A mais importante formação que um aluno recebe e a formação social.
Era uma manhã como todas as outras o sol brilhava intensamente. Foi assim o inicio de mais um dia de trabalho, levanto animada, ainda posso lembrar as folhas caídas no chão da perto da entrada da escola ao chegar.
Como em tantos outros dias, começa mais um dia de rotina, contudo o inesperado estava para acontecer, eu professora há 1 ano, seguiria a mesma rotina de antes, ao adentrar a escola o cordial bom dia aos colegas. E o caminhar a passos lentos para a sala de aula, uma sala linda toda decorada em EVA com o tema do PUF, contudo meu caminhar foi interrompido pela supervisara. Que me chamou apreensiva!
Olha você hoje tem uma nova aluna.
Complementou olha é um problema, já foi recomendado para a APAE, contudo a família se recusa a levar, eu imóvel continuava a olhar para os olhos conformados da inspetora ao me balbuciar aquelas palavras.
A nova aluna não sabe nada, não aprende nada, essa é ultima tentativa com ela não tem jeito. Concluiu.
Caminha ao meu lado até porta da sala e os alunos já estão de fila formada, como de costume, a fila indiana ainda predomina na maioria das escolas publicas de nosso país, dizem que é um modo de se organizar, não concordo muito mais acabei por aderir ao sistema.
A supervisora chama a aluna!
Carla...
Carla..
A aluna encostada na parede continua imóvel..
Decido me aproximar e me apresento...
Oi!
Vamos?
Ela estica a mão e agarra a minha e caminha ao meu lado até a sala de aula. Sem balbuciar nenhuma palavra.
Escolho um lugar para ela sentar, como ela era bem maior que todos os demais, decido colocá-la no fundo da sala, em silencio ela senta.
Começa a aula, de inicio os alunos colocam um a um os cadernos de tarefa sobre a minha mesa, ela continua quieta, caminho até ela e pergunto de ela tem caderno?
Ela abre a bolsa, e pega fragmentos de um caderno todo sujo e rasgado, pego o caderno e levo até a minha mesa sem questionar, continuo a aula e ela não fala nada até o final da aula, permanece imóvel na carteira.
No dia seguinte, preparo uma surpresa para ela, levo cadernos novos lápis de cor, e a entrego, ela não manifesta nada, olha para os materiais e nada.
Contudo nesse dia ela parecia agitada..
Inicia a aula e eu me aproximo dela e pergunto: Você não vai fazer a atividade? Ela secamente me responde. Não!
Afasto-me, todos terminam a tarefa, Carla esta sentada no chão, agora ela se mostra agressiva, começa a xingar as demais crianças, se arrasta pelo chão. Aproximam do quadro negro e pega pequenos pedaços de giz e começa a mastigá-los. Em um primeiro instante fico desesperada, peço a ela que volte a sua carteira e que senta, ela não atende, as demais crianças olham para ela com receio. Formo uma roda para contar historias infantil com os alunos e a convido, não há nenhuma manifestação por parte dela continua quieta.
A aula prossegue com atividade no caderno quando me viro para dar atenção a outra criança, Carla levanta e vai em direção a carteira da aluna mais aplicada da sala, Carol e pega o caderno e rasga as folhas. Carol chora, tento acalmá-la, mais ela inconformada reclama, e lhe prometo um novo caderno.
Carla olha para mim com raiva!
Chega a hora do intervalo.
Todos os demais alunos saem da sala, peço que Carla permaneça, fecho a porta e fica eu e Carla dentro da sala de aula, rapidamente ele indaga, tia você vai me deixar de castigo?
Respondo imediatamente. Não
Apenas fechei a porta para conversar com você, justifico não queria que seus coleguinhas vissem a gente conversando, ela pergunta logo por quê? Respondo por que será um segredo só nosso! Ela sorri pela primeira vez.
Convido-a para que se sente em meu colo para conversar.
Ela receosa aceita.
Pergunto. Porque você rasgou o caderninho de sua coleguinha ela rapidamente responde. Ela não é minha coleguinha, ninguém gosta de mim.
Olho para ela e vejo seus olhos lacrimejarem..
Firme continuo mais você não me respondeu por que rasgou o caderno, ela responde assim:
"Tia eu não sei escrever nada, nem meu nome, todos falam que eu sou burra, por isso vou para a escola onde só tem doido".
Olho fixamente para ela, uma garotinha de apenas 5 anos, meu coração fica partido.
Olho fixamente para ela e digo: vamos fazer um pacto, ela pergunta mais o que é pacto, respondo é assim um segredo entre eu e você.. Ela responde nossa vamos ter um segredo tia meu e seu? Respondo depende de você.
Proponho a ela ensinar a escrever o nome.
Ela fica feliz!
Os dias passam e muito mais que conteúdo, a cada dia preparo ela para a pratica social, mostro que ela é importante dentro do contexto social, a convivência com as pessoas dependem do comportamento dela, que se deve respeitar as pessoas como se deseja ser respeitada ensino valores sociaisl, tais como conviver com os demais coleguinhas, aos poucos ela vai se enturmando, com o tempo os coleguinhas aprende a gostar e a respeitar a nova amiguinha
Sempre quando as atividades eram desenvolvidas no quadro negro. O incentivo era constante por mim:
Vamos Carla você consegue!
Vamos a tia vai espera você terminar!
Vamos a tia conta com você
E Principalmente sempre a olhava nos olhos.
No dia da reunião de pais.
A mãe dela se aproxima e mim e diz: Ola sou a mãe da Carla. Nossa ela gosta muito de vir à aula, respondo, nossa que bom dando lhe a mão para cumprimentá-la, convido-a para entrar a sala juntamente com os demais pais, da mãe, após apresento o caderno a todos os país inclusive o caderno de Carla.
A mãe chora ao ver o caderno limpo, e com as tarefas feitas pela filha, e logo indaga? Ela aprendeu a escrever o nome dela?
Folheio o caderno e mostro a mãe. A mãe responde! Não sei ler.
Procuro não mostrar surpresa com a resposta da mãe apenas respondo, há sim. E indago: Não tem vontade a aprender? A mãe responde que sim informo sobre um programa de alfabetização que existe na escola para adultos e prossigo com a reunião.
Ao terminar a reunião a mãe de Carla muito feliz se despede de mim com um beijo no rosto.
No final do ano, sempre há a formatura das crianças que termina o Ensino Infantil e passa para o Ensino Fundamental, nesse ano quem leu o discurso em nome da sala foi Carla.
Mal contive a emoção.
Hoje, alguns anos depois, vejo Carla progredindo cada vez mais.. E sonha em ser professora ....
Esses acontecimentos fazem a vida de uma professora que ama a sua profissão valer à pena.
Acredito que dia após dia nunca devemos desistir de um aluno, apenas encontrar a maneira certa de ensiná-lo e sempre fazer com amor!
Dentro da sala de aula sentando na cadeira assistindo sua aula tem um ser humano, que precisa de amor, valorização e respeito.
A educação com amor pode transformar o mundo..
Emerenciano, Nilce das Graças
Reeditado em 14/05/2010