IRAMAR ANTÔNIO DOS SANTOS

RESUMO
Este artigo mostra a importância da educação ambiental nos cursos de engenharia civil, bem como, apresenta sugestões para introduzir a consciência do desenvolvimento sustentável nos currículos dos cursos de engenharia civil. A construção civil sempre foi sinônimo de desenvolvimento econômico e social de qualquer país, entretanto, ao mesmo tempo em que se elevam os índices de desenvolvimento, aumenta o consumo de recursos naturais e também a geração de resíduos, gerados pelas obras necessárias ao desenvolvimento.
Desta forma, o grande desafio do engenheiro civil, é utilizar os recursos naturais disponíveis, para a construção de Estradas, Pontes, Prédios, Viadutos, hidrelétricas e demais obras de arte, de forma a atender as necessidades da geração atual, mantendo índices de crescimento econômico e social aceitáveis, sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Diante deste grande desafio, a educação ambiental é a principal ferramenta para equalizar este problema e deve ser incorporada aos currículos dos cursos de engenharia civil desde os primeiros semestres, para que desta forma, possa, ainda na universidade, despertar o interesse dos futuros engenheiros civis, para a grande questão da preservação ambiental.

Palavras-chave: Engenharia civil, Educação ambiental, Desenvolvimento sustentável

INTRODUÇÃO
Antes da década de 90, a preservação ambiental, de maneira geral, era entendida pela maior parte da sociedade como uma questão defendida apenas por ecologistas radicais que estavam preocupados, única e exclusivamente, com a preservação do meio ambiente sem considerar o desenvolvimento como um todo. Nesse contexto, o assunto era tido como uma barreira ao progresso e ao desenvolvimento econômico. No Brasil, o crescimento populacional, a alta concentração de contingentes populacionais nas cidades, a diversificação de atividades industriais e aumento no consumo de bens e serviços têm levado a uma situação extrema, onde o consumo crescente e descontrolado de recursos naturais está atingindo proporções alarmantes. Esse modelo adotado, até recentemente não havia apresentado problemas, uma vez que os recursos naturais existiam em abundância e a parcela da população que estava incorporada a sociedade de consumo ainda era relativamente baixa.
Porém com a escassez de recursos naturais por que passam muitas regiões, e o alto volume de resíduos gerados pelas diversas atividades produtivas, entre elas se destaca a construção civil, e a indisponibilidade de locais para deposição desses resíduos e com o conseqüente decréscimo na qualidade de vida da sociedade, o que se reflete em maior consumo, surgiu uma nova forma de pensamento, a do desenvolvimento sustentável. Esse tipo de desenvolvimento tem como objetivo principal garantir a sobrevivência das gerações atuais sem comprometer a capacidade das próximas gerações de satisfazer suas necessidades. No caso específico do setor da construção civil, muitos são os impactos ambientais a serem considerados, já que além de ser uma das maiores consumidoras individuais de recursos naturais, ela também é responsável pela geração de um considerável volume de resíduos sólidos.
Contudo, esse setor também pode ser considerado como uma ferramenta para o desenvolvimento sustentável, já que pela diversidade dos produtos por ela consumidos, torna-se fácil o setor atuar como receptor, através da reutilização e da reciclagem, não só de seus resíduos, como também de outras indústrias. Entretanto para que a construção civil possa contribuir positivamente para a melhoria ambiental, é indispensável que haja uma inversão de valores no modelo de gestão adotado atualmente nos projetos e nos processos construtivos. As medidas de caráter corretivo e isolado precisam ceder lugar às preventivas, que visam solucionar o problema em sua origem.
Para que qualquer modelo de gestão ambiental adotado obtenha sucesso, como qualquer idéia inovadora, é necessária que seja desenvolvida nos profissionais envolvidos e no processo uma consciência da importância dessas medidas. Isso se torna mais fácil e eficiente quando essa sensibilização é realizada ainda durante a formação do profissional, fase onde o mesmo forma suas idéias e opiniões em relação a sua área de atuação profissional, neste caso, se faz necessário a introdução de um efetivo sistema de educação ambiental, nos cursos de engenharia civil.

