A Importância do Bilingüismo como Facilitador do Processo de Ensino Aprendizagem nas Aulas de Matemática

Jarleide Almeida Feitosa
Emiliana Nunes da Silva
Paula Valença Pinto da Silva

Resumo: A Língua Brasileira de Sinais é uma língua natural, por permitir a expressão do ser humano. É uma língua como qualquer outra, pois possui mecanismos necessários ao se fazer entender, ela constitui sinais próprios da comunidade de nosso país e segue o mesmo princípio das línguas orais. Absorvem os aspectos culturais dos usuários, inclusive os regionalismos, as expressões típicas, as gírias. Libras é o eixo fundamental para que o surdo aprenda a língua oficial do seu país e todas as outras presentes em sala de aula.

Palavras-Chave: Surdos- Libras- Bilingüismo








*1- Jarleide Almeida Feitosa. Graduada em Letras/Português na Universidade Tiradentes e pós-graduanda em Libras na Faculdade Serigy. ? [email protected]
*2 -Emiliana Nunes da Silva ? Graduada em Letras/Português-Espanhol na Universidade Tiradentes e pós-graduanda em Libras na Faculdade Serigy ? [email protected]
*3-Paula Valença Pinto da Silva ?Graduada em Letras/ Português-Inglês pela Faculdade de Formação de Professores de Penedo e pós graduanda em Libras na Faculdade Serigy ? [email protected]





















Introdução:

Libras é a primeira língua natural desenvolvida entre surdos e mudos brasileiros, e é a partir dela que ele partirá para o estudo da língua oficial do seu país. Libras é uma língua como qualquer outra, pois possui toda uma estrutura fonológica, caracterizada através das configurações de mãos, locação e movimento, morfológica e sintática. Ela difere-se das línguas orais apenas por utilizar um canal visual-espacial e não oral auditivo. Daí a necessidade de incluir a língua brasileira de sinais na estrutura curricular educacional.
Sabendo-se que a escola é um ambiente de integração e socialização do saber, não há como se admitir o preconceito, a exclusão e a descriminação, logo quando falamos em incluir o aluno surdo no ensino regular, é preciso preparar os agentes do ensino, para que a tentativa de inclusão não se torne uma exclusão.
Para se ensinar a um surdo é preciso muito mais que uma graduação, que um currículo vasto, e até mesmo que um curso de libras. É preciso que este educador esteja apto a se reciclar, a abrir horizontes, a procurar na sua prática pedagógica um método capaz de se fazer entender. Pois ele vai ter que reformular todo o conhecimento adquirido e transformar em algo novo. Não se trata apenas de traduzir conceitos, mas de transmitir conceitos em diferentes contextos e situações.
Ser professor de surdo não é uma tarefa simples, não basta conhecer Libras, é preciso um eterno exercício, pois como toda e qualquer língua ela é viva, sofre variações lingüísticas, seja ela regional, social e até mesmo histórica, daí a importância do professor como facilitador e intermediador da língua. É preciso determinação, ousadia e humildade. É se deixar ouvir, ou melhor, vê até onde vai à compreensão do surdo, adicionando a ele novas práticas, conceitos, informações.
Tomando como exemplo a nova proposta educacional, o bilingüismo, que vem permitir ao aluno surdo construir uma auto-imagem positiva, pois além de utilizar a língua de sinais como a língua natural, vai recorrer à língua portuguesa para interagir-se na cultura ouvinte, e abrindo espaço para a matemática surge a idéia de conceito aplicado a palavra. É utilizando a língua portuguesa, e a libras que se chegará à lógica matemática, ou seja, é a partir da aquisição lingüística que se tem que podemos entrar no contexto matemático e expor o surdo a resolução de questões matemáticas sem mais problemas.

1-Língua de sinais como primeira língua

A língua brasileira de sinais ? LIBRAS é a ferramenta fundamental para a elaboração da formação discursiva do surdo. Fazendo uso dela como primeira língua L1, surge a sua segunda língua L2 que é a língua portuguesa, atuando uma ligada a outra, dessa forma obteremos um entendimento da lígua oficial do seu país, através da sua língua materna. Ronice Quadros acentua a necessidade da língua de sinais para o surdo desde o início de sua existência.
O processo educacional ocorre mediante interação lingüística e deve ocorrer, portanto, na LIBRAS. Se a criança chega na escola sem linguagem, é fundamental que o trabalho seja direcionado para a retomada do processo de aquisição da linguagem através de uma língua visual-espacial. A aquisição da LIBRAS por crianças surdas brasileiras é algo inquestionável. (QUADROS, p 03)
Neste momento a escola tem o papel de socializar, de proporcionar à criança a convivência num grupo mais amplo de indivíduos. Fica nas mãos da escola a integração entre crianças surdas em um espaço maior que o do convívio familiar, tornando-as mais atuantes e participativas na sociedade a qual estão inseridas.
Existem três pontos na constituição da libras que correspondem a fonologia, morfologia e semiótica.
A fonologia da língua de sinais identifica a estrutura e a organização dos constituintes da língua. Ela estuda os elementos que compõe os sinais, tais como o movimento, a configuração de mão e o ponto de articulação. Então todo movimento primário ou inicial das línguas de sinais são considerados fonológicos, para ficar mais fácil de entender.
O movimento é muito importante porque participa ativamente na produção do sinal, dando graça e beleza. Os pontos de articulações são as partes do corpo ou do espaço em que o sinal é articulado, como exemplos têm a cabeça, o tronco, a mão e o espaço. A orientação da mão é a direção para a qual a palma da mão aponta na produção do sinal, como para cima, para frente, para a direita e para a esquerda.
A morfologia estuda a estrutura interna das palavras ou dos sinais e das regras que formam as palavras ou sinais. Assim como as palavras, a Libras pertence a categorias lexicais ou a classe de palavras, tais como nome, verbo, adjetivo e advérbio.
A semiótica, segundo Sausurre, é a ciência que estuda os signos de forma não isolada, estuda os signos simultaneamente a partir do processo de significação. O signo é a soma entre significante e significado.
O objetivo de estudo da semiótica são os signos, que nada mais são que algo que pode estar no lugar de outra coisa, para que uma pessoa possa entender ou interpretar o que é, ou o que se mostra.
A semiótica estuda todos os códigos, todas as linguagens verbais e não verbais e, por isso é fundamental para um estudo que trata sobre Libras.
Sendo assim a Libras se mostra como um sistema lingüístico de transmissão de idéias, conceitos abstratos, permitindo ao surdo expressar-se perfeitamente. Conclui-se que a línguas de sinais são tão ricas e completas gramaticalmente como qualquer língua falada.

