A história de Lula, o filho de “Dona Lindu”

 

Edson Silva

 

Acabo de ler “Lula, o Filho do Brasil”, livro biográfico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, escrito pela jornalista Denise Paraná, que, em menor escala, veio à público, em 96, pela editora Xamã, foi editado em 2003 pela Fundação Perseu Abramo, e, em 2009, com a editora Objetiva, voltou às livrarias, vendendo mais 11 mil exemplares. A obra de 139 páginas ilustradas é fácil de ler, não apenas pela linguagem simples e direta, mas por ser dividida em cerca de 80 pequenos tópicos, que vão de antes do nascimento do menino pobre do sertão pernambucano, passando pelas dificuldades de uma família que migra do Nordeste para o Sul; os esforços de Lula para estudar e se profissionalizar; tragédias pessoais, como as perdas da esposa e daquele que seria o primeiro filho, ambas durante o parto; enfim lutas daquele que se tornaria a maior liderança sindical brasileira e seria eleito presidente do país por duas vezes.

 

Para escrever o livro, a jornalista se baseou em cinco entrevistas feitas com Lula e outras 14 feitas com familiares e amigos de Luiz Inácio. Não é exagero algum dizer que a obra é, na verdade, a história de Eurídice Ferreira de Melo, a “Dona Lindu”, mãe de Lula. Uma mulher de fibra, que enfrentou as adversidades, desde a miséria imposta pela seca do sertão nordestino até o comportamento do homem que amava, com quem casou, teve filhos, foi traída e abandonada à própria sorte, com as crianças para cuidar. Um homem, que na base da violência, tentou impedir que os filhos estudassem, mas “Dona Lindu” não poupou esforços para que os mesmos freqüentassem a escola contra a vontade do pai. Ela se encheria de orgulho ao ver um deles, o seu “Luuuuuizzzz”, tornar-se profissional do Senai, torneiro mecânico formado e diplomado.

 

Como morreu em 1980, ano que o filho já era um dos maiores líderes sindicais brasileiros e por isso era perseguido e foi preso pelo Regime Militar, infelizmente, “Dona Lindu” não veria os vôos maiores que seu “menino passarinho” daria. Viria a candidatura ao governo de São Paulo, com derrota, mas era primeira prova de fogo do Partido dos Trabalhadores (PT), que Lula tinha ajudado fundar; a luta pelas Diretas Já; a vitoriosa eleição para deputado federal Constituinte e a maior votação até então da história para um líder sindical acostumado ser eleito pelos operários com 96% e até 98% dos votos. Viriam as três candidaturas para Presidência da República, em 89, 94 e 98, com o sistema usando todas as armas e preconceitos para derrotar Lula, o filho do Brasil que veio da pobreza, um operário que ousava querer dirigir o país.   

 

Como não poderia deixar de ser, Lula sempre foi pura fibra igual sua mãe, “Dona Lindu”, voltou a ser candidato a presidente foi eleito e reeleito e entra no oitavo ano de governo com aprovação de mais de 80% dos brasileiros, a maioria pessoas que igualmente vieram da miséria e viram enfim maior preocupação com investimentos sociais, com mais oportunidade de educação, emprego, de um prato de comida na mesa. Como é citado num trecho do livro, “se a vida oferece o ‘pão que o diabo amassou’ temos que mudar de padaria”. As histórias de Lula e “Dona Lindu” devem ser motivo de orgulho, mas, infelizmente, parte das elites torce o nariz para estas e outras pessoas que enfrentaram e venceram dificuldades, fome ou quaisquer restrições. É o retrato distorcido de ditos “elitizados” que, na TV, ofendem operários, como foi o caso dos garis, que dignamente desejaram Feliz 2.010. Recado: Nos cabe é agradecer pelo trabalho deles e não ofendê-los.

 

Edson Silva, jornalista, 48 anos, Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Sumaré

Email: [email protected]