A IMPORTÂNCIA DA INSERÇÃO DE LÍNGUA INGLESA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL


Acácio Timóteo JUNIOR

RESUMO: O presente artigo objetiva explicitar a importância da inserção de Língua Inglesa nas séries iniciais do Ensino Fundamental. A proposta supracitada tem como construto teórico (MOITA LOPES, 2003; GIMENEZ 2006; PAIVA, 2003 entre outros), que asseveram a importância do Inglês por vários motivos, tais como: o status da Língua no mundo contemporâneo, a possibilidade de oferecer aos alunos contato com uma nova cultura a fim de fazê-los compreender a sua e a do outro, para assim agir no mundo sob uma perspectiva crítica. Em contrapartida, tem-se também como arcabouço teórico a lei do ensino de nove anos, cuja proposta não inclui a obrigatoriedade de uma Língua Estrangeira nas séries iniciais. Posto isto, surgiu a ideia de um projeto de extensão: Uma ação colaborativa entre a Universidade e o Município que visa à implantação da Língua Inglesa no currículo básico das séries iniciais do Ensino Fundamental, no município de Cornélio Procópio, desenvolvido pelos acadêmicos do curso de Letras da UENP- campus Cornélio Procópio entre 2009/ 2010

Palavras-chave: Língua Inglesa, séries iniciais do Ensino Fundamental, currículo básico.


ABSTRACT: The present article aims to explicit the importance of the insertion of English Language in the first grades of elementary school. The above proposal has as theoretical construct (TONELI, 2006; GIMENEZ 2006 among others), who assert the importance of English for several reasons, such as: the status of the language in the contemporary world, the possibility of offering the students the contact with a new culture, in order to make them understand theirs and the other?s, to act in the world over a critical perspective. On the other hand, there is also, as theoretical framework, the nine-year teaching law, whose proposal does not include the obligatoriness of a Foreign Language in the first grades. On account of this, it came up with the idea of an extension project: A collaborative action between the University and the Town which aims to implement the English Language in the basic curriculum of the first grades of elementary school, in the town of Cornélio Procópio, developed by the seniors of Letras course from UENP campus of Cornélio Procópio between 2009/2010.

Keywords: English Language, first grades of elementary school, basic curriculum.


CONSIDERAÇÕES INICIAIS


É inegável que as sociedades não podem sobreviver de modo isolado, há uma necessidade de comunicação, de inter-relação entre elas, tais relacionamentos não se limitam às questões geopolíticas e culturais (PARANÁ, 2008). Todo esse processo de globalização pelo qual as sociedades contemporâneas sofrem, é o que as fazem assumir um caráter plurilíngue e multicultural (MOITA LOPES, 2003).
O inglês se destaca como a principal língua de comunicação entre os povos atualmente. É a língua de "ascensão, prestígio, língua da moda, da globalização, a língua de todo mundo" (BRETON, 2005; LEFFA, 2002; GRADDOL apud GIMENEZ, 2006) e é pertinente conceituar o termo globalização como uma espécie de "americanização do mundo" (LEFFA, 2002). A sua expansão pelo mundo fez com que a língua inglesa se tornasse uma língua multinacional, o "inglês do mundo" (RAJAGOPALAN, 2005). Conquistou o status de língua franca, e assim, sua expansão resultou na perda de seu vínculo com suas culturas de origem, logo é irrefutável que o inglês não possui donos.
O caráter multinacional da língua inglesa (doravante LI) se deve a alguns fatores importantes, tais como: mais de 70% das publicações científicas do mundo, 75% de toda comunicação internacional por escrito, 80% da informação armazenada em todos os computadores do mundo e 90% do conteúdo da Internet são em inglês. Além disso, é a língua mais falada (mais de um bilhão e meio de falantes) e também é a língua estrangeira (LE) mais ensinada em todo o mundo (GIMENEZ, 2008; SCHÜTS, 2009).
O motivo de tal status se deve, em primeira, instância pelo grande poderio econômico da Inglaterra no século XIX advindo da Revolução Industrial, que disseminou vastamente a língua inglesa pelo processo de colonização. Em segundo lugar, pelo fato de os Estados Unidos serem a grande potência mundial, principalmente a partir da segunda guerra mundial, fato que consolidou o inglês como o idioma das transações internacionais (SCHÜTS, 2009).
Diante disso, é inegável a importância de se saber inglês no mundo contemporâneo. A aquisição da língua estrangeira deixou de ser um luxo, tornou-se primordial no perfil do candidato a um emprego. Quem a domina tem mais chances no mercado de trabalho. Os estudos comprovam que o domínio da língua inglesa implica em um salário até 70% maior (ROCHA, 2010).É por isso que cada vez mais as pessoas querem aprender inglês.
Contudo, suas contribuições vão além das questões de status e poder. No que concerne ao ensino de LI, especialmente para crianças, o inglês não só abre as portas para o desenvolvimento profissional, mas também para o pessoal e cultural, capaz de formar alunos críticos e transformadores.
Embora bastante notória a importância da língua estrangeira na formação de um indivíduo, ela ainda é vista com certo descaso nas diferentes instâncias de ensino, principalmente nas séries iniciais do Ensino Fundamental, cujo currículo básico não preconiza a obrigatoriedade de uma LE. Felizmente o inglês é oferecido em algumas escolas de séries iniciais, em especial do estado do Paraná, mesmo que em caráter de experimentação, por meio de projetos desenvolvidos pelas prefeituras.
Em Cornélio Procópio, um dos municípios que oferece inglês de 1° ao 5° ano, está em desenvolvimento o projeto de extensão "Uma Ação Colaborativa entre a Universidade e o Município", o qual é uma parceria entre o curso de Letras da Uenp e a Prefeitura Municipal, que visa à inserção da língua inglesa no currículo básico das séries iniciais do Ensino Fundamental, para então, o ensino da referida língua deixar o caráter experimental e consolidar-se legalmente no currículo pela sua relevante importância, assim como as demais disciplinas.


