A implantação das brinquedotecas dentro das escolas vem estimulando nos últimos anos a importância que o brincar oferece as crianças; num espaço preparado em que ocorre um incentivo a criança em explorar, sentir e experimentar. Trata-se de um ambiente didático-pedagógico onde é organizada uma coleção de jogos e brinquedos que propiciam o aprendizado e o entretenimento dos alunos. Infelizmente hoje, inexiste em vários ambientes escolares a possibilidade de acesso dos alunos a um espaço para jogos e brincadeiras infantis, o que nos leva, enquanto pedagogos a pensar e repensar na necessidade de um local reservado a essas práticas. É sobre tal questão que vamos tratar neste trabalho; nosso objetivo é mostrar o objetivo da brinquedoteca, como ela pode ajudar no desenvolvimento das crianças, nos permitindo analisar como esta pode ser usada dentro do ambiente escolar, nos evidenciando sua real função tendo em vista a visão de vários pensadores sobre o lúdico, uma vez que este estimula a imaginação e ajuda no modo de expressão e opinião das crianças, ou seja, no seu desenvolvimento pleno. Ao longo deste buscamos também explanar pontos principais como: O surgimento da brinquedoteca, a sua função no meio social e suas várias funcionalidades; alguns conceitos, sua organização dentre outros. 1. BRINQUEDOTECA: Existem vários tipos de brinquedotecas, segundo pode-se observar durante as pesquisas, elas podem ter várias finalidades quanto ao aspecto lúdico. Podem por exemplo: somente realizar o empréstimo de brinquedos, ou atender crianças na primeira infância, ou ainda atender o público infantil ou adolescente, pode ser direcionado também a adultos e/ou pessoas da terceira idade. Assim podemos perceber que seu objetivo central são as atividades lúdicas, ou seja, atividades que tem por intuito produzir prazer quando de sua implemento. No dicionário Priberam é possível encontrar o seguinte conceito para o termo lúdico: “Que serve para divertir ou dar prazer.” De acordo com Santos (1997): A brinquedoteca é um espaço que oferece condições para a formação da personalidade e é onde são cultivadas a criatividade e a sensibilidade. Na brinquedoteca, as crianças são livres para descobrir novos conceitos, realizar experiências, criar seus próprios significados ao invés de apenas assimilarem os significados criados por outros indivíduos. Segundo Cunha (2001): “A brinquedoteca pode existir até sem brinquedos, desde que outros estímulos às atividades lúdicas sejam proporcionados.” Trata-se, portanto, de um espaço especialmente preparado para que a criança e/ou quem dela faz uso, seja estimulada a brincar, através do acesso a uma variedade de brinquedos, dentro de um ambiente lúdico. Logo podemos afirmar que trata-se de um espaço que convida a sentir, experimentar e explorar, assim passa a ser também um espaço que propicia liberdade, alegria e resgate do brincar. Uma das regras fundamentais das brinquedotecas se baseia no fato de ser um local onde a criança obtém brinquedos por empréstimo ou onde pode brincar no próprio local, sendo acompanhada por alguém com pleno conhecimento de sua finalidade e como desenvolve-la. Para criança acaba sendo um “local mágico”, onde ela brinca livremente, embora acompanhada por adulto capacitado, com vistas à construção da cidadania, criatividade, socialização, afetividade, autoestima, raciocínio lógico, desenvolvimento das capacidades motoras, memória, percepção, imaginação, senso de organização e assimilação cultural. Para Ramalho (2003): A principal diferença entre as brinquedotecas brasileiras e as estrangeiras é que no nosso país a atividade de empréstimo de brinquedos e livros é pouco realizada. A brinquedoteca é um espaço que tem a finalidade de propiciar estímulos para que a criança possa brincar livremente e se desenvolver numa forma lúdica, por algumas horas diárias. Pode-se considerar que a brinquedoteca é um agente de mudanças, em relação ao aspecto cognitivo, social, físico e educacional. As brinquedotecas são divididas, ou seja, organizadas, em vários ambientes lúdicos, cada pedagogo e/ou escola pode criar seu espaço segundo