A HISTORIA DA ENGENHARIA CIVIL
A Engenharia moderna nasceu dentro dos Exércitos; a descoberta da pólvora e depois o progresso da Artilharia obrigaram a uma completa modificação nas obras de fortificação, que, a partir do século XVII, passaram a exigir profissionais habilitados para o seu planejamento e execução.
As altas torres e as muralhas retas das fortificações medievais não proporcionavam mais uma boa defesa na era dos canhões, sendo substituídas por muralhas em ângulos geometricamente planejados de modo que cada face pudesse ser protegida. Com isso a necessidade de realizar obras que fossem ao mesmo tempo sólidas e econômicas e, também, estradas, pontes e portos para fins militares, forçaram o surgimento dos Oficiais-Engenheiros e a criação dos Corpos especializados de Engenharia nos Exércitos.
As obras mais antigas de que se tem notícia são as fortificações da cidade de Jericó (8000 AC). O exército Romano, em 230 AC, já tinha uma tropa especializada em Engenharia, as chamadas "fabri", cujos oficiais cursavam uma escola de treinamento para construção de fortificações, estradas e pontes em todo o vasto Império Romano, e algumas ainda podem ser vistas nas regiões da Gália, Germânia, Britânia e norte dos Alpes. A Engenharia Militar dos árabes e bizantinos deixou também suas marcas no norte da África e Espanha. Mais tarde (séc. XVI), os franceses, que já despontavam como potência militar, criou tropas de Engenharia no seu Exército e contou com grandes Engenheiros Militares que são mais conhecidos hoje como matemáticos e físicos: General Belidor (La Science des Ingénieurs - 1729), Lagrange, Laplace, Prony, Fourier, Poisson, Monge (criador da geometria descritiva, destacou-se em combate aos 50 anos, criou a Ècole Polythechnique, referencia, ainda hoje, de escola de Engenharia), Poncelet (foi prisioneiro de guerra e escreveu um tratado de geometria projetiva no cativeiro), Cauchy, Carnot (do ciclo de Carnot da termodinâmica), etc. Áustria, Rússia, Grã-bretanha, Espanha, Portugal, etc, seguiram as mesmas tendências.
Brasil e Estados Unidos, como colônias, também receberam a mesma influência. De forma que, no Brasil foi criada a terceira escola de Engenharia regular do mundo e primeira das Américas (Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, em 1792), se bem que desde 1699, por ordem do rei de Portugal, já havia cursos de Engenharia no Brasil. Nos Estados Unidos surgiu à segunda escola de Engenharia das Américas, a Academia Militar de West Point. O termo "Engenheiro" significava "oficial que sabe arquitetura militar, e dirige os trabalhos para o ataque e defesa de praças..." (Novo Dicionário da Língua Portuguesa - 1859).
O termo "Engenheiro Militar", na época, era uma redundância, pois todos os Engenheiros eram militares. O termo "Engenheiro Civil", que atualmente designa a especialidade de Engenharia de Construção, segundo o Prof. Pedro da Silva Telles, foi usado pela primeira vez, pelo inglês John Smeaton, um dos descobridores do cimento Portland, para designar os profissionais que começavam a se dedicar a atividade de Engenharia, exclusivamente, fora dos Exércitos. No Brasil, os Engenheiros Militares vindos de Portugal (os melhores, por ordem do rei de Portugal) e os já formados no Brasil, foram responsáveis por praticamente todas as grandes obras realizadas na época, tais como fortes, igrejas, mosteiros, estradas, arruamentos, edifícios públicos, obras de saneamento, etc. A maior obra da Engenharia Militar, projetada pelo grande Engenheiro português Brigadeiro Alpoim, foi o aqueduto do Rio de Janeiro, hoje conhecido como Arcos da Lapa.(Telles,1994).

