A IMPORTÂNCIA DA PSICANÁLISE NA EDUCAÇÃO

 No início de cada ano letivo,quando as crianças retornam ou iniciam as atividades escolares, as mesmas passam por um processo de adaptação. Na pré-escola e no ensino fundamental as crianças enfrentam a passagem da vida familiar ao convívio social.    É nesta fase que o professor deve entender e escutar as crianças, suas queixas escolares podem ganhar significados diferentes, de acordo com a particularidade de cada caso. As crianças que fracassam na escola podem, por meio de suas dificuldades, nos revelarem impasses dos mais diversificados: impasses em suas relações sociais e familiares, impasses pedagógicos, impasses com o saber inconsciente.
Um dos problemas mais sérios da chamada Psicanálise com crianças é resgatar a criança através da sua fala, da sua palavra. Geralmente, ela se encontra misturada às concepções que pais, professores e especialistas fazem dela. A Psicanálise revela o quanto a palavra da criança pode ser encoberta, através de conteúdos de transferências, pela fala dos adultos.
No ambiente educacional, todos os professores deveriam conhecer toda a influência psíquica que o ambiente externo provoca na criança, desde seus primeiros anos de vida, para assim entender melhor os seus alunos. Influência estas que vão refletir na sua personalidade e que irão influenciar em toda a sua vida adulta.        Deve refletir sobre sua prática pedagógica e estar atento ao que se passa na mente de seus alunos, procurando conhecer suas individualidades psíquica através de pequenos gestos que às vezes escapam, tais como:mudanças de atitude e de comportamento no seu dia a dia em sala de aula.
Os alunos precisam e devem entender que o professor é um amigo e companheiro e que a autoridade e limites não podem nem devem ser esquecidos, pois também são gestos de carinho e atenção. Ao escutar o aluno, o professor torna-se acessível e possível localizar os motivos singulares que levam um aluno a fracassar ou ter sucesso na escola, bem como reconhecer a participação de cada um na produção desses problemas: a escola, os professores, a família e o próprio sujeito aprendiz. Dessa forma, rompe-se com uma leitura dicotômica que pretende culpar algum desses fatores pelo fracasso escolar, levando cada um a responsabilizar-se pelo que faz.
É através do brincar e dos brinquedos das crianças que se permite no processo de aprendizagem a conquista da liberdade de aprender e de aquisição de cultura. Os adultos costumam atribuir a eles sentidos e significações prévias, que concebem como sendo o verdadeiro sentido e significado das brincadeiras e jogos infantis.  É neste sentido que as pessoas voltadas para a educação e a aprendizagem precisam prestar um pouco mais de atenção. Atitudes que possibilite ao educador construir um olhar clínico e uma escuta sensível-reflexiva, sobre o grupo, de forma que ele possa ser reconhecido como sujeito de criação.
O uso da atividade lúdica como uma das formas de revelar os conflitos interiores das crianças foi, sem dúvida, uma das maiores descobertas da psicanálise. É brincando que a criança revela seus conflitos. De uma forma muito parecida como os adultos revelariam falando. No entanto, o brincar e as brincadeiras infantis não podem ser tomados como processos iguais à linguagem e à fala.
Para a Psicanálise, a palavra da criança precisa ser resgatada. Para que ela deixe de ser objeto dos desejos e necessidades dos adultos, para se investigar como ela pensa, sente, percebe o mundo à sua volta. Para a Psicanálise a criança, o brincar e os brinquedos são processos que precisam ser ainda investigados, onde o professor deveria estar descobrindo como cada criança brinca, que tipo de brinquedos e jogos ela gosta, etc. emergem em seu lugar as respostas prévias que as diferentes teorias apresentam como sendo o brincar da criança ou as elaborações que os adultos propuseram a respeito dela.
É fundamental que o professor perceba que cada criança frente ao lúdico apresenta a sua própria especificidade. Assim, embora na mesma família dois irmãos  apresentem processos de constituição parecidos, quando se dá a palavra a cada uma das crianças se constata que elas são diferentes.É preciso levar em consideração que o ato de brincar de cada criança é apenas um ato espontâneo de um determinado momento.O processo de desenvolvimento de cada criança necessita de desencadeadores através da linguagem e da fala.Isto quer dizer que, sem a linguagem e a fala, os chamados processos de desenvolvimento não serão acionados.
