A IMPORTÂNCIA DAS PRÁTICAS LÚDICAS NA ESCOLA

 

A importância da utilização do lúdico na aquisição de uma segunda língua é reconhecida atualmente através de diversos estudos e sua eficácia é comprovada quando se observa que os professores que utilizam deste artifício têm resultados positivos no processo de aprendizagem dos seus alunos. (CARNEIRO, 2008, p. 71)

Os jogos e dinâmicas (em anexo) não são apenas simples entretenimento. Estas atividades (em anexo) possibilitam a aprendizagem de várias habilidades. O lúdico possui recursos capazes de contribuir para o desenvolvimento das funções cognitivas do aluno, fornecendo a ele um ambiente agradável, motivador, planejado e enriquecido.

Durante muito tempo confundiu-se “ensinar” com “transmitir” e, nesse contexto, o aluno era um agente passivo da aprendizagem e o professor um transmissor. A idéia de um ensino despertado pelo interesse do aluno acabou transformando o sentido do que se entende por material pedagógico.

É nesse contexto que o lúdico ganha um espaço como ferramenta ideal da aprendizagem, na medida em que propõe estímulo ao interesse do aluno, ajuda-o a construir seus alicerces, desenvolve e enriquece sua personalidade e simboliza um instrumento pedagógico que leva o professor a condição de condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem.

Observa-se atualmente nas escolas, a inexistência de uma proposta pedagógica que  incorpore as práticas lúdicas como linha de trabalho para um bom desenvolvimento no ensino/aprendizagem dos  alunos. Apesar de essa realidade apontar na direção do professor,  não se deve conferir-lhe a culpa, ao contrário, trata-se de evidenciar o tipo de formação profissional do professor que muitas vezes não contempla informações nem  experiências a respeito do lúdico e do desenvolvimento em uma  perspectiva social, afetiva, cultural e criativa.

Vygotski (1998) indica a importância da ludicidade, como indispensável para o imaginário da criança. Mostra que a situações imaginárias criadas se desenvolvem quando se dispõe de experiências que se reorganizam. A importância dos diversos recursos como, por exemplo, músicas, vídeos, atividades lúdicas (caça-palavras, palavras cruzadas e etc.), além do acervo de jogos e dinâmicas que constituirão um banco de dados e/ou de imagens culturais utilizados nas situações interativas.

Por meio dessas imagens culturais é possível instrumentalizar o aluno na construção do conhecimento e sua socialização, visto que ao jogar ele movimenta-se em busca de parceria; comunica-se com seus colegas; descobre regras; toma decisões e se expressa de várias maneiras através da língua meta, no caso, a língua espanhola.

Lamentavelmente nota-se que são poucas as escolas que investem e apóia neste tipo de aprendizado, a escola parece que esqueceu o lúdico na sala de aula. Com isso muitos pensam que “os jogos não servem para nada e não têm significação alguma dentro das escolas, a não ser na cadeira de educação física.” (ALMEIDA, 2003, p. 59).

Considerado como uma perda de tempo, o lúdico é excluído pela pedagogia tradicional, que ainda existe na escola – professor, direção, coordenadores e outros – e o pior quando existe o espaço do aluno brincar, interagir e se socializar, no intervalo, este precisa conviver com várias proibições. 

Todo e qualquer ser humano pode beneficiar-se através das atividades lúdicas, e é perceptível que não se brinca a não ser por iniciativa própria ou por livre agrupamento. Como se sabe a brincadeira é transmitida à criança através de seus próprios familiares, de forma expressiva, de uma geração à outra, e/ou pode ser aprendida pela criança de forma espontânea. Contudo, nos dias atuais, com as moradias cada vez mais apertadas e os adultos envolvidos em seus afazeres, as crianças não têm um lugar para brincar e não devem atrapalhar o andamento do lar com seus brinquedos.