A IMPORTÂNCIA DA ENGENHARIA CIVIL
O setor da construção é considerado por alguns autores como o pulmão da economia, devido ao fato da construção ser um dos setores mais sensíveis às mudanças. Segundo Picchi (1993), sua participação decresce nos períodos recessivos, enquanto que seu crescimento é maior que a média do país, em épocas de expansão.
A Engenharia Civil é um dos ramos mais antigos da engenharia e sua importância é Vital para o desenvolvimento da sociedade, bem como, para a interligação entre estes. Como produtor da tecnologia o engenheiro civil tem participação incontestável em todas as etapas do desenvolvimento das sociedades humanas e a ação destes profissionais está a serviço da melhoria da qualidade de vida das pessoas. O engenheiro civil, como agente do processo de urbanização dos ambientes naturais, introduz alterações de caráter intenso, rápido e variado neste meio em sua atuação nos diversos setores que compõem a construção civil.
A construção civil reúne as divisões da Engenharia Civil e Edificações, as quais compreendem a construção pesada e leve, os materiais de construção, as técnicas de projeto e planejamento em construção civil, bem como, os processos construtivos abrangendo os aspectos ambientais relativos às atividades de construção e ocupação do solo. No entanto, o Macrossetor da construção civil compreende o conjunto de setores econômicos diretamente relacionados, como as indústrias fornecedoras de insumos e equipamentos para a construção (cimento, aços longos, material elétrico, dentre outros), além do setor de serviços associados à construção (comércio de materiais, corretagem de imóveis, etc).
A composição do macrossetor é de 73,45% da construção civil, 20,34% da indústria fornecedora e 6,21% de serviços associados, o que envolve uma grande parcela da economia do país. A função da construção civil é atender às demandas básicas de moradia, prover instalações para o desenvolvimento de atividades produtivas e a implantação de equipamentos públicos para diferentes camadas sociais, proporcionando assim, conforto, segurança e desenvolvimento. Engenharia é a arte, a ciência e a técnica de bem conjugar os conhecimentos especializados de uma dada área do saber, com o apoio da viabilidade técnico-econômica, para produzir novas utilidades e transformar a natureza, em conformidade com idéias bem planejadas, (Bazzo, 2002).

AS ATRIBUIÇÕES DO ENGENHEIRO CIVIL

As atribuições definem que tipo de atividades uma determinada categoria profissional pode desenvolver. Toda atribuição é dada a partir da formação técnico-científica. As atribuições estão previstas de forma genérica nas leis e, de forma específica, nas resoluções do Conselho Federal. O CONFEA, (Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura, 2010), ao propor resoluções, toma por base os currículos e programas fornecidos pelas instituições de ensino de engenharia, arquitetura, agronomia e demais profissões da área tecnológica, sendo que as disciplinas de características profissionalizantes é que determinam as atribuições profissionais. Em suas resoluções o CONFEA discrimina, para efeito de fiscalização, todas as atividades técnicas que o profissional pode desenvolver, de acordo com sua modalidade.
A Resolução nº 218, de 29/07/73, do CONFEA, relaciona 18 atividades técnicas e determina a competência de várias modalidades da engenharia. Posteriormente, outras resoluções foram baixadas para atender a novas modalidades e, inclusive, atualizar outras; trata-se, portanto, de um processo dinâmico. A formação do engenheiro civil o habilita a atuar em cinco grandes áreas: construção, estruturas, geotécnica, hidráulica, saneamento e transportes. Ele é o profissional responsável por projetar, construir, operar e manter edificações, meios de transporte, equipamentos urbanos e obras de aproveitamento energético, saneamento e segurança ambiental.
Ainda, em vista de sua formação abranger diversas áreas do conhecimento, os engenheiros civis podem atuar em instituições financeiras, nas áreas de administração e gerenciamento dos mais diversos setores da indústria. Segundo o Decreto Federal Nº 23.569, de 11 de Dezembro de 1933, que regula o exercício das profissões de Engenheiros e Arquitetos, em seu Artigo 28 - São da competência do engenheiro civil:

a) trabalhos topográficos e geodésicos;
b) o estudo, projeto, direção, fiscalização e construção de edifícios, com todas as suas obras complementares;
c) o estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das estradas de rodagem e de ferro;
d) o estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das obras de captação e abastecimento de água;
e) o estudo, projeto, direção, fiscalização e construção de obras de drenagem e irrigação;
f) o estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das obras destinadas ao aproveitamento de energia e dos trabalhos relativos às máquinas e fábricas;
g) o estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das obras relativas a portos, rios e canais e das concernentes aos aeroportos;
h) o estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das obras peculiares ao saneamento urbano e rural;
i) projeto, direção e fiscalização dos serviços de urbanismo;
j) a engenharia legal, nos assuntos correlacionados com as especificações das alíneas "a" a "i";
k) perícias e arbitramento referentes à matéria das alíneas anteriores.