1. A LÍNGUA ESTRANGEIRA NA FORMAÇÃO DO DISCENTE


A influência da língua estrangeira no Brasil, em especial o inglês, já se faz presente no Brasil desde o início do século XVI, com o vínculo criado entre Brasil e Inglaterra. A essa época, o único objetivo de se conhecer uma LE se limitava a facilidade das relações diplomáticas entres os países (MARQUES, 2010). Também após a Segunda Guerra Mundial, a importância de se aprender inglês se fez necessária pela grande dependência do Brasil em relação aos Estados Unidos (PARANÁ, 2008). Hoje, com a diversidade cultural existente no mundo, a importância de um língua estrangeira na bagagem cultural de um indivíduo ultrapassa as questões diplomáticas entre países, pondo em xeque questões acerca da inserção desse indivíduo na sociedade, fazendo-o atuar no seu contexto de maneira crítica, reflexiva e ativa a fim de transformar seu meio em um lugar melhor.
O aluno no mundo contemporâneo se encontra imerso em um mundo, onde o inglês está presente em músicas, filmes, videogames, na internet, em produtos, nomes de estabelecimentos entre outros. Diante disso, é fundamental que o aluno interaja com esse mundo globalizado, onde os meios de comunicação, especialmente a internet assumem o papel tanto na comunicação quanto no que tange à aquisição de conhecimento (MARQUES, 2010). O domínio de uma LE, então, se faz imprescindível para que esse processo de interação (aluno-mundo) ocorra.
Segundo uma pesquisa realizada por Oliveira (2006) com professores de LI, a importância da LE, em especial a língua inglesa, na formação do aluno, abrange vários aspectos. Os quatro em destaque são: a aquisição de um LE propicia acesso à cultura de outro povo, acesso a um novo mundo, contribui para a formação de cidadania e como discorrido em outro momento, ela insere o aluno no mundo globalizado.
O conhecimento de uma língua estrangeira proporciona ao aluno o contato direto com essa cultura estrangeira. Esse contato com a cultura do outro conduz o aluno a uma percepção da sua própria, levando o a compreender e aceitar toda a diversidade cultural que permeia seu contexto. Assim, sendo capaz de se posicionar criticamente face às todas essas questões. Tal perspectiva é preconizada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais:

O distanciamento proporcionado pelo envolvimento do aluno no uso de uma língua diferente o ajuda a aumentar sua autopercepção como ser humano e cidadão. Ao entender o outro e sua alteridade, pela aprendizagem de uma língua estrangeira, ele aprende mais sobre si mesmo e sobre um mundo plural, marcado por valores culturais diferentes e maneiras diversas de organização política e social (BRASIL, 1998, p.19).

