A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL


Simone de Oliveira Almeida
Ana Carolina Mohr de Godoi (orientadora)


RESUMO

A brincadeira, o jogo e o movimento são suportes da cultura infantil, pois é neles que a criança age com liberdade e espontaneidade. Pode-se afirmar que os jogos, as brincadeiras e o movimento propiciam um desenvolvimento físico, intelectual e uma maior compreensão do esquema corporal, elementos essenciais para o desenvolvimento de uma aprendizagem realmente significativa e que torna possível a interação social com o mundo e com cultura vigente. A partir dessas concepções é que se descreve neste trabalho como estes três elementos contribuem para o desenvolvimento da criança no processo de escolarização, não havendo dúvidas de que estes contribuem para uma maior aprendizagem em sala de aula.

Palavras-chaves: movimento, psicomotricidade, jogo, brincadeira.

1 INTRODUÇAO

Este trabalho pretende descrever a importância da psicomotricidade na educação infantil, enfocando o jogo, o movimento e a brincadeira. Quais as contribuições da Educação psicomotora no desenvolvimento da criança na Educação infantil?
Sabe-se que o jogo, o movimento e a brincadeira são suportes da cultura lúdica infantil, pois é nesses momentos que a criança age livre e espontaneamente. O objetivo desta pesquisa é de perceber que esses elementos estejam incorporados no cotidiano escolar infantil, pois propiciam um desenvolvimento físico, intelectual e uma maior compreensão do esquema corporal, elementos essenciais para o desenvolvimento de uma aprendizagem realmente significativa e que torne possível a interação social com o mundo e a cultura vigente.
Esta pesquisa, de caráter exploratório, segundo Gil (2007), usou como metodologia a pesquisa bibliográfica. Nessa pesquisa, buscamos identificar as contribuições da Educação Psicomotora para o desenvolvimento da criança na Educação infantil.

2 A PSICOMOTRICIDADE E A APRENDIZAGEM

Psicomotricidade é a relação entre o pensamento e a ação, que também envolve a emoção. É a ciência que estuda o homem através do corpo em movimento. Segundo Lê Boulch (1987), é de grande importância a educação pelo movimento no processo escolar, uma vez que seu objetivo central é contribuir para o desenvolvimento motor da criança.
Para Lê Boulch (1987), na educação infantil, a educação psicomotora possui um papel relevante na prevenção das dificuldades escolares, ou seja, ela promove um desenvolvimento total do individuo. Nessa etapa da vida escolar, exercícios corporais e atividade psicomotoras asseguram a noção espacial, o domínio corporal, permitindo que a criança satisfaça sua necessidade do movimento.
Sendo o corpo a origem das habilidades cognitivas, a estimulação do desenvolvimento psicomotor torna-se necessário no processo global de aprendizagem. Isso traz à criança habilidades necessárias para o jogo e a brincadeira.

2 - A BRINCADEIRA COMO INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM

Brincar é o melhor caminho para uma educação integral. Segundo o Plano Nacional de Educação Infantil (2010, p. 53):

Quando uma criança brinca, ela entra em contato com suas fantasias, desejos e sentimentos, conhece a força e os limites do próprio corpo e estabelece relações de confiança com o outro. No momento em que está descobrindo o mundo, ao brincar testa suas habilidades e competencias, aprende regras de convivência com outras crianças e com os adultos, desenvolve diversas linguagens e formas de expressão e amplia sua visão sobre o ambiente que a cerca.

