Ao longo da história da humanidade à mulher foi relegado um papel secundário ? ou ficava restrita aos afazeres domésticos ou exercia ocupações religiosas.
É claro que existiram lugares onde elas possuíam uma certa equidade de direitos, como no Egito, por exemplo.
É possível encontrar também textos sagrados que exaltam a relação de paridade entre homens e mulheres como a história do rei Salomão, de Israel e da rainha de Sabá. Assim como a existência de grandes injustiças como a ocorrida contra Joana D´Arc, que em plena a Idade Média ? um tempo exclusivamente masculino ? bancou ideais revolucionários e pagou com a própria vida sendo queimada em fogueira e tornando-se mártir dos franceses.
Mas o que se tem de certo é que a relação hierárquica entre homens e mulheres, considerada natural, manteve-se na modernidade. Nos paradigmas constitutivos da nova concepção do mundo, trazidos pelo projeto iluminista da modernidade, no Ocidente, as relações entre os sexos foram ainda definidas como parte da ordem natural das coisas.
As mulheres foram nomeadas como parte da natureza, no mesmo sentido que o eram na velha ordem, em franca desestruturação.
Rosseau, o grande pensador do contrato social moderno, considerava, segundo Amorós (1985), que, por "natureza, o homem pertence ao mundo exterior e a mulher ao interior, encaixando-se, assim, na dicotomia natureza-cultura, a dicotomia interior-exterior ? o que adquire especial relevância na sociedade burguesa capitalista".
Vivemos em pleno século XXI e ainda convivemos com expressões comuns como: Lugar de mulher é na cozinha. Mulher nasceu só para ser mãe. O chefe da casa é o homem. Mulher ao volante, perigo constante, entre outras que retratam estereótipos e exemplificam o preconceito de gênero, também chamado de sexismo e do qual pouco ainda conseguimos mudar.
Há tempos, os movimentos de mulheres vêm orientando seus debates na perspectiva de que as questões tradicionalmente que lhe são atribuídas devem ser colocadas em um contexto mais amplo, ou seja, da discussão das relações e dos papéis de homens e mulheres na sociedade.
Esta é chamada questão de gênero. Esta abordagem permite situar o tema em um horizonte maior ao tratar, por exemplo, a questão da desigualdade entre homens e mulheres, como um problema nas relações de dominação socialmente estabelecidas entres os dois gêneros.
Além disso, recoloca os termos das soluções dos problemas: elas são conjuntas e envolvem mudanças de posição e comportamento de homens e mulheres em uma repartição social mais justa das responsabilidades e oportunidades.
As ações governamentais, as políticas públicas e os programas desenvolvidos por governos podem exercer um papel importante diante desse quadro de desigualdades.
Por um lado, podem reforçar as desigualdades, o que ocorre, em geral, pelo fato de os governos e as agências estatais não estarem "atentos" às desigualdades de gênero.
E, mais que isto, em decorrência também de a própria sociedade não estar atenta a estas desigualdades.
Mas, também podem contribuir para a redução da desigualdade de gênero. Em primeiro lugar, reconhecendo que esta desigualdade existe e que ela deve e pode ser reduzida. Em segundo lugar, integrando o combate à desigualdade de gênero, junto com o combate a "outras desigualdades". Em terceiro lugar, identificando como e onde estas desigualdades se manifestam e quais seus impactos ? para se poder planejar estratégias de ação.
O mundo moderno apresenta, portanto, novos desafios para a construção da eqüidade de gênero, que emergem neste momento em que as sociedades parecem dirigir-se justamente na direção contrária, aprofundando desigualdades sociais.
É importante ressaltar que não existe apenas a igualdade a ser promovida, mas também a liberdade. Porque existem direitos que dependem mais de um do que do outro.
A questão da cidadania tem a ver com a igualdade, enquanto que o que está ligado ao corpo muitas vezes tem a ver com a liberdade.
Dados estatísticos atuais mostram a condição de desigualdade social que assola as mulheres em âmbito mundial:
? Mais de um bilhão de pessoas vivem em condições miseráveis e 60% são mulheres.
? Uma família a cada três no mundo tem por chefe uma mulher sozinha.
? As mulheres representam 38% da população ativa. Quando são assalariadas, elas ganham em torno de 20 a 40% menos do que os homens.
? Nas Assembléias Legislativas, as mulheres têm uma representação em torno de 4% nos países árabes, de 10% na América Latina, de 19% na Ásia e de 30% nos países escandinavos ou no Parlamento Europeu.
? Calcula-se que 100.000 mulheres morram todos os anos de aborto clandestino. Cerca de 580.000 mulheres morrem todos os anos de complicações de uma gravidez ou parto, por falta de controle dos nascimentos, de acompanhamento médico, de cuidados e freqüentemente em conseqüência de gravidezes precoces (30% são adolescentes). Aproximadamente 90% dessas mortes ocorrem na Ásia e na África sub-sahariana.
? Na África, existem seis mulheres infectadas pelo vírus da Aids para quatro homens.
? Entre 85 e 114 milhões de mulheres e de meninas sofreram mutilações sexuais.
? Se não houvesse discriminação em relação às meninas e preferência pelos meninos em inúmeras regiões do mundo, a população feminina teria 100 milhões de indivíduos a mais.


"A história da humanidade deveria ser reescrita para poder revelar a enorme dívida contraída com as mulheres".
(Papa João Paulo II ? 1988)