Pautados na mesma premissa, as Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Estrangeira do Estado do Paraná também associam a importância de uma LE na atuação no mundo de forma ativa e crítico-reflexiva.

Ao estudar uma língua estrangeira, o aluno/sujeito aprende também como atribuir significados para entender melhor a realidade, a partir do confronto com a cultura do outro, torna-se capaz de delinear um contorno para a própria identidade. Assim, atuará sobre os sentidos possíveis e reconstruirá sua sociedade como agente social (PARANÁ, 2008, p.57).


A aprendizagem de uma LE contribui para o acesso ao um "novo mundo" à medida que propicia ao indivíduo acesso à informação, ao conhecimento histórico, social e especialmente a todo conhecimento científico predominantemente em língua inglesa (OLIVEIRA, 2006). O aprendizado de uma LE também está vinculado a uma visão ideológica. "aprender uma língua é assumir um novo ponto de vista ? o ponto de vista do povo em questão" (BARROS, 2002).
A formação da cidadania também pode estar ligada à LE, pelo fato de esta desempenhar um papel social na formação do sujeito. Assim, ela influencia, o modo de como o sujeito se vê como ser humano e como cidadão e como ele encara e atua no mundo (BRASIL, 1998).

(...) falar uma língua é primordialmente apropriar-se dela para seu próprio bem e para ser capaz de interagir com pessoas de outras culturas e com diferentes modos de pensar e agir, histórica e discursivamente marcados, tornando-se apto a enfrentar os novos desafios que o mundo densamente (multi) semiotizado, coloca s eu caminho, nos mais variados aspectos (TONELLI, 2007, p.14).

Os PCNs asseveram que a percepção de mundo, de realidade por partes do aluno/sujeito está estritamente ligada à aquisição de uma língua estrangeira. "(...) quantas (...) mais línguas estrangeiras eu souber, potencialmente maiores serão minhas possibilidades de construir sentidos, entender o mundo e transformá-lo" (JORDÃO, 2004).
Como discorrido em outro momento, a LE tem a autonomia de inserir o aluno no mundo globalizado ao passo que, a língua inglesa é a língua da globalização, é a língua da comunicação mundial. Os PCNs preconizam uma aula de LE como um lugar que propicie:

(...) acesso a diversos discursos que circulam globalmente, para construir outros discursos alternativos que possam colaborar na luta política contra a hegemonia, pela diversidade, pela multiplicidade da experiência humana, e ao mesmo tempo, colaborar na inclusão de grande parte dos brasileiros que estão excluídos dos tipos de (...) (conhecimentos necessários) para a vida contemporânea, estando entre os conhecimentos (em língua estrangeira) (MOITA LOPES, 2003, p.43 apud PARANÁ, 2008).

Nessa perspectiva, quando o aluno tem a oportunidade de ser inserido nessa sociedade globalizada respaldado pelo conhecimento de uma segunda língua, ele contribui na luta contra a desigualdade social.


2. O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NO BRASIL


O ensino da língua inglesa no Brasil iniciou-se, formalmente, em 22 de junho de 1809, pelo decreto assinado por D. João VI, que mandou criar uma escola de língua inglesa e outra de língua francesa. O ensino de língua inglesa tinha o objetivo de qualificar os profissionais para o mercado de trabalho da época com o desenvolvimento do país advindo das relações com outros países, especialmente a Inglaterra, cuja influência era grande sob o Brasil (PUC-RIO, 2009).
Em 1837, com a fundação do Colégio Pedro II, as línguas modernas tiveram, pela primeira vez, certa ascensão, embora a preferência ainda fosse pelas línguas clássicas e o francês com considerável vantagem sobre o inglês, já que aquele era considerado como língua universal, atingindo a status de língua franca nessa época (CHAGAS, 1967 apud PAIVA, 2003; PARANÁ, 2008).
Com a criação do Ministério da Educação em 1930 e subsequentemente a Reforma Francisco de Campos em 1931, houve o estabelecimento de um método oficial para o ensino de língua estrangeira, o método direto. Tal método tinha o objetivo de atender as ansiedades da sociedade da época, o desenvolvimento das habilidades orais, a fim de desenvolver uma efetiva comunicação na língua-alvo, já que no método anterior (método tradicional), as habilidades orais não eram privilegiadas (PARANÁ, 2008).
Em 1942, a Reforma Capanema análoga à Segunda Guerra Mundial, o sistema de ensino se divide em dois ciclos: o primeiro (ginásio) de quatro anos e o segundo (colegial) de três anos, que por sua vez era subdividido em clássico e científico. Como a ênfase nos estudos científicos era maior, a carga horária dedicada ao ensino de LE é reduzida. Após a Segunda Guerra, com o consequente poderio econômico dos Estados Unidos, acentua-se uma dependência econômica e cultural em relação aos Estados Unidos (PUC-RIO, 2009; PAIVA, 2003), isso faz com que o inglês ganhe destaque no cenário não só brasileiro, mas também mundial.
Tanto a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1961 como a LDB de 1971, desconsideram a importância de uma língua estrangeira ao retirar a obrigatoriedade desta do currículo, deixando-a apenas como "recomendação". "A não obrigatoriedade do ensino de LE trouxe como consequência a ausência de uma política nacional de ensino de línguas estrangeiras para todo o país..." (PAIVA, 2003, p.04).
Em 1976, o ensino de línguas volta a ter prestígio com a obrigatoriedade deste apenas para o 2° grau e, com o mesmo espírito do parecer de 1961 e de 1971, a recomendação para o 1° grau (PARANÁ, 2008; PAIVA, 2003).
Com a LDB de 1996, o ensino de língua estrangeira torna-se obrigatório a partir da 5ª série do Ensino Fundamental:

