ARTIGO:
A importância do spinoff acadêmico e do programa PII dentro do processo de uma ENBT.


José Oscar da Silva
Mestrando em Engenharia de Produção
Ipatinga, 31 de janeiro de 2011

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Introdução.
O Programa de Incentivo à Inovação tecnológica ? PII - é um programa da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais em parceria com o SEBRAE-MG, que tem como objetivo fomentar a pesquisa e o desenvolvimento inovador no estado. Criado pela lei 11.196/2005, este programa visa transformar o conhecimento gerado nas universidades em produtos ou processos benéficos à sociedade, contribuindo com a geração de emprego e renda no estado.
No entanto, é notório saber que o incentivo tem que ser direcionado aos três principais setores responsáveis pelo desenvolvimento tecnológico de um país: em primeiro lugar, investir no desenvolvimento e formação do pesquisador durante a sua trajetória acadêmica, de forma a despertar e robustecer sua capacitação para a pesquisa; em segundo lugar, investir nas pesquisas proporcionando ao pesquisador a possibilidade de transformar sua descoberta em produto; e em terceiro lugar, investir nas instituições de pesquisas, seja elas públicas ou privadas, instituições de ensino ou puramente de pesquisa.
Os Spinoffs surgem então como uma opção à propagação dessa inovação, no sentido de transformar pesquisas em produtos e ou processos. Outra realidade atrelada ao surgimento dos Spinoffs são as Empresas Nascentes de Base Tecnológicas (ENBTs) que, uma vez suportada por toda essa rede de desenvolvimento (instituição público-privada, instituição de pesquisa e pesquisador) proporcionará o nascimento futuro de grandes empresas que darão sustentabilidade às novas tecnologias e a outras que surgirão durante a evolução desta.
Como forma de sustentar todo o embasamento teórico aqui reunido, foi realizada uma visita a uma empresa pós incubada, originada a partir de uma spinoff universitária, que após três anos de sua criação, é hoje uma micro-empresa estabelecida e sólida. Foi visitado também uma incubadora de empresas e um parque tecnológico, todos na cidade de Viçosa ? Minas Gerais, o que facilitou e confirmou todo o estudo realizado e todo o embasamento teórico visto.
Neste trabalho será abordada a contextualização teórica a respeito dos diversos temas que envolvem este assunto, procurando efetuar uma análise crítica comparando a base conceitual e teórica com o que prevê e vem sendo executado pelo Programa PII. Pretende-se também identificar as possíveis lacunas existentes no programa, propondo possíveis alternativas de solução e ou melhoramentos, de forma a robustecer não só o programa, mas todo o projeto de inovação, que vai desde a formação acadêmica, o surgimento das spinoff?s, até o desenvolvimento e abertura de grandes empresas.

Desenvolvimento
O inicio da atividade acadêmica é marcado na vida de um estudante de graduação como sendo o marco transitório entre a sua adolescência e sua maturidade. Isto porque este momento é sinalizado pela alteração de comportamento entre adquirir conhecimento e transformar esse conhecimento em ações que visam proporcionar o surgimento de resultados de seu conhecimento, que aqui vamos chamar de produto.
Durante a formação acadêmica de um profissional, vários se despontam como sendo desbravadores de novos rumos, grandes pesquisadores, que aparelhados a novas oportunidades dão surgimento a novos produtos/processos utilizando como plataforma de conhecimento as pesquisas teóricas embasadas em biografias robustas e às oportunidades surgidas dentro da instituição de ensino.
A atividade acadêmica constante e o ambiente inovador dentro da universidade, atrelada ao despertar do interesse pela pesquisa, transforma o simples aluno graduando em um pesquisador nato que irá transformar seu conhecimento adquirido em possíveis e ou futuros produtos, oriundos dessa base tecnológica.
Diante do exposto e em virtude do próprio ambiente acadêmico, torna-se necessário que as entidades fomentadoras de conhecimento, proporcionem oportunidades e condições para que tudo isto se torne realidade. Uma destas formas é promover o incentivo ao empreendedorismo, a criação de micros e pequenas empresas para exploração de suas pesquisas, a proteção e patenteamento de seus inventos, dentre outras. Dai surgem as spinoff?s como sendo a melhor oportunidade para transformar o objeto de pesquisa do pesquisador em produto.
A criação, implantação e manutenção dessas spinoff?s passam por diversas etapas as quais são alicerçadas por teorias, estudos estatísticos e cases de situações reais ocorridas ao redor do mundo como, por exemplo, no Vale do Silício nos EUA, no Silicon Wadi em Israel, dentre outros.
Casos bem sucedidos como os já citados e os diversos trabalhos produzidos e publicados por autores renomados ao redor do mundo, suportam essa atividade e fazem dela uma das mais bem sucedidas formas de transformar pesquisas em produtos. Com a criação das ENBT?s, das incubadoras de empresas, dos programas de incentivo à pesquisa como o programa PII e demais programas que vêm sendo implementado, o processo de criação, desenvolvimento e maturação de uma spinoff, tem obtido enormes chances de sobrevivência, aumentando a cada dia mais o número de empresas criadas e em contra partida, reduzindo a mortalidade precoce das empresas nascentes de base tecnológicas.

Transformando conhecimento em produto.
O despertar pelo interesse na pesquisa transforma o estudante num potencial pesquisador, que busca transformar o conhecimento adquirido em suas pesquisas, em novas tecnologias que venham contribuir para com o desenvolvimento e a criação de novos produtos, de forma a atender aos anseios da sociedade.
Neste contexto, a universidade aparece como fomentadora desta atividade de pesquisa, fornecendo recursos físicos e tecnológicos, de forma a proporcionar ao estudante a possibilidade de desenvolver seu potencial de pesquisador. Segundo Shane (2004), "uma das funções da universidade é justamente dar suporte a seus alunos, através de pesquisas e do ensino despendido, de forma que os mesmos possam aplicar seus conhecimentos na criação de novos produtos e ou serviços". Esta situação promove o surgimento de pesquisas tecnológicas acadêmicas, resultando em invenções que podem contribuir na formação e nascimento de novas empresas.
Visando o desenvolvimento e comercialização dos produtos ou tecnologias oriundas das pesquisas desenvolvidas por estudantes de uma entidade universitária, surgem então as spinoff?s acadêmicas, que segundo Shane (2004) "são atividades que proporcionam o desenvolvimento e comercialização de produtos ou tecnologia desenvolvida por estudantes/discentes de uma entidade universitária" ou "uma nova empresa criada para explorar uma parte da propriedade intelectual criada na instituição acadêmica". Já Roberts (1991), descreve uma spinoff como sendo "empresas fundadas por quem estudou ou trabalhou em uma universidade". Essa divergência de definição existente entre os autores é explicada, no livro de Shane (2004), pela forma como foi concebida a pesquisa que resultou nesta definição. Como forma de embasamento teórico neste trabalho, consideraremos a definição dada por Shane como a mais correta para o termo spinoff.

