A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO NA PRÁTICA DE ENSINO PARA A FORMAÇÃO DO LICENCIANDO

 

Resumo

Este trabalho fala da importância do estágio para o curso de licenciatura bem como as divergências entre alguns dos licenciandos que fazem o curso somente como uma forma de se garantir um emprego - estes vêm na licenciatura uma garantia de um mercado que está sempre abrindo vagas seja em instituições particulares ou públicas. Ou também aqueles que gostam das disciplinas do curso de Artes Plásticas, por exemplo, e que querem cursá-las e obter um diploma somente de graduação, mas se vêem obrigados a cursar a licenciatura por falta de abertura do curso quanto a isto. O ideal seria separar bacharel e licenciatura, para diminuir o número de estagiários “obrigados” a estagiar e, assim afunilar a quantidade e a qualidade dos formados professores pela EBA-UFRJ.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pensando no estágio feito por alunos graduandos do curso de Licenciatura em Educação Artística - Artes Plásticas / Desenho Geométrico da Escola de Belas Artes da UFRJ, e nas experiências vividas durante o período deste estágio, este trabalho tem como objetivo refletir sobre a importância desta experiência na formação dos licenciandos, além de pensar sobre a questão da obrigatoriedade deste estágio para alguns que não tem o desejo de se formarem professores.

Durante o estágio vemos muitos alunos desistentes ou desinteressados, que cumprem o estágio somente como requisito obrigatório para sua formatura. Para tais graduandos, o ideal não seria um curso de licenciatura em Educação Artística. Estes deveriam cursar uma faculdade que satisfaça seus desejos de estudo, porém sem a obrigação de “formá-los” professores. Muitos deste que não querem a licenciatura somente escolhem o curso de Artes Plásticas, por exemplo, por ter muitas disciplinas que lhe agradam, ou para ter algum diploma de ensino superior. Já muitos outros, além do interesse no diploma, desejam ter um emprego público e vêem na licenciatura uma oportunidade de garantir emprego para que, com o emprego garantido de professor, possa se formar em algum outro curso, abrir outro caminho, objetivo, etc. São estes alunos, que não querem realmente se tronar professores, que vêem no estágio um peso e o encaram com desânimo. Infelizmente, muitos dos que não gostam de lecionar passam a trabalhar em escolas como professores desestimulados.

É claro que também temos exemplos opostos a isso. Há, entre alguns que não queriam ser professores, aqueles que, com o estágio, se apaixonam pela profissão e se formam excelentes profissionais, dedicados e felizes com a escolha. Também há aqueles que, antes convictos de sua escolha, após estagiar desistem de trabalhar em sala de aula. O ideal, então, seria um curso onde o graduando possa optar em fazer ou não a licenciatura e que, os que optaram por não fazer, se por acaso desejarem, já formados, poderão fazer apenas o curso de licenciatura (matérias pedagógicas, didática, metodologia, o estágio, etc.)

Mas é certeza afirmar que através das experiências vividas durante o estágio, os licenciandos podem adquirir conhecimentos, ampliar horizontes, ver muitos pontos positivos e negativos e assim construir melhor seu perfil de profissional educador.

No livro Pedagogia da Autonomia Paulo Freire nos fala sobre esta experiência:

 

É interessante observar que a minha experiência discente é fundamental para a prática docente que terei amanhã ou que estou tendo agora simultaneamente com aquela. É vivendo criticamente a minha liberdade de aluno ou aluna que, em grande parte, me preparo para assumir ou refazer o exercício de minha autoridade de professor. Para isso, como aluno hoje que sonha com ensinar amanhã ou como aluno que já ensina hoje devo ter como objeto de minha curiosidade as experiências que venho tendo com professores vários e as minhas próprias, se as tenho, com meus alunos. O que quero dizer é o seguinte: Não devo pensar apenas sobre os conteúdos programáticos que vêm sendo expostos ou discutidos pelos professores das diferentes disciplinas mas, ao mesmo tempo, a maneira mais aberta, dialógica, ou mais fechada, autoritária, com que este ou aquele professor ensina.” (FREIRE, 1996)

 

O que acontece muito em diversos cursos de licenciatura espalhados pelo país, é uma formação sem experiência, somente focada em teorias que não se ligam totalmente às práticas. Como diz Freire, não devemos pensar somente os conteúdos programáticos, mas sim pensar a maneira, a produção, a prática, a vivência. E é por isso que o estágio da Licenciatura procura não somente acumular horas em sala de aula, mas trabalhar no licenciando a sua formação profissional.

