O ser humano é social por natureza e de acordo com o convívio no decorrer de nossas vidas, vivemos situações que nos constrangem ou enaltecem sofremos desilusões, aprendemos com nossos erros e acertos e através da nossa vivência construímos a nossa personalidade.

            É importante valorizar as vivências e o mundo das crianças, por meio de atividades próprias da cultura infantil (atividades lúdicas e imaginativas) e conteúdos pedagógicos e um deles é a leitura, daí sua importância.

            Ler todo mundo sabe  que esta longe de ser uma tarefa fácil. Dá muito mais trabalho do que ver televisão, ouvir música ou pensar na vida. Qualquer leitura exige o domínio da língua e suas nuances, além de tempo e concentração, determinação e conhecimento sobre o tema (ou vontade para aprender e descobrir). Mas ler é o único jeito de se comunicar de igual para igual com o restante da humanidade, seja no tempo através de livros de escritores já falecidos como Jean Piaget ou Willian Shakespeare, seja no espaço, em textos jornalísticos e informativos.

            Mediante o texto vivenciamos novas experiências, pois na leitura não há limites, você viaja pelo tempo através de histórias do passado, até os dias atuais conhecendo um pouco sobre os costumes e o tipo de vida de cada época e pelo espaço vai pelo mundo afora conhecendo as mais belas paisagens e ambientes ainda inexplorados e, este sentimento de liberdade é um dos fatores mais interessantes da leitura.

            É por isso que a escola tem que priorizar o ato da leitura, porém o mais triste é que o nosso país não tem uma cultura voltada para a mesma, mas isso tem que mudar para transformar essa realidade que me propus a debater e reforçar a importância da leitura e do incentivo a esta prática nas séries iniciais. Os educadores de maneira geral tendem a trabalhar apenas textos didáticos e literários, muitas vezes de forma burocrática e cansativa, deixando a fantasia de lado.

            Existe coisa mais divertida que ler para crianças? Magia, fantasia e imaginação são apenas alguns elementos presentes nestes momentos inesquecíveis.  Por que então as escolas formam tão poucos leitores e o gosto pelos livros é quase uma raridade? Todos os estudos apontam que o grande vilão é a mistura de textos literários com atividades didáticas. Se o negócio é ler por prazer, por que pedir atividade em cima da leitura?O bom é a troca de experiências, de ideias, conceitos sobre o texto lido, privilegiar a construção de sentido do mesmo, estabelecendo relação com o cotidiano dos leitores.

            O projeto de leitura prazerosa visa tornar os educandos leitores autônomos, aqueles que sem a interferência do educador sente a necessidade de buscar novos livros e experiências de leitura. Os livros que lhe proporcionaram prazer serão a porta de acesso a leitura, e o desenvolverá para

compreender textos que vão desde histórias divertidas com enredos simples, até informativos e científicos.

            Há algum tempo acreditava-se que os pequeninos de Educação Infantil não estavam prontos para participar de atividades de leitura e escrita. Porém as pesquisas constataram que por menores que sejam as crianças já têm contato com diversos tipos de textos e seus transmissores, livros, jornais e revistas, principalmente as que vivem na zona urbana. Então nunca é cedo demais para ampliar o contato com a leitura e a escrita, pois estes ajudam na familiaridade com o mundo letrado e isso se dá na vivência dos pais que contam historinhas aos filhos.

            Em interessante artigo a professora Lúcia Machado de Almeida comenta:

O ideal seria concentrar no conto infantil as três finalidades: divertir, educar e instruir. A criança deve ser instruída e educada sem perceber, convencida de que está apenas se divertindo. Quando isso se torna um tanto difícil bastaria que o conto infantil fosse apenas sabiamente recreativo. Não se iludam os educadores julgando que uma obra só pode ser chamada de literatura educativa se conseguir  alcançar a sua finalidade. (Não me refiro ao livro didático, é claro). Isso só será conseguido se o autor, servindo-se de propriedade inata ou adquirida souber veicular aquela intenção através de um enredo interessante e bem contando, fazendo a moralidade decorrer mais da “atmosfera” da história do que dos conceitos nela emitidos. Do contrário tudo “entrará por um ouvido e sairá pelo outro”.

            Faz-se necessário refletir também acerca do leitor: a criança. Nos séculos passados as crianças conviviam igualmente com os adultos, não havia uma visão especial da infância, não se escrevia para elas.