A importância dos spinoff?s acadêmicos para a instituição e para o pesquisador.
Segundo Shane (2004), os spinoff?s universitários são de suma importância para os diversos setores da sociedade. Ele argumenta que Spinoff?s encorajam e promovem o desenvolvimento da economia gerando valor econômico para a região, criando mais empregos, e principalmente investindo em tecnologias universitárias e em sua comercialização, pois os spinoff?s universitários são as melhores formas de se trabalhar com tecnologias incertas
Além do exposto, Shane (2004) também credita a importância da criação de spinoff?s ao retorno financeiro alcançado pelas instituições de ensino e pesquisa, ao alto desempenho alcançado, e a sua eficácia na geração de rendas para as universidades licenciadas se estabelecerem como empresas, porque o spinoff permite às universidades obterem capital de licenciamento, que tenham lucro com licenças e comercialização de tecnologias.
O desenvolvimento de novas tecnologias e de spinoff?s universitários, por si só não teriam o destaque e importância que tem se não estivessem atrelados à divulgação e comercialização dessas tecnologias. Para tanto, alguns pesquisadores sugerem que, as universidades devam incrementar suas atividades de marketing e networking afim de que as comunidades de investidores possam estar a par do que acontece dentro da universidade, proporcionando assim um aumento, tanto na taxa de comercialização da tecnologia quanto de criação de spinoff?s universitários. Por exemplo, Golub (2003) descobriu que a New York University incrementou sua taxa de formação de spinoff depois que seus agentes de licenciamento tecnológico começaram a participar desta rede de investidores.
Shene (2004) cita em seu livro que pesquisadores identificaram diversas outras características de universidades que influenciaram na taxa de formação de spinoff através de universidades. Ele cita como características a cultura universitária, a presença de empresários modelos, instituições intelectuais com qualidade acadêmica e de prestígio, a origem e a natureza do financiamento como, por exemplo, de empresas privadas.
De acordo com Zack (2000), em 1998, as invenções universitárias contribuíram para cerca de 280.000 empregos e geraram uma estimativa de US$ 33,5 bilhões na atividade econômica.
Outra influencia para a criação de spinoff?s universitários é a localização da instituição acadêmica. Segundo DiGregorio e Shane, a localização geográfica de uma instituição acadêmica influencia nas atividades spinoff porque algumas economias, jurídica e de envolvimento cultural são mais favoráveis que outros. Shane (2004) justifica essa afirmação baseado em alguns fatores primordiais tais como: a facilidade de acesso ao capital, de quem será os direitos de propriedade intelectual, a rigidez do mercado de trabalho acadêmico baseado na habilidade do acadêmico em se mover entre a universidade e o setor privado e da composição da área industrial onde a universidade está localizada.
Para que uma nova tecnologia seja de expressão ela necessita ser uma invenção realmente nova, inusitada, diferenciada de algo já existente. Lita Nelsen, diretora do MIT Technology Licensing Office explica que, "invenção é um processo que melhora a forma atual de fazer as coisas que não funcionam bem a partir de uma empresa". Você precisa mais do que uma emenda em um processo existente. Você precisa de um processo fundamentalmente novo.
O envolvimento do inventor, detentor do conhecimento, na comercialização da tecnologia e na criação de spinoff´s acadêmicos, também é de suma importância para o processo. Isto porque, uma vez o conhecimento detido na mente do inventor, o seu envolvimento no desenvolvimento da nova tecnologia proporciona facilidades e credibilidade para tal.