É impossível isolar o comportamento lúdico do ser humano, pois em qualquer época da vida de crianças e adolescentes e, porque não, de adultos, as brincadeiras devem estar presentes.  Brincar não é coisa apenas de crianças pequenas, erra a escola ao fragmentar  sua ação, dividindo o mundo em dois lados opostos: de um lado o jogo da  brincadeira, do sonho, da fantasia e do outro, o mundo sério do trabalho e do estudo.

Independentemente do tipo de vida que se leve, todos adultos, jovens e  crianças precisam de alguma forma de jogo, “trata-se da necessidade universal de conservar a vida, de a tornar tão poderosa quanto possível de transmitir para a continuar.” (FREINET, 1974, p. 25).

O autor explica a necessidade de conservar a vida que está estritamente ligada à integração no grupo social. A escola como um dos espaços em que a criança tem seus primeiros contados sociais fora de casa, precisa reconhecer o lúdico e a sua importância enquanto  fator de desenvolvimento. Alguns desses fatores podem ser destacados:

  • Facilita da aprendizagem;
  • Desenvolve os processos sociais de comunicação e de expressão;
  • Constrói o conhecimento;
  • Explora a criatividade;
  • Contribui para uma boa saúde mental;
  • Melhora a conduta e a auto-estima;
  • Permite extravasar alguns sentimentos escondidos como angustias; paixões; alegrias e tristezas; agressividade e passividade.

Diante de tantas possibilidades, é fundamental que haja a intervenção do educador, porém esta não deve causar inibição, medo, constrangimento ou qualquer tipo de coisa parecida, esta prática precisa equilibrar o esforço, a busca a disciplina com o prazer e a satisfação. Sendo o mediador em todo processo, criando e desenvolvendo na sala de aula um espaço para que o lúdico aconteça não necessariamente todos os dias. Isso é possível quando existe abertura para buscar novos caminhos e novas metodologias.

O educador por meio da inter-relação trabalho-jogo de Freinet (1974), precisa estimular o aluno à busca e ao domínio do conhecimento, somando habilmente o trabalho (esforço) com uma boa dose de brincadeira, transformando o aprendizado num jogo bem-sucedido. Enquanto que a escola deve se apoiar nessas práticas lúdicas, tomar o comportamento lúdico como modelo para confirmar o comportamento escolar. Mas é preciso considerar que há diferenças a separar o jogo do trabalho.

Uma educação que se restringe ao jogo (diversão) se torna insuficiente, pois isola o homem e transforma sua vida num mundo de ilusão e fantasias. Por outro lado, uma educação baseada somente no trabalho, no seu sentido restrito de produzir mercadorias e resultados, criaria um ser técnico, destruindo dentro de si o sentido da vida, da participação e da satisfação do próprio viver.

Para Carneiro (2008) a escola encontra relevância na aplicação do lúdico. A respeito disso, ela afirma:

O uso do lúdico no processo de ensino/aprendizagem, pois possibilita a criação de novas metodologias e, trabalhando desta forma, o professor permite ao estudante interagir com os companheiros de classe e o educador transformando-se em ser atuante num processo tão importante para a sua vida. (CARNEIRO, 2008, p. 71)

Para a autora na utilização do lúdico em sala de aula a aprendizagem se dá mais leve e agradável, na qual o aluno não percebe que está aprendendo, facilitando o trabalho do professor. Em outras palavras, Carneiro defende a idéia das práticas lúdicas, mas para que isso aconteça, é necessário que haja a cooperação de todos. No que se refere à ausência das práticas lúdicas nas escolas a autora ainda questiona e critica esta situação, sobre isto ela diz:

As escolas, na sua maioria, trabalham com um ensino enciclopédico, com a idéia de que os alunos necessitam de um maior número possível de informações para obterem um bom desenvolvimento, o que não é verdadeiro, pois, se assim o fosse, a má qualidade do ensino no Brasil, principalmente em relação a outros países da América Latina, não seria um fator tão patente e por que não dizer vergonhoso diante grande do potencial intelectual existente no país. (CARNEIRO, 2008, p. 73)

Sabe-se que a escola é um espaço privilegiado de estudo, construção e exposição de diferentes aprendizagens e manifestações humanas, onde o objetivo é transmitir o conhecimento historicamente acumulado. Entretanto, é trabalho dela balancear as duas concepções, ou seja, um equilíbrio entre o esforço e o prazer, instrução e diversão, educação e vida.