2-O Ensino da Matemática para alunos surdos

Para ensinar matemática a surdos é necessário além de entender os conteúdos matemáticos e conhecer a Língua Brasileira de sinais, conhecer a cultura surda através da participação e vivência na Comunidade surda, aceitando a diferença e tendo paciência para inteirar-se nela. Logo, além da questão lingüística, é fundamental estar atento à cultura que o surdo está inserido. Tanto a comunidade surda como a ouvinte têm a sua cultura e, por isso, uma proposta além de ser bilíngüe deve ser bicultural. Isso é, deve favorecer o acesso natural do surdo à comunidade surda, permitir que ele se reconheça como parte integrante dessa comunidade e participe ainda da comunidade ouvinte.
È de extrema importância o surdo interagir também na comunidade escolar usando a língua de sinais para que ele possa ter o seu desenvolvimento lingüístico naturalmente.
Os conteúdos matemáticos devem ser definidos em língua de sinais, em língua portuguesa e introduzidos no contexto matemático. O professor Irami Billa deixa bem claro essa seqüência de línguas para se chegar à matemática quando diz que:
O conceito passa pela formação de palavras no Português, na construção de sinais na LIBRAS (Língua de Sinais Brasileira) e no entendimento de Algoritmo na Matemática. Para uma nítida compreensão disto, precisamos entender como se forma a palavra no Português e na LIBRAS. (BILA, p 03)
A matemática por ser uma língua, possui sua própria estrutura e precisa de toda uma moldagem, adaptação para se fazer entender. É preciso ter prazer em ensinar, e buscar no próprio aluno formas de se trabalhar a matemática.
O deficiente auditivo é capaz assim como qualquer outro ser de resolver questões matemáticas, mas para isso é importante a presença de atividades prazerosas desenvolvidas a partir das experiências proporcionadas pelas interações com o meio. Essas experiências levam a aproximações de algumas noções matemáticas utilizadas no seu dia a dia, facilitando o processo de ensino/aprendizagem.
Seguindo essa lógica, o surdo terá condições melhores de se tornar um cidadão capaz e atuante na sociedade.

Considerações Finais

A exposição a LIBRAS, desde o inicio da vida das crianças surdas, garantirá aos surdos, o direito a uma língua de fato e, em decorrência dela, um funcionamento cognitivo satisfatório e esse facilitaria o ensino do português. Dentro da proposta bilíngüe, a língua de sinais é uma língua natural, adquirida de forma sistematizada e é com ela como primeira língua dos surdos, que se deve ensinar a língua portuguesa.
Quando se defende a língua de sinais como primeira não se está afirmando que o desenvolvimento cognitivo depende exclusivamente do domínio de uma língua, mas se está crendo que dominar uma língua garante melhores recursos para o desenvolvimento do indivíduo.
A atuação da matemática neste campo bilíngüe só tem a enriquecer o desenvolvimento cognitivo do surdo, possibilitando um raciocínio mais lógico e contribuindo para o seu crescimento.
O Brasil é riquíssimo em leis que protegem os portadores de necessidades especiais, mas muitas delas são mascaradas ou despercebidas. Além disso falta a sensibilidade de alguns educadores e preparo profissional para atuar nessa área. Percebe-se também que ainda há preconceito por parte família e da sociedade tornando a atuação das leis ainda mais problemáticas.
Em suma, o surdo pode ir além de suas limitações, além do que foram impostas pelo mundo social, driblando o preconceito e transformando os obstáculos em conquistas.


Referências
QUADROS, Ronice Muller de. O contexto escolar do aluno surdo e o papel das línguas. A aquisição da linguagem em crianças surdas deve ser garantida através de uma língua visual-especial.
FERNANDES, Eulália. Surdez e Bilinguismo Leitura de Mundo e Mundo da Leitura. Disponível em www.ines.gov.br/ines. Acessado em 06/09/10 às 10:30.
CHAVEIRO, N.; BARBOSA, M. A. - A surdez, o surdo e seu discurso. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 06, n. 02, 2004. Disponível em www.fen.ufg.br. Acessado em 15/01/2011.

BILA, Irami. Educação matemática bilíngüe ou trilingue? Duas opções, uma escolha.

www.libras.org.br/leilibras.htm. Acesso: 15/01/2011

http://www.advogadobr.com/comentários-ao-CPC/00_EntendendoS_MM.php. Acessado