A atividade empreendedora do inventor
Normalmente, um pesquisador não possui características empreendedoras, até porque o seu foco é a pesquisa e não o negocio provindo dela. No entanto, a necessidade de investimento e apoio em pesquisas e a própria dificuldade disto acontecer, tem modificado esta característica peculiar do pesquisador.
Para Roberts (1991), várias são as características que influenciam a formação do empreendedor tecnológico. Dentre elas as principais são: uma boa base familiar herdado da família a "herança empreendedora"; a educação quando se tem a mesma formação que seus colegas de pesquisa e idade com média de 30 anos quando da fundação da empresa; experiência profissional adquirida no convívio com outros pesquisadores e principalmente enquanto líder destes e meta, personalidade e motivação de ter seu próprio negócio obtendo com isso a sua independência.
A transformação da idéia em um possível produto traz à tona a necessidade de se explorar essa idéia e automaticamente de se "industrializar o produto". Para tanto se torna eminente a necessidade de associação do pesquisador com pessoas ou entidades para que isto se torne realidade. Segundo Shane (2004) existem três grupos de pessoas que fazem parte do processo de criação de empresas spinoff?s: os inventores da tecnologia, os empresários interessados em comercializarem essas tecnologias e os investidores.
Para Roberts (1991) é difícil encontrar uma explicação geral sobre o motivo que leva alguns empreendedores a pensarem em uma idéia de negócio e imediatamente abrirem suas empresas, enquanto outros podem levar mais de dez anos para fazê-lo. Um estudo realizado com as spinoffs do MIT revelou que a atratividade de iniciar um novo negócio tem como primeira e segunda característica "ser o seu próprio chefe". Isto porque grande parte dos pesquisadores, quando enxergam a possibilidade de serem empreendedores de seu próprio negocio, o vêm como sendo uma chance de não serem empregados no futuro.
Tanto Shane como Roberts comungam de uma mesma afirmação, pois ambos concordam que os desejos de um empreendedor tecnológico passam, entre outras coisas, pelo desejo de independência, de ser seu próprio chefe. Robert?s (1991) afirma que "as metas procuradas pelo empreendedor tecnológico incluem o desejo de independência, de ser seu próprio chefe e o desafio de fazer alguma coisa que outras pessoas não podem fazer. Estas características de longe parecem ser mais proeminentes do que a procura por uma alta renda ou riqueza". Segundo Shane (2004), inventores freqüentemente iniciam empresas porque eles acreditam que estabelecendo uma spinoff torna-se uma maneira efetiva de colocar suas novas tecnologias em prática, e pelo desejo de ficarem ricos e independentes. Isto só vem a confirmar que, uma vez empreendedor, o pesquisador também procura ser independente e principalmente explorador de sua própria tecnologia. Confirma também que o pesquisador não está em busca de realização financeira, mas trata-se de uma satisfação pessoal que é a de ver o fruto de sua pesquisa se perpetuar em forma de produto.
Uma das principais instituições americanas, dedicada ao incentivo e à difusão do empreendedorismo, publicou recentemente um estudo sobre a relação entre a educação e o empreendedorismo tecnológico nos EUA (Wadhwa et al., 2008). A pesquisa analisou empresas de base tecnológica que iniciaram suas atividades no período de 1995 e 2005, todas gerenciadas por pessoas nascidas nos EUA. Esta pesquisa resultou em informações importantes no que tange ao empreendedorismo tecnológico das empresas nascentes pesquisadas. Podemos destacar como sendo os principais: a grande maioria dos empreendedores tinha formação universitária completa; a idade média do empreendedor era de 39 anos; e empreendedores com formação complementar demoram em média 13 anos para fundarem um negócio de base tecnológica, seguidos pelos graduados ("bacharéis") que fundam em 15 anos, os com títulos de mestre esperando em média 17 anos e os doutores, que fundam suas empresas depois de 21 anos da sua titulação.
Com base nos dados acima (retirados do livro "Transferência de Tecnologia: estratégias para a estruturação e gestão de Núcleos de Inovação Tecnológica - Unicamp"), podemos observar que a maioria dos pesquisados têm formação em MBA e iniciam suas atividades empreendedoras antes dos 40 anos, normalmente com formação em áreas exatas, sendo que em média demoram 14 anos para iniciarem seu próprio negocio.
O financiamento para a atividade empreendedora de novas tecnologias oriundas de um spinoff acadêmico depende de ações específicas dos empreendedores e dos investidores. Em muitos casos, os empreendedores procuram capital externo para financiar seus projetos, envolvendo anjos de negócios, capital de risco e agencias governamentais. Isto porque o pesquisador normalmente não possui recursos próprios suficientes para bancar um projeto de grande porte. Porém essa necessidade de se associar a apoio externo à universidade pode produzir conseqüências. Para Shane (2004) essa busca por capital externo provoca influencia de dois fatores no processo: primeiro a incerteza se a nova tecnologia poderá ou não ser comercializada ou transformada em produto ou serviço, e em segundo a assimetria de informação devido ao fato da tecnologia estar em poder do inventor e não do inventor/empresa.
O setor privado geralmente prefere investir em empresas spinoff?s que têm alcançado grandes estágios de desenvolvimento e que teoricamente lhes darão maior garantia de retorno, como por exemplo, as da área de biotecnologia, onde o consumidor tem uma necessidade mais imediata do produto e proporcionalmente o consumo é menos incerto. Ou seja, dificilmente se encontrará alguém que investirá em uma tecnologia que não proporcionará retorno ao investidor. Por isso, a maior fonte das receitas para atividades spinoff?s ainda continuam sendo do setor público.
Após a criação da spinoff, a empresa automaticamente necessitará de infra-estrutura e apoio gerencial para que possa se desenvolver, em conjunto com sua pesquisa. A incubadora de empresas surge então como alternativa exemplar para este suporte, já que faz parte de sua missão o apoio técnico e estrutural a empresas nascentes de base tecnológica. .

As incubadoras de empresas e as ENBT?s
O número de incubadoras de empresas têm tido um aumento significativo na última década, não só no Brasil como nos países em desenvolvimento. Isto se explica pelo fato da necessidade desses países em utilizarem da inovação tecnológica como passaporte para o desenvolvimento e crescimento destes. Segundo dados da ANPROTEC ? Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores ?, a partir do ano 2000 o movimento de incubação cresceu mais de 300% e cerca de 70% dos negócios gerados pelas empresas incubadas são de base tecnológica. O número de incubadoras no Brasil aumentou de 135 (em 2000) para 400 (em 2007) (dados colhidos no site da AMPROTEC referentes a informações de 2008). Empresas que buscam a inovação requerem empenhos e cuidados específicos, pois envolvem riscos e imprevisibilidades no que tange ao desenvolvimento de produtos e de negócios. Produtos de base tecnológica são mais complexos, pois exigem longos prazos de desenvolvimento, grandes volumes financeiros e têm ciclos de vida muito curtos em relação a produtos industriais tradicionais. Isto pode ser compreendido como sendo um dos principais motivos para a mortalidade prematura das ENBT?s.

Figura 1. Processo de desenvolvimento do produto de base tecnológica.
Fonte: StratPlan, 2007.