            Zilberman (1995) decifra que:

... A concepção de uma faixa etária diferenciada, com interesses próprios e necessitando de uma formação específica, só acontece em meio à Idade Moderna. Essa mudança se deu a outro acontecimento da época: a emergência de uma nova noção a família, centrada não mais em amplas relações de parentesco, mas num núcleo unicelular, preocupado em manter sua privacidade (impedindo a intervenção dos parentes em seus negócios internos) e estimular o afeto entre seus membros. (ZILBERMAN,1995,)

            O adulto passa a idealizar a infância. A criança é o indivíduo inocente e dependente do adulto devido sua falta de experiência da realidade. A partir da psicologia da Aprendizagem a infância é tratada como uma etapa de preparação do pensamento para a vida adulta. O pensamento infantil não tem ainda uma lógica racional. A literatura infantil é, nesta concepção, adequada às fases do raciocínio infantil, que é dividido em idade cronológica.

            No entanto, outra concepção de infância tem sido defendida e com ela uma nova postura da literatura infantil. É preciso entender que a criança é também cheia de conflitos, medos, dúvidas e contradições não por desconhecer a realidade, mas por trazer em si a imagem projetada do adulto, como disserta Zilberman (1995):

Se a imagem da criança é contrariada, é precisamente porque o adulto e a sociedade nela projetam, ao mesmo tempo, suas aspirações e repulsas. A imagem da criança é, assim, o reflexo do que o adulto e a sociedade pensam de si mesmos. Mas este reflexo não é ilusão; tende, ao contrário, a tornar-se realidade. Com efeito, a representação da criança assim elaborada transforma-se, pouco a pouco, em realidade da criança. Estas a dirige certas exigências ao adulto e à sociedade, em função de suas necessidades essenciais. (ZILBERMAN, 1995).

            Quanto ao seu desenvolvimento cognitivo, a ênfase não pode ser naquilo que a criança ainda não dá conta, mas sim naquilo que só ela é capaz de fazer. Aproveitando a capacidade imaginativa da criança é possível desenvolver trabalhos interessantíssimos com a leitura, e com certeza a resposta será imediata, pois as crianças sempre nos surpreendem com sua capacidade de aprendizagem decifram sobre o cognitivo na criança.

Se lhe falta a completa capacidade abstrativa que a capacite para as complexas redes analítico-conceituais, sobra-lhe espaço para a vasta mente instintiva, pré-lógica, inclusiva, integral e instantânea que só opera por semelhanças, correspondências entre formas, descobrindo vínculos de similitude entre elementos que a lógica racional condicionou a separar e a excluir. Correspondências, sinestesias. Todos os sentidos incluídos.

            Uma literatura que tenha essa concepção de infância vai, então, privilegiar "o lado espontâneo, intuitivo, analógico e concreto da natureza humana" e ver seu leitor como um ser de desejos e pensamentos próprios. 

            Alguns autores não se preocupam com o problema da adequação de suas histórias ao nível mental das crianças, e chegam ao extremo de intercalar em seus contos expressões literárias, vocábulos arrevesados e imagens inteiramente incompreensíveis para os pequenos leitores.

            A história infantil deve apresentar um conteúdo moral, portanto, a história deve ser recreativa e construtiva, sem conter conceitos amorais, a moral deve estar implícita, a história deve ser de compreensão fácil, enredo interessante, riqueza de imaginação e oferecer um desfecho imprevisível, durante a narrativa evitar que possa ferir o sustento do conto.

            Segundo os PCN’S de 1ª à 4ª séries, para depreender o objetivo geral da leitura é preciso:

Entender que a leitura (pode ser) é uma fonte de informação, de prazer e de conhecimento. Ela dá acesso às informações necessárias para o dia-a-dia e aos mundos criados pela literatura e pelas ciências. O aluno deve saber, ainda, como recorrer a diferentes materiais impressos para atender a necessidades específicas. Para obter informações sobre um filme, usa-se o jornal. Para achar o significado de uma palavra desconhecida, o indicado é o dicionário. Para uma pesquisa de História, consultam-se enciclopédias. (PCN’S, 2001, p. 5)

            Para se atingir com sucesso os objetivos de uma leitura é necessário um ambiente atraente, bem acolhedor, com vários tipos de livros, para que chame a atenção das crianças para a leitura.

            A sensação de alegria que sentimos ao ouvir ou mesmo ao contarmos uma boa história é o momento único na vida de cada pessoa. Somente vivenciando será possível verificar a força que rege no nosso mundo mágico da fantasia, como bem disse Fanny Abramovich (1995).