Este pensamento é de vital importância para o entendimento de que a criança só se realiza plenamente no mundo através do brincar, seja este livre ou sistematizado. A brincadeira permite que esta criança que assim o faz, crie mecanismos de aprendizagem, em conseqüência disso, vê-se o seu desenvolvimento global vir à tona.
Quando se fala em desenvolvimento global, refere-se aos aspectos cognitivos, afetivo, sociais, físico-motores e lingüísticos, que se englobam para criar um processo de aprendizagem pleno. As brincadeiras têm um papel decisivo na fase de alfabetização da criança, uma vez que gera mecanismos primordiais para o avanço da área.
Para Kishimoto (2008), a opção pelo brincar desde o início da educação infantil é o que garante a cidadania da criança, assim como ações pedagógicas de maior qualidade. Percebe-se que a criança não brinca somente por brincar. Ao realizar este ato, ela constrói uma imagem de mundo e de apropriação da cultura que a cerca. E as ações pedagógicas tornam-se mais prazerosas para a criança na medida em que ela aprende através do brincar.
Segundo Oliveira (2008), brincar é o principal meio de aprendizagem da criança. Com isso, pode-se verificar que não há uma dissociação entre o brincar e o aprender, ambos estão interligados no processo de construção do conhecimento. A criança que brinca interage com o meio físico e social, tendo a oportunidade de conhecer o mundo que a cerca e agir sobre ele. Assim, ela adquire informações sobre este mundo e percebe-se participante do mesmo. A brincadeira expressa a forma como uma criança reflete, organiza, desorganiza, constrói e reconstrói o mundo, portanto, brincar é um veículo chave para o aprendizado.

3 O MOVIMENTO COMO FORMA DE APRENDIZAGEM

A ação motora é um fator de grande importância no desenvolvimento infantil. Sabe-se que o sujeito se constrói na sua interação com o meio, e o movimento é uma das formas que a criança encontra para interagir com esse meio. Essa construção com o meio é uma forma de apropriação da cultura, seja para dominar os diferentes instrumentos da cultura, seja para participar das atividades lúdicas (jogos, brincadeiras, danças, esportes).
O movimento também contribui para o domínio das habilidades motoras que a criança desenvolve ao longo da infância (andar, correr, pular, saltar, etc). Piaget (1992) em sua teoria sobre o desenvolvimento infantil já afirmava sobre uma inteligência motora, que é prática, sendo os movimentos reflexos, e a partir do contato com o ambiente a criança vai construindo um movimento intencional. Todas essas ações fazem com que a criança desenvolva habilidades para a aprendizagem, uma vez que está favorecida pelos estímulos adequados.
Esses estímulos, oferecidos pelo ambiente e pelo professor, fazem com que a criança adquira gradativamente uma maior autonomia nos seus esquemas motores, adquirindo novas habilidades. A criança inicia seus movimentos partindo do mais simples ao mais complexo. Por exemplo, quando ela começa a ter contato com uma bola, seus primeiros movimentos são simples: ela pega, faz tentativas de chutar, arremessar, e aos poucos, aumentadas as complexidades e com o tempo, ela joga futebol com a mesma. Vemos que aconteceu um progresso nesses movimentos e assim por diante.
Segundo Wallon (apud DANTAS, 1992. P. 38), o ato mental se desenvolve a partir do ato motor, e a motricidade humana começa pela atuação sobre o meio social, antes de poder modificar o seu meio físico. Partindo dessas concepções, o trabalho com o movimento na Educação Infantil deve priorizar todas as competencias motoras da criança e também diversificar os movimentos de andar, correr, saltitar, escalar, chutar, deslizar, rebater, rolar, andar em superfícies, entre tantos outros que valorizam o movimento e possam contribuir para o desenvolvimento pleno dessa criança.
Em suma, pensar numa educação voltada para o movimento é assumir que a aprendizagem do aluno se faz à medida que seu corpo e sua mente estão em totalidade. A dualidade mente e corpo não pode ser separada, como em algumas teorias antigas. Hoje, trabalhar estes dois aspectos de maneira única é a chave para que se alcance um pleno desenvolvimento e uma plena aprendizagem, em todas as etapas da vida.

4 O JOGO NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

O jogo também é um grande aliado do desenvolvimento cognitivo. Além de ser diversão, o jogo permite que a criança esteja em contato com a realidade, confronte ideias e busque soluções. Piaget (apud La TAILLE, 1992, p.49), afirma que:

Os jogos de regras são paradigmáticos para a moralidade humana. Em primeiro lugar, representam uma atividade interindividual necessariamente regulada por certas normas que, embora geralmente herdadas das gerações anteriores, podem ser modificadas pelos membros de cada grupo de jogadores. (...) Em segundo lugar, embora tais normas não tenham em si caráter moral, o respeito a elas devido, é ele sim, moral (...) Finalmente, tal respeito provém de mútuos acordos entre jogadores e não da mera aceitação de normas impostas por autoridades estranhas a comunidade de jogadores.