Na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição (BRASIL, 1996. Art. 26 § 5°).

Sobre o Ensino Médio a mesma lei assegura que:

Será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda em caráter optativo, dentro das possibilidades da instituição (BRASIL, 1996. Art. 36,inciso III).

Como visto até aqui, o ensino de línguas sempre foi visto com certo descaso pelas leis que regem a educação brasileira. No que tange ao ensino de línguas para as séries iniciais do que chamamos hoje de Ensino Fundamental, nunca ouve uma preocupação com as mesmas, durante toda a história do ensino de línguas no Brasil, tais séries nunca foram mencionadas pelos pareceres, nem sequer houve/ há uma "recomendação" para o ensino de línguas nesse segmento de ensino.
Como já visto anteriormente, com todo o leque de possibilidades que a língua estrangeira oferece ao sujeito enquanto ser social, que não pode ficar de fora do seu mundo, onde o inglês se faz presente, é que se torna indispensável a inclusão deste no currículo das séries iniciais e não somente nas séries finais do Ensino Fundamental e nas séries do Ensino Médio.
Diante de todo esse aparato, é lastimável que a Lei do Ensino Fundamental de Nove Anos inclua uma LE, mas que na prática o ensino desta apenas acontece do 6° ao 9° ano.

Em todas as escolas, deverá ser garantida a igualdade de acesso dos alunos a uma base nacional comum, de maneira a legitimar a unidade e a qualidade da ação pedagógica na diversidade nacional; a base comum a sua parte diversificada deverão integrar-se em torno do paradigma curricular, que visa estabelecer a relação entre a educação fundamental com: a) a vida cidadã, através da articulação entre vários dos seus aspectos como: a saúde, a sexualidade, a vida familiar e social, o meio ambiente, o trabalho, a ciência e a tecnologia; a cultura; as linguagens; com b) as áreas de conhecimento de: Língua Portuguesa, Língua Materna (para populações indígenas e migrantes); Matemática, Ciências, Geografia, História; Língua Estrangeira, (grifo nosso) Educação Artística (termo substituído por Arte), Educação Física, Educação Religiosa (na forma do art. 33 da LDB (LDB, art. 9°. In.: PARECER CEB 04/98, P.7 apud PARANÁ, 2010, p.13).

O documento não justifica a ausência da LE nas séries iniciais, sem sequer faz menção da contradição existente: a língua estrangeira está presente no Ensino Fundamental de Nove anos, contudo ela não é ensinada do 1° ao 5° ano, salvo raras exceções por iniciativa das prefeituras. Se o novo Ensino Fundamental é de nove anos, se torna difícil entender a razão pela qual o ensino de línguas é destinado somente às séries finais. É questionável o critério usado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná para "selecionar" as séries "merecedoras" da língua estrangeira e excluir as demais, uma vez que, agora, o novo Ensino Fundamental visa à unificação desse segmento de ensino em contrapartida do anterior onde existia uma divisão desses dois segmentos: o Ensino Fundamental I e II. Já que agora o Ensino Fundamental é um só, é confuso e contraditório pensar em dar primazia apenas a algumas séries e desprivilegiar outras.
Face a esta questão, é que surge o projeto de extensão que anseia tornar o ensino de língua inglesa efetivamente oficial nas séries iniciais,equiparando-o com as demais disciplinas "... de modo que todas as disciplinas tenham a mesma importância e se estabeleçam interações entre as mesmas" (PARANÁ, 2010, p.14).