A psicanálise nos possibilita perceber que não há apenas um entendimento, uma forma de se perceber uma dificuldade e sim vários olhares sobre um sujeito, e que não é possível encaixar os sujeitos em categorias prévias, sejam elas quais forem, porque os sujeitos são sempre únicos. Ela é importante na educação como um processo de reconhecer um mundo de subjetividades que não é completado na escola. A educação precisa fazer uma interlocução com outras áreas, sem perder sua identidade e que sirva de eixo para todos os envolvidos no processo. O não saber nem sempre está relacionado a “inteligência”,e sim com a forma em que se estabelece o vínculo sujeito-aluno, professor-aluno.
A forma com que as crianças interagem com os adultos fará a diferença na relação com o saber, a criança precisa confiar nos adultos para que ela possa aprender e apropriar-se do conhecimento. É preciso refletir sobre quem somos, porque nos tornamos educadores e de que forma estamos atuando na educação para que possamos mudar nossas concepções acerca do fracasso escolar. A Psicanálise irá contribuir para estas mudanças a partir do momento que passarmos a escutar os apelos silenciosos que estamos nos deparando na educação tais como: fracasso escolar, indisciplina, desmotivação do professor e alunos, entre outros obstáculos.
Na escola, a criança precisa do amor e do reconhecimento do professor, precisa encontrar nele o prazer de aprender. Nesta relação professor-aluno, o desejo de ensinar, e o modo como o professor aceita e reconhece o aluno como um ser único e singular, também será importante. A criança que encontra um professor preconceituoso em relação a ela e que não investe nela como um ser único e especial estará concorrendo para que esta criança perca o prazer de pensar e o desejo de aprender.
Além da relação professor-aluno de afetividade, é preciso que haja na escola uma prática pedagógica estabelecida no respeito, na autoridade humana e no estabelecimento de limites, de modo que o professor permita o desenvolvimento e o fortalecimento do eu do educando para que ele desenvolva a auto-estima, confiança, respeito a si e ao outro.
No processo de ensino- aprendizagem existe uma concepção prévia do professor de como deveria ser o ensino do aluno. O que acaba desencadeando uma distorção de todo o processo de construção da relação professor-aluno. Pois antes de observar como o aluno estrutura o seu raciocínio, o professor já está às voltas com um procedimento de encaixe, tentando vê-lo como aluno normal, com distúrbios de aprendizagem ou com algum tipo de deficiência.
Não se pode negar que na maioria dos casos, as dificuldades de aprendizagem vêm acompanhadas por distúrbios de comportamento, e isto só já justificaria a adoção da terapia psicanalítica auxiliando o trabalho pedagógico. Tem que se levar em conta ainda, a fragilidade da formação do ego infantil e o mecanismo de identificação com as figuras parentais e o desenvolvimento do superego. Nessa fase, a criança pode receber influências que venham a ser nocivas para a formação de sua personalidade,  e que, sem um devido acompanhamento, muitos impulsos serão recalcados e remetidos às profundezas da mente onde permanecerão criando tensões e conflitos. O psicanalista na escola pode oferecer terapias não só aos alunos como também aos educadores, com a perspectiva de que o trabalho dentro dos muros escolares se torne ao mesmo tempo mais consciente e mais prazeroso. Diferentemente do que acreditas o professores que acham que sabem quem é o seu aluno que eles têm pela frente, a Psicanálise revela que eles não chegaram nem perto de aprendê-lo. O que eles capturaram foi apenas a sua imagem do aluno.
É preciso que os educadores e os psicanalistas trabalhem em conjunto, resgatando a educação, para que no processo de ensino-aprendizagem existam novas modalidades condizentes com as necessidades dos sujeitos na escola.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ANTUNES, Celso. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências.   Rio de Janeiro: Vozes, 1998.
  ANTUNES, CUNHA, MA. Literatura infantil-Teoria e Prática. São Paulo: Ática, 1990

FERREIRO, Emilia; Teberosky, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
KISHOMOTO, Tizuko Mochida org. Brincar e suas teorias. São Paulo: Cengage Learning, 2008.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos; pesquisa bibliográfica, projeto e relatório e publicações e trabalhos científicos. 6. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2001
MRECH, Leny Magalhães. Psicanálise e Educação, Novos operadores de leitura, São Paulo: Pioneira. 2002.
PILOTTO, Silvia sell Duarte. As linguagens da arte no contexto da Educação Infantil. IN: PILOTTO, Silva Sell Duarte (org.) Linguagens da arte na infância. Joinvile: UNIVILLE, 2007, p.17-28.
SOARES, Magda. Linguagem e escola, uma perspectiva social. São Paulo: Editora Ática, 1994.
VYGOTSKY, LEVY S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984. Pensamento e Linguagem. 2 ed. São Paulo. Martins Fontes, 1989.