Outro item que faz parte desta estatística é a falta de preparo e experiência do gestor da ENBT na área de gestão de negócios. Nesse contexto, os principais requisitos para a gestão do negócio ? como conhecimento, empreendedorismo, gestão, capital financeiro e network ? podem ser insuficientes ou inadequados para a natureza do empreendimento.
Para que uma invenção possa se transformar em inovação sendo um produto rentável e sustentável, além de o gestor agir estrategicamente, efetuando abordagens de mercados diferenciadas, ele deve também estar preparado (no momento certo) para buscar novos clientes; identificar investidores que acreditem em seu trabalho; realizar parcerias para o desenvolvimento do seu produto em escala; e investir em propaganda/mídia para tornar sua marca e empresa conhecidas (Santos, et al, 2009).
Neste contexto, surge então a necessidade das incubadoras de empresas, que funcionam como suporte às ENBT?s, atuarem além do suporte físico (infraestrutura, serviços de recepção e secretaria, salas de reunião, Internet, telefone etc), também na capacitação dos gestores para os desafios do mercado. Áreas como clientes, concorrentes, fornecedores, aspectos legais (leis), fluxo de caixa, planejamento estratégico e operacional, são de extrema importância de conhecimento para o gestor, visto que normalmente os mesmos não possuem formação em áreas administrativas. "É altamente recomendável que o gestor de uma inbubadora possua formação em gestão empresarial". O bom desempenho da incubadora, em geral, resulta de uma preparação cuidadosa de seus gestores, dos recursos financeiros adequados, cultura/ambiente competentes, tudo funcionando em tempo e local adequados.
O objetivo central de uma empresa que procura uma incubadora de base tecnológica deve ser transformar um resultado de sua pesquisa em produto para o mercado, isto é, transformar em negócio. Nesse sentido, o gerente da incubadora deve promover atividades que estimulem este empreendedor a seguir em frente, e combater ideias como a do "eterno bolsista". Dinheiro de fomento é para resolver parte do processo do desenvolvimento do produto e não para "sustentar eternamente" a ENBT. A empresa nascente de base tecnológica que não se preocupar com sua efetivação no mercado está fadada ao insucesso, pois tais recursos são limitados e, uma hora, acabam. (Santos, et al, 2009).
O tipo de serviço oferecido às empresas nascentes, pela incubadora, influencia diretamente no sucesso desta. Quanto maior for o valor agregado à incubada, a carga e qualidade de treinamento, informação e serviços de networking, maior será a probabilidade de sucesso desta empresa.
Segundo os autores do livro "Transferência de Tecnologia: estratégias para a estruturação e gestão de Núcleos de Inovação Tecnológica - Unicamp" dentre os principais objetivos de uma incubadora de base tecnológica sem fins lucrativos, pode-se destacar: reduzir a taxa de mortalidade de empresas nascentes; reforçar a competitividade; promover novos potenciais de desenvolvimento; promover áreas estratégicas para o desenvolvimento do país; permitir a diversificação tecnológica; estimular a criação de empresas inovadoras; promover o desenvolvimento de soluções em parcerias e aumentar o empreendedorismo.

O programa PII
O Programa de Incentivo à Inovação tecnológica - PII, é um programa da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais ? SECTES, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais - SEBRAE-MG como apoio da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa ? FUNDEP, que tem como objetivo fomentar a pesquisa e o desenvolvimento inovador no estado. Este programa, criado pela lei 11.196/2005, visa converter o conhecimento gerado nas universidades em produtos ou processos benéficos à sociedade, promover a cultura da inovação, transformando o conhecimento em desenvolvimento, ampliando a rede de relacionamento das instituições de pesquisa com a sociedade e o mercado contribuindo com a geração de emprego e renda no estado. Espera-se com isto tornar viável a transferência da tecnologia acadêmica para empresas existentes ou possibilitar a criação de novas empresas de base tecnológica, fomentando o crescimento de parques tecnológicos e incubadoras
Reconhecendo que inovação é a transformação do conhecimento em novos produtos e serviços, podemos dizer que inovação tecnológica é requisito importante para o desenvolvimento econômico, portanto não há inovação sem investimento em P&D. Segundo a ANPEI, a lei considera inovação tecnológica como sendo a concepção de um novo produto ou processo de fabricação, a agregação de novas funcionalidades ou características ao produto ou processo que implique melhorias e efetivo ganho de qualidade ou produtividade, resultando maior competitividade no mercado.

