Leonice Silva FERREIRA 

A fissura no mundo de uma criança com diagnóstico de psicose dará através de encenações que possibilitam uma aproximação entre terapeuta e paciente. Esse modo de terapia que são citados em alguns trabalhos do terapeuta Esteban Levin, pois obteve êxito ao criar e encenar situações que fazem parte do mundo infantil, para atingir, ou melhor, romper com a barreira imposta pela psicose e chegar à criança.

As encenações são pontos decisivos na formação da criança enquanto sujeito, e é também ponto de partida – baseado no filme Meu filho, meu mundo – para abrir uma fissura e romper o mundo do autismo. Uma vez que, as abordagens feitas por Levin surgiram efeitos relevantes.

Assim, como no filme supracitado, em que os pais, após procurarem tratamento para seu filho de três anos, diagnosticado como autista, e, por conseguinte, os médicos se recusaram a atender o menino, justificando que ainda era cedo para que ele iniciasse um tratamento adequado. Os pais desesperados decidem iniciar terapias caseiras, elaboradas por eles mesmos, e de acordo com o comportamento repetitivo que seu filho apresentava.

Apesar de demorado e trabalho ardo, a iniciativa surtiu efeito satisfatório, pois o filho recuperou-se gradativamente do diagnóstico. Esta terapia desenvolvida pelos pais foi através de encenações dos movimentos repetitivos que o próprio filho realizava.    

Esta encenação consiste no movimento especular pelo qual a criança se constitui, mas esse movimento é contraditório, pois a criança vê-se outra pessoa refletida nele. Entretanto, este movimento especular é necessário para seu desenvolvimento e para conhecer-se. Ao encenar, a criança reage ao espelho que está diante dela, numa cena.

Vale ressaltar que o outro espelho da criança são seus pais, e a não realização dessa criança decepcionam os pais naquilo que haviam projetado sobre seus (a) filhos (a), é por esta imagem do Outro que a criança se reconhecerá.  

Dessa encenação, faz parte a metamorfose que as crianças fazem com seus brinquedos, aponto de brincarem com um único objeto inúmeras horas e fazê-lo de todos os personagens imagináveis. Com isso, o autor destacará a importância da encenação na vida da criança, e também a construção do mundo infantil que se dá entre ficções.

Focando sempre na encenação, que é criada de acordo com a situação, o novo encontro do terapeuta é com Carla, aparentemente, um caso mais grave dos demais. Este caso requer um desenrolar diferente dos demais, pois a menina tem um histórico familiar de perdas e sofrimentos.

Como nos casos anteriores, o terapeuta cria e encena uma cena, a partir daquela que a criança se encontra. Aqui, o contado para romper com o mundo de Carla dá-se muito lentamente, mas prossegue, e com resultados positivos.

Os gestos, os traços, tudo cria movimentos de mundos fictícios ideais para a menina, que responde bem a terapia. A aproximação entre a paciente e o terapeuta está mais confiável. Os laços criados pelos movimentos cênicos foram relevantes para alcançar – ou tentar alcançar – o mundo de Carla pela transferência.     

Quando a criança gera uma memória sem sujeito é preciso tentar gerar na criança uma memória com base no Outro. Para isso é necessário antecipar um sujeito fazendo com que o mundo se torne visível e significante para a criança que conseguira retirar do Outro os significantes que a representem.

Portanto, a imagem do corpo do outro possibilitou à criança, através de encenações subjetivar o seu reflexo. 

REFERÊNCIA

LEVIN, Esteba, Clínica e educação com crianças do outro espelho; tradução de Ricardo Rosenbusch. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.