critérios próprios, entretanto tais ambientes devem ter ambientes como:  Canto do “faz de conta” (onde encontram-se mobílias infantis que são réplicas de mobílias de uma casa),  Canto da história (ambiente aconchegante onde as crianças devem se sentir a vontade para ler ou ouvir histórias),  Canto das invenções (onde são disponibilizados vários objetos que propiciam as crianças a criar, a desenvolver sua criatividade),  Sala de jogos (local onde as crianças possuem acesso a vários tipos de jogos para o desenvolvimento de seu raciocínio e também para seu lazer). O objetivo é simular um ambiente que transporta a criança para o mundo imaginário e/ou para o mundo real e vice-versa. Algumas brinquedotecas ainda possuem outros ambientes como a mesa de atividades, onde as crianças são estimuladas a realizar atividades individuais ou em grupo. Existem brinquedotecas no Brasil e no mundo, estas podem ser concebidas com vários objetivos, dos quais destacamos: o estimulo ao desenvolvimento integral da criança, valorização do brincar e das atividades lúdicas, possibilitar a criança o acesso a um ambiente voltado a elas e que lhes proporciona desenvolver hábitos de responsabilidades e também o desenvolvimento de atividades cognitivas, criatividade e gosto pelo aprender. É indispensável que a Brinquedoteca, antes de qualquer coisa, seja um espaço que também estimule as atividades de lazer entre pais e filhos, afinal a educação dos filhos é direito e responsabilidade da família também. 1.1 HISTÓRICO: Com seu surgiu em 1934 em Los Angeles, Estados Unidos da América, durante um momento de crise econômica, sua finalidade na época fora solucionar problemas de um proprietário de uma loja de brinquedos que estava sendo frequentemente roubado. Após relato do proprietário ao diretor de uma instituição de ensino municipal sobre o comportamento dos alunos, percebeu-se que tal comportamento (roubo) se dava pela escassez de brinquedos para tais crianças. Assim surgiu a primeira brinquedoteca, para suprir dois problemas sociais da época: roubo praticado pelos alunos e falta de acesso aos brinquedos. Com as pesquisas foi possível perceber que várias são as denominações para a brinquedoteca, como por exemplo: Toy–Library (Biblioteca de brinquedos), na Inglaterra; Ludothéque, na França, Lekoteks, na Suécia, no Brasil Brinquedoteca ou Ludoteca. Nos anos 60 ocorreu a expansão deste tipo de ambiente; além da Europa, Suécia, Inglaterra, Bélgica e França também passaram a criar tais ambientes. Um fato que corroborou foi o empréstimo de brinquedos aos pais de crianças com deficiências para estimular á aprendizagem no meio de brincar; surgiu assim outra função para brinquedoteca, além da educacional passou a existir a terapêutica. Na Suécia, em 1963 duas professoras que tinham filhos deficientes fundaram a primeira Ludoteca (em sueco), com intenção de empréstimo e orientação ao uso de brinquedos às famílias que possuíam pessoas com deficiência. Na Inglaterra, se propôs a biblioteca de brinquedos (Toy Libraries) cuja finalidade era o empréstimo de brinquedos para se levar para casa. Outros países da Europa como Suíça, Bélgica, França e Itália denominaram o espaço lúdico de Ludotecas, cujo propósito também era o empréstimo de brinquedos para uso local ou domiciliar. Acredita-se, conforme pesquisas, que no Brasil a instalação de espaços lúdicos adotados em instituições educacionais, para atividades de docência, sofreu fortes influências portuguesas. Em meados de 1971, realizou-se no Centro de Habilitação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), em São Paulo, uma exposição de brinquedos pedagógicos; a adesão ao projeto tomou proporções tão significativas que a APAE criou um Setor de Recursos Pedagógicos para atender o público, assim instituindo uma ludoteca em suas instalações. Assim podemos perceber que no Brasil tal ambiente surgiu com objetivos educacionais e teve apoio do setor público. Após a implantação, em 1973, a APAE adotou o Sistema de Rodízio de Brinquedos e Materiais Pedagógicos, os brinquedos foram centralizados com maximização no uso de todos os recursos existentes. Em