ESCOLA DE TEOLOGIA PASTORAL PARA LEIGOS

DIOCESE DE CAETITÉ – BAHIA 

A IMPORTÂNCIA DA FÉ NAS DECISÕES POLÍTICAS

 Vilma Novais Leite de Oliveira[1]

Pe. José Silva Figueredo[2] 

Resumo: O presente artigo objetiva propiciar uma reflexão mais aprofundada sobre a política e a fé na vida do ser humano, compreendendo que ambas são inseparáveis, pois é através dessa junção que o cristão pode lutar pelo bem comum e promover a paz e a justiça no mundo. Compete ressalvar que as motivações para arraigar a pesquisa em questão foram: a necessidade de observar a analogia da fé com a realidade econômica, social e política de uma sociedade; Mostrar a fé como uma virtude sobrenatural pela qual o homem crê em Deus e em tudo aquilo que revelou à Santa Igreja, na qual ele propõe a crer; e por fim, buscar uma apropriada compreensão entre fé e política, no sentido de possibilitar decisões acertadas no ambiente político através de uma direção teológica. Partindo dessa visão, iniciou-se um estudo a partir de uma pesquisa bibliográfica que relata o quanto a fé é salutar nas decisões humanas, assim como o envolvimento nas atividades políticas de forma justa e fraterna torna o homem capaz de viver a fé no amor de Deus de forma plena. 

Palavras-chave: Fé. Política. Confiança. Justiça. Fraterno. 

1 FÉ E POLITICA NA EDIFICAÇÃO DE UMA SOCIEDADE 

O artigo aborda questões relacionadas com a fé e política, relatando que, embora os temas sejam independentes entre si, encontram pontos que constituam relações entre eles. Assim, o artigo em pauta tenta mostrar a importância da fé para se estabelecer um novo parecer de organizar uma sociedade através da atuação política de caráter influente na edificação de uma sociedade que visa o bem comum. E, principalmente, amoldar-se que todas as atitudes estejam em consonância no agir à Luz do Evangelho e da Fé em Jesus Cristo que é o exemplo máximo da caridade.    

É evidente ressaltar que quando a política está vinculada a fé promove a edificação de uma sociedade. Portanto, a fé deve estar sempre presente nas ações da política, pois sem a existência de convicções ideológicas cristãs o homem não impetra a organização de uma ordem equitativa e com durabilidade.

De acordo com a visão explanada acima, o artigo partiu de pesquisa com ênfase bibliográfica onde se inicia a apreciação da Fé nas decisões Políticas. Os dados coletados para a referente pesquisa foram alcançados com base nos documentos redigidos pela Igreja Católica, na fundamentação de renomados teólogos. 

2 FÉ NA PERSPECTIVA DA JUSTIÇA 

A Fé é uma das virtudes teologais. É pela fé que são aceitas as verdades reveladas e a confiança em Deus, uma vez que a mesma é o primeiro contato do ser humano sobre as obras divinas. Mas, não basta somente ter fé; é necessário vivê-la através de ações, de gestos concretos, do anúncio e, sobretudo, se basear na caridade para que a fé possa ser real. A verdadeira Fé “age pela caridade.” (Gl 5,6). Quando o ser humano vive a plenitude da fé, ele torna-se capaz de compreender o sofrimento, a opressão e outros males que afetam a vida de milhares de pessoas, abrindo dessa forma para a política e consequentemente governando com equidade e justiça.

É por isso que é impossível separar a fé da política, visto que ambas estão a serviço do bem comum. 