O ouvir histórias pode estimular o desenho, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatro, o imaginar, o brincar, o ver, o livro, o escrever, o querer ouvir de novo (a mesma história e outra). Afinal, tudo pode nascer dum texto! no principio não era o verbo? Então... E mesmo as crianças maiores, que já sabem ler, também podem sentir grande prazer no ouvir... (ABRAMOVICH, 1995, p. 23)

            O sucesso da narrativa depende de vários fatores que se interligam, sendo fundamental a elaboração de um planejamento, no sentido de organizar o desempenho do narrador, garantindo-lhe segurança e assegurando-lhe naturalidade.

            O primeiro passo consiste em escolher o que conta, a quem contar, onde e quando iremos contar. A escolha é algo pessoal. O contador precisa sentir a história, ter a expressão viva, ardente, sugestiva. A história deve despertar a sensibilidade de quem a conta, sem emoção não terá sucesso.

            Uma vez escolhida a história a ser contada passamos a estudá-la. Estudar uma história é em primeiro lugar, divertir-se com ela, captar a mensagem que nela está implícita, em seguida, após algumas leituras, identificar os elementos essenciais, isto é o que constitui a sua estrutura: introdução, enredo, clímax, desfecho.

            Quando vamos narrar uma história para as crianças, devemos fazê-lo com naturalidade, o vocabulário deve ser adequado ao público. Na oralidade é preciso ser mais claro e objetivo, sendo necessário às vezes, completar as ideias da história, buscando maneiras de fazer com que os ouvintes permaneçam concentrados na história.

            De acordo com Elizagaray (apud Abramovich,1995)

O narrador tem que transmitir confiança, motivar a atenção e despertar admiração. Tem que conduzir a situação como se fosse um  que sabe seu texto, que o memorizado, que pode permitir-se o luxo de fazer variações sobre o tema. (Abramovich, 1995)

            Conforme Abramovich é bom que quem esteja contando histórias crie todo um clima de envolvimento, de encanto, que saiba dar as pausas, criar os intervalos, respeitar o tempo para o imaginário de cada criança construir cenário, visualizar seus monstros, criar seus dragões, adentrar pela casa, vestir a princesa, pensar na cara do padre, sentir o galope do cavalo, imaginar o tamanho do bandido e outras coisas mais.

            Como dito anteriormente os elementos essenciais da história infantil são quatro: introdução, enredo, ponto culminante e desfecho. A introdução é formada pela parte inicial da história, trata-se na verdade, de uma parte preparatória. O enredo é a sucessão de episódios que constituem a história, os conflitos que surgem e a ação das personagens. Quando o enredo atinge o seu ponto Máximo, a história atingiu seu ponto culminante. Ao desenlace final, à conclusão dos conflitos chamamos desfecho.

            O humor também é fundamental nas histórias infantis, pois o humor na literatura e na vida não é contar piada. Também não é falar rindo de bobeira pura. Segundo Abramovich , é muito mais, como disse nosso maior filósofo, o grande pensador e cutucador das cabeças brasileiras, Millor Fernandes: “como em todo meu humor não procurei fazer gracinhas, adorei apenas, uma forma completamente desinibida e descondicionada de ver as coisas.”.

            E os autores infantis que conseguem esse tipo de visão são os que levam a novas formas de perceber velhas coisas, sem preconceitos, sem esteriotipos e sem repetir o já sabido.

            De acordo com Abramovich, se o adulto não tiver condições emocionais de contar a história inteira, com todos os seus elementos, suas facetas de crueldade, de angustia, então é melhor dar o livro para outra criança ler... Ou esperar o momento em que queira ou necessite dele que o adulto esteja preparado para contá-lo. De qualquer modo ou se respeita a integridade, a inteireza, a totalidade da narrativa ou se muda de história.

            Os contos de fada são tão ricos que tem sido fonte de estudo para psicanalistas, sociólogos, psicólogos, antropólogos, cada qual fazendo sua analise e se aprofundando no seu eixo de interesse.

            Portanto, a leitura é importante pela sua capacidade de transformação no ser, ainda mais quando este ser que está em formação é uma criança, por isso interessa a praticamente toda a sociedade, sociedade que preocupa com o futuro.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil- Gostosuras e Bobices. São Paulo: Scipione, 1995.

PALO, Mª José e OLIVEIRA, Mª Rosa D. Literatura Infantil – Voz de Criança. São Paulo: Ática, 1986.

ZILBERMAN, Regina. Leitura: perspectivas interdisciplinares. 2ª Ed. São Paulo Ática, 1991.

ZILBERMAN, Regina. A Literatura infantil na escola. 4ª Ed. São Paulo: Global, 1985.