Ana Carolina Machado Ferrari
Carla Lucilene Julio


Pensar em uma prática pedagógica inclusiva, dentro da escola regular implica em ensinar crianças com necessidades educativas especiais juntamente com as demais crianças das classes comuns. Esse é um dos grandes desafios da inclusão: o tratamento igualitário de direitos a educação, valorizando a diversidade e incentivando à contribuição participativa de cada indivíduo em sua especificidade. Falar em inclusão é falar em uma nova postura social, de uma sociedade que se percebe e se aceite heterogênea e permite suas diferenças.

Uma educação inclusiva não é apenas uma questão de recursos à nível da sala de aula. A educação inclusiva implica mais do que gerir a diversidade na sala de aula A inclusão implica em mudança de conceitos, de paradigmas e de posições, que fogem às regras tradicionais da educação. A adequação dos espaços escolares às Leis de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) do governo federal faz com que escolas, públicas e particulares, busquem ampliar suas áreas, permitindo que as diversidades ali alocadas apareçam naturalmente. Ao se entender e aceitar tais diferenças vê-se a necessidade da reformulação do currículo, que, por natureza já deve ser flexível e, frente á diversidade alcançará o atendimento à estas.

Segundo as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica:

por Educação Especial, modalidade da educação escolar, entende-se um processo educacional definido em uma proposta pedagógica, assegurando um conjunto de recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todos os níveis, etapas e modalidades da educação (Res. CNE/CEB n. 02/2001).


Dessa forma, não basta repensar apenas o currículo. A atitude dos professores face aos alunos com necessidades especiais, das suas percepções sobre as diferenças na sala de aula e da sua maneira de lidar com essas diferenças é vista como primordial para a construção de escolas inclusivas. Quando os professores não aceitam a educação de todos os alunos como parte integrante do seu trabalho, ocorre uma segregação dentro da escola, com a criação das classes especiais, acarretando a exclusão explícita dentro da escola. De nada adianta colocar alunos com necessidades especiais dentro das salas regulares sem a reflexão para atendimento desses alunos. Deve-se refletir de forma sistêmica sobre os tipos de necessidades e a partir dessa reflexão trabalhar sobre que e como ensinar, levando em consideração as diversidades dos alunos, contando, para isso, com o auxílio de métodos, materiais adequados e adaptados, competências e de tempo para adquirir conhecimentos através da formação contínua e da própria experiência. Deve-se focar no aluno e suas especificidades. No processo inclusivo faz-se extremamente necessário entender e reconhecer a identidade cultural do aluno, permitir-se trocar experiências com o educando, uma vez que ensinar não se restringe à transferência do conteúdo.

O professor tem papel fundamental no processo inclusivo uma vez que se torna mediador do conhecimento, buscando a todo momento recursos necessários para a aprendizagem do aluno. Para cada diversidade faz-se necessários métodos e recursos adaptados, para que todos possam de fato aprender e apreender a realidade.

Mas essa tarefa não cabe apenas ao professor. É tarefa para toda comunidade escolar e social, inseridas nesse contexto e não apenas dos profissionais especialistas em educação especial. Todos os envolvidos na educação devem assegurar qualidade da educação inclusiva através de uma proposta curricular apropriada, estratégias de ensino e promovendo a interação entre família ? comunidade ? escola. Esse envolvimento são fundamentais para a superação de obstáculos como a ignorância e o preconceito e torna mais fácil a adaptação do aluno. "As formas através das quais as escolas promovem a inclusão e previnem a exclusão constituem o cerne da qualidade de viver e aprender experimentado por todas as crianças" (MITTLER, 2003, p. 139).

"O sucesso da aprendizagem está em explorar talentos, atualizar possibilidades, desenvolver predisposições naturais de cada aluno", de acordo com Mantoan (2003). Mas só existe essa possibilidade de sucesso se, de fato, conhecermos as reais dificuldades dos alunos e, a partir daí, explorarmos seus talentos. Para que haja a possibilidade de se traçar estratégias a fim de se promover a educação a todos, é de suma relevância entendermos as peculiaridades de cada necessidade educativa especial, a saber:

1.1 ? Alunos surdos:
- Maior dificuldade é a comunicação, uma vez que alguns alunos surdos utilizam a Libras (Língua Brasileira de sinais), sua língua materna, e/ ou leitura labial. Dessa forma é de suma importância a presença do intérprete de Libras em sala de aula. Tal presença é garantido ao aluno surdo por lei, na resolução CNE/CEB nº 02/2001 artigo 8º, IV, b;
- Pelo fato de sua comunicação ocorrer em espaço visual, deve-se evitar que o reflexo da janela obstrua a visão do aluno. Também, deve-se não bloquear a área da boca enquanto fala com o aluno surdo (mastigar, sorrir, fumar);
- Ao utilizar material de apoio audiovisual, primeiro deve-se expor o material e só depois explicar as atividades;
- Em debates ou discussões em sala de aula, deve-se procurar repetir as questões ou comentários e indicar, por gestos, que está falando, de modo a facilitar o acompanhamento do assunto;
- Um pequeno toque no ombro do aluno surdo será um sistema útil para chamar-lhe a atenção, antes de fazer esclarecimentos ou dar uma explicação;
1.2 ? Aluno Cego ou com visão Subnormal
- Este aluno deve ficar sempre em lugar de fácil acesso, com o mínimo possível de obstáculos;
- Quando a visão é subnormal, geralmente é necessário a ampliação do material utilizado para o tamanho que ele consiga visualizar;
- Durante a aula, faz necessário identificar os conteúdos de uma figura e descrever a imagem e a sua posição relativa a itens importantes;
- Gráficos e tabelas devem ser substituídos por outras formas de registro, como em relevo;
- Como avaliação, pode-se utilizar perguntas orais;
- Não se deve superproteger o aluno ou ignorá-lo. Seja natural;
1.3 ? Aluno com deficiência mental
- Evite a superproteção ou rejeição. Seja natural;
- Trate o aluno com o mesmo respeito dedicado aos demais alunos;
- Não estabeleça comparações;
- Converse com o aluno adulto com deficiência com linguagem adequada à idade, mesmo que o seu nível de compreensão seja de uma criança;
- Nunca fale das suas dificuldades em sua presença;
- Deixe o aluno fazer as coisas sozinho, mesmo que no princípio faça de forma inadequada;
- Dê a ele oportunidade de participar de atividades variadas, conforme sua idade, juntamente com os outros alunos;
- Repita as explicações até perceber que ele compreendeu o que está sendo pedido ou ensinado;
- Se perceber que ele está com dificuldades para raciocinar, prestar atenção ou memorizar, dê-lhe mais tempo;
- Se perceber que ele está com dificuldades para integrar-se, trabalhe isso com ele e com o grupo;
- Quando houver necessidade, oriente-o no desempenho de atividades relacionadas aos hábitos de vida diária (vestir-se, alimentar-se, tomar banho, escovar os dentes);
1.4 ? Aluno Disléxico
- A dislexia caracteriza-se por uma dificulade de aprendizagem da leitura e escrita e da aquisição de seu automatismo em alunos inteligentes e livres de pertubações sensoriais. Esse aluno aprende a ler e escreve, porém a dificuldade de interpretação interfere nas atividades que dependem da leitura. Tal aluno geralmente é mais lento para copiar e sua leitura é cadenciada, dificultando a interpretação;
- Para auxiliar esse aluno, há necessidade oportunizar situações em que ele possa demosntrar habilidade em outras áreas;
- Há necessidade de desenvolvimento de noções de lateralidade, e espaço temporal, percepção de figura ? fundo e comparação para perceber detalhes;
- Quanto a avaliação, só a dislexia não pode ser a causa de retenção do aluno na etapa/ ciclo, pois a avaliação pode ser feita de maneira diferenciada;
- O professor precisará desenvolver nesse aluno a autonomia, autoconfiança e independência, ressaltando-se que ele, se tem uma dificuldade, tem também capacidade em outras áreas;
1.5 ? Alunos com altas habilidades
- Tal aluno apresenta características como: facilidade no contato social, alto nível de produção intelectual, motivação para a aprendizagem, persistência e esforço diante a desafios mas que, pode apresentar rendimento escolar inferior, manifestando falta de interesse e motivação para os estudos acadêmicos, por achar tudo muito fácil. Também pode apresentar dificuldades de ajustamento ao grupo por não se sentir compreendido;
- Outros traços comuns: curiosidade, interesse por atividades exploratórias, auto-iniciativa, originalidade, flexibilidade de comportamento e sagacidade;
- Esse aluno poderá aprender de forma rápida, fácil e eficiente, especialmente no campo de sua dotação e interesse;
- Muitos desses alunos são descuidados com detalhes e com aprendizagem que requer treinamento, não concluindo tarefas quando não está interessado;
- A escola pode envolver este aluno em atividades de enriquecimento, como projetos paralelos que requeiram dele iniciativa e independência;
- O professor deve diversificar as metodologias de ensino utilizadas em sala de aula, o que o beneficiará, igualmente aos outros alunos;
1. 6 ? Aluno com paralisia cerebral
- O professor deverá procurar adaptar-se ao ritmo e modo de ser desse aluno, não exigindo rapidez nas suas tarefas;
- O professor deve mantê-lo calmo, explicando a todo momento que o tempo para a realização das atividades poderá ser determindao pelo próprio aluno;
- Se os movimentos involuntários do aluno forem mais intensos, o professor poderá adaptar a atividade, afixando a folha de atividade na mesa, para que ele não a derrube;
- No uso de outros materiais concretos, caso necessário, o professor poderá fixa-los na mesa também;
- Caso o aluno apresente dificuldade em segurar lápis mais finos, o professor poderá oferecer-lhe lápis mais grosso ou envolver a parte que se pega com camadas de fita adesiva para que fique mais grosso, adaptando-o para a necessidade do aluno;
- Se o professor não compreender sua fala, peça-o que repita calmamente e procure deixar claro quando a compreender;
- Deve-se valorizar as produções desse aluno e o incentivar a continuar se esforçando. Nunca o subestime;
1.7 ? Aluno Epilético
- A epilepsia não é uma doença mental nem sinal de pouca inteligência. Não é contagiosa e nem tão pouco motivo de vergonha. Ela é controlável e o aluno pode levar uma vida normal;
- Quando o aluno apresentar tais crises, o professor deverá manter-se calmo, deixando espaço livre à sua volta, afrouxando suas roupas ao redor do pescoço para facilitar a respiração e projetando sua cabeça para o lado;
- Se o local onde ocorreu a crise não for perigoso, não remover o aluno e não lhe dar nada pra beber;
- Quando as crises cessarem, o professor deverá deixar o aluno descansar numa posição confortável, pois naturalmente sentirá sono. Deve oferecer-lhe compreensão e afeto;