3. UMA AÇÃO COLABORATIVA ENTRE A UNIVERSIDADE E O MUNICÍPIO 2009-2010.


O ensino de Língua Inglesa iniciou-se no município de Cornélio Procópio em
2007 nas escolas em tempo integral: "Professor Aníbal Campi' e Noêmia de Oliveira Bruno".
A disciplina em questão não tinha conteúdos sistematizados e nem uma legislação voltada para esse nível de ensino, os alunos demonstravam-se desinteressados por esta estar apenas em caráter de oficinas assim, poucos alunos participavam visto que, a maioria deles não participavam do "Projeto Educação em Tempo Integral", em que o inglês estava incluído.
Porém no ano seguinte (2008), a diretora Municipal da Educação de Cornélio Procópio Maria Aparecida Ribeiro de Oliveira, com sua vasta experiência de educadora, percebeu a importância do ensino da Língua Inglesa, como prática social e para a formação de cidadãos críticos, a partir disso inseriu a mesma no ensino regular.
Consequentemente a LI tornou-se algo inovador na aprendizagem das crianças do nosso município, com conteúdos sistematizados e profissionais da área de Letras que atendiam as quinze escolas do município de Cornélio Procópio. Desde então, os alunos começaram a mostrar interesse e motivação em aprender um segundo idioma, contudo a rotatividade de professores estagiários incomodava a diretora municipal da educação, cujo objetivo é tornar oficial o ensino da Língua Inglesa na instância supracitada, construir um currículo básico e abrir vagas para professores concursados, com uma remuneração justa ao trabalho desempenhado por tais profissionais.
Devido aos percalços enfrentados, a diretora Municipal Maria Ribeiro, entrou em contato com a professora Mara Pessoa Peixoto da Universidade Estadual do Norte do Paraná, campus de Cornélio Procópio, para desenvolver um projeto de extensão com os acadêmicos de Letras, a fim de qualificar os profissionais dessa área e elaborar um currículo básico de Inglês das séries iniciais.
Já que vivemos em uma sociedade contemporânea, onde vivenciamos as implicações da globalização, o conhecimento de pelo menos uma língua estrangeira como instrumento de ação social, se torna indispensável (GIDDENS, 2005).
Pressupõe que quanto mais cedo a criança aprender uma língua estrangeira, mais chances de sucesso pessoal ela terá (JOHNSTONE, 2002).
Dessa forma começa em 2009 o projeto de extensão "Uma Ação Colaborativa entre a Universidade e o Município.
No município de Cornélio Procópio o ensino de Língua Estrangeira para crianças encontra-se consolidado apenas em escolas privadas, pois nas escolas municipais, a Língua Inglesa é apenas uma disciplina optativa, e não obrigatória no Ensino Fundamental I, sustenta assim um mecanismo de exclusão já que, restringe o acesso às classes menos favorecidas (BONETI, 1997).
Para sanar tais problemas, iniciou-se em 2009, então o presente projeto, coordenado pelas professoras Mara Peixoto Pessoa e Vanessa Hagemeyer Burgo juntamente com Acácio Timóteo Júnior, coordenador dos estagiários de Inglês do município, e envolvendo também os acadêmicos do 3º ano do curso de Letras da Universidade Estadual do Norte do Paraná, Campus de Cornélio Procópio.
Nesse período, os acadêmicos em questão se reuniram com a professora Mara Peixoto Pessoa nas aulas de Formação de Professor de Língua Inglesa, bem como nas de Estágio Supervisionado em Língua Inglesa e Literaturas na UENP e foram distribuídos nove textos reflexivos pautados em TONELLI, 2007 e VIEIRA ABRAHÃO, 2008, que abarcam a temática do ensino de Inglês no 1º segmento da Educação Básica. A sala foi dividida em grupos, a fim de discutir criticamente os textos e apresentá-los para os professores estagiários do Município, a cada quinze dias no período matutino das 10:00 às 12: 00.
Os textos de TONELLI, 2007 foram:
■ Vamos ouvir a voz das crianças sobre aprender Inglês na Educação Infantil;
■ Histórias infantis e o ensino da Língua Inglesa para crianças;
■ A internet e suas contribuições ao ensino de Inglês para crianças;
■ Artes visuais na educação infantil bilíngue;
■ O ensino de L.E (Inglês) para crianças do ensino fundamental público na transdisciplinaridade da linguística aplicada;
Para o enriquecimento do arcabouço teórico, tem-se mais quatro textos de VIEIRA ABRHÃO, 2008:
■ Prática exploratória: questões e desafios;
■ Da formação inicial à formação continuada: reflexões a partir da experiência da PUC/SP
■ Metodologia de ensino de produção de texto e formação continuada
■ A autonomia no aprendizado de L.E: é preciso um novo tipo de professor?
No decorrer das apresentações os professores explanaram a respeito das condições de trabalho, falta de material didático e deram algumas sugestões para melhoria do ensino de Língua Inglesa. Após as apresentações dos acadêmicos, abria-se a discussão dos textos onde os professores estagiários de inglês, tinham a oportunidade de, a partir das suas experiências com a prática de sala de aula, analisar os textos teóricos.
Foi adotado também pelos professores de Língua Inglesa, um modelo de planejamento e os conteúdos foram elaborados por série, para que ficassem de maneira padronizada, a fim de não prejudicar a permutação de alunos nas escolas.
Em 2010, a professora Mara Peixoto apresentou aos professores de Língua Inglesa, o currículo básico de Espanhol do município de Cascavel, para que os professores de Língua Inglesa pudessem analisar e discernir o que era pertinente para construção do nosso currículo.
Depois dessa etapa os professores de Língua Inglesa ficaram responsáveis a elaboração dos conteúdos para o currículo, então a professora coordenadora do projeto distribuiu para cada professor a tarefa de pesquisar os conteúdos dados em cada ano do Ensino Fundamental I, para que os conteúdos de nosso currículo ficassem de forma interdisciplinar em relação às demais disciplinas.
Além desta análise de conteúdos junto aos professores da rede, das disciplinas de língua portuguesa, matemática, geografia, história, ciências, artes e cultura afro, outra frente de trabalho estava sendo feita por outro grupo de acadêmicos. Ao desenvolver o estágio supervisionado, algumas dificuldades foram encontradas, dessa forma a coordenadora do projeto, que por sua vez também é professora, supervisora e coordenadora de estágio, propôs a este grupo de acadêmicos a elaboração do currículo constando os pressupostos teóricos, encaminhamentos metodológicos e avaliação.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