meados de 1976, levando-se em consideração o reconhecimento da importância do lúdico e dos brinquedos para o desenvolvimento das crianças, o primeiro congresso sobre o trabalho com empréstimo de brinquedos. Desde então outros congressos ocorreram em vários países e a consolidação do trabalho se expandia e ganhava importância. Muitos dos objetivos iniciais das brinquedotecas passaram a novas funções, tais como: apoio às famílias, orientação educacional, estímulo à socialização e resgate da cultura lúdica. Associações Internacionais de Brinquedotecas foram criadas e em São Paulo foi instituída a primeira brinquedoteca brasileira. Em 1984, foi fundada a entidade Associação Brasileira de Brinquedoteca (ABBri) por Nylce Helena da Silva Cunha. Após a criação da ABBri, houve expansão de Brinquedotecas por todo Brasil. Em São Bernardo do Campo- SP foi implantada a primeira Brinquedoteca pública, a expansão brasileira de tal ambiente ganha força; segundo pesquisas, no Brasil, existem cerca de 180 ambientes lúdicos, em diferentes regiões, com variados objetivos e características". As Brinquedotecas aperfeiçoaram e cresceram, com obtenção do reconhecimento e sua relevância à educação, que a torna um agente provocador de mudança no trato educacional, com inovações no atendimento à população, mais precisamente à criança. O mais importante na atualidade, é que a brinquedoteca exerça sua real função. 1.1.1 ORGANIZAÇÃO DE BRINQUEDOS: Como abordado anteriormente, a brinquedoteca tem como objetivo principal estimular o brincar e oferecer vários tipos de brinquedos e brincadeiras em espaço reservado para o atenda da melhor maneira possível a todos; contendo o perfil de cada região. As brinquedotecas podem ser criadas com brinquedos recicláveis ou industrializadas, com estruturas decorativas e que permitam total liberdade e segurança para as crianças brincarem individualmente ou coletivamente. Para implantá-la, como base, é necessário ter definido os objetivos e o público alvo a ser atendido, assim sua criação atenderá aos objetivos esperados. As regras e normas para atendimento, a composição dos objetos (acervo) a ser oportunizado é mais que decisivo, pois influenciará diretamente do propósito, na finalidade de tal ambiente. O profissional que fará a mediação das atividades no local deve possuir conhecimentos básicos de seu funcionamento. Como já citado, existem várias modalidades e/ou tipos de brinquedotecas, a seguir, conforme pesquisas realizadas segue relação de algumas: Brinquedotecas escolar: Organizadas num setor da escola, possuem finalidade pedagógica; Brinquedoteca comunitária: Geralmente mantidas por associações, prefeituras e organizações filantrópicas; Brinquedotecas em Instituição de Atendimento Especial: Criadas em locais de atendimento a crianças com necessidades especiais e suas diversas modalidades; Brinquedoteca em Instituições de Saúde: Hospitais, Consultórios Médicos, Clínicas, entre outras, cuja finalidade é trabalhar situações traumáticas de crianças hospitalizadas ou em tratamento médico; Brinquedotecas em Universidades e Faculdades: Instaladas em Universidades e Faculdades, fornecem subsídios para práticas pedagógicas com uso de brinquedos; Brinquedotecas Circulantes: Instaladas em ônibus, caminhonetes itinerantes para crianças da periferia e outros espaços; Brinquedotecas em espaços de entretenimento: Geralmente criadas em espaços dentro de shopping centers, casas de diversões com parques e playground, centros culturais, entre outros; Brinquedotecas junto ás bibliotecas: Mesma finalidade das demais, entretanto, geralmente não realiza empréstimo de brinquedos, mas permitem a utilização do espaço com liberdade para brincar. Vale expor que independente do tipo de brinquedoteca, pode-se perceber que é padrão que tal ambiente deve ser colorido, expressivo e alegre. Os brinquedos devem ser classificados geralmente por gênero (masculino ou feminino) e devem possuir registro de visitantes ou empréstimos. Como se trata de ambiente que procura atender as necessidades regionais dos alunos, ou seja, que busca atender ao proposto no currículo