Incluir o aluno com necessidades educativas especiais não é apenas permitir, por meios legais, sua permanência na escola regular. Faz-se necessárias modificações para motivá-lo e para o desenvolvimento de suas competências. Cabe a escola dar condições a seus agentes colaboradores, através de atualizações teóricas e práticas, de maneira continuada, disponibilizar recursos didáticos para que possa ocorre uma maior diversidade da prática pedagógica e com isso, construir a autonomia do aluno, juntamente com o apoio de todo o corpo educacional. Inserir o aluno com necessidades educativas especiais em uma sala de aula regular deve contar com o aparato de mecanismos de interação, ações pedagógicas que suplementem, completem e apóiem o saber fazer de maneira flexível, atendendo as necessidades dos alunos e favorecendo seu desenvolvimento escolar. Os métodos de ensino devem seguir critérios que resultem em novos aprendizados.


Para que as escolas sejam verdadeiramente inclusivas há que se rever o modo de pensar e de fazer educação nas salas de aula, de contextualizar o conhecimento, de planejar e de avaliar o ensino e de formar e aperfeiçoar o professor, especialmente os que atuam no ensino fundamental; reconhecendo as diferenças, a multiplicidade dos saberes e das condições sobre as quais o conhecimento é aplicado e de transitar por novos caminhos, estabelecendo teias de relações entre o que se conhece e o que se há de conhecer, nos encontros e nas infinitas combinações desses conteúdos disciplinares. respeitando a diferença como a singularidade que torna todos os seres humanos, incondicionalmente, sujeitos e a igualdade de direitos de todos os cidadãos brasileiros. A escola tem sua responsabilidade efetiva e fundamental no processo de desenvolvimento intelectual do educando e na construção gradativa da sua autonomia, sendo essa autonomia reflexo das práticas pedagógicas bem planejadas, buscando nortear o educando à se tornar crítico e participativo.


A inclusão educacional é um projeto gradativo, dinâmico e em transformação, não ocorrendo de forma imposta, irresponsável, apenas para se fazer cumprir a lei. Incluir demanda reflexão na busca de novos caminhos e métodos além de repensar a práxis que fundamenta o processo ensino aprendizagem. O direito à educação inclusiva é garantido por lei e as práticas pedagógicas para que essa inclusão ocorra de forma satisfatória devem seguir princípios fundamentados na constante busca pela identidade do indivíduo e respeito às suas diversidades. Esse processo prevê uma adaptação nas práticas pedagógicas, nos currículos de formação de professores, nos espaços físicos e nos materiais didáticos. A inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais na escola regular é perfeitamente possível, desde que haja formação adequada dos professores, conscientização da comunidade escolar e adaptações que favoreçam o acolhimento às diversidades.


ReferÊncia

MITTLER, Peter. Educação inclusiva.contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003.
Cartilha construindo Novos Caminhos: Você pode fazer a diferença. Curitiba:
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como Fazer?. São Paulo: Moderna, 2003.