O modelo de incubadora de empresas da UFV
Surgida em 1993, em parceria com a Fundação Arthur Bernardes (FUNARBE), a incubadora de empresas da UFV tem como objetivo coordenar ações empreendedoras, visando o desenvolvimento da região, estimulando a criação e desenvolvimento de empresas que ofereçam produtos e serviços tecnologicamente inovadores oriundos da comunidade acadêmica, preservando a qualidade de vida local.
Filiada à Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), é administrada pelo Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa - CENTEV e possui atualmente mais de dez instituições parceiras, como bancos, entidades de classe, instituições de pesquisa e fomento científico e órgãos governamentais.
Em seu curto tempo de existência, a incubadora já foi agraciada com diversos prêmios, entre eles o de Núcleo de Referência na área Estratégica de Agropolos e Parque Agroindustrial e de melhor programa de incubação regional e nacional. Em 2008 foi lançado o primeiro Programa de Incentivo à Inovação (PII) na incubadora, em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais (Sectes) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE-MG).
Uma das características dos projetos da incubadora da UFV é que a maioria tem a participação de professores, 70% dos projetos originam de alunos ou ex-alunos que acabaram de concluir a graduação ou pós-graduação, 98% deles ainda continuam em pleno funcionamento após saírem da incubadora e tanto funcionários quanto alunos podem utilizar a infra-estrutura da universidade para desenvolver atividades particulares que buscam algum tipo de inovação ou que venha a se tornar um spinoff universitário. Anteriormente, a maioria das empresas incubadas era de prestação de serviços e de estudantes da UFV, hoje esta situação é inversa, pois a maioria é de empresas de novos produtos com uma mesclagem entre estudantes, professores e cidadãos comuns da comunidade (dados do CENTEV/UFV).
Outra característica desta incubadora são os programas desenvolvidos no sentido de capacitar e aprimorar as empresas incubadas a se fortalecerem perante o mercado. Um desses programas é o Programa de Capacitação Empresarial - PCE que tem duração de 170 horas, onde são abordados assuntos de gestão, marketing, estudo de viabilidade, gestão de qualidade, capitação de recursos, plano de negócios que tem como modelo a plataforma de produtos e inovação tecnológica, dentre outros. Alguns eventos também são desenvolvidos pela incubadora, como por exemplo, o seminário Gestão socioambiental, o Seminário de Prospecção de Novos Negócios, Seminário sobre Empreendedorismo, Inovação e Desenvolvimento e o mais novo o Inovar.
O diferencial das empresas que saem da incubadora da UFV é a firmeza e determinação em gerar uma nova empresa de base tecnológica, a capacidade de planejamento das diversas interfaces existentes e a gestão do negocio como um todo nos relatou o economista e gerente de novos negócios da incubadora durante a entrevista.
Os programas da incubadora.
O programa de pré-incubação é voltado para empreendedores que possuem uma idéia de produto ou serviço inovador, mas que precisam de suporte e orientação para transformá-la em um negócio. O objetivo é estimular a criação de empresas de base tecnológica, oferecendo apoio para o desenvolvimento da inovação e para a capacitação gerencial dos empreendedores. O programa tem duração de seis meses e contempla a primeira parte do programa de incubação como um todo.
Ele conta hoje com 10 projetos pré incubados pois não existe um número fixo de empresas, este número depende da procura e da qualidade do projeto. A infra-estrutura é adaptada ao número de empresas existente. Este procedimento também é válido as outras fases da incubação. Hoje as empresas incubadas são: ENCAMP - Energia Renovável para o Campo; GAIAS - Sistemas de Informação, Magnético Ambiental Ltda; Otimização de coleta e rastreabilidade do leite; Rede Assessoria; RT Sports - Assessoria e Eventos; Sacra Mix - Manejo de Insetos Xilófagos; Trivium - Tecnologia e Inovação e Viçosa Natural LAB.
Já o programa de incubação visa o fortalecimento de novas empresas, com ênfase na estruturação do negócio e na formação do empreendedor. Tem duração de três anos nos quais é oferecido suporte técnico, administrativo, comercial e jurídico às empresas vinculadas. Durante o programa, também são estimuladas as parcerias com alunos e pesquisadores da UFV e de outras instituições, visando o aprimoramento da tecnologia da empresa.
Existem hoje dez empresas incubadas sendo elas: A7 Arquitetura, B&G Flores - Fertilizantes e Nutrição Vegetal, Esporte Sistemas, Fitoclone, Florais da Mata Atlântica, H3M Soluções Ambientais, Mídia Publicidade e Jornalismo, Profitus
No programa de pós-incubação, conhecido na incubadora como programa de empresas graduadas, são empresas que, apesar de já terem passado pelo período de incubação e de não terem mais acessos aos benefícios deste programa, ainda continuam recebendo apoio da incubadora, que funciona com uma base de suporte até que a empresas se tornem completamente independentes.
Existem hoje algumas empresas que recebem este suporte, como por exemplo, a AgroGenética, AQUAPLANTA, Arve Alimentos, AVplan - Engenharia de Meio Ambiente, Cientec ? Tecnologia da Informação para o Agronegócio e Recursos Naturais, CONTEXTO - Assessoria Educacional, COPAGRI - Assessoria e Consultoria, DAP Engenharia Florestal, DENDRUS - Soluções em Engenharia - Projetos Florestais e Ambientais Ltda, STUDIUM - Comunicação Integrada, LABGENE/AGROGENÉTICA e a INTEC que é uma empresa que surgiu a partir da união de um grupo de empresas ex-incubadas que hoje faturam em média R$600.000,00 por ano.
Programa Inovar
O INOVAR é um seminário sobre empreendedorismo, inovação e desenvolvimento, patrocinado e desenvolvido pela incubadora que tem como foco a participação de toda a Zona da Mata Mineira, discutindo ações de Empreendedorismo e idéias inovadoras, bem como, aplicabilidade, viabilidade e sustentabilidade dessas idéias. Participam dessa discussão importantes personalidades do setor e principalmente as empresas que fazem parte da incubadora. Este programa visa dar oportunidades aos novos empreendedores e aos já existentes no mercado a se difundirem e mostrar suas inovações à sociedade empresarial, e ao mesmo tempo se atualizarem a respeito de temas que estão em foco no momento de forma a poderem aprimorar seus produtos e ou inovações. Ele acontece uma vez por ano, sendo que sua primeira edição foi no ano de 2010.

Parque tecnológico de Viçosa
O Parque Tecnológico de Viçosa - PqTV é uma iniciativa do CENTEV/UFV, em parceria com a Prefeitura Municipal e o Governo do Estado de Minas Gerais, através da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SECTES). O parque compreende uma área de 214 hectares e mais de seis mil metros quadrados de edificações sendo salas para a administração do Parque Tecnológico e do CENTEV, auditório com aproximadamente 225 lugares, área de convivência, restaurantes, cafés e pequenos serviços, área para incubadora de empresas, e área de 1.334 m² para abrigar os projetos sociais do Núcleo de Desenvolvimento Social e Educacional - NUDESE.
Os principais objetivos do parque são induzir o desenvolvimento local e regional, através da atração e fixação de novos empreendimentos de base tecnológica; criar condições físicas e institucionais que facilitem e promovam a transferência de informações, experiências e conhecimentos, gerados na UFV, para o setor produtivo, aproximando, assim, a universidade à empresa através da geração contínua de spin-offs; desmistificar o saber científico; aumentar a consciência da população a respeito da importância de se preservar o meio ambiente e oferecer condições para o desenvolvimento de atividades relacionadas com o empreendedorismo social, em paralelo com as atividades empresariais.