A QUESTÃO AMBIENTAL

A busca incessante pela geração e comercialização de riquezas tem levado a humanidade a uma grande crise ambiental, a qual tem alarmantemente se agravado, (Santana, 2005). Embora o desenvolvimento tecnológico tenha proporcionado avanços na sociedade, ao mesmo tempo, este tem alavancado problemas e riscos ambientais que comprometem a qualidade de vida das gerações atuais e futuras. A preocupação com a proteção do meio ambiente aumentou nos últimos trinta anos, a ponto da maioria dos países ter incluído a tutela ambiental em suas Constituições e criado legislações específicas na tentativa de alcançar um desenvolvimento sustentável para as nações.
Diante disto, a Constituição brasileira de 1988 se configura como uma das mais evoluídas na tutela ambiental e prevê em seu texto, além de outras medidas direcionadas para a garantia de um equilíbrio ambiental, a realização de uma massiva educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. Neste contexto, podemos analisar até que ponto a educação ambiental pode contribuir para a viabilização de um desenvolvimento sustentável e democrático, tendo em vista que a engenharia civil é consumidora em grande escala dos recursos naturais. Através da influência dos movimentos ambientalistas organizados e do entendimento de que o meio ambiente é um bem jurídico fundamental para a garantia da vida no planeta, o legislador constitucional incluiu um capítulo especial na Constituição Federal de 1988 sobre a proteção integral do meio ambiente, bem como disposições sobre o tema em várias outras passagens constitucionais.
A Educação Ambiental foi incluída no sistema normativo brasileiro primeiramente através da Lei 6.938/81 que versa sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e, mais tarde, na Carta Magna (Artigo 225, § 1, VI), incumbindo o poder público da promoção da educação ambiental em todos os níveis de ensino, assim como da conscientização da coletividade para a participação ativa na tutela ambiental. Embora o princípio da educação ambiental esteja previsto no texto constitucional desde 1988, sua regulamentação foi efetuada somente onze anos após, através da Lei 9.795, de 1999, conhecida como "Política Nacional de Educação Ambiental" seguida pelo Decreto 4.281, de 2002. Neste sentido, a educação ambiental é reconhecida pela Lei 9.795/99 como um importante, necessário e permanente processo formal e informal de educação, devendo este estar presente em todos os níveis e modalidades educativas.
A efetivação deste processo educativo cabe tanto ao Poder Público como aos meios de comunicação de massa, às entidades educacionais, aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), às empresas, às entidades de classe, às instituições públicas e privadas e à coletividade. Porém, estamos diante de uma lei que apenas prescreve responsabilidades, obrigações, objetivos e princípios de educação ambiental, ignorando qualquer tipo de sanções e que tem encontrado inúmeras dificuldades e obstáculos para ser efetivada.
A naturalização da idéia de exploração da natureza e dos seres humanos com a finalidade de alcançar um determinado modelo de desenvolvimento tem contribuído para o aumento dos riscos ambientais. O termo desenvolvimento sustentável surge como enfrentamento desta crise ecológica global e abrange a estratégia de um desenvolvimento voltado para uma harmônica "coexistência" entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental, o que pressupõe uma inter-relação entre qualidade de vida, justiça social, equilíbrio do meio ambiente e desenvolvimento econômico.
A Carta Magna brasileira concedeu ênfase especial ao Princípio da Sustentabilidade, tanto no Artigo 225, o qual, ao mesmo tempo em que garante o direito a um meio ambiente equilibrado para todos, impõe a co-responsabilidade da coletividade em defendê-lo e preservá-lo, possibilitando, constitucionalmente, uma ativa participação dos cidadãos e um trabalho conjunto com o Poder Público na tutela ambiental.