formal de cada localidade, isso em relação ao aprendizado, cada instituição escolhe o tipo de brinquedoteca adotar. Assim sendo, por envolver o mundo infantil em sua grande maioria, os idealizadores devem ter em mente que existe todo um emaranhado legislativo sobre o assunto. Conforme foi possível absorver, durante nossa pesquisa, as principais leis que amparam a criação e disseminação de tais ambientes são: Lei nº 10.826, de 22 de Dezembro de 2003, que trata sobre armas de brinquedo; Lei nº 11.104, de 21 de março de 2005, sobre brinquedoteca hospitalar e Norma Brasileira 11786, referente à segurança do brinquedo. Não podemos deixar de ressaltar que deve-se levar em consideração também o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Currículo Formal Escolar da Região, bem como toda e qualquer lei que embase os Direitos das crianças. O objetivo desta pesquisa foi conhecer e repassar resumidamente alguns dos aspectos históricos, normativos e organizacionais referentes à brinquedoteca. Diante do exposto, percebe-se que a brinquedoteca, dentro de um ambiente escolar, torna a educação das crianças mais prazerosa de se trabalhar e aprender. Uma vez que ocorre um estimulo ao desenvolvimento de maneira fácil, educativa e prática; mas vale ressaltar que só é possível chegar a esse ambiente didático-pedagógico lúdico, com um pedagogo capacitado para atender as necessidades deste ambiente e de seus alunos. A existência de uma brinquedoteca em ambiente escolar contribui e muito como espaço fundamental para o desenvolvimento das brincadeiras lúdicas, com diversidade de propostas e objetivos ilimitados e flexíveis, o que vem atender aos interesses e a realidade de um ambiente escolar de inserção e que atende ao que almeja os currículos formais escolares. No mundo de hoje, devido à globalização e a contemporaneidade e suas responsabilidades, ocorre uma privação da ludicidade; sendo a escola o ambiente em que a criança permanece a maior parte do dia, sendo este também, um espaço social de ressignificação da aprendizagem, é preciso que os pedagogos permitam e estimulem o resgate e o direito a infância e aprendizagem pautada na conquista da liberdade de escolha e expressão. É preciso ver as brinquedotecas com novo pensar pedagógico uma vez que as crianças apreendem com maior eficiência e eficácia enquanto brincam. Vislumbramos que nesse tipo de ambiente é possível propiciar as crianças o desenvolvimento de seu ponto de vista de maneira espontânea, possibilitando assim que as crianças aprenda aceitar regras do jogo, etc. Portanto, cabe a sociedade, a escola e ao educador se conscientizar a respeito das brinquedotecas e sua importância enquanto ferramenta didático-pedagógica. Nossas crianças devem ter acesso a oportunidades promissoras em uma sociedade globalizada que exige cada vez mais. 2 REFERÊNCIAS CUNHA, Nylse Helena da Silva. Brinquedoteca: definição, histórico no Brasil e no mundo. São Paulo: Scritta. 1998. CUNHA, Nylse. H. S. Brinquedoteca: espaço criado para atender necessidades lúdicas e afetivas. Revista do Professor, Porto Alegre-RS. V. 1, n°44. outubro/dezembro, 1995. Disponíel em: . Acesso em 29 abr. 2013. Disponível em: . Acesso em 30 abr. 2013. NEGRINE, A. Brinquedoteca: teoria e prática. In: Santos, S. M. P. dos. Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1997. PRIBERAM – Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em: < http://www.priberam.pt/>. Acesso em: 30 abr. 2013. RAMALHO, Márcia Terezinha de Borja. A brinquedoteca e o desenvolvimento infantil. 2000. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2000. RAMALHO, Márcia Terezinha de Borja. Uma brinquedoteca para crianças e adolescentes em situação de risco social. Florianópolis, 2003. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003. SANTOS, Santa Marli Pires dos (Org.). Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. Rio de Janeiro: Vozes, 1997. SANTOS, S. M. P. Brinquedoteca: sucata vira brinquedo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. ____. Brinquedoteca: a criança, o adulto e o lúdico. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.