Uma empresa originada a partir de um spinoff acadêmico: um case de sucesso
A DAP Engenharia Florestal Ltda é uma das empresas que já passaram pelo programa de incubação da UFV e que hoje andam com seus próprios pés. Ela está incluída entres as empresas que fazem parte do programa de empresas graduadas da UFV e tem nesse programa uma das principais bases do seu programa de sucesso. Como dito por seus sócios proprietários "a possibilidade de estar inserida na Incubadora nos aproxima de parceiros em potencial e proporciona um contato direto com de Instituições Científicas e Tecnológicas".
Segundo seus sócios, a principal missão da empresa é "desenvolver para o setor florestal, soluções inovadoras de suporte à tomada de decisão otimizando os recursos humanos, financeiros e naturais". Para tanto eles possuem uma visão bastante avançada e desafiadora que é ser referência em manejo florestal no Brasil e no Mundo, aliando a Tecnologia da Informação ao Conhecimento Técnico Especializado em Engenharia Florestal e oferecendo aos gestores do setor, ferramentas eficientes e eficazes de planejamento, controle e tomada de decisão.
Produtos e Serviços
Atualmente a empresa presta consultoria na grande área denominada manejo florestal, mais especificamente nas sub-área de dendrometria, inventário, mensuração, planejamento e acompanhamento. O mercado de prestação de serviço nessa área atém-se na parte de coleta de dados, processamento e análise de dados de inventário. Dentro desse contexto a empresa percebeu que existe um gargalo na prestação de serviço do setor no que se refere às ferramentas de tecnologia de informação para geração de informações qualitativas e quantitativas para manejo de florestas, identificando ai uma oportunidade e um nicho de mercado ainda não explorado.
Em visita realizada na empresa, em dezembro de 2010, pudemos conversar com um dos sócios proprietários, o qual nos fez um breve relato da empresa, e também de como surgiu a idéia e toda a história bem sucedida da spinoff.
A empresa surgiu em 2007, ainda como pessoa física em nome dos dois sócios, somente em 2010 foi que se transformou em pessoa jurídica com o nome DAP Engenharia Florestal Ltda. Apesar de todas as dificuldades para se iniciar e instalar uma pequena empresa, principalmente em se tratando de uma spinoff, os sócios não utilizaram nenhum recurso externo, a empresa foi toda suportada financeiramente por capital próprio dos sócios, que entraram cada um com um montante de quinhentos reais. Conforme foi citado por eles durante a entrevista, a principal estratégia de mercado da empresa desde a sua criação foi primeiro fortalecer a empresa para depois captar recursos nos meios externos.
Segundo um dos sócios, ele fazia o curso técnico em metalurgia por incentivo de seu pai, quando descobriu que este não era o seu foco. Parou o curso técnico e partiu para a área ambiental, aonde mais tarde veio a conhecer aquele que seria seu sócio. Durante o curso de mestrado que fizeram na UFV, onde se especializaram em Ciência Florestal e Engenharia Ambiental, surgiu a idéia e o sonho de serem empreendedores, mas ambos não tinham origem empreendedora, porém obtiveram da família todo o suporte e apoio necessário para iniciarem esse novo negocio. Interessante foi que quando perguntado por que faria mestrado o mesmo foi categórico em responder: eu quero ser empreendedor
Por incentivo de dois professores, focaram seus estudos em manejo florestal, onde trabalharam e desenvolveram um software capaz de gerar e armazenar informações quantitativas e qualitativas a esse respeito. Através destes estudos, identificaram uma oportunidade e um nicho de mercado que poderia ser explorado, o que veio mais tarde a gerar o spinoff universitário.
Sem conhecerem o programa de incubação de empresas nascentes de base tecnológicas, procuram o CENTEV/UFV quando ainda eram mestrandos, a fim de se informarem sobre como funcionava e o que era necessário fazer para participar do programa. Nesta época, com a empresa funcionando como pessoa física, era os próprios sócios que desempenhavam todas as atividades pertinentes ao funcionamento da empresa, o que durou até o período de pré-incubação. Esta característica veio fortalecer as afirmativas de que, normalmente, as ENBT?s no inicio de sua fundação, utilizam apenas o próprio recurso como mão de obra a fim de evitarem gastos.
Uma das características desta empresa, citada por seu sócio, foi que no período de pré incubação e incubação, o que deu sustentabilidade e manteve a empresa em funcionamento foi o intenso network, que praticaram durante o período de graduação/pós graduação e de pesquisas, e os demais serviços que faziam parte do seu portfólio de produtos oferecidos à sociedade.
A empresa hoje cresceu, e apesar de os dois sócios desempenharem funções distintas dentro dela, eles ainda continuam cúmplices quando se trata de uma decisão que afeta toda a estrutura da empresa, ela só é tomada após ser analisada pelos dois em consenso com os demais funcionários que fazem parte da linha de frente da empresa. A empresa conta hoje com cerca de 31 funcionários, tendo uma média anual de 15 funcionários fixos. Segundo seu sócio, apesar de hoje existir uma grande concorrência no mercado, o diferencial da DAP é o zelo com que ela trata o cliente e o processo como um todo, pois a empresa apesar de ter crescido muito, todo o seu processo ainda é administrado e acompanhado em todas as suas fases pelos próprios donos. Isto se deve, segundo eles, ao fato de a empresa ter nascido a partir de uma spinoff, o que os capacitou a enxergar as reais necessidades da sociedade, pesquisando, desenvolvendo e produzindo produtos que atendessem ao cliente.

Conclusão
Nos últimos cem anos o mundo tem passado por diversas transformações: primeira e segunda guerra mundial; a revolução industrial; a era tecnológica (que, diga-se de passagem, continua em constante inovação, porém deixou de ser um diferencial para tornar-se uma necessidade eminente), e a grande transformação do momento que é a era da inovação.
Inovar não significa exclusivamente investir em tecnologia e informação, inovar é desconstruir, emancipar preconceitos, transformar o óbvio em obsoleto e enxergar as oportunidades sob uma nova ótica. Inovar é estar isento para pensar nas oportunidades, buscar novas chances, onde ninguém ousa encontrar. Inovar é pensar novo usando o velho, é buscar algo a mais para o consumidor. As possibilidades são infinitas e cabem em qualquer lugar, do telefone celular hoje é possível comprar de uma flor até um apartamento, basta um clique.
Mas ninguém acorda simplesmente com uma idéia genial, com um invento, com um projeto de inovação. Historicamente temos visto que todos os grandes avanços tecnológicos resultam de um árduo trabalho, de muita dedicação, de anos de pesquisa e principalmente de extrema motivação e dedicação. Porém, nada disso perpetua (sobrevive) sem financiamento, podemos considerar que o investimento é o sangue que sustenta a pesquisa científica. Em se tratando de Brasil, esse investimento vem, em sua maioria, de agências governamentais, pois o financiamento de setores particulares (privado), anjos e venture capital ainda são muito poucos. É preciso, no entanto promover incentivos ainda na base escolar (ensino médio) de forma a desenvolver o sentido de pesquisa no estudante para que quando o mesmo atingir a fase escolar adulta (ensino superior) a cultura de pesquisador já esteja entranhada nele.
O incentivo à geração do conhecimento é um importante motor de produtividade e crescimento, criando um novo enfoque sobre o papel da informação, da tecnologia, da inovação e da aprendizagem no desempenho econômico. Inspirados em Steve Jobs, Steve Wozniak, Larry Page e Sergey Brin, que com um punhado de dólares, muita insistência e determinação, construíram impérios em pouco mais de 15 anos, utilizando como base de apoio, recursos e infra-estrutura própria (iniciaram suas empresas em fundo de quintal e garagens) muitos pesquisadores hoje ainda tentam dar sustentabilidade às suas invenções. No entanto, o surgimento de incubadoras de empresas e de diversos programas de apoio tem dado sustentabilidade ao processo de criação e desenvolvimento de programas de inovação tecnológica, visando à dissipação e obtenção de resultados deste processo. Em toda a base conceitual foi descrita a importância deste tipo de atividade como base para o desenvolvimento de pesquisas oriundas de universidades. No entanto se novas formas de incentivo e apoio às empresas não forem desenvolvidas, o nível de empreendedorismo de empresas nascentes pode não se elevar. È necessário que haja incentivos às empresas já estruturadas para que elas possam suportar economicamente a pequenas empresas surgidas a partir de pesquisas universitárias. Nos últimos tempos, grandes empresas têm realizado parcerias com universidades a fim de alavancarem as pesquisas destas, esta é uma forma que precisa ser difundida, apoiada e incentivada pelo governo.

