A IMPORTÂNCIA DO ASSOCIATIVISMO RELIGIOSO NA SOCIEDADE
Por Júlio Rangel Borges Neto

Sobre o prisma sociológico e levando em consideração o conhecimento pessoal acumulado a cerca do tema, podemos notar que o mesmo encerra uma boa dose de complexidade, exigindo cuidados e atenção especial. O associativismo desenvolvido nas comunidades de periferia pelas igrejas e instituições religiosas com ênfase naquelas de cunho evangélico (pentecostal), cumpre um papel de grande relevância social no equilíbrio das tensões sociais com origem na pobreza e a na miséria disseminadas em amplas parcelas da sociedade. Como se pode notar, o associativismo de matriz religiosa tem raízes políticas e sócio-econômicas, cumprindo neste mister as religiões, um papel do Estado em que este é razão de causa e efeito.
As práticas associativas religiosas levadas a efeito pelas igrejas, vem como claro, preencher uma lacuna deixada pelo Estado, exercendo com indisfarçável competência objetivos assistenciais e filantrópicos, aplacando ou pelo menos suavizando o abandono, carência psicológica, pobreza e discriminação social a que estão relegadas essas populações periféricas. Além de promover um processo lento, mais gradual de inclusão social, atenuando os riscos de exclusão social criados pela sociedade em geral, principalmente nas esferas laborativas, não fosse a inserção econômica forçada pelo associativismo e ativismo religioso no mundo do trabalho, o problema social com base na pobreza e na violência (criminalidade) talvez tomasse proporções gigantescas e incontroláveis. Portanto, estas igrejas, na maioria evangélicas como nos apontam as estatísticas oficiais, prestam um serviço inestimável a sociedade evitando problemas de repercução imprevisível.
Afora a inserção econômica, a moderação no equilíbrio das tensões sociais e a inclusão social, o associatismo/ativismo religioso ainda exerce uma função de grande relevo, a saber a coesão social entre os próprios membros das comunidades/populações das periferias urbanas, em especial nas grandes metrópoles, algumas com milhões de habitantes. A coesão social é a benesse mais visível e aparente do associativismo religioso, promovendo como o próprio nome já adianta, a associação, o congraçamento e a união entre todos os elementos da comunidade, que juntos tem maior força política e social para fazer valer seus direitos, dando real efetividade a estes perante o Estado e toda a sociedade civil, bem como aumenta suas chances de sucesso na luta por suas reinvindicações de toda ordem.
Tal coesão social, além de ajudar sobremaneira a aplacar as necessidades das populações periféricas, conseguindo maior colaboração do Estado a seu favor, também auxilia a pacificação entre os integrantes da própria comunidade, promovendo um clima de relativa amizade, solidariedade e cooperação entre todos na busca conjunta das soluções para os seus problemas do dia-a-dia, que podemos resumir ou simplicar através dos ditos populares "um por todos, e todos por um", "a união faz a força" ou mesmo "uma mão lava a outra". Esta coesão social, ocorre e se processa antes mesmo do associativismo religioso, acontecendo por meio das missas e cultos onde se materializa a fé e a fraternidade cristãs unidoras do tecido social, tudo isso graças aos princípios do amor ao próximo, do apego ao bem-comum e da luta do bem contra o mal característicos de quase todas as religiões através dos tempos.
O ativismo religioso não fica só no plano das idéias, oferecendo as pessoas e famílias envolvidas uma opção/direção concreta mais fácil de com base na solidariedade social, bem como da coesão social, atingir ou alcançar melhores condições de vida (sobrevivência) e mobilidade social. Apoio psicológico baseado na fé, promoção de cursos profissionalizantes gratuitos, preenchimento do tempo ocioso através dos esportes/artes, realização de atividades de entretenimento/lazer como festas, jogos etc, e os movimentos reinvindicatórios (MST, CEBs e pastorais) são apenas algumas das incontáveis estratégias, cujo associativismo religioso lança mão para atingir os seus fins e objetivos, todos relacionados ao bem comum. São justamente estes objetivos diferenciados que fazem o associativimo/ativismo religioso ter um apelo maior junto as comunidades periféricas onde estão os extratos de menor poder aquisitivo da sociedade (bolsões de pobreza). Prova disto, é que estatisticamente a maioria dos membros das classes mais abastadas preferem outras espécies de associativismo que não o religioso, como por exemplo os partidos políticos, associações profissionais etc. Outrossim, a experiência tem demonstrado que o associativismo religioso tem sido mais bem sucedido em suas demandas do que os seus outros similares já citados. Desta feita, as associações político-econômicas acabam tendo um peso mais preponderante nas classes média e alta (ricos).
O ativismo/associativismo de caráter religioso se constitui num freio eficaz as paixões humanas nas periferias, consolidando a paz social num ambiente de pobreza e necessidade que de outra forma não seria possível, pois consegue amenizar as revoltas sociais e proporcionar a todos um sentimento de conformismo diante das vicissitudes da vida, baseado na esperança de uma vida melhor no futuro devido a crença nas graças e mesmo na misericórdia de Deus ou na pior das hipóteses, numa outra vida (além/paraíso), tudo isso ancorado fortemente num sistema por assim dizer ideológico de recompensas/punições orquestradas pelo "supremo arquiteto do universo" (Deus).
O associativismo religioso também é um forte fator de mudanças na sociedade, em especial na América Latina, não só porque esta encerra junto com a África os maiores contingentes de pobres e miseráveis, mas em virtude da religiosidade ter um grande peso entre os latino-americanos com maior intensidade nas camadas menos aquinhoadas. Prova desta acertiva são os movimentos sociais organizados, como as Comunidades eclesiais de base (CEBs), as pastorais carcerárias, dos sem teto etc. Uma excelente e bem sucedida amostra disto na América Latina são o MST (movimento dos sem terra) no Brasil, cuja repercussão social e na mídia são constantes e grandiosas.
As atividades sociais de cunho religioso consubstanciadas sob o título de associativismo religioso, não obstante prestem um inestimável serviço sob os mais diversos aspectos nas comunidades da periferia (das grandes cidades), as quais evitamos aqui denominar de favelas por identificar nesta palavra uma forte carga pejorativa e de descriminação mesmo, sem falar de não atender ao rigor científico, acabam por turvar a visão dos indivíduos quanto a realidade que os rodeia, envolvendo-os numa teia teológica-ideológica que os aproxima do divino, tanto quanto o afasta do mundo exterior palpável. De todo modo, a verdade é que se não fosse o ativismo religioso na suas mais diversas modalidades, a realidade seria bem mais crua e injusta do que a que esta aí, assim sendo, os aspectos positivos superam em muito os negativos ou seja, os benefícios do associativismo religioso são infinitamente superiores aos malefícios que possivelmente possa causar como o agora apontado.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRANTES, José. Associativismo e cooperativismo. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2004.
GURZA, Lavalle Adrian, & CASTELLO, Graziela. "As benesses deste mundo ? Associativismo Religioso e inclusão socioeconômica. Revista Novos estudos: Cebrap. n. 68, 2004.
PAULA, de Diniz Iara. O ativismo religioso ? A família e a Igreja. São Paulo: Gospelcompany, 2010.

Júlio Rangel Borges Neto ? Advogado e Sociólogo
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