ELA DISSE “EU TE AMO”.

SEM RESPOSTA, simplesmente ELE DISSE OBRIGADO. NÃO ERA A RESPOSTA QUE ELA ESPERAVA. Acreditava que ELE estava apenas esperando ELA se declarar, para confessar que também a amava incondicionalmente. Na hora se conformou com a tese de que o amor surge com o tempo, acreditou que se fosse uma grande mulher ELE a amaria em uma escala superior do que ELA o amava.

Dedicou seus melhores anos, seus sorrisos mais sinceros e o auge de seu beleza ao lado de um sujeito insensível que nunca a entendeu. Não desejava grandes projetos. ELA, como Capitu não almejava a vida em grandes mansões e dinheiro no banco. Simplesmente queria se sentir amada. Uma casa simples de três cômodos, um fogãozinho de quatro bocas, um cantinho para criar suas orquídeas, um cão sem pedigree e nada mais.

ELE era megalomaníaco e almejava conquistar o mundo. ELA aprendeu a se sentir feliz com uma vida simples, pois para ELA ELE era seu mundo.

ELE  antes de morrer gostaria de saber qual é o significado de esquiar nas montanhas de Sochi;  de caminhar na Pont Alexandre III em Paris em plena chuva; de escalar as montanhas do Himalaia; fazer um breve piquenique no Jardin des Tuileries; visitar um campo de concentração de guerra onde os judeus foram torturados; pegar uma onda perfeita no Caribe; observar a beleza das pinturas de Michelangelo capela Sistina no Vaticano; entrar no Coliseu e  imaginar no tempo dos gladiadores; ver o sol se por no oceano em plena Califórnia ou Hawai; patinar no Central Park ou ainda andar de charrete por ele; visitar as montanhas do Butão e vê a grandiosidade e sentir toda aquela energia; ir até o Egito e admirar que nos primórdios da vida conseguiu-se construir pirâmides num deserto; fazer uma trilha inca que leva a uma montanha com uma civilização antiga impressionante; constatar que a natureza pode ser exuberante de diferentes formas em diferentes lugares; observar atônito a força das quedas das cachoeiras de Foz do Iguaçu.

ELE então decidiu partir em busca de um mundo novo, distante da previsibilidade que até então se via em sua vida. Suscitou dizer mentiras e justificativas abstratas para fundamentar sua ausência. Os dias estão curtos...8 meses passam rápido ELE acreditava...mas ELA não entendeu. No fundo ELE acreditava que quando retornasse as coisas seriam como antes, como se o tempo fosse congelado e não o castigasse pela sua contestada decisão.

ELE partiu mesmo contrariado. Arrumou cuidadosamente a mala, colocando os porta-retratos do casal ao lado de seus objetos pessoais. Levou também uma velha carta já amarelada que ELA tinha escrito na noite seguinte ao primeiro beijo. Poderia ser mais uma carta, como tantas outras escritas por outros casais de namorados...poderia ser...até continha as mesmas declarações de amor e as promessas de um futuro bom...o que diferenciava essa carta, que a tornava única, era que ela estava borrada, borrada pelas lágrimas de alguém que mesmo após dois dias de namoro, já amava incondicionalmente.

ELE era um moço belo. Na cidade grande instantaneamente despertou o interesse de um número incalculável de mulheres. Sua fidelidade não resistiu nem ao primeiro happy hour com a turma do escritório e se deitou com uma colega que conhecera dois dias antes. Na manhã seguinte sentiu um enorme arrependimento e nojo de si mesmo. Quinze dias depois traiu novamente dormindo com outra colega de trabalho. Curiosamente seu arrependimento já era bem menor do que o da primeira vez e o mesmo se foi diluindo durante as inúmeras vezes que dormira com outras mulheres até o dia que não sentiu mais arrependimento nenhum.

Na ilusão que o tomou, ELE a esqueceu. Já não ligava com tanta freqüência para ELA. Justificava com evasivas mentiras a falta de amor e a frieza que o tomara. Das ligações diárias realizadas pontualmente às 22 horas, agora só ligava uma vez na semana, sem dia e horário definido. Mesmo com tudo isso, ELA aguardava ansiosamente com o telefone na mão, acreditava que a qualquer momento milagrosamente seu celular iria tocar e seria ELE, o seu amado, que falaria que estava a porta de sua casa, e estava a esperando para levá-la para jantar fora, preferencialmente no simples restaurante de beira de estrada onde tudo começou.

Sua fé esmoreceu. Culpou Deus por ter permitido que ELE partisse. Acreditava na ilusão de que se ELE não tivesse partido tudo seria diferente. Eles já estariam casados, poderia quem sabe já estar gestante. Seriam felizes como sempre sonhou.

Um dia não agüentando a saudade quebrou as regras que ELE mesmo inventou. Ligou para ELE. Queria dizer que estava com saudades, que naquela noite havia tido um lindo sonho com ELE, em que ambos caminhavam descalços de mãos dadas sobre um bonito campo florido. ELE a atendeu chamando pelo nome de outra mulher. De repente tudo fez sentido. As ausências, as desculpas evasivas, a falta de amor.

Todas as peças do quebra-cabeça se encaixaram perfeitamente e após colocar a ultima delas conseguiu enxergar com clareza a figura de um coração partido. A torre de babel das mentiras inventadas por ELE desmoronou sem sobrar um único tijolo.

Durante três meses ELA chorou 24 horas por dia. Foi obrigada a ser internada durante várias vezes pela depressão que a tomara. Pensou em suicido. Viver para que? Suicídio? Não. Definitivamente não. Era contrário a tudo o que seus pais lhe ensinaram.

ELE seguiu sua vida. Procurava não pensar em toda a dor que tinha causado a ELA. Os 8 meses se passaram. Decidiu ficar mais algum tempo. Estranhamente se acostumou com o gosto daquelas caras bebidas, nem uísque e nem o borbulhar do champanhe servidos em finas taças o alegrava. As mulheres siliconadas da cidade grande, todas perfumadas com a linha Victoria Secrets já não mais despertava o interesse. Sentiu saudade de acariciar a menina simples do interior que adorava andar de rasteirinha. Mas isso não era tudo o que ELE sempre sonhou? Realmente era, mas passou.

Talvez percebeu que não dava para ser polícia e ter medo de bandido, não dava para freqüentar aqueles ambientes e se intitular diferente. Viu no espelho a imagem de um homem mau, corroído por todas as espécies de malícias e vícios. Sem dúvida, hoje ELE era igual deles. Seus costumes, seu vocabulário e sua alma era semelhante a dos demais.

Tomando um cálice de vinho do Porto cogitou ligar para ELA. Qual será sua reação? Estará casada? Se não estiver será que ainda terei uma chance? Não, não. ELA desligará o telefone em minha cara, assim que identificar a minha voz ou talvez lavará a alma dizendo que agora quem não quer mais nada é ELA.

Mas o AMOR definitivamente é cego e burro e ELA o abraçou após o primeiro pedido de perdão. O seu sincero arrependimento e todos os exemplos que demonstrou posteriormente na vida de casado apagarão toda a dor que ELE causou a ELA? Seria justo ELA o perdoar? A RAZÃO ficou sem conversar durante anos com o CORAÇÃO, chamando-o de CRETINO e INSENSATO, e só entendeu os reais motivos que levaram o mesmo a abençoar determinado matrimônio após uma década de criteriosa observação, em que foi obrigada a reconhecer que a lógica do AMOR contraria a própria lógica.



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