Além disso, o Artigo 170 VI, CF/88 versa sobre a defesa do meio ambiente como um pressuposto para o desenvolvimento econômico. Porém, embora a Constituição Federal brasileira enfatize a tutela ambiental como um direito fundamental dos cidadãos, o modelo atual de desenvolvimento econômico capitalista é quem segue ditando as regras para o propagado "desenvolvimento sustentável". Sendo assim, ao contrário do que muitos afirmam, a ecologização do capitalismo não é possível. Prova disso são as grandes obras de interesse econômico, das quais são legalmente exigidas às licenças ambientais, e em nome do desenvolvimento, tais licenças ficam para segundo plano, como sempre acontece com a construção de hidroelétricas. Este tem se mostrado incompatível com as exigências ecológicas de um desenvolvimento sustentável.
Diante do poder do "mercado" a legislação vigente está sendo incapaz de frear, controlar e regular a destruição dos recursos naturais e a poluição ambiental. Faz-se necessária uma mudança geral e urgente de atitudes para com o meio ambiente e, neste contexto, a educação ambiental se apresenta como um importante método, que se baseia na tomada de consciência da coletividade sobre a importância da preservação ambiental para uma melhor qualidade de vida, bem como sobre sua co-responsabilidade na tutela do meio ambiente.
E sendo a engenharia civil responsável pelas obras de grandes impactos ambientais, se faz necessário uma reformulação na grade curricular dos cursos de engenharia civil, afim, de introduzir, desde os primeiros semestres, a conscientização ambiental nos estudantes e futuros engenheiros. A educação ambiental é, sem dúvidas, um grande desafio para a atual sociedade e, em especial, para os professores e educadores ambientais, os quais possuem a difícil tarefa de trazer para o debate a conexão existente entre a destruição ambiental, o atual modelo de produção capitalista e os problemas sociais, bem como trabalhar a diversidade cultural, a ideologia e os diferentes interesses da sociedade na esfera da proteção ambiental.
A educação ambiental encontra-se baseada no desenvolvimento de valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a preservação ambiental, com a finalidade de garantir uma qualidade de vida sadia para as gerações presentes e futuras, abrangendo, portanto, uma dimensão humanitária, holística, interdisciplinar e democrática da proteção ambiental. No processo de educação ambiental, as informações ambientais possuem um relevante significado, pois possibilitam que os cidadãos possam inteirar-se sobre a situação, organizar-se e influenciar nos processos públicos de decisão, assim como exigir uma maior e mais qualificada tutela ambiental.
A atuação da coletividade pode concretizar-se através da participação na criação de direitos, da participação na formulação e aplicação de políticas públicas ambientais e também por vias judiciais. Neste sentido, o § 1° do inciso IV da CF/88 obriga o Poder Público a divulgar o conteúdo dos estudos de impacto ambiental e submetê-los a audiências públicas, nas quais os cidadãos podem esclarecer dúvidas, propor alternativas e apresentar críticas, as quais deverão ser consideradas na tomada de decisões da questão em estudo.
Apesar da importância destas audiências públicas como mecanismos educadores e democráticos, estas ocorrem esporadicamente. Além disso, é garantida constitucionalmente a participação da coletividade em decisões ambientais através de referendos e plebiscitos acerca do tema (Artigo 14, I e II CF/88). O grande desafio da educação ambiental rumo a um desenvolvimento democrático e sustentável é, paralelamente à tomada de medidas efetivas que garantam a conservação e proteção ambiental, proporcionar uma educação crítica e inovadora nas camadas formais e informais da sociedade através de um processo político-pedagógico, democrático e duradouro rumo à construção de uma consciência crítica sobre a necessidade da proteção ambiental e a mudança dos atuais padrões de desenvolvimento.
Portanto, a educação ambiental tem um papel fundamental na tomada de consciência da co-responsabilidade da coletividade na proteção ambiental e, conseqüentemente, contribui para a democratização das decisões ambientais. A educação deve mostrar que não há conhecimento que não esteja, em algum grau, ameaçado pelo erro e pela ilusão. O conhecimento não é um espelho das coisas ou do mundo externo. Todas as percepções são, ao mesmo tempo, traduções e reconstruções cerebrais com base em estímulos ou sinais captados pelos sentidos. Resultam, daí, os inúmeros erros de percepção que nos vêm de nosso sentido mais confiável, a visão, (Morin,2001)


A IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Introduzir um programa de Educação Ambiental consiste num processo metódico, e requer acompanhamento detalhado. Para que se possam alcançar resultados satisfatórios, deve-se dividir o processo em fases que possibilite um melhor acompanhamento das atividades e o cumprimento correto de todas elas. Todas as etapas devem ser acompanhadas de uma maneira sistêmica, para que sejamos fiéis ao que foi planejado.
As fases integrantes do processo são: Sensibilização, Mobilização, Informação e Ação. Para atingir as finalidades da Educação Ambiental, precisamos estar sempre conscientes de que este é um trabalho educacional e que, portanto, devemos cumprir todas as fases do processo. Todas elas ocorrem sucessivamente, mas devem estar sempre articuladas no decorrer do processo. Nenhuma das fases pode ser desenvolvida isoladamente ou de modo linear; é preciso enfatizar que todas são inter-relacionadas, que a Educação Ambiental não pode se resumir a uma delas somente e que todas devem ocorrer sob o um rigoroso planejamento, controle e avaliação permanentes.
A primeira fase do processo é a de Sensibilização, que é quando desencadeiam os processos de Educação Ambiental no âmbito da população alvo, neste caso, discentes do curso de engenharia civil. É necessário que os procedimentos contenham impacto emocional, chamem bastante à atenção, despertem preocupações, alertem para comportamentos errôneos e requisitem o envolvimento e a participação dos futuros engenheiros, ressaltando uma situação, ou conjunto de situações, que compõem uma problemática ambiental. O envolvimento de pessoas, instituições e comunidades, devem associar a situação ou situações problemáticas aos valores mais elevados e sutis da existência humana. Isto significa relacionar as causas e conseqüências da situação problemática em tela às condições importantes como sobrevivência, respeito à vida, harmonia, fraternidade, solidariedade, cooperação, construção, responsabilidade individual e coletiva, preocupação com as gerações futuras.
Muitos projetos de Educação Ambiental começam e permanecem apenas na fase de Mobilização. Nesta segunda fase é preciso ir além do alerta, do chamamento e do levantamento de problemas. Segundo várias teorias, o ser humano é basicamente construtivo e criativo. Sensibilizado, poderá projetar, construir, criar, individual ou coletivamente, condições melhores de vida para si mesmo e para seus semelhantes. Na fase da mobilização visamos orientar os estudantes, para que estes possam coordenar pessoas, instituições e comunidades para que disponibilizem seus esforços no sentido de cooperar, transformar e construir situações mais desejáveis de vida, para si e para seus semelhantes, atuando no seu ambiente, de modo mais adequado, visando o presente e o futuro.
Mobilizar significa colocar em movimento, "agitar", apresentar alternativas de resolução de um determinado problema, que exige ação individual e coletiva, envolvimento e participação de todos no seu enfrentamento e execução de propostas de solução. Quando buscamos mobilizar as pessoas para uma causa em prol do bem comum, temos de estar muito certos e conscientes do que fazemos, seja do ponto de vista pessoal, seja da instituição que representamos.
Temos de ser essencialmente éticos em nossa atuação. Temos de ter a certeza da correção de nossas propostas. Todos os projetos que conseguem sensibilizar o público - alvo para uma causa valiosa e nobre tem grande parte do seu sucesso assegurado. Precisamos ouvir, abrir espaços para o diálogo, pois os próprios envolvidos podem, com o nosso apoio, encontrar soluções excelentes para suas necessidades, com autonomia e de forma democrática.
O ideal é que a mobilização se transforme em compartilhamento de responsabilidades e desenvolvimento de processos comunitários de auto-gestão. A fase da Informação é indispensável para atribuirmos consistência técnica ao nosso trabalho em Educação Ambiental. Para tanto, necessitamos contar com equipes multidisciplinares de técnicos, de acordo com a natureza do tema tratado; seja qual for à situação, ela deverá ser abordada com o devido conhecimento técnico do assunto, por especialistas, adequando-se a linguagem ao nível da população envolvida. Porém, esta abordagem deverá compor um corpo de informações que possam ser relacionadas à realidade em que se está atuando, ou seja, devem ser contextualizadas, associadas ao que o público já sabe ou já faz.
Não podemos nos perder em explicações técnicas que sejam de interesse somente de estudiosos, a preservação ambiental é um dever de todos. A Educação Ambiental, para não se tornar um trabalho inócuo, deverá se sustentar sempre em informações teóricas e práticas completas e atualizadas, que dêem segurança e credibilidade às propostas apresentadas.
A ação é a última e mais importante de todas as fases, pois é a execução prática dos projetos ambientais que desejamos concretizar. Através do processo educacional atuaremos junto a pessoas, instituições ou comunidades, com a indispensável participação das mesmas. Esta ação significa um conjunto formado por organização, ação Sistemática e continuidade de propostas, descentralização e incentivo à auto-gestão de grupos e comunidades.
Para tanto, é necessário planejarmos todo o processo, dividindo responsabilidades, adotando procedimentos de cooperação e parceria, garantindo infra-estrutura de apoio e acompanhando sistematicamente o desenvolvimento de ações concretas e palpáveis. Um procedimento muito importante em Educação Ambiental é a criação de sistemas de rede, ou seja, o estabelecimento de ações simultâneas intersetoriais, que ocorrem por capilaridade e envolvem todos os indivíduos e instituições. As tarefas são distribuídas e todos atuam cooperativamente: a partir de "starts" centralizados, as ações são descentralizadas, diversificadas, acompanhadas e avaliadas sistematicamente pelos envolvidos.
Todos os projetos de Educação Ambiental que não garantirem caráter descentralizado, sistemático e continuidade estão fadados ao fracasso. Como, em geral, as equipes que planejam e executam são compostas por poucas pessoas e temporárias, o caráter sistemático e a continuidade só podem ser assegurados quando se utilizam os sistemas de rede. Os mais adequados e adaptáveis entre esses sistemas são os que adotam a formação de re-editores e multiplicadores, pertencentes à população alvo onde se irá atuar. Equipes multidisciplinares devem se integrar à comunidade local e criar, orientar e acompanhar equipes locais, formadas por indivíduos e grupos representativos que exerçam as mais diversas ocupações, mais que sejam respeitados e aceitos, competentes, bem relacionados e estimados. Tais equipes, bem preparadas e acompanhadas, poderão assegurar a execução, continuidade e o sucesso do projeto, porque atuarão no sentido de construir os comportamentos desejáveis na prática cotidiana da vida das populações.
É indispensável o acompanhamento sistemático às equipes de multiplicadores e de re-editores, assegurando retorno às dificuldades encontradas e o re-planejamento periódico do trabalho, visando à criação de processos de autogestão e sustentabilidade nas comunidades. Assim é possível afirmar que a Educação Ambiental torna-se chave na medida em que cada um desperte para o seu potencial de contribuir para um mundo mais ético e para sua responsabilidade de se engajar em processos que visem um bem maior que priorize o respeito à vida. Portanto, a implantação de um programa de Educação Ambiental voltado a profissionais de engenharia civil, contribuirá decisivamente para o desenvolvimento sustentável, e ainda, para a melhoria da qualidade de vida dos próprios profissionais e de toda a sociedade.