3  A FÉ: GRAÇA E VIRTUDE NA VIDA DO SER HUMANO 

A fé é uma virtude imprescindível na vida do cristão, sobretudo porque a fé é um meio de acreditar que algo pode ser realizado ou mudado. Mas é preciso conscientizar que essa virtude é dom de Deus. Na Sagrada Escritura há várias passagens em que relata sobre essas questões: A exemplos pode-se citar sobre a fé do patriarca Abraão que partiu obedientemente para uma terra que deveria receber como herança ainda sem saber para onde ia. Também foi pela fé que Sara recebeu a graça de conceber um filho mesmo sendo estéril e de idade avançada, igualmente foi pela fé que Abraão ofereceu seu filho único, Isaac em sacrifício. O que se pode comprovar na citação a seguir: 

A fé é a virtude teologal pelo qual cremos em Deus e em tudo o que nos disse e nos revelou, e que a Santa Igreja nos propõe para crer, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, "o homem livremente se entrega todo a Deus”. Por isso, o fiel procura conhecer e fazer a vontade de Deus. “O justo viverá da fé.” (Rm 1,17). (CIC, 2000, p. 488,489)

Fica evidente então, que a fé é um dom de Deus e somente Nele é que se pode aperfeiçoá-la. O Evangelista Lucas também narra de forma notável sobre a fé que a Virgem Maria teve quando acolheu o anúncio e a promessa trazida pelo Anjo Gabriel que nada é impossível a Deus e dando seu assentimento: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,37-38)

A fé deve ordenar toda a vida do homem e todos os seus atos. O mesmo acontece com as atividades políticas que iluminada pela fé, apontam a justiça e a bondade como as fontes geradoras de toda solidariedade e caridade na família e na sociedade. Deste modo, é preciso que todos procurem cumprir as exigências que a fé e a política propõem, para que toda dominação, exploração e injustiça social sejam denunciadas. 

3.1 UM BREVE OLHAR SOBRE A PALAVRA POLÍTICA 

O vocábulo política significa arte e ciência de bem governar os povos e de cuidar dos negócios públicos com sabedoria. (Ximenes, 2001, p. 737)

O homem, ser social por excelência para viver em sociedade precisa garantir suas necessidades de naturezas econômica, social e religiosa. Para atender a estas e outras necessidades cria-se a sociedade política, representada pelo Estado. Cabe ao Estado a responsabilidade pelo bem comum geral ou pelo bem público dos indivíduos, das famílias e das instituições. Vale ressaltar que “na história da evolução humana” sempre houve alguém com deveres e obrigações definidas para compor essa função. 

3.2 A RELAÇÃO ENTRE FÉ E POLÍTICA 

É impossível separar fé da política, sobretudo porque fé e política estão intimamente ligadas entre si, mas é preciso conscientizar que mesmo que a fé inclua a política, também a supera. Por isso, não se pode reduzir a fé à política, (tentação dos engajados), tampouco reduzi-la à vida privada (tentação da burguesia).

Desde o Antigo Testamento os profetas já denunciavam as questões políticas que afetavam e oprimiam o povo de Deus, como afirma o profeta Isaias “Ai daqueles que fazem leis injustas e dos escribas que redigem sentenças opressivas, para afastar os pobres dos tribunais e negar direitos aos fracos de meu povo.” (Is 10, 1-2). Ainda no Novo Testamento, o próprio Jesus vem testemunhar que é preciso apontar as questões políticas e sociais que violam a dignidade da pessoa humana.  Como é possível confirmar no Compêndio da Doutrina Social da Igreja: 

Mediante as multíplices expressões dessa consciência, a Igreja entendeu, antes de tudo, tutelar a dignidade humana perante toda tentativa de repropor imagens redutivas e distorcidas; ademais, ela tem repetidas vezes denunciado as muitas violações de tal dignidade. (DSI, 2004, p. 72) 

Sendo a Igreja considerada mãe, ela é capaz de perceber as várias tentativas que abalam a dignidade da pessoa humana, e aponta provável solução: quando a sociedade é capaz de enxergar Deus na pessoa do irmão e cada irmão em Deus, evidenciam-se possibilidades de favorecer ao homem condições de um autêntico desenvolvimento humano, a ponto de elevar sua dignidade. 