Através dos trabalhos tidos como horas inerentes, os alunos têm acesso a pesquisas, livros, reportagens, vídeos e textos que muito enriquecem seu intelecto e sua prática.

Além disso, a o estágio passa por três fases que vêm como degraus: a fase de observação, da co-participação e, finalmente, a das regências, o ponto alto do estágio.

Na primeira fase, ou, como estou me referindo, no primeiro degrau, os licenciandos ficam observando a turma sem agir sobre ela. Muitos brincam dizendo que esta é a fase “estátua” do estágio, por somente ficarem parados observando. Na verdade muitos dos licenciandos não se agradam desta fase por acharem que não estão fazendo nada. Mas na verdade esse primeiro degrau é o mais largo, talvez cansativo, porém essencial. É neste degrau que podemos observar de fora o ambiente de sala de aula. Antes, acostumados a estar em sala como alunos, temos certa visão, depois, como observadores, nossa visão é outra. Não é mentira, então, o ditado popular que diz que “quem está de fora enxerga melhor”. Verdadeiramente a visão é mais ampla, mais crítica. Durante as aulas observamos os comportamentos dos alunos e professores, atitudes, metodologias, ações e reações. Pondo-nos de fora vemos como que um leque de opções e saídas para as situações que surgem e conjecturamos sobre qual seria a melhor opção. Em reunião com o professor, no atendimento, comentamos o que observamos e discutimos soluções em conjunto. Aprendemos muitíssimo e as anotações feitas nesta fase são de muito valor para subir os outros degraus.

Na co-participação temos a oportunidade de nos aproximarmos dos alunos. É nesta fase que passamos a os conhecer melhor, conversar, saber os gostos, estilos e etc. A transferência da observação para a co-participação se dá geralmente de uma maneira gradativa, onde o professor regente passa a pedir aos licenciandos que executem algumas tarefas em sala, como distribuir os papéis para os alunos, distribuir a cola, recolher os desenhos, por exemplo. Daí então os licenciando passam a ter contato direto com os alunos e a colaborar com a s aulas. Tendo como suporte a fase da observação, tenho como exemplo uma vivência numa turma do segundo ano do ensino médio do Colégio de Aplicação da UFRJ onde pudemos observar que havia duas alunas nesta turma que se destacavam nas aulas de artes. Uma, porque mostrava aptidão para o desenho, todos os alunos queriam que fizesse os trabalhos e desenhos para eles; E outra se destacou por ser interessada, curiosa, perguntar bastante, etc. Através destas observações, como já havíamos percebido a predisposição da turma para que a aluna fizesse os trabalhos pudemos trabalhar a autonomia de cada um. E também aproveitamos para trabalhar a curiosidade dos alunos, estimulando questionamentos e discussões. É aí que vemos como devemos ir de degrau em degrau, sem pular fases.

Perto das regências, os licenciandos já falam sobre alguns assuntos em voz alta em sala de aula de maneira informal, explicando alguns conceitos básicos ou esclarecendo algumas dúvidas. Tudo sob o acompanhamento do professor regente responsável pela turma.

No terceiro e último degrau temos as regências, também chamadas de prova-aula. Os licenciando dão sua própria aula, sozinhos, sem ajuda dos outros licenciandos ou do professor. É aí que o licenciando tenta colocar tudo que observou em prática. Durante as regências dos colegas podemos observar e aprender muitas coisas, além das discussões nas reuniões chamadas de atendimento, onde são levantados vários pontos essenciais para uma boa prática.

Apresentando os planos de aula, dando as aulas, observando, participando, regendo, passando por nervosismo, frio na barriga, ansiedade e situações diversas, vemos a importância e o peso do estágio. Passamos pela prática de ensino saindo com uma mala cheia de experiências e vivências importantes que nos levam a aprender, aprimorar, construir, desconstruir, reconstruir. Que nos fazem mais que professores, mas arte-educadores.

 

Bibliografia:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e terra, 1996.