CONCLUSÃO

Fica clara a importância da engenharia civil no desenvolvimento econômico e social do país, entretanto, não se pode deixar de observar e até mesmo sentir, os impactos ambientais negativos, causados por está área. Desta forma se faz necessário a adoção de um novo modelo de gestão para as obras de artes, construídas pela engenharia civil, devido a sua significativa presença em áreas urbanas e suas conseqüências na qualidade de vida da população em geral. Essa nova metodologia deve ser caracterizada por ações integradas e de caráter preventivo, visando sempre à redução dos resíduos de construção, a facilitação de sua coleta, a reutilização, a reciclagem, bem como a destinação final adequada.

Diante desta questão, se faz necessário a implantação de um sistema de educação ambiental já nos primeiros semestres dos cursos de engenharia ambiental, para que o discente possa desde seu primeiro contato com a engenharia civil, conhecer qual a sua relação com o meio ambiente e como dever ser está interação.

A introdução de disciplinas que abordem a problemática ambiental, e introduzam conceitos como desenvolvimento sustentável, reciclagem, reaproveitamento, entre outros, durante o processo de formação do engenheiro civil é de suma importância, pois é nesse período onde mais facilmente se conseguirá desenvolver uma consciência ambiental no futuro profissional.

Uma vez implantada a responsabilidade ambiental na formação dos engenheiros civis, cada vez mais teremos um equilíbrio entre o desenvolvimento e o meio ambiente, de forma a garantir uma qualidade de vida agradável à geração atual, bem como, preservar o direito das gerações futuras, poderem, também fazer uso fruto de todas as belezas e riquezas naturais que o nosso planeta ainda nos presenteia.




















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