” A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica, implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.”
Paulo Freire ao dizer essas palavras, diz que ficou tentando “reler” momentos fundamentais de sua prática, guardados na memória, desde as experiências mais remotas de sua infância, da adolescência e mocidade. Ao escrever um texto, ele ia “tomando distância” dos diferentes momentos em que o ato de ler se veio dando na experiência existencial dele. Para ele primeiro veio a leitura do pequeno mundo que o cercava, somente depois a leitura da palavra, que nem sempre ao longo de sua escolarização foi a leitura da “palavra mundo”. Paulo Freire faz uma retomada da sua infância distante, buscando a compreensão do próprio ato de “ler” seu mundo. nesse esforço, ele vai recriando e revivendo no texto que escreve a experiência vivida no momento em que ainda não lia a palavra. à medida em que Paulo Freire foi se tornando íntimo do seu próprio mundo, em que melhor o percebia e o entendia na “leitura” que dele ia fazendo, os seus temores iam diminuindo. É importante dizer que a “leitura” do mundo de Paulo Freire não fez dele um menino antecipado em homem. Para ele, a decifração da palavra fluía naturalmente da leitura do seu mundo particular. Ele foi alfabetizado no chão do quintal da própria casa, à sombra das mangueiras com palavras dele. Quando chega à escola, já está alfabetizado.
Se fizermos um paralelo com a realidade brasileira, ficaremos pasmados. De maneira quase geral, as nossas crianças, depois que chegam à escola levam em média de sete a oito anos para decodificar textos. Dizemos decodificar porque a nossa realidade oferece também a leitura sem o contexto da compreensão e reflexão. quando falamos em nossa realidade, não estamos divagando superficialmente a respeito de como as escolas do Brasil vem ao longo da sua história tratando a leitura. Estamos falando de uma leitura fragmentada. Lido os textos do livro didáticos, o aluno pouco fica sabendo quem o escreveu, ou qual significado do texto. Isso é o mínimo que podemos dizer, porque sabemos que os textos lidos na escola, tem como intenção resolver os exercícios em sala de aula. Não temos a intenção de dizer que tudo esteve errado na educação brasileira. Não se trata disso: o que queremos dizer é que essa leitura absorvida por Paulo Freire, traz uma outra visão de mundo.