A importância do lúdico no que diz respeito ao papel do educador. Segundo Harres, Paim e Einloft (apud. Santos, 2001, p. 81):

entendemos que é de fundamental importância oportunizar aos educadores experiências lúdicas e reflexão sobre a inserção do jogo na escola. Ou seja, enfocando as teorias propostas, a comprovação da importância do jogo, a forma como as crianças brincam e sobre os objetos que poderiam contribuir nas atividades de construtiva da brincadeira.

Os autores em seu ensaio “O lúdico e a prática pedagógica” apresentam uma proposta de laboratório de experiência para os professores como, por exemplo, de cursos de atualização, oficinas, jornadas pedagógicas mais significativas, em que estes relembrem das teorias que já estudaram e reflitam na possibilidade de suas práticas, ou seja, isto se faz necessário para que haja de fato o ensino/aprendizagem de uma LE a partir do lúdico, onde os educadores sejam participadores de situações imaginarias, tendo em vista que através do envolvimento percebam a necessidade destas práticas dentro da sala de aula, com o objetivo de produzir no aluno conhecimentos e saberes da língua estrangeira estudada.

Desta forma, é importante que o professor encontre e trabalhe a dimensão lúdica que existe na sua trajetória cultural e em sua essência, de modo que venha aperfeiçoar e dinamizar a sua prática pedagógica, motivando seus alunos para uma aprendizagem cognitiva, apreciativa e significativa.

Sobre o papel do professor como motivador Campos afirma que:

Não basta explicar bem a matéria que ensina e exigir que o aluno aprenda; é necessário despertar a atenção do aluno, criar nele interesse pelo estudo, estimular seu desejo de conseguir os resultados visados mediante tarefas progressivas. [...] deve motivar a aprendizagem dos alunos. (CAMPOS, 1973, p.99)

No entanto para que isso de fato aconteça é preciso que o educador procure resgatar a ludicidade, os momentos lúdicos que com certeza permearam seu caminhar. Lamentavelmente, nos espaços acadêmicos os docentes relacionam muito pouco na formação profissional a ludicidade, às vezes por não ter um embasamento teórico que permita compreender a ludicidade como um fator no desenvolvimento humano em vários aspectos já citados. Isso ocorre porque as práticas lúdicas ainda não foram compreendidas como caráter importante no processo de ensino/aprendizagem de língua estrangeira e que devem ser estudadas e vivenciadas em sua plenitude.

Desse modo, as atividades lúdicas são recursos úteis para uma aprendizagem diferenciada e significativa. Diferenciada porque oportuniza aos alunos outras posições em relação ao saber formais. Significativa porque os envolvidos podem reconhecer a língua espanhola como um espaço de construção discursiva, proporcionando autonomia e integração ao meio.

Através de atividades lúdicas o educando forma conceitos, seleciona idéias, estabelece relações lógicas, integra percepções, constroem estimativas, vai socializando-se, promovendo situações que o leva a estabelecer relações sociais com o grupo ao qual está inserido, estimulando seu raciocínio no desenvolvimento de atitudes que exigem reflexão e enquanto função educativa proporciona a aprendizagem, seu saber, sua compreensão de mundo e seu conhecimento.

Por conseguinte é perceptível a necessidade que a escola num todo – educadores, coordenadores e direção – se coloquem como participantes, mas principalmente os educadores, os quais acompanhando  todo o processo e sendo mediadores dos conhecimentos através das práticas lúdicas, a fim de que estas possam ser reelaboradas de forma  rica e prazerosa.