A Moral da Igreja

 

Foi-me sugerido escrever algo sobre a moral da Igreja. É sabido que no mundo há cinco grandes religiões, e inúmeras subdivisões. Cada uma interpreta a Lei da sua maneira. Em alguns casos concordando e em outros discordando quanto à aplicação. Por isso falar de moralidade não é fácil. E a tarefa se torna um pouco mais complicado quando a Igreja opina sobre qual a conduta que se deve ter na sociedade. Mas até que ponto ela pode dar exemplo de boa conduta?  

 

Na História há inúmeros fatos marcantes que envolveram, e ainda envolvem costumes e tradições religiosas. No passado tivemos a Inquisição, a perseguição aos judeus, a crucificação de Jesus, a Reforma e a Contra-Reforma, Papas excomungando reis, brigas entre o poder temporal e espiritual. E recentemente presenciamos a destruição das estátuas budistas pelo Islã, a guerra entre judeus e palestinos por um pedaço de terra, o Holocausto, e outros. Qual o motivo de tanta perseguição? Por um acaso não seria a intolerância religiosa o motivo de tanta discórdia? O que vocês me dizem?

 

Olha a ignorância do cidadão. Enquanto levantava material para meu texto me deparei com o comentário de um evangélico dizendo que todos católicos são gays enquanto os evangélicos são “machos”. É ou não é uma intolerância religiosa? Puro preconceito de uma mente pequena. Infelizmente é preciso conviver com pessoas assim. É um caso isolado, mas serve como demonstração do quanto à intolerância religiosa é perniciosa.

 

Tanto dentro como fora da Igreja Católica há casos de homossexualismo e de abuso de crianças. É um assunto delicado. É um tabu que a sociedade não gosta de discutir abertamente. Não é aceitável ver um homem de deus agindo assim. Agora, quando é fora do âmbito religioso as pessoas são execradas e humilhadas por causa da sua opção sexual. Olha o trecho abaixo:

 

O ilustre pároco, que leva suas ovelhas pelos vales tranqüilos e os ajuda a refrigerar a alma, está sendo acusado de tentar agredir o travesti Fabiano Fontes Figueira, conhecido como Mayara, 29 anos, durante a missa do último domingo na Igreja Matriz de São Gonçalo, município no Rio de Janeiro.

 

“Eu me surpreendi com a atitude dele. Freqüento a igreja há muitos anos. Fui batizada e vou à missa todo domingo. Nunca um padre havia feito isso comigo”, disse ao jornal o travesti, que assumiu aparência feminina aos 17 anos e trabalha como esteticista. Segundo Figueira, tudo começou porque um evento de um movimento gay estava sendo realizado na rua em frente à igreja. O padre teria passado então a agredir verbalmente os homossexuais e usado a história da esteticista como exemplo durante o sermão. “Ele dizia: ‘cada um come o que quer, mas não na minha igreja’. Foi aí que eu me irritei e disse que estava na casa de Deus e não na do padre, e ele perdeu a cabeça. Os ministros da Eucaristia ainda me jogaram para fora”.

 

Figueira conta que, após ser expulso da igreja, o padre continuou a missa e ele ainda ouviu os fiéis baterem palmas no fim da celebração, que nem os patrícios de Roma faziam quando um gladiador era morto de forma selvagem. A humanidade não muda. De acordo com o próprio Figueira, “Ele me agrediu e foi ovacionado. Fiquei com manchas roxas nas pernas de tanto chute que tomei. Me admira um padre negro, que conhece os problemas das minorias, ser tão preconceituoso”. http://ceticismo.net/2008/07/26/padre-expulsa-homossexual-de-missa-aos-berros

 

No caso do abuso de criança não tenho o que dizer. É crime em qualquer circunstância. Seja padre ou não. Mas, infelizmente, existem dois pesos e duas medidas. A Igreja, normalmente, procura abafar os casos, enquanto o cidadão comum corre o risco de ser até linchado. Os padres pegos, julgados e condenados pela justiça, mas dentro do seio da Igreja não são penalizados. Por que é assim? Veja o relato abaixo:

Crimes como o descrito pelo menino V.R.D. não são novidade no interior da Igreja. “Nos últimos três anos, cresceram em 70% as denúncias de abusos sexuais praticados por religiosos no Brasil”, diz Regina Soares Jurkwicz, doutoranda na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) e autora do livro Desvelando a política do silêncio: abuso sexual de mulheres por padres no Brasil. Na semana passada, um outro caso expôs essa ferida. O padre Félix Barbosa Carreiro, 43 anos, de São Luís (MA), foi flagrado num quarto de motel acompanhado de quatro adolescentes recrutados pela internet. “Sei que outros 12 padres fazem o mesmo”, acusou o padre. Diante dessa crise moral, o papa Bento XVI, ex-chefe da Congregação da Doutrina da Fé – órgão do Vaticano encarregado de investigar as denúncias de abuso sexual na Igreja –, despachou para o Brasil, em setembro, uma comissão para investigar o que ocorre longe das vistas dos fiéis. O quadro encontrado pelos representantes da Santa Sé não é nada animador. Há, no Brasil, cerca de dez padres na cadeia, condenados pelos crimes de abuso sexual. Há, ainda, aproximadamente 40 religiosos fugindo de mandados de prisão, muitos deles, segundo as investigações do Vaticano, acobertados pela própria Igreja. http://www.terra.com.br/istoe/1883/brasil/1883_confissoes_obscenas.htm 

A Igreja não aceita a união de homossexuais por que fere os mandamentos de Deus. Mas como ficam os padres homossexuais? Eles são obrigados a engolir sua opção sexual? São mandados embora do seio da Igreja? Acredito que em alguns são mais cristãos do que certos religiosos por ai? A opção sexual não influencia na pregação do Evangelho. O mais engraçado é ver noticiários criticando casamentos homossexuais. Como fica o direto dessas pessoas?