Projetos de apoio a inovação
Nenhum projeto sobrevive sem apoio financeiro. Na última década, o Brasil avançou a passos largos no que tange ao apoio à inovação. Vários são os programas e incentivos, que nos últimos anos, tem incrementado ações no sentido de alavancar e promover a inovação no Brasil. Programas como o de Apoio à Pesquisa em Empresas (PAPPE) que direciona aporte de recursos para pequenas e médias empresas (suportado pelo Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia (FNDCT), pela Fundação de Apoio a Pesquisa (FAP), pelo SEBRAE e pela Federação das Indústrias), o Programa Primeira Empresa Inovadora (Prime) voltado para empresas inovadoras de até dois anos de existência. Outro programa muito importante que está sendo criado é o ITV ? Instituto Tecnológico Vale, que vai investir cerca R$ 400 milhões nos próximos quatro anos em centros de pesquisa tecnológica de ponta e em pós-graduação, similar ao MIT ? USA, buscando repatriar grandes cérebros ao redor do mundo a fim de que os mesmos possam comandar uma produção nacional de conhecimento e inovação através dos bolsistas que serão selecionados em todo o território nacional. O programa INOVAR, criado para apoiar negócios de menor porte por meio de participação de fundos de investimentos que apostam em empresas de base tecnológica, dentre outros.
Apesar da alta demanda por crédito e de tantos programas existentes, uns criados já há algum tempo e outros mais recentes, um problema ainda continua sendo um entrave à dissipação da inovação no Brasil: nem todas as empresas atendem aos requisitos exigidos pelas agencias de fomento. Ou seja, nem sempre a pesquisa resulta em um novo produto, característica de um processo inovador. Segundo dados do Ministério de Ciência e Tecnologia, o Brasil investe apenas 1,09% do Produto Interno Bruto (PIB) em inovação, enquanto o Japão aplica 3,44% e os Estados Unidos, 2,77%. É necessário, pois que as micros e pequenas empresas adotem a inovação como estratégia do seu negocio, alinhando sua linha de pesquisa à necessidade eminente de produto inovador e às universidades e centros de pesquisas.
Outra importante participação tem sido das incubadoras, parques tecnológicos, núcleos e agencias de inovação regional, e principalmente do SEBRAE, porque ajudam os empreendedores a estruturarem melhor os seus negócios, melhorando a gestão e a formatação de projetos, tornando-os mais consistentes capazes de justificar a liberação de capital para aplicação em inovação. Uma das principais falhas do processo de inovação talvez esteja justamente na falta de orientação para os empreendedores quanto à forma correta de prepararem seus projetos, calculando riscos, simulando valor do investimento e principalmente apontar onde está realmente a inovação no seu produto.

Parques tecnológicos
Uma das principais conseqüências da globalização foi a competitividade entre empresas, o que proporcionou a entrada de novos produtos no Brasil, a custos muitas vezes inferiores aos praticados aqui e com um padrão de qualidade consideravelmente bom. No sentido de competir com estes novos produtos oriundos de tecnologias até então inovadoras para nossos padrões, estão surgindo no Brasil os parques tecnológicos que chegam para combater esta enxurrada de produtos inovadores e a preços mais em conta. A FINEP (financiadora de estudos e projetos) lançou recentemente um edital no valor de R$ 40 milhões voltados ao desenvolvimento e infra-estrutura de parques tecnológicos. Nestes parques, a alta concentração de pesquisadores e de empresas de inovação tecnológica, apoiada por entidades de ensino e pelo poder público, poderá juntas, desenvolver altas tecnologias de valor agregado, que venham intervir na entrada de produtos importados, invertendo o processo de propenso importador de produtos para grande exportador de tecnologia, agregando valor ao produto nacional.
Para Paulo Lemos, coordenador de Empreendedorismo e Pré-incubação de Projetos da Inova Unicamp, uma das soluções para aumentar a inovação nas empresas é nos inspirarmos no modelo americano de inovação, em que 70% das tecnologias são licenciadas para pequenas empresas ou start up's criadas especificamente para absorver a novidade que foi protegida. É notório que as grandes empresas não são mais as maiores receptoras de licenciamento de novas tecnologias, portanto, a criação e desenvolvimento de spinoff?s universitários torna-se o grande trunfo para alavancar o desenvolvimento tecnológico do país. Mas para tanto, algumas alterações têm que ser implementadas no contexto atual de ENBT.

