A IMPORTÂNCIA DA INTERAÇÃO PROFESSOR/ALUNO PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

O ser humano é social por natureza e, de acordo com o convívio no decorrer de nossas vidas, vivemos situações que nos constrangem ou enaltecem. Sofremos desilusões, aprendemos com nossos erros e acertos e, através da nossa vivência, construímos a nossa personalidade.

Assim, podemos considerar que as relações humanas, mesmo complexas, são peças fundamentais na realização de mudanças nos níveis profissional e comportamental, entretanto não podemos ignorar a importância na interação entre professor e aluno.

No tocante a relação ensino aprendizagem e a interação professor/aluno podemos aferir que são fatos que decorrem atrelados.

De acordo com Coll (1996), o ensino eficaz foi associado a variáveis e a aspectos diferentes na história da pesquisa educativa, com a vida das classes como seu objeto e revelando importância às interações estabelecidas entre os protagonistas da situação educativa e às de ordem metodológica.

Durante algumas décadas houve uma mudança conceitual, com uma preocupação em identificar os pontos para uma eficácia docente e para uma categorização do comportamento, em que o interesse é voltado para o processo de interação professor-aluno.

Coll (1996) enfatiza que a ideia remota de que o homem era um ser fácil de ser modelado é substituída pela ideia de que o ser humano seleciona, assimila, processa e confere significados aos estímulos que recebe, o que provoca uma mudança profunda na maneira de entender o processo ensino-aprendizagem.

E descreve que “A atividade construtiva do aluno aparece como um elemento mediador de primeira importância entre, por um lado, a influência educativa que exerce o professor e, por outro, os resultados da aprendizagem” (1996 p.287), onde acredita que seja necessária a introdução de processos construtivos intermediários entre professor e aluno. É função do professor agir em intermédio entre os conteúdos da aprendizagem e a atividade construtiva para que os alunos possam assimilar o máximo possível.

Para Coll (1996), “o ensino pode ser descrito como um processo contínuo de negociação de significados, de estabelecimento de contextos mentais compartilhados” (p.296) onde carece da contribuição de todos os envolvidos nesse processo. O conhecimento construído pelo aluno durante as atividades escolares é baseado em conhecimentos sociais, porém com a ênfase da interação estabelecida com o professor. A interação aluno/professor é um grande alvo para a compreensão do comportamento humano. Esta não deve ser uma relação de imposição, mas uma relação de cooperação, de respeito e de crescimento. O aluno deve ser considerado como um sujeito interativo e ativo no seu processo de construção de conhecimento. Tendo o professor um papel fundamental nesse processo, como um indivíduo mais experiente. Por essa razão cabe ao professor considerar também, o que o aluno já sabe para a construção da aprendizagem.

O professor torna-se um mediador da cultura que possibilita progressos no desenvolvimento da criança. Nessa perspectiva, não cabe analisar somente a relação professor-aluno, mas também a relação aluno-aluno. Conforme Vygotsky (1994), a construção do conhecimento se dará coletivamente, considerando que o desenvolvimento intelectual de cada pessoa ocorre em dois níveis: um real e um potencial. O real é aquele já adquirido ou formado, que determina o que a criança já é capaz de fazer por si própria porque já tem um conhecimento consolidado. Enquanto que o desenvolvimento potencial é quando a criança ainda não aprendeu tal assunto, mas está próximo de aprender, e isso se dará principalmente com a ajuda de outras pessoas, resultando  no conceito de desenvolvimento proximal.

Vygotsky (1994) profere que cabe ao professor ver seus alunos sob outra perspectiva, bem como o trabalho conjunto entre colegas, que favorece também a ação do outro na zona de desenvolvimento proximal. Numa perspectiva histórico-cultural, o enfoque está nas relações sociais. Destacando a importância das interações sociais, Vygotsky (1994) propõe que a construção do conhecimento ocorre a partir de um intenso processo de interação entre as pessoas. Assim, Vygotsky destaca a importância do “outro” não só no processo de construção do conhecimento, mas também de constituição do próprio sujeito e de suas formas de agir.

Em que se avalia que o educador para pôr em prática o diálogo, não deve colocar-se na posição de possuidor do saber, deve antes, colocar-se na posição de quem não sabe tudo, reconhecendo que mesmo um analfabeto é portador do conhecimento da vida.

Desta maneira, o aprender se torna mais interessante quando o aluno se sente competente pelas atitudes e métodos de motivação em sala de aula. Para que isto possa ser melhor cultivado, o professor deve despertar a curiosidade dos alunos, acompanhando no desenvolver das atividades.

O professor não deve preocupar-se somente com o conhecimento através da absorção de informações, mas também pelo processo de construção da cidadania do aluno. Assim, não podemos pensar que a construção do conhecimento é entendida como individual, mas que o conhecimento é um produto da atividade e do conhecimento humano distinguido através do social e da cultura.

Assim, vale dizer que o trabalho do professor em sala de aula e seu relacionamento com os alunos são marcados pela relação que ele tem com a sociedade e com cultura.

Nesse sentido Paulo Freire (1996) nos mostra que a educação é uma forma de intervenção no mundo. Assim, o professor deve saber levar seus alunos ao movimento do pensamento de forma a acompanharem o novo conhecimento que está sendo criado.

