A filosofia é importante para a formação intelectual desde o ensino básico

A filosofia, na sua essência, é uma forma de buscarmos a verdade. Essa verdade pode nascer da reflexão ou surgir como algo novo, mas, sempre baseado no dia-a-dia.
O que quero dizer, é que a filosofia na educação nasce do cotidiano, dos problemas reais vividos na prática educacional. Pode surgir também da reflexão, mas não apenas dela.
Quando olhamos para trás e deparamos com essa briga constante de tentar tornar a filosofia como matéria curricular do ensino básico, vemos o quanto é importante a filosofia para o ensino. A filosofia abre a mente e pode emancipar o homem, nesse caso, os alunos. Não por acaso, no período militar a filosofia era vista como uma inimiga do governo, pois, esse papel de emancipadora e questionadora atribuída à filosofia era uma ameaça ao poder da ditadura que prevalecia no Brasil e em grande parte do mundo.
Quando falamos em tirar ou deixar a filosofia como integrante do currículo do ensino básico, não estamos levando em conta o que é ou não essencial na formação intelectual do indivíduo, que por sua vez não é capaz de decidir o que deve ou não estudar ou aprender na escola, apenas o faz se for imposto a ele.
Do outro lado, mas inda interligado, temos a filosofia como forma de despertar aos professores o espírito questionador de sua prática educativa. Não é aceitável vermos um mestre movendo-se como uma simples peça de tabuleiro de xadrez, que faz aquilo que a determinam e pronto. O professor deve ter voz ativa e questionar, por exemplo, o porquê de se seguir uma cartilha imposta pelo estado, tirando-lhe a liberdade de lecionar da forma que mais lhe for convincente, livre. Esse é um dos sentidos, a meu ver, da filosofia da educação.
Com todas essas idas e vindas da filosofia no currículo, temos que prestar mais atenção no que é estudado hoje em filosofia. A filosofia é colocada livremente como uma ferramenta que será realmente útil ao aluno e posteriormente ao cidadão, ou apenas como uma matéria a ser cumprida e que apenas coloca citações de filósofos do passado, com textos e frases que muitas vezes não despertam nada nos alunos?
Muito me impressionam os alunos de hoje em dia - eu me incluo nessa geração ? que não tem voz ativa, que aceitam a tudo calados e não reagem às diversas formas de submissão impostas pelo sistema capitalista. Aliás, é bem importante que se diga que temos que encarar o capitalismo, afinal, ele esta aí e veio para ficar, ou alguém tem ainda alguma esperança de que o socialismo ainda vai reinar. O jovem contemporâneo, na sua maioria, não esta nem aí para essa questão, pois, tiraram-lhe a alternativa de ao menos questionar isso.
Quantos de nós já presenciamos jovens com a camiseta estampada com o rosto de Che Guevara, e ao mesmo tempo com um tênis americano no pé, ou comendo em uma rede de fast food americana. Não sabem, pois, que aquele retrato simboliza toda uma geração que lutava por ideais, que foi contra o imperialismo americano e capitalista. Esse acredito ser o papel da filosofia enquanto questionadora e iluminadora de nossa mente pensante.
Porém, é difícil falarmos de mentes pensantes ao depararmos com a massa alienada e bitolada nos grandes meios de comunicação. As pessoas ouvem as mesmas músicas, assistem aos mesmos filmes e até vestem as mesmas roupas. Não param nem para analisarem se realmente aquilo é bom ou não. Como falar em mentes pensantes diante de uma juventude que aceita a falta de escrúpulos dos políticos?
Para ser mais explicito tenho que citar o período militar. Durante os terríveis e massacrantes tempos de ditadura militar era visto constantemente artistas, políticos e militantes em geral, serem mortos, torturados ou tendo que ser exilados. Apesar de todo esse risco, ainda assim víamos as pessoas, e, sobretudo os jovens, irem as ruas e lutarem pelos seus direitos. Agora, em pleno século XI, e sem toda essa pressão e medo, e até com certa liberdade, onde deveríamos estar as ruas e não aceitar tudo que nos impõem, ficamos calados e alheios a tudo. Será isso um reflexo dos muitos anos em que a filosofia esteve apagada da nossa vida escolar? Ou será também uma conseqüência dessa falsa democracia em que vivemos?
Quando digo falsa democracia, digo falsa porque nem todo tem as mesmas oportunidades. E para não fugir do tema, posso dizer que nem todo tem a oportunidade de estudar a filosofia pura, aquele que nos acorda para o mundo e nos faz refletir. A elite brasileira, por sua vez, sempre teve esse privilégio, que por hora é colocada na educação básica brasileira simplesmente por uma mera obrigação e não com a mesma intenção em que é colocada para os indivíduos mais abastados.
Para finalizar tenho que dizer, não basta apenas estudar filosofia, ou colocá-la apenas como parte do currículo básico. A filosofia é muito mais do que isso, ela precisa ter uma função libertadora e explicita. Ela precisa servir par que o homem passe a pensar e refletir. Agora, basta a nós professores, tanto os de filosofia, quanto os de geografia, história ou qualquer que seja encararmos a filosofia como importante e fundamental para o processo de crescimento intelectual e de emancipação do homem.