A proposta de discutir a temática "Ética" como conteúdo escolar foi muito conveniente e despertou em mim um grande interesse, principalmente pelo envolvimento que tenho com o tema, decorrente do contexto na qual estou inserida.
Debater um assunto tão importante diante de uma nova realidade no ambiente escolar: a indisciplina dos alunos e o aumento da violência entre os diferentes agentes educativos e, ao mesmo tempo, fazer parte de toda essa situação como professora das séries iniciais do ensino fundamental dará a oportunidade de refletir sobre a minha própria prática educativa e se necessário, modificá-la, transformando essas reflexões em ações na sala de aula junto aos estudantes.
No entanto, antes de tratar as questões pedagógicas e o currículo oculto que envolve essa discussão, vale destacar que, nos dias atuais muito tem se falado sobre democracia, direitos humanos, multiculturalismo, valorização das diversas culturas, porém, é possível perceber que as relações interpessoais estão cada vez mais violentas, a falta de respeito, o individualismo e o consumismo exacerbado, muitas vezes influenciado pela mídia, são outros aspectos que crescem rapidamente e não estão alheias à escola.
Além disso, a organização escolar ainda sofre um impasse na relação entre os membros educativos e a família no que se refere à responsabilidade da educação das crianças, de modo que uma empurra para a outra a culpa sobre os mais diversos acontecimentos. Os pais acusam os educadores de não impor a autoridade, por outro lado, os professores responsabilizam os pais por não estabelecerem limites aos educandos.
Todavia, sabemos que as duas instituições têm grande importância nessa questão. É impossível pensar que a família é a única instituição capaz de educar moralmente as novas gerações e, igualmente sabemos que o ambiente escolar é um local privilegiado e rico para que esses valores sejam apreendidos e aplicados, uma vez que ao se trabalhar a qualidade do convívio social entre as diferentes pessoas, as relações de diálogo e a solidariedade passam a ser valorizadas.
Nessa perspectiva, compreendemos o valor que a escola desempenha no desenvolvimento da moral e da ética das crianças. Mas, afinal, o que é ética?
De acordo com Souza (2009) ética são os princípios morais e os valores que norteiam os seres humanos nas suas ações com outros membros da coletividade. Trata-se de um tipo de saber que orienta os caminhos a serem percorridos pelos indivíduos, para uma melhor convivência no cotidiano e na sociedade.
Diante dessa realidade, surge outra dúvida: como abordar esse tema na instituição escolar?
Segundo o Parâmetro Nacional Curricular (1998, p.61):

"trazer a ética para o espaço escolar significa enfrentar o desafio de instalar, no processo de ensino e aprendizagem que se realiza em cada uma das áreas de conhecimento, uma constante atitude crítica, de reconhecimento dos limites e possibilidades dos sujeitos e das circunstâncias, de problematização das ações e relações e dos valores e regras que os norteiam".


A ética deve estar presente nas ações vivenciadas cotidianamente dentro da escola, pois, acima de tudo, os valores devem ser praticados pelos educadores e demais profissionais da educação e não somente verbalizados por eles: para que os alunos entendam e coloquem em prática o senso de justiça é necessário que se sintam tratados com justiça. Afinal, os agentes educativos e, em especial, o professor são os mediadores desse processo e de nada adianta pregar algo e agir de forma contrária àquilo que foi falado.
Assim, garantir uma educação que contribua para o desenvolvimento moral dos estudantes exige dos educadores uma postura de atuação com responsabilidade, de forma que diferentes temas como, por exemplo, a pluralidade cultural mereça ser discutido de maneira criteriosa e em coerência com conceitos de honestidade, solidariedade e dignidade, promovendo a legitimação de valores humanos e normas morais.
A instituição escolar é capaz de oferecer aos alunos as chaves significativas para um debate aberto e racional que propicie ações de autonomia sobre os aspectos da vida econômica, política ou social. As condições para que isso aconteça podem ser efetivadas através de atividades de cooperação, num ambiente em que prevaleça o diálogo, o respeito aos diferentes modos de expressão cultural, da apreensão e introdução de hábitos, atitudes e valores que visem o exercício da cidadania.
Logo, conhecendo a responsabilidade que a educação desempenha na formação de indivíduos éticos, autônomos e críticos, cabe aos educadores inserir nas práticas educativas momentos em que os alunos possam refletir, questionar, debater as ideias, trocar as informações, em condições em que todos participem, ouvem, são ouvidos e respeitados por pensar diferente.
Concordando com Delors (2000)

"A educação deve fornecer aos alunos forças e referências intelectuais que permite a eles compreender o mundo que os rodeia e comportar-se nele como atores responsáveis e justos" (p.100).