 

Existe uma distorção de papeis, onde o mal está nos olhos de quem vê. Havendo respeito, de ambas as partes, é possível conviver harmoniosamente. Essa é a minha opinião.

 

Encontrei esse trecho no livro “As Máscaras de Deus – Mitologia Ocidental de Joseph Campbell” que descreve o julgamento de um religioso pelos crimes de perjúrio, simonia e incesto. Veja o que aconteceu com ele e depois reflitam se mudou alguma coisa:

 

No ano de 1198, o cabido de Rougemont foi acusado de perjúrio, simonia, e incesto. Mas quando ele foi chamado a Roma, os acusadores não ousaram prosseguir nas acusações. Entretanto, não as retiraram e o grande perito na Lei de Deus, Inocência III, citando benevolentemente Cristo no caso da mulher adúltera (“Quem dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra”), mandou o prelado de volta para casa, a fim de que se penitenciasse e fosse absolvido. E, de fato, Rougemont retornou a viver em incesto com sua prima, a Abadessa de Remiremont, e em intimidade menos excepcional com suas outras concubinas, uma das quais era freira e outra filha de um padre; considerando que, enquanto isso, nenhuma igreja em sua província podia receber consagração sem pagar para ele; monges e freiras que podiam dar-lhe propinas recebiam permissão para deixar os conventos e se casar, e seus clérigos regulares foram reduzidos, por sua extorsões, a viver como camponeses, por sua própria conta. No ano de 1211 iniciou-se uma segunda tentativa para removê-lo, a qual entretanto, simplesmente arrastou-se até que, finalmente, por volta da época do próprio Concílio de Latrão, seu povo rebelou-se e o expulsou. – página 400

 

E quanto a excomungar médicos? Tem cabimento isso? Em pleno Século XXI somos obrigados a presenciar cena assim. Lendo a notícia do médico excomungado pensei em qual teria sido a sua reação. O ato do arcebispo não causou dano algum. Provavelmente a única coisa que aconteceu foi à comunidade discriminá-lo. O ato de excomungar só tem força de ação nas pessoas que seguem os dogmas religiosas, pois naquelas que não seguem não funciona. A saída é mudar de igreja ou mesmo de religião. Veja o trecho abaixo:

 

Não bastasse a dureza da história, o episódio foi marcado pela participação do arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, que achou por bem excomungar a mãe, os médicos e toda a equipe envolvida no procedimento. A atitude do religioso, que eximiu de sanções o pedófilo estuprador, serve para mostrar até onde chegam a confusão e a insanidade quando o tema é aborto.

 

A decisão do arcebispo está de acordo com a posição da Igreja sobre o tema aborto (crime contra a vida) e estupro (pecado grave) e foi aprovado por autoridades do Vaticano e pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Quem sabe dom José venha a ser premiado com o cardinalato.

 

Na continuação da notícia o médico respondeu o seguinte sobre sua excomunhão.

 

Carta Capital: Como o senhor se sentiu ao ser excomungado pela segunda vez?
Rivaldo Mendes de Albuquerque: Não modificou absolutamente em nada a minha vida. A excomunhão não fechou meus olhos para as violências que vejo praticadas, diariamente, contra as mulheres. Sou médico e constato que o aborto é uma questão de saúde pública. A excomunhão em nada ajuda a resolver este problema. Apenas reforça uma postura da Igreja, que não está associada aos que mais precisam. Do ponto de vista religioso, a penalidade é forte, mas não me atinge porque tenho a certeza de que estou ajudando mulheres a saírem de situações extremas. Viver uma situação de violência é como viver no inferno.
http://www.perpetuaalmeida.org.br/site/texto.asp?id=1603

 

A conclusão tirada disso tudo é que a Igreja, quer dizer, os homens por trás dela, não podem impor sua moralidade à sociedade. A sua história prova que houve, e ainda há,  abusos de diversos tipos praticados pelos homens que a compõem. A meu ver, o problema não está no padre em si, mas no homem que se esconde por trás da batina. É ele que age contra os ensinamentos do Evangelho. Com base nisso temos dois tipos de homens. O homem religioso que segue os ensinamentos do Evangelho e está acima de qualquer suspeita, e o homem comum que se aproveita do seu status religioso para satisfazer seus anseios. A palavra de Deus se estende a todos. Não pode haver distinção entre pessoas. O próprio Jesus Cristo viveu, a maior parte do tempo, entre gente excluída e desamparada. A lista é longa. Temos uma prostituta, alguns samaritanos, alguns leprosos, um coletor de imposto e outros que não recordo.