Nome: Cleber Tedesco

 

A ideologia do filme “A Vila”

 

A ideologia, ética e moral, são conceitos que moldam e norteiam as atitudes de um ser e de sua sociedade. Para estudarmos de forma prática, será abordado no filme A Vila a presença de cada um desses conceitos e como são utilizados no falseamento da realidade.

Traumatizados com a extrema violência vivenciada na sociedade moderna do capitalismo, um grupo de pessoas fundam uma vila em um local isolado em busca de segurança e um novo estilo de vida. Ao criar seus filhos nesse novo ambiente, constroem a ideologia de isolamento do mundo, que convém a classe que detém o poder, pois acredita estarem mais seguros desta maneira. Ao encontro do conceito de Marx que afirma que a “ideologia é o conjunto de representações e ideias, bem como de normas de conduta, por meio das quais o indivíduo é levado a pensar, sentir e agir da maneira que convém à classe que detém o poder”.

Para todos os membros da comunidade, exceto os que estão no poder, é criado um cenário místico por meio de seres que vivem na floresta citados como os “que não podemos mencionar” análogo as religiões para moldar o comportamento da sociedade impedido de conhecer o restante do mundo. Essa consciência distorcida da realidade é criada pela classe dominante para manter seus filhos na vila. Essa atitude parece ser justificável, uma vez que, “estariam” mais seguros nesse ambiente.

O personagem Lucius, está motivado a entrar na floresta proibida, a fim de conhecer os seres místicos que ali vivem. Percebe-se, que a linha que circunda a vila separando-a da floresta, parece ser a mesma linha que policia os limites da moral do personagem. Lucius entra na floresta indo de encontro a sua moral em uma reflexão ética. Após esse episódio, de forma manipulada, os seres místicos começam a invadir a vila. Lucius se sente na obrigação de informar aos que mantêm o poder o fato, pois ele acredita que seu passeio na floresta tenha desencadeado as invasões. Com esse exemplo, pode se afirmar que “O ato moral provoca efeitos não só na pessoa que age, mas naqueles que a cercam e na própria sociedade como um todo. Portanto, para ser moral, um ato deve ser livre, consciente, intencional, mas também solidário”.

Motivador das ações do ser humano, os desejos são barrados ou não pela ideologia e moral. O personagem Noah Percy, que possui problemas mentais e é apaixonado por Ivy, ataca Lucius com golpes de faca ao saber que Ivy iria se casar com Lucius. Esse fato demonstra a força do desejo, ao transpor a ideologia e a moral. Para Noah, a agressão é justificável enquanto que para a maioria não. “Como juiz interno, a consciência moral avalia a situação, consulta as normas estabelecidas, interioriza-as como suas ou não, toma decisões e julga seus próprios atos”. Então há “a reflexão sobre os dilemas que cercam nossa conduta moral”.

Os ferimentos de Lucius requerem cuidados médicos e medicamentos. Para isso, foi necessário que Edward contasse toda verdade para Ivy sobre o mundo que os cercam, em uma reflexão de valores, do que seria mais importante, a vida de uma pessoa ou a manutenção da ideologia. Ela com a força de seu amor inicia sua jornada em busca da civilização, que poderá salvar a vida de Lucius com os medicamentos. Nessa situação, percebemos o bônus do capitalismo em fomentar a pesquisa e fabricação de medicamentos, mesmo que seu motivo seja apenas para o individualismo e lucro o que encontra-se justificável em nossa ideologia moderna.

Nas cenas finais do filme, percebe o conceito de informação ideológica que é a manutenção dos interesses de grupos restritos, transformando em instrumento de poder e impedindo o pluralismo.  O fato que exemplifica isso é quando o ancião da vila coloca a discussão apenas para o grupo de poder, sobre contar ou não para toda comunidade sobre a realidade que há no mundo “lá fora”. Nesse episódio, cabe uma reflexão. Será que informando a toda comunidade da vila sobre como é realmente o mundo, seria possível que esses membros experimentassem a “liberdade” em uma reflexão ética? Seria possível transpor sua ideologia já herdada e criar uma nova ideologia capitalista? Seria possível essa comunidade “gozar” de novas atitudes? Ou seria apenas um falseamento do livre arbítrio, pois somos todos já determinados? Nem mais, nem menos, todas as respostas serão influenciadas pelas experiências já vividas, em que cada ser talvez possa se sentir liberto ao refletir apenas.

“A ação e o pensamento nunca são totalmente determinados pela ideologia. Sempre haverá espaços para a crítica e fendas que possibilitam a elaboração do discurso contraideológico.”

Referências

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 4.ed. São Paulo: Moderna, 2009.

GALLO, Sílvio (Coord.). Ética e cidadania: caminhos da filosofia: elementos para o ensino de filosofia. 13.ed. Campinas: Papirus, 2005.

JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 2.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Civilização Brasileira, 2007.

NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral: uma polêmica. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SHYAMALAN, M. Night. A Vila (The Village). Filme. Estados Unidos: 2004.

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