3.3 A POLÍTICA NA CONSTRUÇÃO DO BEM COMUM 

A participação política é essencial na vida humana, sobretudo porque é pelos atos políticos que o homem luta pelo bem comum de todos aqueles que encontram marginalizados. Os documentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a esse respeito aborda: 

A participação política é uma das formas mais nobres do compromisso a serviço dos outros e do bem comum. Ao contrário, a falta de educação política e a despolitização de um povo, e especialmente dos jovens, pela qual fossem reduzidos à condição de simples espectadores ou de atores de uma participação meramente simbólica, prepararia e consolidaria a alienação da liberdade do povo nas mãos da tecnocracia de um sistema. (CNBB, 1977, nº10. p.13) 

Desta forma é preciso despertar a consciência de todos os cidadãos e cidadãs sobre a importância de participar dos atos políticos. E aos jovens aconselhá-los a deixar de serem espectadores e a se engajarem na construção de uma sociedade pluralista, justa e participativa, sendo assim uma das possíveis formas de consolidar a democracia. Deste modo quem não participa das questões políticas viverá obrigado por lei seguir às regras estabelecidas por aqueles que participam. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A fé é um dom que Deus concede ao homem gratuitamente. Todavia, o ser humano pode perder essa virtude, quando depara-se muitas vezes com o egoísmo em que poucos detêm o poder e muitos estão à margem da sociedade, ainda em situações que ocorrem: mortes, acidentes, injustiça e principalmente a falta de partilha. Para que não venha naufragar a Fé é preciso que o cristão seja combatente na fé, ou seja, que medite a palavra de Deus e que haja com equidade em todas as situações da vida.

Nas atividades políticas a recíproca não é diferente, pois o homem, político por natureza, precisa estar atento às necessidades que milhares de pessoas sofrem, como: fome, miséria, discriminação social entre outras. Para que esses males sejam combatidos precisamos agir à luz do Evangelho e da fé em Jesus Cristo que é o exemplo máximo da caridade.

No presente artigo fica evidente que é impossível a separação da fé e da política, principalmente porque ambas precisam ser alimentadas à luz da verdade e da boa consciência. A política deixa o espírito nobre e elevado a ponto de transcender-se. A fé é algo maior, sobretudo porque é individual, consciente. As atividades políticas são pluralistas, ou seja, visam ao bem comum de todos. Vale ressaltar que os sinais dos tempos apontam para novas propostas políticas, em que os governantes estejam atentos ao cumprimento das necessidades reais do povo.

A atividade política está presente na vida do homem direta ou indiretamente, visto que o homem para viver a sua fé, se compromete de forma política na denúncia da vida desumana e injusta que muitos povos vivem. Além disso, quando a política é iluminada pela fé, a mesma afina o espírito humano, tornando o cristão capaz de colocar o bem do próximo acima do próprio bem.

Portanto, a fé é uma virtude sobrenatural que torna o homem comprometido e consciente que as suas ações políticas, sociais ou eclesiais, sejam realizadas na luz da verdade e na perfeita caridade.

REFERÊNCIAS 

IMPREMATUR.  Bíblia Sagrada Ave-Maria, 141. ed. São Paulo: Ed Ave Maria, 1959, (impressão 2001). p. 1632. 

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Paulinas, Loyola, Ave Maria, 2000. 

CNBB. Plano de Pastoral de Conjunto. Rio de Janeiro: Livraria Dom Bosco Editora, 1967. 

___Exigências cristãs de uma ordem política. 10. ed. São Paulo: Edições Paulinas, 1977. (Documentos da CNBB, 10). 

____Evangelização e Missão Profética da Igreja. Novos desafios. São Paulo: Edições Paulinas, 2005. (Documentos da CNBB, 80). 

PINHEIRO, José Ernanne. Resgatar a dignidade da política. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 289. 

 PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”. Compêndio da Doutrina Social da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2004. 

XIMENES, Sérgio. Dicionário da Língua Portuguesa. 3ª ed. São Paulo: Ediouro, 2001, p. 737.


[1] Teologanda da Escola de Teologia Pastoral para Leigos – Nupex (Núcleo de Pesquisa e Extensão) – UNEB           Campus XII – Guanambi-Ba. Artigo produzido em 2012.

[2] Orientador, Padre da Paróquia de Brumado. Licenciado em Filosofia na Faculdade Batista Brasileira – Salvador- Ba, Bacharel em Teologia na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção – Ipiranga- SP, Pós-graduado em Movimentos Sociais , Organizações Populares e Democracia Participativa na Universidade Federal de Minas Gerais-MG.