós, portanto é de responsabilidade nossa.

Para concluir, voltamos questão central deste trabalho: “O que leva os alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental a terem comportamentos de indisciplina no decorrer das aulas?” e, resumidamente, afirmamos que e preciso haver uma discussão maior no âmbito escolar entre professores, pais, instituição e órgãos competentes na busca dessa problemática, uma vez que tal iniciativa passa a ser ponto de partida para a resolução de muitos conflitos  existentes no contexto escolar.

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

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