O ensino de Língua Inglesa nas séries iniciais é a construção de um caminho comunicativo para que a criança seja capaz de transmitir e assimilar o conhecimento da sociedade e do mundo em que vive, podendo encaminhar a criança para a construção de seu próprio conhecimento, permitindo que ela possa integrar-se à sociedade como agente transformador e construtor de uma nova mentalidade.
Em vista das transformações e dos avanços significativos ocorridos na última década, inclusive na estrutura e funcionamento da Educação, procuramos, por meio deste trabalho, apresentar a importância de ensinar uma LE para as crianças das séries inicias. Este trabalho também propõe que com a inserção da Língua Inglesa nessa modalidade e com o apoio político de nossos governantes, possa se abrir vagas para concurso, onde os profissionais do curso de Letras possam atuar. Visa também à implantação efetiva das aulas de inglês com carga horária de, no mínimo duas horas semanais, visto que para a disciplina de Arte são dedicadas duas horas, já que uma hora é insuficiente para o trabalho com arte, assim como também é para o desenvolvimento das habilidades de uma segunda língua. Com visões para o futuro, acreditando que esse currículo elaborado pelos formandos de Letras de 2010 seja aprovado na câmara municipal de Cornélio Procópio, propomos para o ano subsequente a elaboração de um novo projeto de extensão voltado à elaboração do material didático que atenda as necessidades desse currículo.
Por fim, aprender uma LE nas séries iniciais não é mais uma questão de necessidade, porém um direito que não pode ser negado a nenhuma criança, pois quando se ensina uma LE, neste caso o Inglês, nas séries iniciais, valorizam-se acima de tudo as competências e habilidades que a criança desenvolve ao longo de sua vida escolar.

























REFERÊNCIAS


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