Para Piaget (1992), muito mais do que estimular o cognitivo, o jogo também permite a consciência da regra, ou seja, existe a aceitação do outro, da perda e dos deveres que essa criança acompanhará até a vida adulta.
Quando uma criança joga um jogo tradicional (por exemplo, a amarelinha), ela está mantendo uma cultura infantil que ultrapassa gerações, além de, é claro, aprender outras habilidades como seqüência numérica, destreza, atenção, etc. Os jogos também permitem que a criança aprenda com bastante facilidade os conceitos de alguns conteúdos trabalhados. Mas o professor tem de levar em consideração se o mesmo é pedagógico, se estimula o desenvolvimento intelectual e afetivo, se ele está adequado à faixa etária e se ele possui desafios que levem o aluno a refletir sobre o que está sendo jogado e como aquele jogo pode interferir de forma positiva na sua aprendizagem.

5 IMPORTÂNCIA DO TRABALHO PSICOMOTOR COM A CRIANÇA EM IDADE PRÉ-ESCOLAR.

Percebe-se em Piaget (1992), Lê Boulch (1987) que a criança em idade pré-escolar necessita de uma educação voltada para o corpo, ou seja, ela não pode apenas ser um mero expectador da aprendizagem, e não pode aprender somente através de atos mecânicos. Uma educação voltada para o movimento corporal, relacionada com a brincadeira e os jogos, todos com uma intencionalidade, permite que a criança adquira gradativamente habilidades que a levem a uma educação que não separa corpo e mente, mas que vê de um modo global.

6- CONCLUSÃO

Sendo a Educação Infantil uma etapa extremamente importante para o desenvolvimento da criança, como já foi citado anteriormente no trabalho, acredita-se que é possível a escola construir uma maneira significativa de aproveitar essa etapa da vida com mais prazer, ludicidade e movimento. A escolarização precoce, antes da importância de se perceber o corpo e a mente como algo indissociáveis, gera fatores de atraso no desenvolvimento da criança do século XXI. Essa criança atual, fruto das tecnologias, que muitas vezes passa horas em frente ao computador ou em frente a uma televisão, precisa de um "despertar" para o movimento, para as atividades livres, para o brincar como forma de aprendizagem. E cabe também à escola, juntamente com toda sociedade, a responsabilidade para que esse movimento realmente seja concretizado nas escolas e na vida em geral.
Entende-se que aqui não se trata apenas de "escolarizar" o que é dado nessa primeira etapa da vida, mas aproveitar esse rico universo para explorar as potencialidades e habilidades da criança, tendo consciência plena de que isso lhe dará suporte para outras etapas do ensino.
Com isso, não se está querendo dizer que a escola de Educação Infantil apenas "brinca", mas que a mesma possa aproveitar todos esses temas (o brincar, o movimento e os jogos) como uma ponte para um processo de ensino mais complexo em etapas posteriores, alcançando com este aluno um desenvolvimento pleno em todos os sentidos, em suma, transformá-lo num adulto que teve oportunidade de expressar-se enquanto criança, tendo uma infância feliz e consequentemente, se torne um adulto feliz e pleno.


Referências:

KISHIMOTO, Tizuko M. Jogo, brinquedo, brincadeira e educação. São Paulo: Cortez, 2008.

La TAILLE, Yves de (et al). Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorias Psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

Le BOULCH, Jean. Educação Psicomotora: psicogenética na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

OLIVEIRA, M.C.S.M. Do prazer de brincar ao prazer de aprender. Disponível em: < httpc: //www.psicomotricidade.com.br >. Acesso em 17/02/2011.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria da Educação Infantil. Plano Nacional de Educação Infantil. Brasília: MEC, 2010.