A importância do trabalho para a definição de ser humano e de ser social perpassa, primordialmente, a definição da espécie humana.

Humanizar-se é distinguir-se dos animais e tornar-se humano. Sociabilizar-se é adquirir condições para viver em sociedade.

A maioria dos cientistas continua acreditando que os primeiros hominídeos saíram da África há aproximadamente um milhão de anos. Mas outra corrente de pesquisadores, a exemplo da equipe de antropólogos da Universidade de Utah-USA, defende um cruzamento genético, ocorrido há cerca de 40 mil anos, entre a população africana e populações locais, como a européia; que a rápida expansão de uma população de africanos pelo mundo acabou por substituir as outras populações; e que os estudos revelam que o atual genoma humano é originário do retrocitado cruzamento.

Não obstando essas e várias outras considerações controversas, houve época em que animais e homens se protegiam das intempéries e se alimentavam sem distinção; portanto, sobreviviam adaptando-se à Natureza. Porém, dotado de maior capacidade de memorização, não se conformando simplesmente em construir o seu abrigo, como fazem, por exemplo, os pássaros e os insetos, nem em comer somente quando a Natureza lhe oferecia possibilidades, aquele ser (hoje humanizado) passou a criar objetos artificiais, como ferramentas, que vem sendo legitimados por seus pares através do uso comum e aperfeiçoamento.

É a partir da transformação de objetos em produtos que prolonguem e facilitem a sua vida que o homem se distingue dos outros animais e pode ser considerado ser humano. Eis a chave da humanização.

Mas quem vai considerá-lo ser humano senão seus iguais? O divisor de águas, nesta perspectiva, é a produção, o esforço para melhorar a qualidade da sua própria vida; à medida que o faz, o homem contribui para melhorar a vida dos demais integrantes da comunidade em que está inserido, pois o seu trabalho resulta em objetos ou serviços por eles utilizados.

"O primeiro pressuposto de toda história humana é, naturalmente, a existência de indivíduos humanos vivos. O primeiro ato histórico destes indivíduos, pelo qual se distinguem dos animais, não é o fato de pensar, mas o de produzir seus meios de vida" (MARX, 1986, p. 22 – in O Trabalho Humano, p.5).

A eficácia da produção individual depende da perseverança na prática do ofício e da sua requalificação, atingindo a legitimação do indivíduo perante a sociedade para a qual ele serve; ao contrário, ele mesmo seu afasta ou se reduz. Desta forma, o homem considera ou desconsidera o seu semelhante como seu igual. Essa relação interpessoal produzida no entorno do trabalho, seja no seu ambiente ou fora dele, seja por causa dos seus produtos ou serviços, representa a própria sociabilidade. Em outras palavras, o ser social é aquele que adapta a Natureza aos seus meios de vida em sociedade.

Observa-se, então, que a efetivação tanto da humanização como da sociabilidade é diretamente proporcional ao esforço de cada elemento no sentido de servir e ser servido coletivamente. Logo, o homem não nasce homem; mas aprende a ser humano, vivendo numa sociedade produtora de bens e serviços, permanecendo como tal a partir da produção da sua própria sobrevivência, ou seja, do seu trabalho, destacando-se como autoridade de um ofício ou excluindo-se por ineficácia.

Referências Bibliográficas

QUINTANEIRO, Tânia, ORG. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2. ed. rev. amp. – Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.