Assim como não posso ser professor sem me achar capacitado para ensinar certo e bem os conteúdos de minha disciplina não posso, por outro lado, reduzir minha prática docente ao puro ensino daqueles conteúdos (...) Tão importante quanto o ensino dos conteúdos, é o meu testemunho ético ao ensiná-los. (Freire, 1996 p.103)

Freire explicita que o professor, independente da forma como se mostra aos alunos, sempre deixa algumas marcas no aluno, boas ou ruins o professor deve saber educar para que a necessidade do limite seja assumida pela liberdade e autoridade em conjunto.

Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. (freire, 1996, p.36)

Dessa forma para que a alfabetização de adultos obtenha sucesso, faz-se necessário uma compreensão do educador à cerca dos fatores envolvidos na educação, uma vez que a prática exige do educador um comprometimento político e social, visto que o aluno não se alfabetiza sozinho.

(...) a alfabetização se dá através da compreensão que o educador tem da resistência das classes populares, suas festas, suas danças, seus folguedos, suas lendas, suas devoções, seus medos, sua semântica, sua sintaxe, sua religiosidade, pois assim o educador poderá transformar o conteúdo em formas reais, palpáveis, facilitando a construção do saber. (Freire, 1993 p.12)

Com a simplificação e a ajuda do educador, o educando deixa de ser analfabeto, no seu sentido mais amplo, passa a ser cidadão alfabetizado. Aquele que consegue, além das competências funcionais de ler e escrever, ler o mundo ao seu redor, e então compreender e atuar criticamente.

Freire (1990, p.11) afirma que “ser alfabetizado não é ser livre; é estar atuante na busca pelo direito de voz, de história e de futuro. Atuante no sentido de estar presente na sociedade, analisando seu meio político, econômico e social, ao qual estamos inseridos”.

Assim a relação entre professor e aluno depende do clima estabelecido pelo professor, da relação com seus alunos, de sua capacidade de ouvir, refletir e discutir o nível de compreensão dos alunos e da criação das pontes entre o seu conhecimento e o deles.

Indica também, que o professor deve buscar educar para as mudanças, para a autonomia, para a liberdade possível numa abordagem global, trabalhando o lado positivo dos alunos e para a formação de um cidadão consciente de seus deveres e de suas responsabilidades sociais.

Disserta que a relação professor/aluno é fonte de várias pesquisas, as quais demonstram insuficiente interesse prestado à essa relação durante as atividades escolares e a contribuição para os maus resultados educativos.

Coll (1996) refere que há uma nova concepção, na qual o aluno constrói seu próprio conhecimento numa interação entre o aluno, o conteúdo e o professor. Destacando a possibilidade de que os colegas da sala de aula podem exercer influência educativa, em determinadas circunstâncias.

Há alguns estudos que demonstram que a relação entre os alunos pode influir decisivamente na execução de metas educativas e também sobre o desenvolvimento social e cognitivo e no controle de impulsos agressivos.

Coll decifra que:

A interação entre iguais e a interação professor/aluno são, com toda segurança, caminhos que podem convergir em um enfoque educativo cuja finalidade seja a de promover a aprendizagem significativa, a socialização e o desenvolvimento dos alunos. (1996, p.314)

O professor deve agir como um facilitador ao acesso das informações, como um auxílio para que o aluno conheça seu mundo e tudo o que o rodeia, ensinando o aluno a orientar-se com liberdade de expressão e de ação. Da mesma forma, o aluno deve respeitar a escola e o professor, aproveitando o momento de aprendizagem, para aprender ativamente como sujeito da ação comprometido com as mudanças que são necessárias.

Desta forma o professor precisa conhecer seu aluno e os estágios da motivação que implicam na aprendizagem, geralmente a motivação vem da necessidade de superação e de bem estar com a conquista, mas se o educador não conhece, não tem formação, como saberá lidar com a baixa estima dos alunos.

Assim, o educador precisa ser democrático para que a sala de aula seja um espaço de vivência das ideias nas quais acredita e também um espaço de grande respeito com a vivência do aluno, sua vida antes e fora da sala de aula. Pois este tem uma vida fora do ambiente escolar, mas é dentro deste ambiente construído com respeito e dedicação que se proporcionará a aprendizagem, através da visão crítica a respeito dela. 

REFERÊNCIAS

 

 

 

COLL, Cesar. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia e educação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1996.

 

 

 

FREIRE, Paulo. – Pedagogia do Oprimido – 43ª ed. – Rio de Janeiro, Paz e Terra 2005.

 

 

GIL, Antonio Carlos. Didática do ensino superior. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2007.

 

 

LIBANEO, José Carlos.  Didática. São Paulo: Cortez, 2000.

 

 

 

 

PILETTI, Claudino. Didática Geral.  23 ed. São Paulo: Ática, 2000.

 

 

 

 

MOROSINI. Marilia Costa (org.).  Professor do Ensino Superior: identidade, docência e formação. 2 ed. brasília: Plano Editora, 2001.

 

 

 

VYGOTSKY, L. S. A formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994.