Formação superior
O Brasil forma 12 mil doutores por ano e taxa de empregabilidade é de 75%, mas esses profissionais ainda não estão gerando inovação tecnológica enquanto negócio nas empresas. Isto porque a maior taxa de empregabilidade de mestres e doutores ainda é o meio acadêmico. O lado bom disso é que o Brasil constrói um dos sistemas mais robustos de Educação Superior e de Ciência e Tecnologia (C&T) do mundo, porém não consegue traduzir este conhecimento em produtos, pois enquanto aumenta o nível de mestres e doutores nas universidades, reduz-se o número de pesquisadores nas empresas proporcionando um baixo nível de inovação. Isto se deve ao fato de que a maioria dos pós-graduandos brasileiros ainda dar preferência por carreiras em universidades.
Segundo dados do CNPq, somente 8,4% dos grupos de pesquisa possuem relacionamento com empresas. Além da falta de interesse dos recém-doutores, outras três causas da baixa quantidade de doutores nas empresas brasileiras podem ser citadas: a fraca visão estratégica para pesquisa e desenvolvimento (P&D) dos empresários nacionais, o perfil de formação acadêmica dos doutores e custo elevado para contratação desses profissionais pelas empresas. Pesquisas têm comprovado que grandes investimentos em pesquisas e desenvolvimento por parte das empresas proporcionam retornos superiores aos investimentos. O caso das sandálias havaianas há algum tempo atrás é um exemplo disso, onde a empresa após amargar anos de baixa venda de seu produto, refez seu portfólio investindo em novas pesquisas e inovando seus produtos, estando hoje no topo do mercado no seu segmento de produto.
Outro exemplo é a Natura que vem se dedicando a desenvolver a inovação aberta. Primeiro investiu na parceria com universidades, pelo programa Natura Campus. "Agora, acaba de criar uma nova área para dar mais peso e gestão às parcerias". 50% dos projetos de inovação da Natura já são feitos em parceria com institutos e centros de tecnologia.

Alguns pontos sugeridos.
Diante de toda a pesquisa realizada, do exposto acima, e do que foi visto no decorrer dos encontros em sala, pode-se chegar à sugestão dos seguintes pontos:
 É preciso investir nas universidades. Investir em pesquisa, investir no pesquisador. Proporcionar mais liberdade tanto à universidade quanto ao pesquisador de forma a incentivá-lo a desenvolver e difundir seus conhecimentos e pesquisas. É preciso desligar o umbigo da universidade com o estado. A pesquisa não pode ser tratada da mesma forma que o ensino, o ensino é uma obrigação do estado contida na constituição, porém a pesquisa é uma necessidade da sociedade e ela não pode ficar atrelada ao estado. A instituição e o pesquisador têm que estar livres para poderem desenvolver e comercializar as suas pesquisas da melhor forma que lhes provir. Cabe ao estado o investimento em pesquisa, e a universidade a sua comercialização, porém respeitando sempre que o retorno deve ficar retido ao pesquisador e à universidade.
 É necessário que tanto o governo quanto as universidades, desenvolvam, criem, incentivem a geração e o crescimento de spinoff?s acadêmicos. Esta é uma forma de solidificarem o interesse do aluno pela pesquisa, pois, o aluno sabendo da possibilidade de criação de uma empresa para exploração do resultado de sua pesquisa, com certeza ele terá mais vontade de pesquisar. No entanto deve-se associar a esta criação, suportes necessários para tal, como a alteração do programa disciplinar, incluído disciplinas voltadas para o empreendedorismo para que o pesquisador possa ficar antenado com situações que venham a garantir o sucesso de seu empreendimento. Spnoff?s talvez seja uma das melhores formas de se alavancar a inovação, pois proporciona ao pesquisador oportunidade de se realizar pessoalmente e de ser dono de seu próprio invento, aguçando o seu interesse de continuar a pesquisar.
 Apoiar atividades que venham proporcionar o surgimento de produtos de alto valor agregado. O país necessita acordar para a importância de exportar tecnologia ao invés de produtos de massa. Para isso é necessário que haja estímulo à geração de produtos de alto valor agregado e com maior densidade tecnológica pelas indústrias brasileiras e pelo governo, e para o financiamento da empresa inovadora de pequeno e médio porte.
 Promover a interação e aproximação do pesquisador com potenciais empreendedores de seus inventos. A aproximação da universidade com as empresas é de suma importância para a perpetuação de pesquisas. Isto promove e facilita a transformação da pesquisa em produto a partir da co participação de uma entidade exploradora, aguçando o interesse de ambos pelo estudo e possíveis descobertas.
 Considerar que para um empreendimento de base tecnológica, a formação específica em áreas de ciências e engenharia, com formação complementar em empreendedorismo e negócios, como um elemento de fundamental importância para a manutenção e o crescimento das empresas. Isto pode ser feito promovendo a aproximação entre universidades de pesquisa, seus cursos de ciências e engenharias, e as escolas de administração, economia e negócios.
 A promoção da cultura empreendedora no interior das universidades e instituições de pesquisa e a associação firme do mundo dos negócios com o mundo da pesquisa.
 Os mais fortes indicadores de insucesso de uma incubadora, de acordo com Lalkaka (2001), são: processo de escolha aleatória das incubadas; gerenciamento por membros de faculdade ou de instituição patrocinadores não capacitados para o cargo; oferta de serviços sem planejamento e baixa rentabilidade. A necessidade de transformar a incubadora em uma empresa de suporte a pequenas e médias empresas, colocando em sua gestão pessoas preparadas e gabaritadas para tal.
 Quanto ao lançamento de editais pelas incubadoras, é necessário uma mudança de atitude, pois muitas ficam esperando as empresas se apresentarem á incubadora, sem efetivar um esforço de busca por boas ideias ou projetos. Essa busca tem que ser direta na fonte (universidade, centros de pesquisas, empresas) de modo a prevalecer projetos robustos junto ao mercado fortalecendo a incubadora. É necessário que as incubadoras identifiquem projetos que tenham potencial inovador, que sejam propensos ao sucesso. A cultura de retorno financeiro à incubadora, por parte de empresas que já tenham passado pelo processo e que se tornaram empresas de sucesso, para que possa ser investido em seu processo de apoio deve ser empreendido.
 A criação de programas que possam acompanhar as empresas oriundas de spinoff?s acadêmicos e de incubadoras, de forma a reduzirem a mortalidade dessas é uma necessidade eminente do processo. A manutenabilidade dessas empresas deve ser encarada como base de sustentação das demais que surgirão, partindo-se do princípio que a melhor propagando do negocio são os seus exemplos de sucesso.

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